Análise Arkade: Outcast Second Contact é um remake com visual moderno e gameplay antigo

9 de dezembro de 2017

Análise Arkade: Outcast Second Contact é um remake com visual moderno e gameplay antigo

Lançado originalmente para PCs em 1999, Outcast chamou a atenção de todo mundo por ter sido um dos primeiros jogos de mundo aberto já produzidos. Esse avanço veio com um preço: ele era um jogo bem pesado para a época, exigindo um PC potente para rodá-lo de forma decente. Era uma época onde placas de vídeo ainda estavam engatinhando, o que limitou o acesso ao game, especialmente em países como o Brasil, que nunca estiveram na crista da onda quando o assunto é tecnologia.

18 anos depois, o mesmo estúdio responsável pelo game original nos dá uma segunda chance de visitar o vasto mundo de Adelpha: Outcast Second Contact é um remake completo do jogo original, trazendo a mesma aventura com um visual totalmente repaginado, e o melhor: agora podemos viajar também pelo PS4 ou Xbox One!

O segundo contato

Outcast: Second Contact nos traz exatamente a mesma história: a humanidade descobriu uma realidade paralela e decidiu enviar uma sonda lá para averiguar. Porém, depois que um nativo da região danifica a sonda, uma anomalia energética ameaça se tornar um buraco negro, colocando ambos os mundos em perigo.

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Quando uma equipe de cientistas é designada para cruzar o portal rumo a este novo mundo, assumimos o papel de Cutter Slade, ex-fuzileiro que fica encarregado de escoltar os cientistas para Adelpha. Claro que nem tudo dá certo nesta passagem, o grupo se perde e, para piorar, nosso amigo Slade é recebido como uma espécie de messias pelos nativos de lá, que acham que ele é o Ulukai, o enviado que irá salvar o mundo deles da ditadura de terror comandada pelos tiranos Fae Rhan e Kroax.

Depois de passar um tempo conhecendo alguns dos Talan (os nativos) e aprendendo sobre Adelpha com eles, Slade decide ajudá-los, desde que eles o ajudem encontrar sua comitiva perdida. O que rola a partir daí é uma aventura cheia de descobertas fantásticas, tretas políticas, reviravoltas mirabolantes e muito mais.

Uma jornada pelo espaço-tempo

Se tem uma coisa que Outcast já fazia lá em 1999 e continua fazendo hoje é nos deslumbrar. Vivemos em uma época onde games open world com faunas e floras incríveis não são novidade — na verdade, isso se tornou bem comum –, mas no final dos anos 90 isso era bem mais raro.

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Outcast nos entregou exatamente isso: um mundo vasto, belo e misterioso, com criaturas, plantas, civilizações e crenças totalmente novas. Em uma levada meio Stargate, o jogador podia ativar imensos portais de pedra para passear não só por outros lugares de Adelpha, mas também por outras épocas (sim, o game nos apresenta aquele mundo em diferentes momentos).

É difícil definir o gênero de Outcast: ele é basicamente um RPG focado na exploração, mas também envolve combate, política e toneladas de diálogos. Cada NPC minimamente importante que você encontra geralmente tem MUITA coisa para lhe contar sobre lugares, criaturas, crenças e costumes de seu povo.

Afetando a vida dos Talan

Um detalhe interessantíssimo de Outcast é como a sua presença naquele mundo interfere na vida dos que vivem ali. Por exemplo: em um dos primeiros lugares por onde você passa, há uma comunidade de Talans plantando e colhendo Riss. Com um pouco de paciência e jogo de cintura, você pode convencer o chefe a interromper a produção dos grãos, que servem de alimento para as tropas de Fae Rhan.

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Essa missão é meio que opcional, mas cumpri-la já no começo da jornada vai facilitar bastante a sua vida, pois sem o Riss, os soldados inimigos terão menos comida e, por conta disso, menos energia, tornando as batalhas bem mais fáceis.

Além desta abordagem “simples”, o jogo ainda vai mais longe: você também pode minar a coleta de impostos de uma região. Recebendo menos grana, o governo não tem dinheiro suficiente para pagar os salários dos soldados, e consequentemente você encontrará bem menos resistência enquanto viaja por Adelpha.

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Estes são apenas alguns exemplos de como Outcast era um jogo diferente, vanguardista. Já se passaram quase 20 anos desde seu lançamento, e até hoje não vimos RPGs de mundo aberto mostrarem o impacto da presença do jogador de formas tão únicas e diferenciadas.

Um jogo que envelheceu mal

Embora o mundo de Outcast tenha recebido um baita upgrade visual, o mesmo não se pode dizer do gameplay em si. Outcast Second Contact mantém suas mecânicas praticamente inalteradas, o que torna-o um jogo bem datado, destoando dos padrões atuais no que tange a jogabilidade em si.

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O ritmo do jogo também é lento: sua visita à primeira vila dos Talan, o tutorial e todas as conversas que rolam ali tem um ritmo bem arrastado. A riqueza — natural, cultural e social — de Adelpha é impressionante, mas a forma como tudo isso é apresentado ao jogador não deixa lá uma primeira impressão muito positiva.

Quando nos engajamos em combate, outros problemas do jogo ficam evidentes: a movimentação de Slade é dura, desajeitada, e o sistema de mira é simplesmente horrível, e mesmo com um auxílio automático de mira para ajudar o jogador, o resultado na prática ainda é bem capenga. Você até pode tentar buscar cobertura, mas isso também funciona muito mal, de modo que é mais fácil simplesmente tentar evitar o confronto direto (ou desestabilizar as tropas inimigas cumprindo as sidequests que descrevi lá em cima).

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A verdade é que fica a impressão que o time da Appeal se preocupou em atualizar somente a parte gráfica do game, mas ignorou totalmente o gameplay em si. Tudo parece antiquado, datado. Todos os problemas que ancoram o game são limitações que talvez fossem justificáveis em 1999, mas que poderiam — e mereciam — ter recebido um belo upgrade neste remake.

Audiovisual

Apesar destes problemas, a perseverança do jogador é recompensada por um dos mundos mais interessantes já criados para um videogame, cheio de lugares incríveis, criaturas estranhas e crenças “alienígenas”. O mundo de Adelpha é rico, exuberante, e cheio de vida, e não deve nada para mundos fantásticos modernos tipo os de Horizon Zero Dawn ou The Witcher 3.

Saca a diferença nos comparativos abaixo:

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Outra novidade interessante é que o game está mais disposto a não deixar o jogador perdido em seus incontáveis nomes de lugares, pessoas e objetos. Sempre que um termo estranho é mencionado em um diálogo, uma caixinha de texto adicional lhe relembra quem (ou o que) é aquilo, mantendo os termos e nomenclaturas frescos na nossa cabeça. Ah, e o game está totalmente legendado em português, o que é uma mão na roda, dada a quantidade de textos e diálogos que temos aqui.

Infelizmente, como já dito, parece que os esforços para atualizar o game pararam por aí: o game é cheio de bugs, dos mais simples aos mais bizarros. É fácil encontrar vídeos que compilam algumas das bizarrices de Second Contact no Youtube. Além disso, o áudio do game foi meio que remasterizado, mas parece “velho”, não soa claro e cristalino como deveria. O que é uma pena, visto que a trilha sonora orquestrada do game é grandiosamente épica.

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Isso também afeta as dublagens, que possuem níveis questionáveis de qualidade, com Slade sendo quase babaca ao dar apelidinhos jocosos aos Talan, enquanto eles se expressam de forma excessivamente articulada, o que resulta em uma verborragia enrolada e desinteressante. Some isso ao péssimo trabalho de sincronia labial, e o que temos é um desastre que poderia ter sido evitado com um pouco mais de polimento e atenção aos detalhes.

Conclusão

Quase 2 décadas se passaram, e Outcast continua oferecendo uma experiência única e imersiva. Porém, se este remake torna o game muito mais agradável aos olhos, infelizmente o mesmo não pode ser dito da jogabilidade, que está muito abaixo dos padrões atuais e acaba indo na contramão do ótimo trabalho que foi feito no departamento visual e artístico.

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Ao jogar Outcast Second Contact, me senti jogando um game de 2017 com o gameplay de um jogo de 1999, o que definitivamente não é bom. O excesso de purismo resultou em uma experiência bastante fiel à original, mas justamente por isso problemática, destoante, que respeita “demais” o material original e não tenta corrigir ou melhorar as falhas e limitações da época.

Apesar disso, ainda é uma jornada fascinante, que merece ser experimentada tanto por veteranos quanto por novatos. Nosso passeio por Adelpha está mais bonito do que nunca, mas sem dúvida poderia ser mais fluido e gostoso de jogar.

Outcast Second Contact foi lançado em 14 de novembro de 2017, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.

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