Tribuna Arkade: telejornal associa games à violência e ao mercado de armas

2 de janeiro de 2013

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30 de dezembro de 2012. Enquanto estávamos nos preparando para a virada do ano, um popular programa jornalístico nacional exibiu uma longa matéria deveras questionável, associando jogos de guerra à indústria de armas, e reacendeu a velha discussão entre jogos violentos e violência.

A matéria foi exibida no programa “Domingo Espetacular“, da Record (sempre ela). Em mais de 9 minutos, o programa usa uma matéria do New York Times para associar jogos como Call of Duty, Counter-Strike e Medal of Honor à indústria de armas.

Obviamente, o recente massacre na cidade de Newtown – onde um jovem perturbado e armado invadiu uma escola e assassinou mais de 20 crianças – também é mencionado. De acordo com a matéria, jogos de guerra transformam jovens em verdadeiros especialistas em armas, e seu contato prolongado com a violência dos games os torna insensíveis à violência real.

Confira a matéria na íntegra abaixo:

http://youtu.be/Viyox0rQAZk

Não vamos entrar no mérito da posse de armas por civis – no momento, isso é um problema para Barack Obama resolver. Vamos nos ater exclusivamente à associação dos games com a violência e a indústria de armas.

Pelo que vimos, Medal of Honor realmente parece ter utilizado armas reais para divulgação do game e, como diversos outros games, utiliza réplicas digitais extremamente realistas dos mais variados tipos de armamentos.

Mas será que nós gamers nos tornamos tão estúpidos a ponto de achar que podemos trazer isso para o mundo real? O fato de empunharmos uma metralhadora em Call of Duty realmente nos encoraja a fazer o mesmo na vida real, para tirar a vida de pessoas – e crianças – inocentes?

Não é de hoje que a emissora responsável pelo “Domingo Espetacular” ataca os videogames com argumentos pífios. Parece que qualquer jovem desmiolado que cometa alguma atrocidade é gamer, e sua paixão por games violentos é a explicação mais óbvia para mostrar o que o encorajou a cometer tal ato.

Será que um sujeito que passa “1 ano isolado da sociedade com um videogame” não deve ser visto – antes de mais nada – como um sociopata que possui algum distúrbio mental muito sério, e não como um gamer? Eu, você, e qualquer outra pessoa que joga videogames de maneira saudável e possui vida social certamente jamais faríamos algo desse tipo.

Se a regra for esta, quer dizer então que um fã de Skyrim pode invadir uma escola brandindo uma espada ou um enorme machado a qualquer momento? Ou um fã de Far Cry 3 vai tocar fogo em alguma horta comunitária munido de um lança-chamas? Esta é a lógica?

Se o pensamento for este, então – parafraseando um popular meme do Facebook – quem jogou Mario deveria ser um ótimo encanador, quem jogou Banco Imobiliário deveria ser um magnata dos negócios, e quem jogou Guitar Hero deveria ser uma lenda do Rock, não?

Se as armas dos games são realistas, isto é apenas o reflexo dos tempos em que vivemos, onde o realismo impera. Videogames tem armas desde a geração 8 bits, só o que mudou foi a resolução delas.

E isso também vale para os carros de Need for Speed, ou as marcas de roupa de The Sims. Digitalmente, tudo isso são bens de consumo, e o fato de serem realistas está inserido no contexto realista dos games e na tecnologia disponível. As armas de Contra eram tão letais quanto as de Call of Duty, só não eram tão detalhadas.

Os videogames podem influenciar uma pessoa? Claro que sim. Assim como a violência da novela das oito, ou do filme violento que vem logo depois. Vai do juízo e do bom senso de cada um ser influenciado por tudo isso ou não.

E você? O que acha de (mais esta) alfinetada que a TV brasileira deu no mundo dos games? Será que nosso querido mercado de games vai conseguir crescer em um ambiente tão extremista e tendencioso?

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, podcaster e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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