Análise Arkade: Hidden Dragon Legend é pancadaria 2.5D com cara de filme B
Se você curte filmes e games onde ninjas e samurais saem na porrada fazendo acrobacias insanas, fique de olho em Hidden Dragon Legend, praticamente um filme B de artes marciais em forma de game!
O despertar do dragão
Hidden Dragon Legend acompanha a história de Lu, guerreiro que escapa de um cativeiro pra lá de sinistro sem ter muita noção de quem é ou do que está rolando. Logo ele descobre que está sendo caçado pela Organização, um grupo de malfeitores que fazem experimentos em seus guerreiros… e obviamente Lu é uma de suas cobaias, com a diferença que ele não se deixou corromper, e sequer entende a real extensão de seu próprio poder.
Quando a Organização mata impiedosamente algumas pessoas que lhe ajudaram, Lu decide que não vai simplesmente ficar fugindo, e vai tentar encontrar os cabeças da Organização e acabar com seus planos. Nesta jornada, ele fará alguns aliados inesperados, mas encontrará inimigos com poderes sobre-humanos e ambientes repletos de armadilhas.
Isso inclui chefes gigantes, claro.
A história até se esforça para ser emocionante, mas perde muitos pontos pelas péssimas atuações. As dublagens são muito ruins, o roteiro é super raso, cheio de clichês e figuras com nomes tipo “Dark Raven” ou “White Ghost“. Nada é desenvolvido de maneira adequada; o roteiro não se esforça e as cutscenes no geral são risíveis por conta da dublagem. Curiosamente, isso concede ao jogo uma aura de “filme B” que provavelmente não foi planejada, mas até que deixa sua tosqueira um pouco mais palatável.
Pancadaria em 2.5D
Hidden Dragon Legend se apresenta como um game de ação 2.5D e, em uma primeira olhada, lembra bastante o ótimo reboot de Strider que a Capcom lançou há alguns anos. O protagonista é rápido, e seus golpes são cheios de rodopios e floreios, lembrando bastante a ação que vemos em filmes como O Tigre e o Dragão.
A pancadaria é cheia de poses.
O gameplay é bem ágil, e conforme progride, você vai aumentando seu arsenal — com adagas arremessáveis e até mesmo um grappling hook, útil tanto na exploração quanto em combate — e destravando novos combos, feitos combinando-se os dois botões de ataque.
Não há muito espaço para improvisação, visto que o jogo tem seus próprios combos pré-formatados que devem ser “decorados”, mas o resultado costuma dar conta do recado e é plasticamente muito bonito. Conforme surra os adversários, você vai enchendo um medidor que lhe permite aplicar diferentes golpes especiais, todos muito estilosos.
A câmera contribui para deixar as finalizações mais legais.
Apesar de todas estas habilidades, Lu vai apanhar muito em sua jornada: há uma boa variedade de inimigos, alguns bem resistentes. Não temos defesa, apenas um dash/esquiva (que consome stamina), então o segredo para sobreviver é não ficar parado, especialmente porque é muito comum os inimigos chegarem pelos 2 lados da tela. Os combates no geral são bem desafiadores, e os chefes são especialmente apelões.
Confira um pouco de pancadaria no vídeo abaixo:
Entre um bando de inimigos e outro, também temos trechos de plataforma que são simples, mas desafiadores. Ocasionalmente o jogo também nos faz procurar uma chave ou uma pedra mágica para abrir alguma porta, mas no geral o foco dele é na ação, mesmo, que, felizmente, é boa, ainda que invariavelmente se torne repetitiva.
Isso fica especialmente evidente quando vemos que o jogo segue a mesma fórmula dos beat ‘em ups dos anos 90: ande um pouco, enfrente um grupo de inimigos, ande mais um pouco, enfrente mais um grupo de inimigos, faça uma sequência de saltos entre plataformas que despencam, surre mais alguns inimigos, e por aí vai.
Confira abaixo um destes momentos mais focados em saltos e correria acrobática:
O negócio é tão old school que tem até a boa e velha “fase do elevador“, e ela acaba sendo uma das partes mais difíceis e frustrantes do jogo pela facilidade com que os inimigos podem simplesmente te jogar para fora. Você também pode jogá-los, é claro, mas eles sempre estarão em grupos bem maiores, o que dificulta um pouco as coisas.
Um jogo esforçado
Hidden Dragon Legend possui um visual relativamente bonito, e aposta em bons efeitos de iluminação e movimentos pontuais de câmera para evidenciar a beleza de seus cenários cheios de belas estátuas e templos imponentes. Acontece bastante da câmera mudar de lugar para fazer o jogo parecer que é 3D, e o resultado geralmente é bem legal.
Tipo assim.
Embora a direção de arte em si seja inspirada, a execução deixa um pouco a desejar: os modelos de personagens são bem simples, especialmente quando vistos mais de perto nas cutscenes. As dublagens são muito ruins e as vezes parece que foram gravadas com “a emoção” errada, o que transforma diálogos que deveriam ser intensos em uma grande galhofa.
Até capturei uma dessas conversas para você não achar que eu estou exagerando, confere aí:
Como já dito, isso deixa o jogo com uma cara de filme B, mas isso não deve ter sido proposital, e, se os produtores realmente queriam que a narrativa fosse levada à sério, deveriam ter investido mais na qualidade das dublagens e da sincronia labial. Sei que estúdios independentes não têm toda a verba do mundo para investir nisso, mas é algo que deve ser levado em conta, especialmente se considerarmos que o jogo tem muitas cutscenes e diálogos para desenvolver uma história que deveria ser bem mais emocionante.
Conclusão
Embora deixe a desejar em termos narrativos, Hidden Dragon Legend oferece uma campanha honesta, com pancadaria rápida e desafio de alto nível. Sua ênfase em combos e dashes faz ele parecer uma versão 2.5D de Devil May Cry (salvas as devidas proporções, claro), e a fórmula de pancadaria acelerada e combos decorados funciona suficientemente bem neste formato.
Eu gosto de jogos que vão direto ao ponto, e Hidden Dragon Legend me ofereceu isso: nada de trechos que nos obrigam a agir em modo stealth, escolhas morais, nem nada do tipo. Simplesmente siga para a direita, eliminando inimigos e superando trechos de plataforma. Esta simplicidade está se perdendo em meio a tantos jogos procedurais e/ou de mundo aberto, e eu particularmente gosto dela.
É fato que este é um jogo que se beneficiaria muito de um pouco mais de polimento (e verba, provavelmente), mas no geral ele entrega uma experiência satisfatória. Um pouco repetitiva e meio tosca aqui e ali, mas o gameplay em si — que é o que importa, no fim das contas — é desafiador e bem resolvido.
Hidden Dragon Legend foi lançado em 19 de setembro para Playstation 4. Uma versão PC dele deve sair em breve. O game está 100% em inglês.
Jornalista, baterista, gamer, podcaster e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.
Contato: rodrigo@arkade.com.br