Análise Arkade: o terror está de volta com Dead Space 3 (PC, PS3, X360)

24 de fevereiro de 2013

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Prepare suas fraldas, caro leitor: na sequência você confere a análise completa que a Arkade preparou para Dead Space 3, novo título de uma das mais tenebrosas séries da atual geração!

Embora a qualidade da série Dead Space seja incontestável, o terceiro capítulo da franquia foi cercado de apreensão e expectativa. A Visceral Games e a Electronic Arts passaram os últimos meses alardeando diversas mudanças um tanto preocupantes.

Vejamos: campanha cooperativa? Mais ação e menor terror? Microtransações? Será que todas estas novidades não poderiam condenar uma das melhores séries que surgiram nesta geração?

Logo você vai saber. Antes, precisamos falar da trama do game, afinal, por que diabos Isaac Clarke está mais uma vez envolvido em um pesadelo repleto de Necromorphs? Basicamente, o engenheiro é tirado de seu sossego catatônico para uma missão emergencial: viajar até o inóspito planeta Tau Volantis para resgatar Ellie Langford, personagem já bem conhecida dos fãs da série.

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Ellie chefiava uma incursão a Tau Volantis quando as comunicações foram interrompidas. Obviamente, há algo de errado com o planeta: uma força maligna emana daquele mundo, deixando claro que ele tem alguma relação com o The Marker, artefato místico responsável pela praga dos Necromorphs. E há um exército deles por lá, como Isaac irá invariavelmente descobrir.

O game começa de maneira frenética e familiar, com Isaac chegando ao planeta gelado de maneira um tanto acidentada. Embora a perspectiva de um grande e selvagem mundo para ser explorado pareça tentadora, invariavelmente o jogo nos arrasta para dentro de bases, túneis ou naves, de modo que a imensidão gélida de Tau Volantis só pode ser vislumbrada de vez em quando, depois de várias horas de jogo.

Isso não desmerece nem um pouco o game, afinal, Dead Space sempre ganhou pontos por sua atmosfera claustrofóbica e seu clima sombrio. O fato de passarmos mais tempo em túneis escuros e bases subterrâneas só fortalece a grandiosidade do novo mundo em que se passa o game, pois sempre que vemos a superfície de Tau Volantis é sinal de que algo grande vai acontecer… ou aparecer.

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A jogabilidade não sofreu mudanças drásticas e continua oferecendo a precisão que se espera, embora algumas ações – como a esquiva, por exemplo – estejam longe da perfeição. A ideia de “mais ação e menos terror” se faz presente em alguns momentos onde o jogo assume um tom mais frenético, com um sistema de cobertura ao estilo Gears of War.

Isso acontece pois desta vez os Necromorphs não serão seus únicos inimigos: os alienados seguidores da Unitologia irão infernizar sua vida esporadicamente durante a campanha, e eles portam armas de grosso calibre, o que torna o sistema de cobertura extremamente necessário durante os tiroteios. Pois é, goste você disso ou não, Dead Space 3 tem seus momentos de ação desenfreada.

Felizmente, o jogo ainda consegue nos deixar tensos na maior parte do tempo: temos muitos corredores e ambientes escuros, com Necromorphs que podem pular de praticamente qualquer canto. As criaturas estão mais bizarras e agressivas do que nunca, e temos novas espécies de Necromorphs que se movem mais rapidamente, o que deixa as coisas bem emergenciais, visto que nem sempre aquela velha estratégia do desmembramento será efetiva.

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Para encarar as novas hordas de inimigos, Isaac Clarke está equipado com sua fiel Plasma Cutter, e algumas outras armas básicas, mas desta vez podemos criar e customizar praticamente todas as armas, modificando ou criando novos itens em um elaborado sistema de criação de equipamentos.

A novidade acrescenta uma pegada meio Borderlands ao game: você não estará lutando apenas para sobreviver e seguir com a história, mas também para arrecadar loot, conseguir novos itens e construir novas armas.

Considerando que peças, itens e acessórios “dropam” da carcaça de qualquer inimigo morto (basta um belo pisão sobre eles), a busca por equipamentos torna a matança de Necromorphs mais viciante do que nunca. Com o tempo, você até arranja pequenos bots que ajudam na coleta dos itens espalhados pelo cenário.

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Com as tranqueiras que reúne, você pode melhorar os equipamentos que já tem ou construir do zero armas completamente novas. É um trabalho que exige paciência e muita experimentação, mas é recompensador passar algum tempo fazendo alguns testes para criar aquela arma devastadora que vai te ajudar a encarar as infindáveis hordas de inimigos. Depois que sua arma estiver forjada, ela ainda pode ser melhorada em diversos aspectos em um sistema de upgrades bem intuitivo.

Aqui entram as polêmicas microtransações do game: quem quiser pode investir dinheiro real para comprar acessórios, itens e equipamentos melhores para turbinar suas armas, uma novidade que não foi vista com bons olhos pela comunidade gamer.

Porém, pode respirar aliviado: como em Diablo III, gastar dinheiro na “lojinha” de equipamentos é algo totalmente opcional. Embora a tal loja conte com algumas armas já prontas de encher os olhos, é perfeitamente possível criar um ótimo arsenal sem gastar um centavo, apenas com as peças coletadas durante o jogo. Porém, é fato que o constante lembrete das armas e peças que podem ser compradas chega a irritar.

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Considerando que suas criações podem ter tiros primários e secundários, projéteis com efeitos variados, diferenças em poder de fogo, velocidade, capacidade de munição e muito mais, variedade é o que não vai faltar mesmo para quem curtir o sistema de criação de armas sem investir dinheiro real.

Mas a maior novidade de Dead Space 3 sem dúvida é seu modo cooperativo: pela primeira vez na série, dois jogadores podem se reunir online para experimentar o terror por uma nova perspectiva. John Carver é o parceiro de Isaac nesta missão, e quem sempre achou que Dead Space era uma experiência solitária, perceberá que este modo cooperativo pode ser bem divertido.

Divertido, porém dispensável. O andamento da trama não sofre grandes mudanças e a inclusão de um novo personagem resume-se a diálogos que não acrescentam muito a uma história onde, sejamos sinceros, só Isaac Clarke realmente nos interessa. Carver até tenta ser um personagem interessante, mas sua chegada à série não foi pensada para enriquecer a trama: ele está ali apenas para justificar o modo cooperativo.

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Ainda assim, vale a pena conferir a campanha duas vezes – uma sozinho, outra com um amigo – para conferir as diferenças, mas fique avisado que, salvo algumas boas sacadas (como “alucinações” que um jogador vê, outro não), não existem mudanças significativas no roteiro.

Em termos de jogabilidade, porém, as coisas mudam bastante: jogar Dead Space 3 com um companheiro deixa as coisas muito mais dinâmicas, pois um pensamento tático se forma inconscientemente, de modo que um jogador pode dar cobertura para o outro, socorrê-lo em momentos de perigo e muito mais. Perde-se um pouco da imersão solitária, mas ganha-se na diversão, pois pisotear Necromorphs com um amigo é algo que realmente funciona.

Infelizmente, o alardeado sistema drop in/drop out não funciona tão bem assim: você precisa encarar muitos load times enquanto jogadores entram e/ou saem de sua partida. Dead Space sempre se destacou por “camuflar” aspectos técnicos de maneira inteligente (os loadings são elevadores, a barra de energia é incorporada ao traje do protagonista), mas neste caso isso não acontece, e novamente, a imersão acaba comprometida.

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Como para muitos jogadores o que importa ainda é a campanha solo, fique sossegado: Dead Space 3 mantém a qualidade que era esperada, com uma trama densa, onde o terror ainda tem espaço e o clima claustrofóbico e desolador se mantém presente na maior parte do tempo. A narrativa está mais com cara de ficção científica e menos de terror psicológico do que antes, mas este é um fato aceitável se considerarmos a “evolução” de Isaac Clarke no decorrer da série.

Por termos um mapa maior, a Visceral Games pôde ousar mais: como em um RPG, temos diversas side-quests que o jogador pode cumprir quando (e se) quiser. Não é nada tão amplo quanto em um Skyrim da vida, mas deixa o jogo menos linear, oferecendo mais liberdade ao jogador enquanto ele explora as inóspitas paisagens de Tau Volantis que, mesmo claras e bem iluminadas, conseguem se manter assustadoras por conta da neve e de uma onipresente e impenetrável neblina.

Além dos já famosos momentos sem gravidade e puzzles (que estão bem mais simples), o novo cenário oferece ainda alguns dos maiores (em tamanho, mesmo!) chefes da trilogia. Criaturas grotescamente enormes e retorcidas irão testar sua perícia nos controles, em batalhas épicas e empolgantes.

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A parte técnica continua sendo um primor: o visual está mais bonito do que nunca – embora “bonito” não seja um adjetivo muito apropriado – com cenários bem construídos, efeitos de luz belíssimos e animações convincentes. As mortes continuam sanguinárias como sempre, e os Necromorphs estão ainda mais orgânicos e nojentos, com uma riqueza de detalhes que pode enojar os mais sensíveis.

O som de Dead Space 3 também mantém a qualidade da série: a Visceral sabe como utilizar um bom design sonoro para aumentar a imersão. O som é claro e cristalino e um bom sistema surround consegue deixar até o mais valente dos jogadores meio paranóico, pois respingos, urros e o rastejar das criaturas que não podemos ver podem ser ouvidos em todo canto. As dublagens também cumprem seu papel e a trilha sonora só aparece para intensificar momentos especialmente dramáticos.

Em resumo, Dead Space 3 ainda é um legítimo Dead Space. As mudanças e novidades que deixaram muitos gamers preocupados são meros detalhes que, no geral, não conseguem afetar a identidade da série.

Para alegria dos corajosos (e dos fabricantes de fraldas), Dead Space se mantém como uma das melhores opções para os fãs de um bom survival horror. Com algumas pitadas de ação e algumas novidades irrelevantes, mas ainda, essencialmente, um survival horror.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, podcaster e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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