Análise Arkade – Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

9 de julho de 2015

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Se você gosta de uma boa história, vai se amarrar em Dead Synchronicity, indie espanhol que ganhou prêmios por conta de sua interessante narrativa.

Graças as produtoras independentes, os games contam hoje com muitos aspectos artísticos e criativos que não seriam possíveis nas grandes produtoras, por razões óbvias. Os indies também mantém vivos gêneros os quais estariam mortos se não fossem as investidas, como o point-and-click, que permitem muita qualidade visual, liberdade na arte do jogo e a possibilidade de se contar uma boa história.

E boa história é o que não falta em Dead Synchronicity, jogo do estúdio espanhol Fictorama Studios e que ganhou prêmio no BIG Festival (festival de jogos independentes que contou com nossa presença) no quesito Melhor Narrativa. Ao jogar o título, pudemos conferir como o gênero ainda tem muito para oferecer, além de mostrar que ainda tem gente disponível em contar uma boa história.

Um livro em forma de jogo

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

A sensação de quem se coloca a experimentar o game é de que está lendo um livro interativo. Os leitores em geral, são conhecidos por apreciar cada momento do texto, avançando de maneira calma e tranquila as páginas do livro. O mesmo acontece aqui, em meio a uma história envolvendo uma “Grande Onda” que mudou a humanidade, mais ou menos nos moldes do que foi o The Last of Us. Sem esperança, a humanidade apenas sobrevive neste contexto, extraindo o que ela pode oferecer de pior para manter cada humano vivo.

Em meio a tudo isto, você controla um rapaz que atende pelo nome Michael, embora tenha perdido a memória e não se lembra de nada, nem de seu verdadeiro nome. Recuperando a consciência em um trailer e tendo a situação explicada, a história tem início e de maneira tranquila e suave, mais porções do enredo vão se desenrolando.

Feito para quem não tem pressa, o jogo te convida a conversar com vários personagens, para poder conhecer mais e mais sobre o mundo, as opiniões delas a respeito de tudo (algumas até curtem o fato de tudo ter mudado, pois tiveram uma “nova chance”) e até sobre você mesmo. E conversa após conversa, vasculhada após vasculhada, o sentimento é de satisfação, por poder conferir vários detalhes.

Os elogios para a história acontecem também por causa do foco da narrativa. Embora o tema seja propício para lidar com ficção científica ou escatologia (estudo do fim dos tempos), o que faz valer  enredo são as pessoas. O jogo faz questão de focar nas pessoas, seus dramas e questões em meio a todo o caos.

O bom e velho rock’n roll

Se uma boa história precisa de uma trilha pra colocar o espectador dentro do tema, é o que acontece em Dead Synchronicity. Com muito rock, você pode conferir a tensão sempre constante, seja na ação violenta que acontece em volta dos cenários, ou mesmo na conversa, que seguem a linha “desconfie de todos”.

As vozes também estão bem feitas. O trabalho de dublagem apresenta as sensações dos personagens e ajudam muito a contar a história. Uma pena apenas, e isso não é uma reclamação, é a falta de legendas em português. Mais pessoas poderiam entender o que acontece no game se houvesse legenda em nosso idioma, mas mesmo assim o trabalho sonoro ajuda a entender o que se passa, em conjunto com seu visual.

Visual de primeira qualidade

Com traços desconjuntados e personagens “tortos”, a parte visual cumpre bem seu papel de mostrar um mundo confuso e desesperado. Visual que lembra história em quadrinhos e detalhes nos cenários em tons acinzentados e frios mostram com competência como seria o mundo caso a tal Grande Onda fosse real, mesmo com traços cartunescos.

O game tem seu visual tão bem construído, que o que nos resta é parar e apreciar alguns cenários:

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Análise Arkade - Uma aula de narrativa no indie espanhol Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today

Para o bem ou para o mal, jogabilidade old School

Qualidade para uns, problema para outros, a verdade é que a jogabilidade de Dead Synchronicity é totalmente old school. Jogar o game te faz relembrar os bons tempos dos clássicos da Lucas Arts e em alguns momentos até dá a impressão que estamos jogando um título da lendária produtora.

E é essa a intenção por aqui. Sem inovações no gameplay, o que você faz no jogo todo é conversar, buscar itens para resolver quebra cabeças e interagir com cenários e pessoas, para mais conversa. Pode parecer bacana jogar um título novo com “cara de velho”, porém muito da narrativa se perde pelo gameplay trazer momentos de forte emoção de maneira fria.

A única inovação aqui é que a história não é linear e paradoxos temporais fazem parte do enredo, garantindo uma história mais “pessoal”. Os mais apressados claramente terminarão o jogo e é capaz de não entender metade do que o game propõe, porém quem se dedicar terá horas e horas de bate papo, mas será recompensado com muitos detalhes.

Inovação presa na tradição

Dead Synchronicity: Tomorrow Comes Today é um caso curioso: promete muita inovação mas acaba preso em um gameplay antigo. Mas não se trata de propaganda enganosa, na verdade é um título moderno, com ideias modernas mas que bebe da rica fonte da Lucas Arts. Só que por beber desta fonte demais, ideias que poderiam ser mais interessantes não foram executadas.

O game espanhol do Fictiorama Studios já está disponível, e pode ser encontrado para Windows e Mac. E é a primeira parte de alguns capítulos que mostrarão mais sobre este “fim do mundo”.

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