Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 3) – Máscara Partida

24 de novembro de 2017

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 3) – Máscara Partida

Se há uma coisa da qual não dá para reclamar da segunda temporada de Batman: The Telltale Series, é a possibilidade de se interpretar dois personagens em apenas um de uma forma muito mais aprofundada do que normalmente é retratado em outras mídias. É possível ser um Bruce frio e calculista ao mesmo tempo que um Batman simpático e explicitamente preocupado com as pessoas a sua volta; um Bruce romântico e sincerão e um Batman violento e brutal, ou mesmo permitir que ambos se adaptem a pessoas e situações a sua volta.

Máscara Partida, o terceiro episódio desta temporada talvez seja, dentre todos os demais (contando com o primeiro ano das aventuras do homem-morcego sob o olhar da Telltale) aquele que melhor aproveita as diferentes formas de se abordar problemas e obstáculos que vão aparecendo, principalmente por ser aquele que permite uma gama enorme de relações com os demais personagens de Gotham, sejam eles vilões, mocinhos ou sujeitos com um pé em cada lado.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 3) – Máscara Partida

Aumentando o foco na trama

O terceiro ato desta série é basicamente o miolo da história, momento onde se sedimenta aquilo que foi apresentado nos primeiros e que prepara o cenário para os eventos que convergem para o final. Normalmente em qualquer narrativa seriada é o ponto de menor impacto, mas fundamental para posicionar as peças que já conhecemos para o desfecho e, seguindo a cartilha, Máscara Partida faz exatamente isso.

Enquanto Bruce se envolve em uma situação um tanto quanto nova para ele em meio a novos “amigos” e acaba se complicando em relação ao seu tradicional círculo de confiança, ele meio que consegue uma liberdade de ação maior do que a sua contra-parte mascarada. A máscara que lhe foi atribuída pela bagunça que sua vida se tornou depois dos eventos da primeira temporada lhe é mais útil do que a fantasia de Morcego, algo bem divertido de se explorar dentro das escolhas do personagem.

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Afinal, se o Batman é o símbolo da luta pela justiça e pela forma incorruptível de um vigilante reconhecido pelo poder público, pela população e por si mesmo, Bruce Wayne é só mais um ser humano comum, com um histórico composto pelas ações dos pais e de si mesmo enquanto herdeiro de um império tão sujo quanto gigante. Mais do que nunca, os papéis se invertem: enquanto o Batman transparece a personalidade verdadeira, Bruce é a máscara, é a persona a ser interpretada e reinventada para se alcançar, ainda que de formas questionáveis, os objetivos finais de justiça do herói.

História boa, ação… nem tanto

Ao mesmo tempo em que investe em explorar as possibilidades da personalidade dividida do protagonista, esse terceiro episódio é o menos impactante em termos de ação. Há apenas um momento de mais movimentação e, para ser sincero, ele parece um tanto quanto forçado dentro da trama, já que em termos práticos, não precisaria estar ali, a não ser para cumprir uma necessidade de equilíbrio de gameplay — ou ao menos uma tentativa disso.

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Em outras palavras, as inovações interativas trazidas pela desenvolvedora em Batman: The Telltale Series ficam de lado neste episódio. Nem as mecânicas de combate, nem as de investigação são aproveitadas aqui, talvez para valorizá-las nos episódios seguintes, talvez para fortalecer a importância das decisões políticas e morais do jogador. Seja como for, fica a sensação de que faltou um pouco de estabilidade à estrutura narrativa no que tange a variedade e a inovação.

Ao mesmo tempo, ainda que não pareçam ser tão fundamentais assim para o andamento da história, há muitas escolhas que não parecem somente cosméticas e que, de fato, vão se somando à própria percepção de personalidade que o jogador atribui aos diferentes momentos do protagonista. São vários os diálogos com tantas pessoas diferentes onde é necessário se abrir mão de algo em detrimento de outra coisa que pode ajudar na resolução dos problemas.

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Outro ponto que não brilha tanto neste episódio é a riqueza de espaços e ambientes da cidade de Gotham, tradicionalmente um verdadeiro personagem vivo dentro das tramas do Batman e da DC Comics como um todo. A repetição de locações internas e a pouca ação ao ar livre acabam diminuindo a percepção do quanto aqueles eventos interferem no mundo e na vida dos cidadãos que ninguém sabe porque ainda vivem em uma cidade com tantas desgraças.

Por outro lado, a Telltale melhorou as falhas dos lançamentos anteriores em termos de acabamento, sobretudo nas traduções e nos probleminhas de performance. Não que não haja um diálogo não traduzido aqui ou uma animação trucada acolá, mas quando se compara a episódios anteriores — incluindo aí outros jogos da desenvolvedora — há uma melhora significativa e muito bem-vinda. Somando-se a uma arte competente e um trabalho de dublagem sólido, a experiência audiovisual continua sendo muito satisfatória.

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Conclusão

Batman: O Inimigo Interno – Máscara Partida é um capítulo de transição. Funciona bem ao estabelecer a trama, posicionar as diferentes peças do tabuleiro e fortalecer a(s) personalidade(s) do protagonista, ao mesmo tempo que abdica de mecânicas de ação e investigação que fazem desta história algo tipicamente localizado dentro do imaginário coletivo sobre o Batman. Ainda assim, permite nuances muito complexas para cada decisão e suas consequências, o que lhe dá crédito enquanto experiência imersiva.

Disponível para Playstation 4, XBox One, PC e dispositivos móveis iOS e Android, a segunda temporada de Batman: The Telltale Series segue firme para sua conclusão, continuando a missão de reapresentar as origens do Cavaleiro das Trevas ao lado de alguns dos seus mais icônicos inimigos e aliados, reinventando relações e motivações e aprofundando a mitologia de Gotham. Nesse sentido, Máscara Partida é um ótimo momento de reflexão e percepção moral do protagonista e suas diferentes máscaras sociais.

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