Análise Arkade – a pancadaria exagerada de Injustice: Gods Among Us (PS3, X360, Wii U)

20 de abril de 2013

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Quando se fala de jogo de luta com personagens da DC, a referência mais recente que tínhamos é o sofrível Mortal Kombat Vs. DC Universe. Porém, é das mãos dos produtores de Mortal Kombat que recebemos Injustice: Gods Among Us, game cuja análise você confere na sequência!

Fortemente inspirado pelo último Mortal Kombat, Injustice traz os maiores heróis e vilões do Universo DC para muita pancadaria. Porém, como já é de praxe nos jogos da produtora (que, não esqueça, é composta basicamente por funcionários da extinta Midway), existe um contexto por trás desta pancadaria.

História

Enquanto jogos de suma importância – como Street Fighter, por exemplo – se apoiam na simples (porém eficiente) ideia de um torneio de artes marciais, a NetherRealm (e antes dela, a Midway) sempre tentaram fundamentar seus jogos com grandes histórias.

Em alguns casos, isso dá certo: o mais recente Mortal Kombat possui um modo história muito bacana. Em outros, nem tanto: jogos como Mortal Kombat: Armageddon e seu impagável Liu Kang zumbi e o próprio Mortal Kombat Vs. DC Universe – com suas explicações mirabolantes para a união de dois universos tão distintos – são provas de que nem tudo deve ser tão explicado.

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A história de Injustice: Gods Among Us possui seus altos e baixos. Se por um lado o esforço do NetherRealm é louvável, por outro temos uma boa premissa, que não se desenvolve necessariamente em uma boa história.

O conceito inicial é excelente: uma bomba armada pelo Coringa explode em Metropolis, matando milhões de pessoas. Entre as vítimas estão Lois Lane e o filho que ela teve com Clark Kent. Sempre sádico, o vilão subestima as perdas do herói ao ponto de fazê-lo perder o controle e se tornar quase um ditador maluco.

Confira abaixo a introdução do game com seu áudio original em inglês:

http://youtu.be/IY_iFlUbMTk

Ou se preferir, assista ao mesmo vídeo com áudio em português (falaremos mais sobre a dublagem em breve).

Sem dúvida esta treta entre o Superman e o Coringa tem muito potencial. A simples ideia de um cara imbatível como o Superman descontrolado já é muito boa. Porém, a inserção de praticamente todos os demais personagens não é nem de longe tão impactante. É como se a loucura do Superman afetasse a todos no universo DC, de modo que a história começa bem, mas rapidamente perde seu pique, tornando-se nada mais que uma justificativa nem tão boa para justificar os megalomaníacos embates.

Personagens

Por falar nisso, devemos parabenizar o NetherRealm Studios pela sua competente escolha de elenco. Já de cara temos nada menos que 24 personagens, divididos em partes iguais entre heróis e vilões.

Obviamente os mais famosos estão aqui, mas temos escolhas um pouco menos tradicionais, como Solomon Grundy, Ravena e Nevasca. Embora nem tão conhecidas pelos “não fãs” de quadrinhos, estes personagens sem dúvida valorizam o game, embora o recente anúncio do Lobo como DLC tenha revoltado muita gente, que preferia ter o adorador de golfinhos diretamente no game original ao invés de algum “coadjuvante”.

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Os personagens estão muito bem representados, e muitos deles tiveram seus uniformes repensados para algo mais “agressivo”: saem os collants, entram trajes que parecem armaduras, com placas peitorais, cores mais soturnas e outras novidades.

Além disso, cada lutador apresenta um estilo de luta bem específico, que o difere totalmente dos demais. Os comandos de golpes especiais podem ser os de sempre (falaremos sobre isso adiante), mas os tipos de ataques e a maneira como eles se juntam para formar combos é diferente, embora lembre muito o que já vimos em Mortal Kombat (também falaremos mais sobre isso em breve).

Como já dissemos, a maioria dos personagens têm justificativas pífias para entrar em combate, mas em outros jogos isso nunca foi problema (o modo história de The King of Fighters XIII, por exemplo, traz os diálogos mais sem noção dos últimos tempos) e, pelo menos eles acrescentam muita variedade às partidas.

Pancadaria

Bom, mas sejamos honestos: ninguém compra um jogo de luta esperando uma grande história, certo? O que buscamos é pancadaria de qualidade, e neste ponto o pessoal do NetherRealms fez a lição de casa direitinho. Fizeram a lição “colando” um pouco de um trabalho nota 10 (Mortal Kombat), mas fizeram.

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É impossível não traçar um paralelo entre os dois jogos, pois eles são muito parecidos, tanto em visual quanto em gameplay. A dinâmica dos combates, a fluidez dos movimentos e até mesmo alguns golpes são muito semelhantes.

Isso não é nem de longe um ponto negativo, afinal a qualidade do mais recente Mortal Kombat é indiscutível, e utilizá-lo como parâmetro para outro jogo já deixa claro que estamos falando de algo, no mínimo, bom. Esta aproximação até torna o jogo mais amigável para os familiarizados com Mortal Kombat, visto que o grosso das mecânicas de combate é bem parecido.

As novidades começam pelos superpoderes. Como agora temos personagens que podem voar, aumentar se curar, conjurar coisas ou simplesmente aumentar sua própria força, perdeu-se um botão de ataque: agora temos três botões de ataque comuns, e um botão específico para superpoderes.

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Obviamente, nem tudo fica restrito a este botão, afinal superpoderes, golpes especiais e magias são coisas bem diferentes. Combinações clássicas como meia lua, dois para trás ou trás, frente + algum botão de ataque comum faz com que seu personagem atire projéteis, raios, ou execute algum outro golpe especial, independente de seu superpoder.

Ainda que Mortal Kombat seja ótimo, é evidente que o NetherRealm Studios está mais confiante com o que tem em mãos: as animações estão muito mais fluidas, favorecendo a criação de combos e sequências mais complexas. Com um pouco de habilidade e criatividade, em poucos minutos você estará improvisando combos de 7 ou 8 hits, o que é muito legal, pois permite que até mesmo um jogador iniciante se sinta um verdadeiro campeão.

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Embora não tenha litros de sangue jorrando e ossos se quebrando, a pancadaria de Injustice é brutal. Podemos “sentir o peso” das porradas (amplificado pela emblemática câmera lenta) e alguns golpes – como o especial da Mulher-Gavião, em que ela enfia sua maça com gosto na cara do inimigo (foto acima) – são violentos, mesmo sem os requintes de crueldade que temos em Mortal Kombat.

Exageros

Isso nos traz ao estilo megalomaníaco do jogo. Estamos falando de personagens com capacidades sobre-humanas, então temos aqui alguns golpes e habilidades bem extravagantes que carecem de muita suspensão de descrença por parte do jogador.

Por exemplo: em seu especial, o vilão Apocalypse literalmente atravessa o planeta esmagando a cabeça de seu inimigo contra o solo. Sinestro leva o oponente para o espaço sideral e esmaga-o entre dois meteoros. Superman dá porradas que tiram seu adversário da órbita, e o coloca de volta com a mesma potência. Aquaman transforma o inimigo em petisco de tubarão (será que o Batman ainda tem seu famoso spray repelente de tubarões?).

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Personagens realmente “super” aguentam tudo isso de boa, mas e o Batman? E a Arlequina? O Coringa? Eles não são superpoderosos, jamais conseguiriam sobreviver a tais ataques. Ok, estamos falando de um jogo de videogame, mídia que sempre adotou o fantástico como algo totalmente natural, em benefício da diversão, mas aqui temos um novo patamar de surrealismo.

Temos ainda a alardeada transição de cenários: em diversas arenas, um golpe bem aplicado no canto da tela joga o inimigo (muito) longe – atravessando muitos pisos e paredes no processo -, de modo que a luta continua em outro ambiente. A questão dos personagens “comuns” continua: como poderiam eles aguentar tamanhas pancadas sem (no mínimo) quebrar todos os ossos do corpo?

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Bom, mas sejamos sinceros: isso prejudica o jogo? Só mesmo para o mais reclamão dos fanboys. Nossa dica é: se preocupe menos e se divirta mais. Provavelmente os fãs de quadrinhos se sentirão realmente ofendidos ao ver a cara do Batman sendo utilizada como britadeira pelo Apocalypse e, mesmo assim, ele levantar praticamente sem nenhum arranhão, mas isso deve ser relevado em prol da diversão.

Não esqueça: estamos falando de um jogo da produtora que já nos brindou com um game onde os personagens têm seus ossos quebrados e/ou seus órgãos perfurados (ah, a beleza dos x-ray attacks) e ainda assim continuam lutando como se nada tivesse acontecido.

Aliás, se você ficou curioso, confira no vídeo abaixo um apanhado com os golpes especiais mirabolantes de todos os heróis e vilões do game:

É exagerado? Muito! Faz sentido? Não! Mas mesmo assim, esmagar seu oponente entre dois ônibus luminescentes é algo que nos dá uma certa satisfação sádica. Como você viu acima, os golpes especiais de Injustice beiram (e até superam) o absurdo, mas no geral contribuem positivamente com a qualidade da pancadaria.

O que não é necessariamente algo tão positivo assim são as já mencionadas transições de cenários. Além de exageradas, elas não acrescentam nada ao combate. Jogos como Dead or Alive e Street Fighter X Tekken já utilizaram recursos semelhantes, mas aqui parece que a megalomania falou mais alto, tornando cada transição mais longa e desnecessária do que precisava ser. Felizmente, este recurso pode ser desativado, para que tenhamos lutas mais “tradicionais”.

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E já que falamos em cenários, outra novidade é a interatividade com elementos da arena. Carros, painéis de controle, canos, móveis,bombas e mais uma infinidade de coisas podem ser utilizadas durante a luta. Cada personagem interage de uma forma diferente com estes objetos, o que é bacana. Porém, como no caso das transições, este é um recurso que realmente não agrega muita coisa, tornando-se repetitivo em pouco tempo.

Aspectos técnicos

Nesta altura, já deve ter ficado claro que este jogo lembra muito Mortal Kombat, e isso vale também para seu visual. Por ser construído em cima da mesma Unreal Engine, o game partilha as mesmas qualidades (e os mesmos defeitos) do jogo anterior.

Como já dissemos, os personagens estão muito bem modelados e, embora suas animações estejam bem mais fluidas, alguns movimentos ainda são tão milimetricamente perfeitos que parecem um tanto robóticos. Temos ainda diversos movimentos claramente “reciclados” de Mortal Kombat (a ombrada do Apocalypse é idêntica à do Shao Kahn), o que torna as comparações ainda mais fundamentadas.

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Ainda falando de gráficos, se temos jogos onde a mudança de cutscente para gameplay é quase imperceptível, aqui ela é bem evidente: o nível de detalhes de personagens e cenários muda consideravelmente, o que causa a impressão de que o jogo é até um pouco “feio” se comparado às suas próprias cutscenes. Salvas estas transições, porém, o visual do jogo se mantém na média, com explosões, lasers e pirotecnias bem executadas.

No aspecto sonoro, uma surpresa: o game chegou ao nosso país totalmente em português. E não estamos falando só de menus e legendas, até mesmo as vozes dos heróis estão em nosso idioma, e temos alguns dubladores bem conhecidos no elenco, como Guilherme Briggs (Superman) e Ettori Zuin (Batman).

Ao contrário de outros jogos recentes (como Gears of War: Judgment e God of War: Ascension), a dublagem de Injustice funciona muito bem e não causa estranheza. Talvez isso aconteça por que muitas das vozes são as mesmas que já vimos em desenhos animados ou mesmo filmes dublados de personagens da DC.

O resultado é de longe uma das melhores dublagens nacionais que já tivemos, pois não só é de extrema qualidade, como ainda conta com um “fator nostalgia”.Já deixamos o link da abertura dublada lá em cima, mas se quiser ver um pouco mais, abaixo segue um trailer dublado em nosso idioma:

Como se não bastasse o excelente trabalho de dublagem, temos ainda uma trilha sonora inspirada, cuja qualidade só é ofuscada pelo som da pancadaria propriamente dita, que é de alto nível, e torna cada porrada ainda mais dolorosa.

Modos de jogo

Aqui temos alguns altos e baixos: além do já mencionado modo história, temos o tradicional modo arcade e algumas modalidades de versus. Faz falta, porém, um tutorial mais bem acabado: existe um modo treino bem básico, mas ele não te ensina a jogar, simplesmente permite que você pratique.

Para compensar, temos as dezenas de desafios do S.T.A.R. Labs. É mais ou menos como a Challenge Tower de Mortal Kombat: diversos desafios específicos para cada personagem, o que “obriga” que você domine as nuances de cada lutador e vai te fazer suar a camisa caro esteja planejando “platinar” o jogo.

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Já em termos de multiplayer, temos o básico, feito de maneira competente: um organizado lobby para disputas online, onde podemos desafiar outros jogadores, assistir às lutas de terceiros e tentar a sorte em salas onde vários players brigam pelo título.

Porém, como em qualquer outro jogo de luta, o legal mesmo é chamar os amigos para uma pancadaria offline. Desmoralizar seus amigos com um dos especiais exagerados já mencionados sempre é divertido, então arranje um bom punhado de amigos para curtir o modo versus como ele merece.

Conclusão

Injustice: Gods Among Us não é um jogo de luta revolucionário, mas sem dúvida é muito divertido de se jogar, pois sua jogabilidade é sólida, e suas mecânicas são bem acessíveis.

Apesar de algumas novidades serem descartáveis, o apelo dos personagens da DC e os exageros que funcionam em prol da diversão juntos formam um título que cumpre muito bem o seu papel… e ainda faz tudo isso com uma dublagem de primeira!

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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