Arkade Series: Assistimos Jessica Jones. A melhor heroína “não-heroína” que você já viu.

22 de novembro de 2015

Arkade Series: Assistimos Jessica Jones. A melhor heroína "não-heroína" que você já viu.

Depois do Demolidor, agora é a vez de Jessica Jones dar o ar da graça na Netflix. Assistimos a primeira temporada e você pode conferir já as nossas impressões do seriado.

Como a maioria já sabe, a Netflix e a Marvel uniram forças para produzir seriados sobre heróis do selo de HQs. Estes heróis não são parte do “dream team” de Os Vingadores, mas são queridos pelos leitores das histórias em quadrinhos e trazem dramas que são melhores de que vários heróis “mais famosos”. E como história é ponto chave para um seriado de sucesso, são estes personagens “menos famosos” que acabam ganhando o holofote.

Dessa maneira tivemos a redenção do Demolidor de seu filme “quem se importa” de anos atrás, com história interessante e principalmente, uma produção crua e interessante no que diz respeito aos combates, e agora temos a apresentação ao grande público de Jessica Jones, uma personagem extremamente complicada de se desenvolver — e lidar, quem assiste sabe do que estamos falando — mas que propõe uma história completamente intrigante, cheia de reviravoltas e bem pesada em mais um “filme de 13 partes” da Netflix.

Vale lembrar que os dois seriados, assim como possíveis próximas produções se baseiam no universo de Os Vingadores (três anos após os eventos do primeiro filme, para ser exato), embora o tom e o público do cinema e do sofá são totalmente distintos. Porém, é comum ouvir em Jessica Jones referências ao “grandalhão verde” ou ao “cara de azul que sai por aí”, mostrando que assim como nos quadrinhos, existem os heróis mais grandiosos e os mais comuns, que embora tem algum tipo de poder, tem os mesmos problemas que eu e você. Bom para o espectador, que ganha uma história mais humana e bem cinza, que nos reserva o direito de não adivinhar o final.

Mais sombrio, mais cru. Mais sangue.

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São poucos aqueles em que podemos confiar.

Demolidor contava a história de um nobre advogado que quer fazer a diferença em uma Nova York corrompida e escura. E sua história contou com vários momentos pesados e com muito sangue sendo derramado. Porém Jessica Jones encomendou mais barris de sangue para seus episódios pelo simples fato de que embora nobre — ou em busca da tal nobreza — Jessica conta com dois agravantes para obter o título de heroína.

Primeiro, sua personalidade totalmente complicada que vai sendo construída de acordo com eventos trágicos durante sua vida, agravadas pelos traumas com Kilgrave, que gerou uma pessoa desgostosa da vida, que busca conforto na bebida e de personalidade extremamente forte. E em segundo, temos o fato de que Jessica antes de querer salvar o mundo, quer salvar a si mesma, colocando um ponto final nas ações insanas de Kilgrave, agindo muitas vezes de maneira irresponsável. Mesmo assim, Jessica sofre com sangue derramado e ela mesma não quer chegar a extremos com ninguém, trazendo a tal nobreza que os heróis carregam com seus uniformes.

Jessica não é uma imponente super heroína e isso é muito bom, para a construção dos episódios. Ela é gente como a gente, sofre dos mesmos problemas, incluindo pagar suas contas — por isso que quer ser detetive, já que é a única coisa que sabe fazer bem, segundo a própria — e lutar contra problemas pessoais. O que vemos é uma pessoa com super-poderes, mas que luta contra mais inimigos do que os icônicos vilões que querem dominar o mundo.

O que nos leva ao vilão, Kilgrave. Que também não quer dominar o mundo, muito menos assaltar bancos. Diria que Kilgrave, dada as devidas diferenças, é o mais próximo do Coringa que a Marvel conseguiu chegar, com sua insanidade e imprevisibilidade nas suas investidas. O vilão também tem suas explicações para seus atos e é uma pessoa extremamente doente e má, disposta a tudo para seus objetivos, que não são nada nobres se compararmos com a “pureza da raça humana” pregada pela maioria dos inimigos Marvel.

Mas isso não impede de se ver muito sangue e violência nos treze episódios. Jessica Jones estreou no selo MAX da Marvel, que é o único que permite conteúdo extremo, envolvendo sexo, drogas e rock’n roll violência. Se você começou a ver algum episódio sem saber disso, esperando uma produção do tipo Supergirl, sinto muito mas você colocou no canal errado.

Porém, é errado criticar a violência do seriado. A falta de violência em um bairro contaminado por ela seria no mínimo estranho e se mesmo no nosso mundo, sem os tais poderes, atrocidades semelhantes acontecem, imagine em um universo aonde um homem que cresce e fica verde pode atirar um carro em você. Por isso, assista Jessica Jones esperando sim, muita violência, mas acima de tudo, uma boa história.

A definição perfeita de perseguição gato e rato.

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Lembra de Tom e Jerry? Falei da perseguição no estilo do desenho em Narcos, mas nada supera o “relacionamento” entre Jessica e Kilgrave. Se você gosta de coisas previsíveis, esqueça este seriado e vá ver outra coisa. Nunca se sabe o que acontece e as reviravoltas são constantes aqui, sempre com a já mencionada violência sendo a ferramenta número um.

Porém Jessica Jones mostra um outro tipo de violência, ou melhor, várias formas de violentar alguém. Além das óbvias feridas criadas por armas e porrada, também é abordado por aqui temas como estupro, abuso mental e

Enquanto Jessica e Kilgrave vão desempenhando uma história muito bem construída, episódio por episódio, flashback por flashback, o mesmo não podemos dizer dos outros personagens. Se bem que, a maioria deles estão ali exatamente pra isso: para desafogar o espectador das emoções inseridas entre os dois principais e tapar o buraco de ambas as ausências. No fim, você só irá se lembrar do enredo principal, não dando a mínima para nenhum personagem secundário, independente do que eles tenham passado.

Voltando ao gato e rato, é impressionante observar um arrumando armadilha para o outro. O ambiente cinza do enredo elimina qualquer possibilidade do simples “heroísmo”, e apresenta de maneira nada mastigada, através de flashbacks e conversas, as razões que levam aos eventos retratados nos episódios. Neste caso, ponto positivo para a história principal, que assim como um bom romance, faz o espectador apreciar cada momento e não apenas assistir esperando tiroteio ou efeitos especiais.

Referências a todo momento

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Uma das grandes reclamações dos fãs mais xiitas dos quadrinhos é que as adaptações cinematográficas pegam muito leve em relação às HQs, para atrair um público maior. Claro que com a Netflix as questões são as mesmas e nenhum estúdio é bonzinho o suficiente para pensar no bem da obra em primeiro lugar do próprio lucro.

Mas como Jessica é mais conhecida pela turma dos quadrinhos do que pelo grande público, a Netflix e a Marvel tiveram que trazer várias destas referências como o marido — nos quadrinhos — dela, Luke CageKilgrave, Trish, entre inúmeros personagens, assim como referências a Demolidor, com participação de personagem do outro seriado e tudo o mais. Falando no Homem sem Medo, a trama nos leva a acreditar que o seriado acontece ao mesmo tempo do seriado do herói cego, já que mesmo com a existência dele, em momento algum ouvimos falar sobre eventos em Hell’s Kitchen, Rei do Crime e coisas do tipo.

E falando em quadrinhos, vale lembrar que as histórias dos quadrinhos, se bem utilizadas no seriado, podem render boas histórias. Não vamos falar disso aqui, mas quem acompanha um mínimo de suas histórias, sabe bem do que estamos falando, incluindo uma união perfeita entre dois personagens já “Netflixados”.

Ao mesmo tempo que o seriado não se preocupa nem um pouco em “contar a história” de Jessica, da maneira mastigada de sempre (apresentação – descoberta de poderes – descoberta da vontade de salvar o mundo), também vemos vários personagens em potencial aparecendo e sendo aos poucos desenvolvidos. Para os espectadores sem intimidade com os quadrinhos, será interessante e até passível de reviravoltas possíveis atitudes que aconteçam em próximas temporadas, mas quem já chegou até na metade do seriado, já sabe que previsibilidade não tem lugar aqui.

O mundo cinza sem frescura

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Quê que cê tá olhando, hein?

O tema feminismo é um dos mais fortes da sociedade de hoje, e também é o tema central de Jessica Jones. Temas como estupro, aborto e drogas são abordados sem clichês nem frescura. Assim como uma grande cidade normal no mundo, na Nova York de Jessica Jones estes temas são parte do dia a dia de seus habitantes e dos personagens da trama. E é bacana ver como tais temas são abordados de maneira natural entre os episódios, sem querer passar uma mensagem por trás delas. São situações que acontecem sempre e que independente da sua ou da minha opinião a respeito de cada uma delas, estão ali e não podem ser ignoradas.

Mas independente de opiniões, o seriado fala sobre superação. Não aquela superação de conquistas, mas sim de tentar erguer a cabeça e continuar a vida por mais grave que tenha sido o problema que tenha sofrido. Alguns conseguem isso fácil, outros de maneira mais difícil e tem gente que nem consegue, porém a oportunidade está disponível a todos, incluindo os personagens do seriado, por mais vítimas que sejam dos problemas em que se encontram.

Um futuro para Jessica?

A história de Jessica nos quadrinhos, apesar das maluquices de sua era “heroína”, é um terreno fértil para mais histórias, mais vilões e mais assuntos polêmicos a serem abordados. A interessante ligação dos eventos de Os Vingadores e Demolidor também encaixam bem — cada um a seu modo — e seria interessante ver Jessica e Matt juntos — do jeito que você achar melhor — até pelo motivo de “devorarmos” rapidamente as temporadas dos seriados Netflix e ficarmos depois com aquela sensação de vazio.

Duas temporadas da “mesma série” fariam muito bem. Será legal ver novos personagens se desenvolvendo e até flashbacks de Safira seriam bem vindos, mas sem exageros, claro.

Jessica Jones estreou na última sexta (20) na Netflix e está com todos os 13 episódios da primeira temporada disponíveis para assitir.

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