Análise Arkade – As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline

24 de março de 2015

Análise Arkade - As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline

Chegando esta semana às prateleiras brasileiras, Battlefield: Hardline é um spin-off da série que deixa de lado os campos de batalha e a temática militar para retratar outro tipo de guerra, um bem mais próximo da nossa realidade: o eterno confronto entre lei e crime.

O jogo é o primeiro da série a ser desenvolvido pela Visceral Games (produtora do excelente Dead Space), que até então havia apenas ajudado a DICE nos títulos mais recentes da franquia, e já havia sido lançado para PC (através da Origin) e demais plataformas em outros países, e chega esta semana para os demais consoles da geração atual e passada aqui no Brasil, com direito a localização para o português.

Mas e aí? O jogo é bom, vale a pena dar esse pause nas batalhas militares e cair nas ruas com as perseguições aceleradas e tiroteios frenéticos do game? É o que vamos conferir agora.

Enredo “Tela Quente”

Análise Arkade - As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline

A história de Battlefield: Hardline gira em torno do policial Nick Mendoza, um cubano que fugiu com a mãe para os Estados Unidos quando criança, e que se envolve em uma violenta guerra de traficantes em Miami. As coisas pioram para o protagonista quando ele se depara com casos de corrupção dentro do próprio departamento e acaba descobrindo na prática que nem sempre polícia e justiça andam de mãos dadas.

A campanha tem uma pegada de seriado de TV, com direito a trechos do tipo “A seguir…” e “Anteriormente, em Battlefield: Hardline, e boa parte das missões têm objetivos policiais do tipo “prender e interrogar um suspeito” ou “invadir um laboratório clandestino e coletar evidências”, algo que à princípio pode parecer muito legal, mas ao longo dos seus 11 episódios, o que poderia ser uma trama policial interessante rapidamente vira uma história previsível, cheia de clichês e de cenas surreais de ação.

Zerar a campanha de Hardline é como assistir a um filme policial daqueles que você sabe exatamente o que vai acontecer desde os primeiros minutos, e os personagens e diálogos não ajudam muito a compensar o enredo manjado. Nick e sua turma são figuras carimbas do tipo que se encontra em qualquer história policial aleatória: o tira honesto que cresceu na periferia e conhece as ruas, a parceira durona com quem ele não se dá bem no começo, o colega corrupto, o capitão com suas broncas pelo desfecho caótico das missões, e assim por diante.

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Há quem diga que não se deve esperar algo muito além disso em um jogo de tiro focado no multiplayer (muita gente sequer joga o singleplayer), mas eu discordo. Com tantos ótimos filmes e séries para se inspirar, como The Shield, True Detective, A Escuta (The Wire), Dia de Treinamento (2001), Fogo Contra Fogo (1995) ou Os Infiltrados (2006), é uma grande pena que a Visceral não tenha aproveitado melhor a chance de resgatar o gênero policial com uma boa história. Ao invés disso, Hardline parte para uma linha “explosiva”, abordando temas sérios como corrupção, tráfico e violência com a mesma profundidade que um filme de Michael Bay.

Mesmo que tenha uma história decepcionante, porém, a campanha consegue gerar alguns momentos de boa diversão, mas eles dão certo muito mais pela jogabilidade e pela ambientação do que pelo seu fraco roteiro. Quando acabam as cutscenes e você assume o comando, a coisa muda um pouco.

Mãos ao alto!

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Em Hardline, a maioria das missões funciona assim: você se aproxima de um determinado local de forma sorrateira, usa um scanner para marcar os bandidos e pontos de interesse (como alarmes, barris explosivos e caixas de munição) e decide como quer resolver a parada. Vai tentar se esquivar dos capangas e ir direto ao objetivo? Tentar prender o máximo de criminosos? Chegar metendo bala em todo mundo?

Dando mais opções aos jogadores, o jogo quebra a receita linear (atire, corra, exploda algo, repita) dos anteriores e se torna mais parecido com outros títulos que exploraram bem esse estilo aberto, como as séries Crysis e FarCry. Claro que há tiroteios e perseguições “obrigatórios”, mas é nos momentos em que dá mais liberdade ao jogador que o game se sai melhor, e para fazer isso funcionar a Visceral incluiu algumas coisas interessantes em seu shooter.

A primeira delas é um modo stealth. Nick pode se esgueirar pelos cantos para evitar confrontos ou para pegar os delinquentes de surpresa, e precisa evitar o campo de visão deles para não alertá-los. É algo que combina com o tema do jogo, já que nosso protagonista é apenas um policial e não um batalhão militar pronto para atropelar levar a democracia a algum país de terceiro mundo.

Análise Arkade - As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline

Porém, apesar de cair muito bem no jogo, esse modo stealth é simplório se comparado a outros games especializados na área, como Hitman ou Metal Gear. O cone de visão dos bandidos é curto, sendo que você pode passar despercebido a poucos metros deles, e a inteligência artificial não tem uma boa noção do que está acontecendo ao seu redor. Você pode separar um criminoso de seu grupo atraindo-o com uma bala ou pedra jogada no chão, dar voz de prisão em alto e bom som e algemá-lo enquanto os outros continuam inertes, mesmo estando a poucos passos de distância e muitas vezes em lugares fechados, bastando estar de costas.

Outra novidade legal é justamente essa possibilidade de se prender ou imobilizar os criminosos sem matá-los. É a melhor forma de fazer o jogador se sentir como um verdadeiro policial: você se aproxima o suficiente do bandido e com um comando você mostra o distintivo (e o cano da sua arma, claro) e o faz se render. A partir daí basta se aproximar e algemá-lo para coloca-lo fora de jogo.

Porém existem limites nessa mecânica. Nick enfrenta criminosos “armados e perigosos” que muitas vezes preferem morrer trocando tiros com a polícia do que ir ou voltar para a cadeia, então a voz de prisão só funciona se você surpreender os inimigos, e não é possível render mais do que três por vez. Render esses pequenos grupos, inclusive, é um dos pontos divertidos do game. Você precisa encontrar o melhor ângulo para mantê-los todos sob sua mira, se não certamente eles tentarão reagir. Em quase todas as fases, há malfeitores com mandados de prisão pendentes. Prender esses caras vivos rende pontos que podem ser usados para liberar armas e acessórios melhores.

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Outro aspecto interessante do jogo são as inúmeras evidências encontradas durante as missões. Elas vão de rastros de produtos químicos a e-mails comprometedores que podem ser analisados e fotografados para fechar “dossiês” sobre os casos relacionados ao jogo. Infelizmente, elas funcionam como colecionáveis que dão pontos, não tendo nenhum impacto sério no desenrolar da campanha. Seria legal se essas duas mecânicas: a prisão de criminosos procurados e a busca por pistas e provas, tivessem um papel mais importante no game.

E finalmente, os equipamentos disponíveis na campanha de Battlefield: Hardline seguem mais ou menos a mesma linha dos outros jogos da série. O game tem uma boa variedade de armas, geralmente escopetas, pistolas e submetralhadoras que combinam com a temática policial, e elas podem ser customizadas de várias maneiras com acessórios e camuflagens. Um gancho que ajudo o jogador escalar paredes e acessar pontos estratégicos como varandas e telhados e até uma tirolesa que o permite atravessar vãos entre prédios ou penhascos  completam o “cinto de utilidades” do agente Mendoza, aumentando ainda mais as opções na hora de caçar os bandidos.

Gráficos e ambientação bons, problemas na dublagem

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Além de ter seus pontos positivos na jogabilidade, o novo BF tem boa ambientação e se sai bem no quesito gráfico. Rodando no Frostbite 3, o motor gráfico da DICE, Hardline leva os jogadores a diversos locais interessantes, de guetos e shoppings abandonados em Miami até mansões insanamente luxuosas em Los Angeles, passando por pântanos, desertos, bairros industriais e grandes hotéis. O visual dos personagens também é bom, com expressões, animações e texturas bastante detalhadas.

No lado técnico, é o departamento sonoro que decepciona, mais precisamente no que diz respeito à dublagem do game para o português. Por algum motivo desconhecido, decidiram que seria uma boa ideia colocar Roger, vocalista da banda Ultraje a Rigor, no papel principal, e o resultado ficou péssimo. No papel de Nick Mendoza, Roger soa totalmente apático e fora de lugar, e ele chegou a arranjar confusão nas redes sociais por ter sido criticado por outros sites e jogadores.

Outro problema grave da dublagem é a voz usada para o personagem Tony Alpert. Ele é um velho reacionário na faixa dos 50 anos que comanda uma espécie de “comunidade alternativa” nada pacífica no meio do deserto, mas na versão em português ele ganha a voz de um cara bem jovem, um descuido enorme da equipe de localização. A maioria dos dubladores profissionais fazem um trabalho competente, mas algumas outras falas, como a dos bandidos, são robóticas e repetitivas, algo que quebra a imersão do jogo e torna a dublagem de Hardline um dos seus pontos fracos.

A música e os efeitos sonoros são OK, nem ruins nem marcantes, simplesmente cumprindo sua função de seguir o ritmo de ação do jogo, que não só continua mas ganha ainda mais velocidade e adrenalina no modo multiplayer.

Polícia e ladrão

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O modo multiplayer de Hardline deixa os enormes campos de batalha e traz Battlefield para cenários urbanos onde criminosos e policiais se enfrentam em tiroteios e perseguições frenéticas. Novos modos aproveitam esse gancho e oferecem uma jogabilidade mais acelerada: em “Ligação Direta”, os bandidos precisam roubar uma série de carros espalhados pelo cenário enquanto a polícia precisa impedi-los a qualquer custo. No modo “Roubo”, os criminosos precisam invadir um cofre e fugir com a grana, enquanto no modo “Dinheiro Sujo” tanto os policiais quanto os bandidos precisam pegar o dinheiro de um ponto no centro do mapa e levá-lo até a sua base, vencendo o time que conseguir mais grana.

O jogo ainda conta com dois modos mais competitivos, “Resgate” e “Mira”, que envolvem, obviamente, o resgate de um refém ou o assassinato de um alvo, com os times lutando para completar ou evitar esses objetivos. Essas tretas todas rolam em mapa que no geral podem ser chamados de pequenos ou médios pelos padrões Battlefield. São nove deles, com diferentes layouts para acomodar cada modo ou número de jogadores, e eles retratam locais da campanha, como uma mansão em Los Angeles ou os pântanos da Florida. Modos tradicionais como “Conquista” e “Cada Esquadrão Por Si” também marcam presença no game.

Apesar dos modos novos e a temática policial, não há tantas diferenças entre este jogo e os demais da série. O que realmente dá certo no multiplayer de Hardline é o mesmo que sempre deu certo na franquia toda: o trabalho em equipe através de classes e esquadrões, as perseguições em veículos, a variedade de armas e a adrenalina que envolve o cumprimento dos objetivos, todos capazes de criar momentos épicos de diversão. Nesse quesito o mérito é da série, e não do título em si.

Análise Arkade - As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline

No lugar de tanques de guerra, caças e transportes anfíbios, temos carros esportivos, motos e blindados. A variedade de veículos parece ser menor do que a de Battlefield 4, assim como a variedade de mapas, armas e equipamentos, e o jogo usa o famoso sistema Levolution do antecessor e há uma boa dose de interação com os cenários, mas ela se limita mais a abrir portas e garagens, e a destruição não chega perto do que vimos em BF4.

A progressão também segue mais ou menos a mesma linha, com novos armamentos sendo liberados conforme você ganha mais níveis e cumpre desafios, com o adicional de que também é preciso ter grana (ganha durante as partidas) para liberar os items. É algo que já conhecemos muito bem e embora o jogo tenha toda essa atmosfera policial, na essência o que temos são batalhas iguais às de qualquer outro Battlefield, com diferenças apenas na escala e no ritmo.

No fim, Hardline parece uma versão em miniatura dos seus “irmãos maiores”, com um tema policial ao invés de militar e um ritmo mais rápido. A sensação ao jogarmos o multiplayer é de que estamos jogando uma versão modificada do mesmo jogo “de sempre”, e não de ter uma experiência realmente única. Não que isso seja necessariamente bom ou ruim, afinal ele é um Battlefield. A grande questão que fica, porém, é se suas particularidades são suficientes para justificar a compra do game, levando em conta que muita gente ainda está jogando Battlefield 4 – e se divertindo bastante.

Conclusão

Com uma história manjada, problemas na dublagem e menos recursos no multiplayer, Battlefield: Hardline pode não oferecer grandes atrativos para jogadores que já estão satisfeitos com as batalhas épicas de Battlefield 4. O mérito do game fica por conta das missões da campanha que muitas vezes dão espaço ao improviso, a ambientação e o visual caprichados e de alguns novos modos interessantes do multiplayer.

Respondendo à pergunta do início da análise, Battlefield: Hardline pode valer a pena para quem já curtia a jogabilidade de BF (os comandos, movimentação e sistema de combate) mas busca algo com um ritmo um pouco diferente, com mais contato e velocidade. Para boa parte dos demais, porém, o jogo não vai impressionar.

 Battlefield Hardline foi lançado no dia 17 de março, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 3, Xbox 360 e Xbox One. O lançamento nacional do game está marcado para quinta-feira, dia 26 de março.

2 Respostas para “Análise Arkade – As batalhas e perseguições aceleradas de Battlefield: Hardline”

  • 24 de março de 2015 às 18:57 -

    Nymer

  • Pra mim, um fracasso. Não me chamou a atenção na divulgação inicial, e muito menos nos dois Betas que joguei. Desnecessária essa temática em Battlefield, um jogo de guerra. Por que eles não voltam para a Segunda Guerra Mundial? Estão devendo faz tempo.Essa temática é para a série Rainbow Six, e quando sair o Siege, aí BF Hardline será definitivamente esquecido, se durar até lá.

  • 25 de março de 2015 às 21:56 -

    jfj

  • Nojo!

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