Análise Arkade: revisitando memórias sombrias no surpreendente Get Even

5 de julho de 2017

Análise Arkade: revisitando memórias sombrias no surpreendente Get Even

Get Even é um jogo “meio indie” ambicioso, que mergulhou em novas tecnologias para apresentar um thriller enigmático e cinematográfico. Confira nossas impressões sobre este game surpreendente na sequência!

Em busca da verdade

Get Even é o novo game da The Farm 51, estúdio polonês que trabalhou em jogos medianos, e anda empenhada em empregar modernas tecnologias de mapeamento 3D de ambientes em seus jogos. Get Even usa esta tecnologia para nos colocar dentro de um sanatório depredado e misterioso, onde conhecemos Cole Black, sujeito que acorda sem saber direito quem ele é ou onde está.

Análise Arkade: revisitando memórias sombrias no surpreendente Get Even

Este vulto na TV é o Red, nosso guia nesta aventura misteriosa.

Só o que ele lembra é de uma garota amarrada em uma bomba, em uma situação tensa que está diretamente ligada ao seu passado. Neste sanatório maluco, ele encontra uma espécie de “capacete VR” que lhe permitirá revisitar memórias (suas e de outras pessoas) na esperança de descobrir mais sobre sua própria vida. Tudo isso enquanto é guiado por Red, uma figura misteriosa que conversa com ele através de monitores de TV.

Ao longo desta jornada virtual, iremos passear por diferentes lembranças, saindo do sanatório e indo parar em galpões, cemitérios, etc. O jogo passeia por diferentes gêneros — stealth, tiro, walking simulator, e até flerta de leve com o terror — com muita competência, e essa mistureba maluca é condizente com a proposta e enriquece bastante a experiência.

Análise Arkade: revisitando memórias sombrias no surpreendente Get Even

O jogo dá uns sustos de leve, mas ganha pontos por sua ambientação.

A trama de Get Even é bastante densa: há muitos documentos para ler, senhas para descobrir e pistas para encontrar. Ela também é um bocado confusa: não estranhe se você passar um bom tempo jogando sem saber direito o que está acontecendo. Tal qual o protagonista, estamos “perdidos” naquele mundo virtual, e vamos aprendendo e descobrindo coisas junto com ele.

Exploração, stealth e tiroteio

A proposta “virtual” de Get Even torna ele um jogo muito versátil e variado. Sabe como, em filmes como Matrix ou Inception temos personagens “viajando” por diferentes “realidades” durante a ação? Acontece mais ou menos a mesma coisa por aqui, e Black estará o tempo todo indo e vindo de diferentes lugares em sua busca por respostas. O modernoso celular do protagonista será de grande ajuda em todos os momentos, pois é equipado com câmera térmica, luz negra, escâner e outros gadgets que serão cruciais em nossa jornada.

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O celular de Black tem 1001 utilidades.

Veja um puzzle que utiliza o smartphone do protagonista para ser solucionado… e de quebra nosso primeiro contato com a CornerGun, arma que é o grande diferencial do game (logo falarei mais sobre ela):

O gameplay em si também varia bastante conforme a situação: quando estamos no sanatório, por exemplo, o foco do jogo é a exploração, e há inclusive alguns puzzles de girar válvulas e decifrar códigos para abrir portas… tudo isso com um clima meio sinistro, que flerta de leve com o terror e consegue deixar o jogador bem tenso, pois há pacientes gritando, cantando e sussurrando em locais que não podemos ver.

Há também momentos em que o game adquire uma postura stealth: uma das principais missões do jogo consiste em invadir uma empresa de tecnologia para roubar o protótipo de uma nova arma. Você até tem uma pistolinha com silenciador, mas o ideal é que tente passar o mais despercebido possível pelos guardas que patrulham o local.

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Um paciente do sanatório e seu capacete VR.

Digo isso porque, ainda que esteja longe de ser um jogo “estilo Telltalte“, Get Even está o tempo todo relembrando ao jogador que “suas ações têm consequências“. Na prática, fiquei com a impressão de que quanto mais agressivo você é, mais agressivo o jogo se torna. Há uma lógica no contexto “virtual” que justifica isso: mais soldados indicam que aquela memória está “mais protegida”, e quanto mais soldados você elimina, mais soldados irão aparecer dali em diante.

Confira abaixo uma tentativa (nem tão bem-sucedida) de infiltração em modo stealth… que acaba descambando para o tiroteio. Repare também na maneira criativa com que a senha da porta deve ser descoberta:

Ainda que as consequências nunca fiquem tão claras quanto as de um jogo da Telltale, é interessante ver que temos opções, nem tudo é linear e scriptado. Lá no comecinho do jogo temos a chance de libertar um dos “pacientes” do sanatório. Mais tarde você descobrirá o que sua decisão causou naquele lugar. Em alguns casos, podemos até mesmo poupar (ou não) a vida de alguns pacientes, o que também gera ramificações na estrutura do game.

A CornerGun

Lembra que eu falei ali em cima que uma das principais missões do jogo é roubar o protótipo de uma nova arma? Pois esta arma é a CornerGun, e ela é sem dúvida uma arma cheia de possibilidades e tão legal de se usar em combate que eu realmente não sei porque não a vemos com mais frequência no mundo dos games!

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CornerGun pronta para o combate.

Para quem não sabe, a CornerGun é basicamente uma base em cuja ponta podem ser acopladas diferentes armas — pistolas, metralhadoras e até rifles de precisão. O detalhe é que a “cabeça” da arma é equipada com uma câmera, e possui um mecanismo que permite que a arma vire em ângulos de quase 90 graus, permitindo que um atirador mantenha seu corpo em segurança enquanto atira de uma “esquina” (corner).

Um fato interessante é que esta arma existe de verdade –seu nome real é Corner Shot — e é extremamente estilosa, olha só:

Get Even não é um jogo de tiro convencional, mas em seus momentos de tiroteio, a CornerGun destaca-se por oferecer uma grande vantagem tática ao jogador. O level design dá uma mãozinha, de modo que as “cenas de ação” do jogo geralmente rolam em estacionamentos, escritórios e outras áreas onde é fácil para o jogador buscar cobertura e se aproveitar do tiro “curvo” da arma.

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Repare que a arma está apontada para cima, mas há um inimigo na mira. :)

Aí você pergunta “tá mas o que diabos essa arma tem a ver com o sanatório e a garota amarrada na bomba”? Por incrível que pareça, tudo! Como já dito, o roteiro de Get Even é denso e um bocado confuso, mas tudo está ligado de alguma maneira, cada elemento do jogo é uma peça de um grande quebra-cabeça, e quando você acha que enfim está entendendo tudo, BAM!, o jogo entrega uma virada digna dos melhores filmes do Shyamalan!

Audiovisual

Get Even é um jogo ousado, que usa modernas técnicas de mapeamento 3D para criar ambientes quase fotorrealistas, e faz isso muito bem. Porém, a qualidade dos ambientes internos é tanta, que acaba destoando do que vemos em áreas externas e em outros elementos do jogo — os soldados são bem genéricos e as próprias mãos do protagonista parecem simplórias perto dos ambientes.

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As áreas internas são incrivelmente realistas.

Boa parte do game se passa dentro de sanatórios e galpões abandonados, e a qualidade visual destes ambientes impressiona, com grafites e pichações extremamente realistas enchendo as paredes. Aliás, lembre de mirar seu celular em tudo, pois vez ou outra podem pintar códigos e senhas escondidas nas pichações!

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A luz negra do celular também pode revelar pistas e códigos secretos!

Como nem só de realismo se faz um bom game, imersão é fundamental, e aqui ela é potencializada por um departamento sonoro impecável, misterioso, cheio de sons de engrenagens e gritos inesperados. A trilha sonora — assinada por Olivier Deriviere é espetacular, envolvente e melancólica. Sem exagero, a maneira com que as músicas se moldam e se incorporam ao gameplay (através de respirações, portas batendo e tiquetaques de relógio) é uma das coisas mais geniais que já vi/ouvi em um game.

Ouça no Spotify sem medo de ser feliz:

Vale ressaltar que o game chega totalmente legendado em português brasileiro, o que ajuda muito, considerando o tanto de documentos que vamos acumulando ao longo da jornada.

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Há até um hub onde reunimos documentos e pistas de cada memória.

Conclusão

Get Even é um jogo único, ousado e diferente de tudo o que há por aí. Ele é parte stealth, parte FPS, parte exploração-puzzle game, e consegue unir tudo isso em torno de uma história intrincada, que ainda que se torne um pouco cansativa (para mim o jogo passou das 10 horas), consegue realmente surpreender o jogador até os últimos minutos de sua campanha.

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Este é aquele tipo de jogo que talvez não seja para todos. Sua cadência é um pouco lenta em alguns trechos, e o tempo que passamos lendo documentos e buscando pistas é bem maior que o que gastamos atirando em caras maus com a CornerGun. Mas isso faz parte da experiência que a The Farm 51 quis criar, e no geral o jogo está mais preocupado em nos contar uma boa história do que em ser só mais um jogo de tiro.

Seja como for, é um jogo muito legal, que remete indiretamente a muitas obras icônicas da cultura pop — Matrix, Inception, Source Code… e até Efeito Borboleta e Alice no País das Maravilhas — para nos apresentar a um drama cinematográfico onde traição, terrorismo, loucura, espionagem industrial e muito mais andam juntos. Se essa mistura te agrada, pode se jogar de cabeça.

Get Even foi lançado em 23 de junho, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.

2 Respostas para “Análise Arkade: revisitando memórias sombrias no surpreendente Get Even”

  • 26 de dezembro de 2018 às 15:59 -

    Fabio

  • Olá…vc saberia me dizer se ele é legendado também na mídia física? ou só na mídia digital?
    Obrigado…

    • 26 de dezembro de 2018 às 16:10 -

      Rodrigo Pscheidt

    • Cara, não tenho como te confirmar, mas a menos que o disco seja importado do Japão, ou algo do tipo, não tem pq ele não ser legendado em PT-BR.

      Na prática, independente do formato físico ou digital, é o mesmíssimo jogo. O meu código inclusive foi resgatado e jogado em uma conta gringa da PSN (que é minha conta principal, porque é de antes de existir a PSN BR), e tava todo legendado no nosso idioma. ;)

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