Análise Arkade: desbravando as camadas do terror piscológico de Layers of Fear

20 de fevereiro de 2016

Análise Arkade: desbravando as camadas do terror piscológico de Layers of Fear

Atenção fãs de um bom jogo de terror: depois de aterrorizar milhares de jogadores nos PCs em 2015,  Layers of Fear chegou esta semana aos consoles. Separe suas fraldas e confira nossa análise completa deste neo-clássico do terror!

Uma história fragmentada

Sem entregar muitos spoilers, posso adiantar que Layers of Fear acompanha um momento da vida de um escritor que está enlouquecendo depois que sua vida foi sacudida por eventos trágicos. Ele está sozinho em uma mansão sinistra, e conforme explora os cômodos, vamos conhecendo um pouco de seu passado e de tudo o que aconteceu para ele chegar até aquele ponto.

Análise Arkade: desbravando as camadas do terror piscológico de Layers of Fear

No início do jogo a mansão parece quase normal.

Porém, não espere que a história vá sendo jogada na sua cara: a narrativa é super fragmentada, e é contada através de cartas, bilhetes, recortes de jornal e fotografias que você vai encontrando pelo casarão. Esse formato narrativo contribui com o clima de mistério que envolve o protagonista, a casa e a família que ali vivia.

Um passeio (sinistro) pela psique humana

Claro que a coisa não é assim tão simples: você não é um sujeito lá muito equilibrado psicologicamente, e o seu estado mental transforma este “passeio” pela casa em uma experiência pra lá de sinistra. Os ambientes vão se modificando conforme você passa, e isso transforma lugares já sombrios em verdadeiras cenas de pesadelo.

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Layers of Fear possui uma ambientação incrivelmente envolvente, e a forma comedida com que ele vai construindo gradativamente seus momentos de terror e tensão é simplesmente incrível.

O gameplay em si é super simples, você basicamente caminha pela mansão e interage com portas, armários, gavetas e outros objetos de interesse. Nesse ponto, jogar no PC até deve ser mais simples por conta do mouse, mas quem já jogou algo da Quantic Dream vai pegar de letra. Em alguns momentos, você deve fazer certas coisas que não são necessariamente puzzles, mas objetivos que devem ser completados para poder prosseguir.

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Essas bonecas deixam qualquer coisa mais assustadora. o.O

Por exemplo, em uma parte do jogo você deve usar um telefone para ligar para alguns números específicos. Esses números vão aparecendo pelo cenário, basta você ficar ligado. Em outro caso, há um jogo de damas no centro de uma sala que vai mudando cada vez que você interage com ele, mas essa interação só rola conforme você vai coletando as peças brancas que estão espalhadas pelos arredores.

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Prestar atenção nos cenários para pegar as pistas é essencial.

Nada disso é especialmente complexo, mas é válido deixar claro que o jogo não te “pega pela mão” nem perde tempo te explicando nada, cabendo a você prestar atenção nos ambientes para sacar o que fazer.

Coisas acontecem quando você não está olhando

A “insanidade” do protagonista afeta drasticamente os ambientes, e fica realmente difícil descobrir o que é real do que é alucinação, pois pinturas vão “derretendo” e assumindo formas bizarras, paredes vão apodrecendo, cores vão mudando e estantes de livros explodem sem motivo nenhum.

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E o mais louco aqui não é nem o que acontece quando você está olhando, mas o que rola quando você não está: ao girar a câmera, o lugar por onde você acabou de passar pode estar totalmente diferente, e essas mudanças geralmente o deixam ainda mais assustador. O que era um enorme corredor se torna um cubículo apertado, o que era um quarto de criança vira uma filial do inferno, e por aí vai.

Capturamos um destes momentos de “metamorfose” do cenário no vídeo abaixo, confira:

Com um protagonista pintor, tintas e pinturas têm um papel importante aqui. E elas possuem relevância não só na ambientação, mas também no andamento do jogo (há uma obra inacaba no seu ateliê que vai sendo completada conforme você avança) e na construção do terror em si.

Clique no play aí embaixo para ver um breve momento de tensão envolvendo quadros e pinturas:

E este é apenas um exemplo (bem light) da maneira como Layers of Fear brinca com pinturas e elementos do cenário “quando você não estiver olhando” para te surpreender, te assustar e te deixar tenso.

Audiovisual poderoso

Ainda que as comparações com Amnesia ou Outlast sejam inevitáveis, Layers of Fear tem uma pegada diferente: você nunca está sendo perseguido por algum monstro, nem precisa ficar se escondendo para nenhuma criatura diabólica trucidar você. A exploração aqui segue a linha do P.T., e pode ser feita “no seu tempo”, com eventos scriptados que vão acontecendo conforme você avança.

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Isso não quer dizer que as coisas aqui são tranquilas: Layers of Fear possui uma ambientação pesada e opressora, meticulosamente construída para te deixar tenso e desconfortável. Os ambientes nunca estão iluminados o suficiente para você enxergar o que está rolando… e em alguns casos isso até pode ser considerado bom, afinal, “o que os olhos não veem, o coração não sente”.

Isso para não mencionar os momentos em que você SABE que algo terrível está no seu caminho, mas aí a lâmpada queima e não há outra saída… você não pode fazer nada senão respirar fundo e ir em frente. Tipo assim, ó:

O jogo até tem alguns “jump scares” aqui e ali, mas seu verdadeiro mérito está nessa sensação de terror constante e crescente, que vai te deixando mais tenso a cada nova bizarrice que acontece ao seu redor.

É curioso reparar que o rico e detalhado visual do game foi obtido com a Unity, uma engine amplamente utilizada em games mais cartunescos ou produções mobile. Isso atesta a qualidade técnica da equipe responsável, que conseguiu extrair o máximo do que tinha em mãos. O framerate ocasionalmente dá uma vacilada e alguns glitches aparecem, mas no geral o game segura a onda muito bem.

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Os cenários são realistas e bem detalhados.

Mas, como gamer fã de horror bem sabe, o visual é apenas uma parte do terror: o áudio é o que realmente cria o clima, potencializa as emoções e arrepia a nuca do jogador. Felizmente, este é mais um ponto em que Layers of Fear se sai muito bem: o áudio desse jogo é incrível, e constrói uma atmosfera pesada e realmente te transporta para os corredores sinistros da mansão.

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Luzes apagadas no meio de corredores nunca são um bom sinal.

É altamente recomendável que você jogue com fones de ouvido para realmente sentir a grandiosa experiência sonora que este jogo proporciona. E não estou falando só de sons ambientes: as dublagens também são muito boas, e a trilha sonora também surpreende por sua qualidade.

A música do menu inicial desse jogo é uma das melhores canções que eu ouvi em um game nos últimos tempos, ouve aí:

Chega a ser curiosa a discordância desta música com o jogo em si: ela é tão singela e serena, passa uma tranquilidade tão grande… e tranquilidade definitivamente não é algo que você vai encontrar por aqui. Ah, e sempre é bom ressaltar: o game está 100% legendado em português brasileiro.

Conclusão

Com o cancelamento de Silent Hills e o sumiço de P.T. da PSN, muitos fãs que criaram altas expectativas acabaram frustrados, e alguns jogos com temáticas semelhantes estão aparecendo para cobrir a lacuna deixada pelo jogo. Alguns destes jogos ainda nem saíram, outros não parecem tão bons, mas Layers of Fear é sem dúvida excepcional.

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Esse ambiente “aconchegante” é o seu ateliê.

Por apostar todas as suas fichas no terror psicológico, não espere monstros imortais, nem desmembramentos ou vísceras espalhadas pelas paredes: o terror aqui é mais refinado, mais “cotidiano”, mas nem por isso menos assustador.

Layers of Fear é um passeio pela mente esquizofrênica de um homem que perdeu tudo, e precisa enfrentar os fantasmas de seu próprio passado se quiser sobreviver. E é também um jogo que todo fã de um bom game de terror precisa ter, preferencialmente para jogar no meio da noite e com um bom par de fones de ouvido.

Layers of Fear estava disponível para PC (via Steam Early Access) desde meados do ano passado. Na última terça (16 de fevereiro) o game chegou oficialmente também ao PS4 e ao Xbox One.

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