RetroArkade: Driver e o início da era das perseguições nos games

16 de abril de 2017

RetroArkade: Driver e o início da era das perseguições nos games

Hoje estamos acostumados, e até com a barriga cheia de tantos jogos que envolvem ação e, entre seus elementos, perseguições de carros. Além da série GTA, jogos das séries Mafia, True Crime, Watch Dogs e tantos outros oferecem uma cidade (ou mais) para dirigirmos nossos carros em missões de perseguição, nos colocando em vários papéis. Mas não foi sempre assim, pois até a era de 32-bit, não existiam jogos neste gênero, mas, após o lançamento de Driver em 1999, a indústria dos videogames acabou conhecendo uma nova fase de sua história: a era das perseguições pelas cidades.

Driver marcou época e foi um pioneiro, abrindo espaço para que a sua próxima geração voasse ainda mais longe e hoje, ofereçam diversas maneiras de se jogar com seus carrões e cidades, te colocando na pele de bandidos, policiais, mafiosos, e até na de Batman, já que Arkham Knight de 2015 te deixa sair perseguindo carros a bordo do Batmóvel. E é a aventura dos anos 70 que fez história que será tema da nossa RetroArkade. Depois de passar nervoso com a primeira missão, venha relembrar Driver com a gente!

Sim, existia perseguição antes de Driver

RetroArkade: Driver e o início da era das perseguições nos games

O conceito, apesar de não ser tão popular antes de Driver, já existia, até com alguma polêmica no meio. Em 1988, a Taito lançou para os arcades (e depois para alguns consoles) Chase H.Q. O jogo utilizou das mesmas mecânicas de Out Run, com pistas variadas, que mudavam o ambiente com o passar do tempo, em um gameplay que consistia em correr por estradas cheias de carros, evitando bater neles ou nos obstáculos do lado de fora da pista, como placas e árvores. A diferença aqui, é que, além de correr contra o tempo, é preciso também encontrar, perseguir e deter um criminoso, descrito no começo da fase e só assim, é possível passar de fase.

Um ano depois, a Sega fez o mesmo o que a Taito e apresentou Battle Out Run, jogo que oferecia o mesmo gameplay do game de corridas da empresa, mas com o conceito de perseguição de seu “irmão” Chase H.Q. Apesar do relativo sucesso, ambos os jogos não conseguiram se firmar como gênero, com os jogos de corrida, que utilizavam os mesmos recursos de construção de jogo, ficando com a preferência, como Top Gear, por exemplo.

Neste meio tempo, ainda tivemos Twisted Metal, que oferecia combates entre carros, assim como Vigilante 8, Carmageddon, que já oferecia uma cidade e alguma liberdade para realizar suas missões polêmicas devido ao alto grau de violência, e a série GTA, que apesar de ser 2D e contar com visão do alto, já oferecia missões variadas em algumas cidades. Mas ainda assim, faltava aquele game que ofereceria para nós uma grande cidade pronta para ser palco de grandes perseguições. Faltava.

Um viva às perseguições dos anos 70

A verdade é que, embora já existiam projetos e vontades de se oferecer um jogo deste tipo, os consoles não ajudavam muito, pois não ofereciam capacidades técnicas suficientes para que as cidades pudessem ser “construídas” a todo tempo, já que nossos carros andariam livremente por qualquer lugar. Era preciso que as cidades, com seus prédios, variedades geográficas e pistas pudessem rodar em harmonia com o console, enquanto passeávamos por elas. Foi aí que a Reflections ofereceu sua proposta: um jogo de perseguição, com missões a serem realizadas lutando contra o relógio, em cidades diferentes, o que oferecia um alívio, afinal de contas, teríamos cidades menores, mas com variedade nos cenários.

O pano de fundo é óbvio, porém útil para se fazer um jogo deste tipo: os anos 70 ofereceram, entre calças de boca-de-sino, música disco e cabelos black power, vários programas de TV com perseguições policiais. E Driver segue a cartilha à risca, com o controle de John Tanner, um policial disfarçado, que, para destruir uma gangue instalada em um sindicato, precisa fazer algumas missões fora da lei e lidar com a polícia, enquanto vai coletando provas e ganhando a simpatia dos chefões. E, para não enjoar rápido os jogadores, modos adicionais davam a chance de conhecer as cidades sem compromisso, treinar a fuga ou a perseguição, ou batalhar contra o tempo.

E, mostrando que de fato o jogo bebeu muito da fonte de Starsky and Hutch e seus parceiros, o jogo ainda oferecia um modo diretor, que assim como o que ocorria em Gran Turismo, reproduzia a sua missão em visões cinematográficas, mas neste caso, te permitindo cortar e editar o vídeo ao seu gosto, oferecendo mais um recurso que se, para a época era algo ainda novo, hoje é quase que padrão, especialmente com as capturas de telas de consoles e PCs atuais.

Mas, o que realmente marcou os jogadores de Driver, foi uma garagem. Fazendo parte das listas de tutoriais mais difíceis de todos os tempos, o jogo te ensinava a realizar todas as manobras possíveis do jogo, como o cavalo de pau, o slalom entre objetos ou a ré, mas fazia tudo isso em um mini-game com tempo limitado e apenas três chances de erro. Era comum pegar o jeito após um tempo e fazer as tarefas facilmente, mas com certeza, foi um dos grandes destruidores de consoles de sua época.

Miami, San Francisco, Los Angeles e Nova York

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Passando a desgraça do tutorial, viajamos então para Miami, ensolarada com seus coqueiros a todo canto e as primeiras missões do jogo, claramente as mais fáceis. Um ponto a se observar é que, mesmo com a limitação da época, que não permitia nem a troca de carros (isso só foi acontecer em Driver 2), as cidades tinham uma certa vida própria, com carros andando pelas ruas e até alguns pedestres, que por aqui não podem ser atropelados, pois são dotados de um “poder especial” que os fazem pular e fugir do ataque do veículo a todo instante.

San Francisco, Los Angeles e Nova York também contam com suas particularidades, mostrando o capricho do pessoal da Reflections em oferecer cenários de fato variados e não a mesma coisa com uma mudança pequena aqui e ali. Era divertido andar pelas ruas largas de Miami, nas descidas de San Francisco e no submundo de L.A e N.Y., fazendo com que cada uma delas ofereçam seu próprio desafio. Lembrando também da qualidade das animações, convencendo muito, por exemplo, no assalto a banco que você precisa resgatar um grupo de bandidos logo no começo do jogo.

Com o passar do tempo, foi se tornando inviável manter várias cidades em um mesmo jogo, já que era possível construir uma cidade só e variar apenas a ambientação urbana, como bairros específicos e regiões industriais, centrais ou de moradia. Driver 2 ainda ofereceria, ao invés de cidades, países, o que traria mais variedade ainda, incluindo a capital cubana Havana e o Rio de Janeiro, mas, a partir do sucesso de GTA, acabou se tornando um padrão realizar todas as missões de um jogo em uma cidade só, que se transformaram em estados após a chegada de GTA: San Andreas.

Mas, voltando a Driver, o visual do game foi altamente elogiado em seu lançamento. a Super Game Power #66 elogiou os controles, que de fato são muito bons e precisos, e também destacou o clima hollywoodiano do game; A Ação Games #142 citou o realismo do game, como os amassados que os carros ganham após uma batida e a fumaça que eles emitem após sofrerem muito dano; enquanto a Gamers #42 chamou de prazerosa a sensação de se dirigir em Driver, lembrando que a mesma Reflections já contava com experiência nos dois primeiros Destruction Derby.

Esta série, aliás, ajudou muito a desenvolver o próximo jogo do estúdio, com a destruição dos carros, já que estes jogos, inspirados nas corridas de destruição, te colocavam em uma arena em que só vencia quem sobresse por último com o carro andando. Este jogo ofereceu bastante realismo no funcionamento do carro, embora contasse com gameplay exagerado, e foi fundamental para desenhar os carros de Driver.

O legado de Driver

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Se um jogo pode ser definido como um game que definiu uma geração, este é Driver. Ele não fez tudo sozinho, pois a Rockstar já havia lançado seus jogos GTA com o conceito que apenas aguardava a chegada da geração 128-bit para firmar de vez suas ideias, mas com certeza o game da Reflections foi bastante estudado para ajudar no desenvolvimento.

Driver 2, lançado um ano depois, ainda conseguiu levar um pouco de evolução para o primeiro Playstation, mas a esta altura do campeonato, os desenvolvedores já estavam se aventurando com o Playstation 2, o Xbox e o Gamecube, além de observarem os computadores com outros olhos, fazendo lançamentos para várias destas plataformas (ou para todas elas, dependendo do caso). Por isso, tudo o que Driver ensinou em 1999, foi colocado de fato em prática, com melhorias e evoluções, a partir de 2001 e GTA III, que também foi um jogo que definiu sua geração e fez de sua série uma das mais populares de jogadas do videogame.

Uma pena foi a série não conseguir se encontrar mais desde então. Com Driv3r, os jogos da franquia começaram a ficar genéricas e esquisitas, chegando até Driver: San Fransico, de 2011, que é mais um game mediano e que poucos se lembram hoje em dia. Mas se, hoje você gosta de jogos deste estilo, é claro que precisamos reconhecer o esforço da Reflections em produzir o primeiro Driver e definir conceitos que, embora fossem popularizados gerações à frente, foram definidos nas limitações de um Playstation original.

2 Respostas para “RetroArkade: Driver e o início da era das perseguições nos games”

  • 17 de abril de 2017 às 12:57 -

    Caique Cardoso

  • Realmente esse jogo é um ícone nostálgico da quinta geração, que com certeza deu uma significativa contribuição para a industria. Eu espero realmente que a reflections consiga reerguer a franquia.

  • 17 de abril de 2017 às 16:04 -

    mikemwxs

  • Nossa, ótimo lembrar de DRIVER e sua continuação, DRIVER 2! E olha que eu não sou exatamente um fã de games de carros, mas a música, a jogabilidade e o clima da série da Reflections me cativaram muito!

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