Arkade Series: Assistimos 3%, a primeira produção brasileira da Netflix

28 de novembro de 2016

Arkade Series: Assistimos 3%, a primeira produção brasileira da Netflix

É mais difícil falar de 3% do que parece. A produção nacional que estreou nesta última sexta (25) na Netflix buscou apresentar algo igual, mas diferente. A Netflix já tem flertado conosco há um bom tempo: apresentou Narcos com Wagner Moura e até já exibiu várias cenas no Rio de Janeiro em Lilyhammer, seriado de comédia envolvendo mafiosos que foi parceiro da empresa de streaming e trouxe para cá atores noruegueses e Steven Van Zandt, guitarrista da E Street Band de Bruce Springsteen e ator (ele participou de Família Soprano), mas agora, nos apresenta algo 100% brasileiro. Temos, então, um seriado futurista que traz tudo o que a cartilha dos seriados do gênero dita: referências à religião e política, história com reviravoltas e involuntariamente, neste caso, foco maior nos personagens.

Temos, então, um centro onde os jovens de 20 anos precisam passar por um centro de seleção, no qual os melhores irão para o Maralto, uma espécie de cidade utópica que foi construída apenas para “quem merece”. Quem jogou Bioshock sabe bem do que estamos falando, e o futuro da série é bem interessante, por ser algo próximo, palpável. Porém, em nenhum momento a história nos prende. Não temos a sensação de mistério, as reviravoltas são confusas e mesmo que dê pra notar a tentativa, a questão da falta de segurança com o que pode ou não acontecer com os personagens em nada faz efeito aqui. A impressão que temos, é que todo o roteiro foi feito para não ser igual a nada, mas no fim, era melhor ter apelado mais para os clichês, por mais que doa dizer isso.

Arkade Series: Assistimos 3%, a primeira produção brasileira da Netflix

Fazem parte do seriado o grupo responsável pelo complexo, onde praticamente todas as cenas são rodadas, local em que conselheiros e funcionários controlam todo o processo, que é uma mistura de Jogos Vorazes com — sim — provas do Big Brother, em um clima de vestibular, claramente mais tenso. E também um grupo rebelde, chamado de A Causa. E aqui temos o problema mais grave: passaram-se os oito episódios e nós terminamos a primeira temporada sem saber muito sobre o grupo que comanda o processo e menos ainda sobre A Causa, que simplesmente tira toda a questão de choque de forças que 3% gostaria de oferecer ao público. O que poderia ser algo, nas devidas proporções, digno de uma batalha entre Império e Rebeldes, no fim vira apenas algo extremamente rasos, nos dando a entender que foram colocados ali só para tapar buraco. Mesmo tentando nos mostrar que existe um mundo injusto enquanto há outro apenas para os “escolhidos”, denunciando desigualdade.

Os valores e assuntos que o seriado questiona, como a meritocracia, as questões de fé, os questionamentos sobre o que é certo e errado e o ponto o qual o ser humano chega para resolver seus problemas também são apenas pincelados, com uma leve exceção ao último ponto mencionado e a questão do passado. A filhadaputagem de alguns durante um período e os problemas dos passados dos personagens, apresentados em flashback, mostram o tanto de potencial que a série desperdiçou, na tentativa de não assustar demais o público. E mesmo sem querer, as evoluções dos personagens são destaque aqui, especialmente por conta de quatro atores.

Arkade Series: Assistimos 3%, a primeira produção brasileira da Netflix

Michele (Bianca Comparato), Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Vaneza Oliveira) e Ezequiel (João Miguel) praticamente carregam a série nas costas, ajudando e muito na qualidade do produto final, mesmo com reviravoltas tão esquisitas, para todos. Os quatro fazem com que seus personagens tenham muita vida, e nos fazem praticamente deixar a história em segundo plano, nos liberando para conhecer mais sobre seus respectivos passados e nos prendendo em suas evoluções. Também é justo mencionar o bom trabalho de Julia (Mel Fronckowiak), a esposa de Ezequiel, e Matheus (Sérgio Mamberti, o nosso querido Dr. Victor do Castelo Rá-Tim-Bum), um dos conselheiros. O trabalho que tiveram para realizar o roteiro confuso do seriado é digno de aplausos e mostra como estamos bem servidos quanto aos atores. Mas também, infelizmente, serviram para denunciar mais ainda a atuação artificial de grande parte do elenco, em especial os mais envolvidos com o Processo.

No fim, vejo futuro para 3%. Assim como o Processo do seriado, um projeto novo precisa, após a aprovação de seu parceiro — no caso, a Netflix –, da aprovação do público. Vejo no seriado uma vontade imensa de se libertar e apresentar algo ousado, mas que se contentou em ser um mais do mesmo, transformando esta ousadia em confusão. Mas, acredito que, além da boa recepção do público, devido ao já mencionado excelente trabalho dos atores citados e as questões — cito como a mais forte, a desigualdade — levantadas nos episódios, podemos esperar sim uma boa segunda temporada, já que a primeira serviu apenas para nos apresentar bem os personagens, e temos muitos episódios para entendermos melhor sobre A Causa, o contexto do mundo da série como um todo, entre tantas respostas. Por ser algo novo, a timidez pode ter atrapalhado um pouco, mas com know-how e com os envolvidos mais à vontade, a premissa é boa.

3% está disponível desde 25/11 na Netflix, e tem um total de 8 episódios em sua primeira temporada.

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