Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói

29 de agosto de 2015

Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói

Muitos games apresentam protagonistas com tamanha riqueza de construção, que se tornam os favoritos de muitos jogadores e até mesmo inesquecíveis. E muito disso se deve ao caminho trilhado por esse personagem durante o jogo. O que torna o caminho desse protagonista significativo ou realizador? Venha viajar conosco em mais um Filosofia Arkade.

O mitólogo Joseph Campbell (1904-1987) costumava dizer a seus alunos “sigam sua felicidade”, acreditando ser este o melhor modo de alguém descobrir seu verdadeiro caminho. A mitologia de diversas culturas, e nesse barco muitos enredos de jogos de vários gêneros, apresentam a vida como uma jornada heroica.

Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói

Journey (Thatgamecompany, 2012)

Essa jornada proporciona a autorrealização através do desenvolvimento da consciência e da conexão com o mundo à volta e com o próprio indivíduo. Dentro dessa jornada, há uma luta para encontrar propósito e significado à existência, a qual podemos chamar de ciclo heroico, composto por três fases: o chamado para a aventura, a iniciação e o retorno.

No início, o herói embarca numa aventura, através do cruzamento de um limite físico ou psicológico, adentrando um reino desconhecido ou seu próprio inconsciente. Em Dark Souls 2, lançado em 2014 e desenvolvido pela From Software, o protagonista mergulha no abismo que leva ao reino amaldiçoado de Drangleic, onde estará fadado a reviver a agonia da morte por diversas vezes.

Em sua jornada, o herói ultrapassa limites entre o conhecido e o desconhecido; entre a civilização e o ermo. Nessa viagem é que o indivíduo se firma como ser desenvolvido. Afinal, não se alcançam grandes mudanças permanecendo sempre na segurança do que se conhece. E o herói segue sua viagem… Mas…

Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói

Geralmente, o herói é fraco e inexperiente no início, e aí entra a figura do mentor ou guardião, representado por alguém ou alguma criatura mais velha, forte ou mais sábia, para guiá-lo em sua busca e desenvolver suas capacidades. Os guardiões tornam-se exemplos de confiança, fé, coragem, amor, poder, mágica, e simbolizam as qualidades necessárias do herói.

Em The Walking Dead: The Game da Telltale Games, lançado em 2012, somos apresentados a um enredo baseado na relação entre dois personagens, Lee Everett e Clementine. Lee encontra a garotinha Clem sozinha em sua casa, esperando por seus pais, mas, diante da devastação e do perigo mortal em que se encontram, decide protegê-la e, no decorrer do jogo, auxilia Clem a enfrentar esse novo mundo apocalíptico.

No enfrentamento desse mundo desconhecido, o personagem ultrapassa limites, confrontando novos desafios a cada momento. Em muitas culturas, assim se dá a iniciação, a segunda fase do ciclo heroico. O indivíduo passa pelo ritual da iniciação para descobrir sua identidade. Uma vez iniciada a jornada heroica, adversidades surgirão em forma de inimigos e problemas para serem enfrentados.

Em Dragon Age: Origins, jogo desenvolvido pela BioWare e lançado em 2009, muitos devem se lembrar de quando o herói da classe Mage deve sobreviver à entrada no Fade ou Dream Realm (Reino do Sonho), provando assim estar apto para seguir em frente e enfrentar a grande ameaça Darkspawn ao mundo do game.

Em inúmeras histórias, vemos heróis dando suas vidas por alguém ou por um ideal; sendo ameaçados por tentações ou ilusões; sofrendo feitiços ou maldições… Até mesmo viajando para reinos de morte e devastação. Qualquer forma em que se molde a iniciação, aquilo que o herói enfrenta revelará suas verdadeiras qualidades. Cada desafio deve despertar as fraquezas do personagem, de modo que cada inimigo enfrentado represente uma parte da totalidade do herói — um aspecto negativo do indivíduo a ser superado.

E finalmente temos o retorno, que nada mais é que a bênção, o poder, a recompensa da jornada enfrentada pelo herói, e com a qual espera obter algum benefício para si próprio ou para outros. Simbolicamente, a recompensa é o tesouro do inconsciente, que só é liberado depois que a pessoa desenvolve as habilidades para enfrentar seus medos profundos, também conhecido como a Sombra (forma que reúne os aspectos repudiados pelo próprio eu).

Nem sempre o retorno é grandioso. Assim como há jogos com vários finais, uns não tão bons quanto outros, a recompensa do herói pode ser muito diferente do que ele espera. Na epopeia sumeriana, o rei Gilgamesh se ilude com a imortalidade, mas volta para casa com a sabedoria de apreciar sua própria vida mortal. Como disse a Tifa no vídeo acima “a luz é fácil de encontrar”, só não podemos desistir da luta.

Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói

Brothers: A Tale of Two Sons (Starbreeze Studios, 2013)

Que outros personagens se tornaram inesquecíveis por sua jornada? Responda abaixo, porque nunca é demais entrar no roleplay. ;)

(Fonte de pesquisa: The Complete Encyclopedia Of Signs & Simbols)

5 Respostas para “Filosofia Arkade: A jornada simbólica do herói”

  • 29 de agosto de 2015 às 11:10 -

    Moacir Neto

  • Epic, excelente texto

    • 29 de agosto de 2015 às 19:00 -

      Diana Cabral

    • Valeu, Moacir. *-*

  • 30 de agosto de 2015 às 12:37 -

    Felipe Dias

  • Eu estou bem afastado dos jogos, e eu adorei o texto, me fez olhar para minha propria vida, aliás as histórias heróicas inspiram a propria vivencia, Diana tu me fizeste refletir por esse ponto de vista que nós queremos estar no papel dos herois e nossa vida seria a historia. eu ainda não conseguir consolidar minhas ideias sobre isso talves por isso não conseguir ser mais claro ainda. Valeu pelo o que você escreveu eu gostei, escreva mais.

    • 31 de agosto de 2015 às 12:14 -

      Diana Cabral

    • Eu que agradeço, espero que a ideia sirva muito pra você.

  • 1 de setembro de 2015 às 13:36 -

    Howard O Pato

  • Texto muito bacana,
    Lembrei de Bioshock Infinite na hora.

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