Análise Arkade: Conga Master tem dança, porcos, aliens e muita diversão

22 de julho de 2017

Análise Arkade: Conga Master tem dança, porcos, aliens e muita diversão

Jogos de dança, definitivamente, não são algo que eu possa me orgulhar de dominar. Primeiro, por não me interessar pelo gênero em si e segundo pelo minha evidente inaptidão para qualquer coisa que precise de ritmo corporal. Ao receber Conga Master para fazer essa análise, a primeira coisa que me veio a mente é que eu seria o olhar noob sobre o assunto. Contudo, alguns segundos com o jogo ligado já deixam claro que a proposta do game é completamente outra: seduzir e contagiar. Explico melhor.

Conga Master é um jogo onde o jogador escolhe um personagem para entrar nos mais diferentes clubes da cidade e, com muito gingado e empatia, ir conquistando adeptos ao tal trenzinho — aquela forma clássica da vergonha alheia que acontece geralmente quando todos em uma festa estão embriagados e saem pelo salão em fila indiana dançando como se ninguém estivesse vendo. Há roqueiros, valentões, nerds e naves espaciais que vão desafiar o jogador, que deverá superar cada desafio “sem perder o rebolado” se quiser ser um verdadeiro mestre da conga.

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Uma noite fora de série

Narrativamente, não há nada de muito complexo em Conga Master. Basicamente, ao escolher o seu personagem, a jornada desse sujeito é passar uma noite inteira procurando adeptos ao tal estilo trenzinho. Em cada boate, deve-se conquistar uma quantidade específica de empatia em alguns medidores dispostos no HUD e, assim, poder seguir para a próxima. No caminho entre elas, porém, há um OVNI que acaba sequestrando (não tente encontrar uma lógica aí) parte dos seguidores, não deixando o jogador chegar com todo mundo na próxima missão.

Confira abaixo nosso gameplay de uma fase completa:

Trocando em miúdos, não há aqui exatamente uma história a ser contada e sim uma linha de eventos que se sucedem nessa noitada. A narrativa ali é o de menos, e dá espaço à maluquice e a diversão que um sujeito comum pode encontrar em uma noite de balada. Não a toa, há personagens tão distintos a serem escolhidos logo de início. Há o cara de gravata que acaba de sair do escritório, há a dançarina profissional, há o roqueiro, a nerd de óculos e os mais distintos arquétipos que facilmente podem ser encontrados em qualquer happy hour.

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Vai dançando e vai ganhando…

Com o texto que abre essa análise, a ideia é tentar deixar claro que apesar de usar esse plot, esse game não pode ser entendido dentro do gênero — ou do sub-gênero — de ritmo e de dança. Não espere um Just Dance: Conga Version nem nada disso. Na verdade, não poderia ser mais distante. A proposta do jogo é mais próxima do clássico Snake, o “jogo da cobrinha” que fez a nossa alegria nos primeiros aparelhos celulares desse milênio do que de jogos de movimento. Mas essa semelhança também não é lá tanta assim.

Em termos de gameplay, a única coisa que é automática é a própria dança. O personagem entra fazendo a sua coreografia típica e cabe ao jogador se aproximar dos diferentes dançarinos da balada e contagiá-los com esse ritmo. Em termos práticos, devemos ficar circulando próximo a estes NPCs até eles se sintam empolgados para seguir o jogador. Essa sedução é bem intuitiva e é exibida na tela com um medidor bastante objetivo. Nada de muito complexo.

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Há diferentes “classes” de personagens na noite (cada qual simbolizado por um ícone) e seu objetivo é colocar todos eles para dançar. São 4 “classes” diferentes e a quantidade de cada um no seu trenzinho é que determina o sucesso ou o fracasso da jornada desse dançarino amador no modo campanha. Quando as quatro barras com cada um dos ícones se enche — e certamente o jogador já está bem acompanhado neste estágio — a porta da boate se abre para todos irem para a próxima.

Claro que tudo tem que acontecer dentro de um tempo. No jogo, essa janela se chama Momentum, algo que pode ser entendido como o timing da dança, antes que a magia e a graça se percam. Essa barra corre como um relógio na regressiva e sobe a cada pessoa conquistada, e pode subir bastante com combos de várias pessoas “seduzidas” ao mesmo tempo, o que é, durante a jornada, aquilo que deve se tornar a meta do jogador: encontrar grandes grupos e tentar seduzir várias pessoas ao mesmo tempo.

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Claro que não é assim tão, simples, pois temos obstáculos na pista: há pessoas que estão lá só para estragar a diversão. Há valentões que arrumam confusão caso você esbarre neles. Há cascas de banana para você escorregar, e um faxineiro que deixa o chão molhado e liso para acabar com seu ritmo. Há até um garçom nos enfia goela abaixo bebidas que deixam o personagem sem noção de direção. Trombar com as pessoas “comuns” também não é bom, afinal, ninguém quer ser esbarrado na balada, certo? Se isso acontece, toda a empatia que estava sendo acumulada acaba e temos que começar de novo.

E, obviamente, há aliens por razões de “why not”? Todos sabemos que uma noite de muita dança e balada é regada a algumas abduções. Portanto, o caminho entre uma balada e outra é perigoso e há um mini-game muito simples de correr e pular para evitar ao máximo que a sua turma seja sequestrada. Chegar em outro estabelecimento com o máximo de pessoas é fundamental para o sucesso. Afinal, quanto mais gente dançando, mais gente fica empolgada a seguir o movimento: é um efeito dominó em ritmo de conga!

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Em resumo, a intenção é ir acumulando seguidores. Quanto mais gente no seu trenzinho, melhor. Inclusive, dá pra atingir mais pessoas quando se tem uma linha maior te seguindo. Afinal, a base da jogabilidade é ficar tempo suficiente perto de alguém para que ela se sinta empolgada em seguir a galera. Quanto maior o grupo, maior o espaço de ação. Há elementos que vão atrapalhar o caminho — não posso esquecer de citar que há porocos que não são bem-vindos em seu trenzinho (eu disse para não tentar encontrar lógica) — e o Momentum não é fácil de se manter, exigindo muita ginga do jogador para evitar obstáculos e esbarrões.

Um visual em Pixel Art “raiz”

Em termos estéticos, nada de elaborações mirabolantes que tentam passar uma sensação retrô com um estado mais sofisticado de movimento e de construção do ambiente. Em Conga Master, a intenção é realmente usar a estética do pixel de uma forma mais pura possível. Entra aí a construção de personagens que facilmente estariam em jogos do NES ou do Master System, um visual isométrico chapado na veia, objetos e cenários que abusam do contraste e das cores primárias e animações tipicamente em looping com manda a cartilha.

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Obviamente, a música e banda sonora não pode ser ignorada. Nesse sentido, há sim uma necessária fuga de uma estética purista. Afinal, como um jogo com música presente o tempo todo, talvez seria um pouco irritante demais ter versões sintetizadas como nas gerações 8 e 16 bits. Então, aqui as canções e mesmo os efeitos utilizam mais da capacidade sonora da geração atual, com músicas realmente empolgantes que animam a jogatina.

Claro que não há aqui qualquer intenção de ter composições orquestradas, ou gravações típicas de big bands, nada disso. São músicas relativamente simples e repetitivas, daquelas que grudam na cabeça e que vão fazer o jogador ficar cantarolando mesmo depois de parar de jogar. De certa forma, elas conseguem estar em um tom que ao mesmo tempo em que não fica preso à limitação de uma proposta retrô, também não destoa da proposta tentando ser mais do que deveria. É um bom equilíbrio.

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Em termos gerais, portanto, Conga Master é muito gostoso de se jogar, mantendo uma simplicidade agradável em termos audiovisuais, que acompanham o esquema da jogabilidade minimalista e que funciona muito bem enquanto conjunto da obra. Completam a proposta do tom telas de pontuação, de ajuda e de suporte que remetem às fontes clássicas dos anos 1990, pontuação e até cenas de abertura de cada fase que mexem com a memória afetiva dos jogadores mais antigos, sem parecer dedicado hermeticamente somente a eles.

Os modos de jogo são dançar e… dançar com mais gente

Uma das grandes limitações do game está nos modos disponíveis de se jogar. Não há muito o que se fazer de muito diferente e o jogo pode, com um certo tempo, se tornar repetitivo. Isso porque há duas formas básicas de se jogar sozinho: a campanha, onde é necessário seguir essa linha de fases dentro da mesma noite, e um modo infinito, onde se escolhe uma das boates abertas no modo campanha para se jogar livremente e tentar ganhar o máximo de adeptos para fazer pontuações maiores. Um tipo de time attack, se assim podemos chamar.

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Fora isso, há o modo multiplayer com interessantes formas de se jogar localmente com um colega de sofá e que traz uma série de homenagens ao mundo dos games com modos como o The Last Conga ou Mortal Conga, dentre outros, que homenageiam franquias famosas de games. São modos colaborativos ou competitivos onde se pode disputar quem tem a maior legião de seguidores (podendo inclusive cortar o trenzinho do outro) ou quem consegue 20 seguidores antes, ou ainda quem consegue manter um dançarino solitário no seu canto da festa por mais tempo.

Confira nosso gameplay de um dos modos multiplayer abaixo:

Na prática, a longevidade do game está muito ligada à possibilidade de se jogar somente sozinho ou se há quem jogar com você. A dificuldade do game solo é relativamente alta e pode ser desafiadora e até frustrante em alguns momentos, enquanto o desafio multiplayer é mais divertido e descompromissado, com variações interessantes do que se pode fazer com a base do game.

Conclusão

Conga Master é um jogo divertido, que abusa de uma estética retrô e de muita música contagiante, tudo misturado com um gameplay bastante simples e empolgante, como a proposta do jogo precisava. Afinal, se um desses elementos não funcionasse, o jogo certamente fracassaria. Felizmente, o resultado agrada e pode gerar horas e horas de muito gingado, palminhas para o alto e abduções alienígenas (?!).

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Se não apresenta modos de jogo tão variados para o single player, o multiplayer local — e somente local — pode elevar o valor de replay de forma infinita. Jogar sozinho pode ser um pouco repetitivo e até enjoar depois de alguns dias, mas ainda assim o jogo apresenta um bom nível de desafio para garantir que o investimento valha muito a pena. De forma despretensiosa, Conga Master pode ser surpreendente e, tal como o jogador precisa fazer, tem todos os aspectos para gerar muita empatia por onde passar.

Conga Master está disponível pala Playstation 4 (versão gentilmente cedida pelos desenvolvedores e utilizada para esta análise), XBox One e PC. Textos, telas e menus estão, felizmente, localizados para o português brasileiro.

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