Opinião: Estaríamos nós vivendo a era da “bolha do streaming”?

9 de agosto de 2017

Opinião: Estaríamos nós vivendo a era da "bolha do streaming"?

Recentemente, foi noticiado de que a Disney é mais uma das grandes corporações dedicadas a criar sua própria plataforma de Streaming, retirando assim todo o seu acervo da Netflix. Isso já aconteceu com a Televisa, que retirou Chaves, Chapolin e suas novelas mexicanas, para começar a sua própria plataforma. E, a cada dia que passa, as grandes corporações de mídia vão lançando, uma a uma, as suas propostas de Streaming. Sejam elas pagas, com a parceria de grandes estúdios de cinema, ou gratuita, como o Youtube e seus youtubers, haja tempo para assistir a tanta coisa. O próprio Google afirmou em uma palestra a qual estava presente em janeiro deste ano, que o brasileiro passa em média 8 horas diárias apenas no Youtube. Imagine se somar todos os serviços, então.

No Brasil, entre as principais, além da Netflix, temos a HBO GO, serviço online do canal que exibe Game of Thrones e Westworld, que oferece também seus clássicos como Família Soprano e Band of Brothers; o Amazon Prime Video, que traz como carro chefe o excelente American Gods, além de seu “Top Gear 2“, o The Grand Tour; a Globosat, que traz, além da possibilidade de assistir todos os seus canais ao vivo via ligação com serviços de assinante, a possibilidade de assistir ao conteúdo da TV Globo mediante assinatura; o Esporte Interativo, que dá acesso via smartphone, TV e PC à Liga dos Campeões; e o FOX Play, que fornece conteúdo para suas séries, mesmo que de um jeito bem estranho.

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Além de resolver os problemas em Hawkins, essa turma também precisa ajudar a Netflix a contiinuar faturando.

Além delas, Crunchyroll — que também já iniciou seu serviço de streaming de animes no Brasil — e o Hulu são outras das muitas alternativas de oferecer conteúdo ilimitado a um preço mais baixo. Cada serviço custa em média R$14,90 e contam com a mesma proposta: um catálogo variado de conteúdo, seja ele global ou de nicho, com produções exclusivas, que justificam a mensalidade. Em outras palavras: se você gosta de Stranger Things, American Gods e Westworld, terá que desembolsar o valor de três assinaturas diferentes para conferir tais conteúdos exclusivos. Isso sem mencionar o serviço de venda e aluguel de filmes como o iTunes, o Claro NOW, o Looke (que também oferece assinatura de streaming), entre tantos outros… isso não te lembra nada? Pois eu lembro sim.

Em 1999 e 2000, o mundo viu uma avalanche de empresas “ponto com”, com seus portais e as mais variadas ideias. Grandes corporações, desde o início dos anos 90, investiam em provedores, portais de conteúdo e navegadores, dentre elas o UOL, o Yahoo, a AOL, e tantas outras. É só você pegar a sua revista de videogame desta época, que você vai encontrar várias “.com” anunciando seus serviços. Este avanço fez com que as ações destas empresas simplesmente disparassem, apenas por ter um “.com” como “sobrenome”, o que atraía diversos investidores e acionistas. Mas, embora esta explosão da Internet foi revolucionária, e mudou para sempre o mundo, assim como o automóvel e a televisão, por outro lado o excesso de iniciativas online e a falsa sensação de lucros exorbitantes e ilimitados acabaram por derrubar os valores destas empresas, já que além do superaquecimento, problemas de corrupção e o temor do “bug do milênio”, fizeram com que os investimentos recuassem.

Opinião: Estaríamos nós vivendo a era da "bolha do streaming"?

Lembra da America Online? A gigante dos anos 90 foi uma das empresas que sentiram o duro golpe da explosão da bolha em 2000.

Pois bem, voltando aos dias atuais, parece que estamos vendo o mesmo com as plataformas de streaming. Com cada plataforma funcionando de maneira independente, é necessário convencer o assinante de que seu serviço não é apenas uma “Sessão da Tarde online” (outra reclamação de usuários, mas esse assunto fica para um outro dia), e que suas produções valem o investimento. A Amazon está devagar, dando a entender que quer garantir seu espaço aos poucos, sem pressa. A HBO já conta com mais tranquilidade neste ponto, devido ao seu extenso — e competente — catálogo, que garante 20 anos de exclusividade e séries premiadas, enquanto a Netflix continua a fechar parcerias e complementar o seu catálogo, a medida de que várias produtoras a abandonam, buscando aumentar a sua fatia do bolo. O ponto aqui é: e quanto ao futuro? Será que as séries serão suficientes para manter o assinante ativo o tempo todo? Ou acontecerá de um assinante assinar o serviço desejado apenas quando sua série querida for ao ar? Será possível ouvir, em pouco tempo, gente assinando Netflix para assistir House of Cards, e cancelar logo em seguida para ver The Grand Tour na Amazon. Isso pode diminuir ganhos e oferecer grandes problemas, a médio prazo.

O segundo, e talvez, mais grave problema, seja exatamente neste excesso de plataformas. Ao invés de estúdios fecharem parcerias, seja com a própria Netflix, se aproveitando de sua base de assinantes e “a casa pronta” da empresa, ou criarem suas próprias marcas, porém com dois, três, ou até mais estúdios oferecendo juntos o seu catálogo, além de conteúdo exclusivo e atraente, cada um segue o seu próprio rumo, oferecendo, ao consumidor, a “oportunidade” de gastar o mesmo que ele já gasta — e reclama — com TV por assinatura, apenas por causa da “série A da Netflix“, ou “filme B da Disney“. É claro que queremos conteúdo de qualidade e é muito bom ver as produtoras se movimentando, ao invés de ficarem na inércia e no conforto do “tá tudo bem’, porém, os exemplos do início do século deveria servir de alerta, sobre um dos princípios mais cruéis da economia: o exagero causa perdas, e grandes.

Opinião: Estaríamos nós vivendo a era da "bolha do streaming"?

American Gods mostrou que há vida no mundo do streaming além da Netflix.

A bolha de 1999 foi uma catástrofe, porém ajudou a separar os meninos dos homens, e seus sobreviventes estão por aí até hoje. E também serviu para preparar terreno para que iniciativas mais sólidas e menos afobadas fossem ganhando espaço, como o Google, o Facebook, e a própria Netflix, que começou com seu catálogo de aluguel de DVD pelo correio nesta época, se transformando em uma das gigantes da mídia de nossos dias. Por isso, a nossa preocupação em ver todo mundo querendo colocar o seu serviço no ar, mas ao mesmo tempo, pode ser até algo bom, pois um novo divisor de águas poderá acontecer em meio a tudo isso, amadurecendo ainda mais o mundo digital, e pavimentando terreno para novas e mais interessantes iniciativas. Até porque, nada disso vai durar para sempre, ainda mais em um mundo instável como o nosso.

Por isso, aproveite. Aproveite os serviços de streaming, suas séries e fique atento para acompanhar as próximas temporadas desta grande série, que poderíamos chamar de “a grande jornada do streaming”.

4 Respostas para “Opinião: Estaríamos nós vivendo a era da “bolha do streaming”?”

  • 9 de agosto de 2017 às 21:41 -

    Onigumo

  • Muito boa materia Junior mas acho que voce peca em excluir o dinamismo da sua analise. Aqui mesmo no brasil testemunhamos um exodo dos conteudos esportivos da tv para a internet e recentemente uma plataforma de esportes similar a netflix foi anunciada, recentemente operadoras em diversos paises da europa tem disponibilizado planos de pacotes de dados ilimitados para os mais diversos serviços de streaming, em inumeros paises ( inclusive aqui no brasil) redes de televisao ja se posicionaram a favor desses serviços em funçao de prejudicar as tvs por assinatura, e mesmo gigantes como a hbo tem se rendido ao novo modelo, conteudos originais desses serviços tem ganho espaço em grandes eventos do cinema como o oscar ou o globo de ouro, em pesquisa realizada pela forbes no mes passado a netflix ficou em 4 lugar como o canal de televisao mais assistido da america, isso em um universo em que redes de streaming conseguem crescer em ate 50% do seu tamanho a cada semestre! Ainda essa semana a netflix comprou um canal de tv americano e uma editora de quadrinhos renomada, e as suas concorrentes tambem nao estao paradas. Ou seja eu acho que voce nao considerou que o modelo de streaming como vemos hoje nao e plenamente definido e consolidado, muito pelo contrario ele cresce e se aprimora em ritmo incrivelmente veloz! Download de conteudo? Passado! Assistir offline? Passado! Suporte 4k? Passado! Antes mesmo de se tornar novidade os avanços do “novo jeito de ver tv” tem tornado a propia tv em si obsoleta, esta ja nao consegue mais acompanhar, oque sera da hbo em 2020 sem got? Porque westworld se quer se tem confirmaçao de continuaçao e a previsao e de que “se” houver sera apartir de 2019, enquanto isso surgem strange things, 13 reasons why, american gods, handmaids tales e mais e mais conteudo de alto nivel em serviços streaming que se pode assinar um punhado pelo preço de uma sky nem fox, hbo nem telecine…. Bolha? Voce diz sobre a tv imagino…

    • 10 de agosto de 2017 às 07:37 -

      Junior Candido

    • Opa, beleza? Em primeiro lugar, valeu aí pela conversa =D

      Vamos lá:

      – Quando você fala do salto do streaming quanto ao formato de televisão tradicional ou o cinema, concordo contigo. Quando eu falo de bolha, não falo do conceito streaming, e sim de um perigo do mundo da economia: excesso de oferta em uma falsa sensação de que tem lugar pra todo mundo. Uma coisa é ter a Netflix e seus concorrentes, outra é a de que todo mundo quer uma fatia do bolo, e esquece que pode acontecer de um consumidor dividir seu dinheiro em várias assinaturas, não ajudando ninguém, isso sem mencionar possíveis problemas de tráfego e alguns serviços ruins (FOX Play, por exemplo, é terrível!)

      – O modelo de streaming está consolidado, mas não acredito que está 100% maduro. Prova disso é o excesso de iniciativas, que demonstram algo muito semelhante as empresas online dos anos 90, como mencionei. Porém, quando o mercado sofre um golpe duro, os bons sobrevivem e o conceito evolui ainda mais. A bolha de 99 nos trouxe o Google (e depois, o Facebook), e se de fato esta bolha que menciono explodir, apesar do caos, algo de bom pode acontecer também.

      – A Netflix segue poderosa, apesar de uma dívida de 4 bilhões. Mas há um outro problema com a debandada de potenciais concorrentes: eles estão investindo em séries originais, mas aquela qualidade de outrora já não existe mais, é só ver o monte de conteúdo dispensável com o selinho “originals”. Entre um Stranger Things e um House of Cards, aparecem um monte de coisa duvidosa, o que atrapalha em longo prazo este plano, o que faz com que eles façam algo que eu julgue correto: expandir através da compra de outros produtos, como os que você mencionou. Pelo menos dá uma segurança maior caso o plano de conteúdo original não der certo. Aliás, pode ser que o desenho do Matt Groening, e estas iniciativas como o Castlevania e outros jogos dê muito certo.

      – A HBO já vive no mundo do streaming também, mesmo com os problemas de GoT. Eles já oferecem assinatura (tá, concordo que anda devagar) para assistir seus programas independente de assinatura de TV, e também estão intensificando seu catálogo, com Westworld já sendo rodado, uma nova série dos criadores do GoT, além de uma série de Watchmen. Mas, sinceramente, acredito muito no potencial da Amazon, que está quieta, mas oferece conteúdos muito bons.

      Mas aí, valeu pelo comentário e vamos continuar acompanhando os próximos capítulos =D

      • 10 de agosto de 2017 às 13:48 -

        Onigumo

      • Ah entendi! Voce esta certissimo o mercado nao vai dar pra todo mundo, na verdade a netflix ja se posicionou de forma que esta deichando bem claro, que nao esta muito afim de dividir o bolo nao, a politiica deles de aumentar os investimentos para obter ganhos em longo prazo claramente visualiza um longo prazo com muito poucos ou nenhum concorrente, contudo visto o posicionamento dos seus semelhantes acho bem capaz que consigam de fato. Tambem acho que a amazon pode surprender contudo ela prescisa de uma repaginada boa. Quanto a bolha creio que a netflix queira justamente sair de google na historia ( muito bem pontuada por sinal sua comparaçao com os sites tudo em um do fim do ultimo milenio) mas nao sei se oque acontece e realmente uma bolha, mesmo os portais “menores” sao de empresas grandes e/ou ja tem algum tempo em pratica, a questao pra mim e que o streaming foi subestimado,demorou muito de se perceber oque iria acontecer e agora a maioria esta correndo atras do atrazo, contudo quem esta na frente claramente quer deichar “a tela andar e matar os atrazados” acho que uma bolha e justamente oque esses atrazados querem que ocorra mas que gigantes como a netflix nao vao permitir que aconteça, nao acho que haja uma bolha nesse sentido acho que algums querem uma bolha enquanto que outros querem tomar parte do todo

  • 12 de agosto de 2017 às 13:14 -

    Makulele

  • Dwixando co ch fi bem triste

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