Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?

22 de novembro de 2014

Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?

É praticamente de “conhecimento público” a percepção, da comunidade gamer em geral, da inércia em que se encontra o atual mercado videogamístico. Vemos, cada vez mais, franquias milionárias sendo espremidas ao seus, respectivamente, além-limites tais quais limões secos num dia quente de verão.

Não estamos desacostumados com isso, muito pelo contrário: esse tipo de acontecimento é extremamente recorrente em nossas vidas. Esse modelo de negócio é adotado por diversas indústrias, estamos até cansados de enxergar, à distância, aquele sentimento de “Nossa, isso era mesmo necessário?”, a cada trailer ou propaganda de uma sequel. Chega a ser mais transparente quando o assunto é cinema. Quantas vezes, numa conversa de bar, entramos naquele papo discutindo se realmente precisávamos da sequência X ou Y de determinado filme? Não sou contra nenhum blockbuster, entendo a postura das empresas em apostar em algo menos arriscado e mais palpável, afinal se o primeiro filme fez sucesso, é certo que boa parte do público que se interessou estará lá prestigiando o segundo. Com isso em mente, chegamos aos atuais jogos triple-A, os blockbusters dos games, nos perguntando “Até quando essas franquias vão durar?”.

“Enquanto comprarem, continuarão fabricando esses jogos ‘fast-food’ todo ano.”, tudo bem, mas quando irão parar de comprar para que as grandes empresas possam investir em algo diferente e arrojado? Isso eu posso te responder facilmente, meu querido leitor: NUNCA. Tudo bem… NUNCA, em caixa alta, chama atenção demais, então mudo para: No momento, é uma aposta complicada. Isso é algo ruim? Não, não acho que seja de todo ruim, e já vou explicar o motivo. Mas primeiramente gostaria de te lembrar de como seriam as coisas num mundo ideal: Bacon não entupiria sua artéria, você passaria naquela matéria infernal da faculdade sem precisar estudar, e o lucro dos blockbusters serviriam como investimento para novas tecnologias ou formatos. Bem, infelizmente não vivemos nesse mundo e isso justifica parte do porquê vemos cada vez menos ousadia por partes das grandes desenvolvedoras.

Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?

“Em time que se ganha, não se muda”. É o lema da vida, para quê preciso me esforçar em criar alguma novidade se ainda existe lucro na mesmice? “Enquanto eu agradar o grande público, e continuar agregando o novo público, não há motivos nem espaço para novas franquias… Reapresentar novos personagens e universos únicos? Que trabalhão!”. Concordo que a cada novo anúncio de um COD ou BF eu suspiro fundo, me lembrando quase que instantaneamente de tantas séries que se auto-saturaram em tão pouco tempo (RIP Guitar Hero). Mas não é de todo ruim. Se pensarmos bem, criando-se uma similaridade, acaba-se elaborando uma estabilidade na indústria. Já sabemos exatamente o que esperar, além dos genéricos que brotam como zumbis procurando pelo mínimo de hype que possam conseguir para se apoiar.

Vivemos numa época em que ao mesmo tempo que possuo 200 jogos parados na Steam, não me satisfaço com nenhum deles. O mundo mudou, tudo se tornou mais minimalista e efêmero, o “copy-paste” dos novos games estão gerando um senso aguçado em relação aos bons jogos, mas infelizmente isso ainda não afeta as vendas. O cuidado na hora de inovar, seja na engine, ou no argumento de um jogo, pode gerar um conflito e até má interpretação do objetivo do mesmo, no próprio mercado. Há a chance de ser algo genial, ou como pode ser um fiasco (e a probabilidade que seja um fracasso é muito maior)… E uma grande quantidade de dinheiro investido jogado no lixo. É aí que entram os indies e seus baixos orçamentos como boas apostas de alto risco.

Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?

Gradativamente os jogos independentes vêm tomando de assalto o espaço destinado àqueles de grande porte, não em relação ao grande mercado, mas sim na criação pela inovação. Por mais que não gostem de admitir, as pessoas não são fãs de mudança, se sentem confortáveis assim. Esse é o momento, então, das inovações simples que provêm da nova geração “de jogadores para jogadores”. Com o novo paradigma de distribuição e propaganda, facilitados através da internet, é comum, ultimamente, a maior aparição de jogos desenvolvidos por uma única pessoa, ou grupos cada vez menores de envolvidos na produção. O mais interessante nessa nova dinâmica é perceber o quanto que a limitação aguça a criatividade. Games excelentes apesar do gráfico, disfarçadamente, chamados de retrô – lindos, diga-se de passagem – estão sendo lançados numa elevada frequência que só aumenta exponencialmente ao longo dos anos. Jogabilidades originais, plots mais bem trabalhados e o mais importante, diversão garantida em menores preços.

É comum ouvir que o público gamer cresceu, que agora nos interessamos por um diferente estilo, mais maduro, e que temos um “paladar” mais sofisticado. É verdade, mas isso não significa que, de uma hora para outra, não existam novos jogadores a cada novo dia que passa. E, para fins de argumentos, você consegue se lembrar de quão interessado você era pela história do jogo quando criança? E quanto você relevava do gráfico por uma boa jogabilidade? Pois é, eu também não. Obvio que vão dizer “Ah cara, mas eu era assim aos 8 anos de idade sim.”, TUDO BEM, mas eu não era, e tenho certeza que a maioria também não. Tendo isso posto, às vezes me pergunto se estamos ficando mais seletivos, realmente, ou simplesmente mais chatos. O que não dá para negar é que quanto mais velhos ficamos, buscamos pela tal inovação tanto quanto o próprio Mário corre atrás da Princesa Peach.

Steve Gaynor, desenvolvedor do indie Gone Home, comentou na NowGamer como ele enxerga o futuro desta explosão indie:

Quando você observa os segundos títulos dessas produtoras indies, como o Jonathan Blow indo de Braid para o The Witness e quando você olha como os caras da Frictional fizeram o teaser do seu próximo jogo, Soma, com uma altíssima qualidade de produção em trailers live-action, isso definitivamente mostra que os indies estão se intensificando para preencher a lacuna entre o desenvolvedor solitário caseiro e o GTA, ou qualquer coisa do tipo, e eu acho que isso é realmente emocionante.

Assim, cada vez mais, nos aproximamos de um processo misto, com a ascensão das produtoras independentes e, aquelas com seus trabalhos reconhecidos, encarando um pedaço não mais tão pequeno do mercado. Num futuro onde, possivelmente, os pequenos títulos disponíveis para download possam se tornar uma parte vital da indústria.

Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?

Então? E no fim das contas? Qual dos dois tem o dever de nos fisgar com uma originalidade? O indie ou o triple-A?

Nenhum dos dois… Essa é a resposta mais correta.

Não podemos esquecer o real objetivo dos jogos, que é vender. E estamos falando de um mercado de entretenimento que gira maior capital do que a indústria de cinema ou qualquer outra. Dever, é uma palavra à qual impomos como jogadores mimados que somos, por uma época que, o único diferencial que tínhamos (ao menos no meu tempo) era a criatividade. Criar uma nova mecânica atualmente, num sistema saturado, é tão difícil quanto a criação de uma nova fórmula matemática. Agora com a nova geração é possível sonhar uma renovação quanto à franquias imóveis. E podemos até visualizar, levemente, essa mudança com o passar dos anos. O crescimento do Greenlight, do financiamento coletivo, os passos dados pela própria Ubisoft e outras grandes empresas fragmentando pequenos grupos de desenvolvimento, e os consoles investindo em plataformas exclusivas para jogos independentes nos dão um novo ar de singularidade. Contudo, os indies, ainda possuem claramente uma restrição quanto à gráficos e orçamentos milionários, fazendo com que a inovação seja sua única arma à venda. Dando assim, uma nova cara ao mercado atual, e não deixando de criar tendência com isso. Entretanto, a pergunta continua:

Será que as grandes desenvolvedoras vão calhar dessa pitada de coragem para se aventurar no desconhecido independente? Ou será que os indies chegarão num ponto de semelhança aos AAA, imitando as tendências que, anteriormente, eram base de sua antítese?

7 Respostas para “Voice-Chat Arkade: Quem deveria inovar?”

  • 22 de novembro de 2014 às 12:17 -

    Edimartin Martins

  • Ótima reflexão…                         … Os jogos independentes tem inovado bastante porque eles não tem um produtor encima deles mandando eles aumentarem os peitos da personagem principal porque esse tipo de coisa vende. Como dito pelo Tommy no filme “Indie game the movie” – Eu estou fazendo um jogo para mim mesmo – Só que esse grupo que consome esse tipo de jogo é muito específico…                                       …Agora sobre os indies se tornarem tiple A, se um jogo triple A for aquele tipo que possui gráficos exuberantes e animações detalhadas, eu diria que “SIM” (em caixa alta mesmo). Nos últimos anos os motores de jogos tem ficado mais acessíveis aos desenvolvedores independentes. Unreal Engine e CryEngine disponibilizam para o usuário mensalidades que cabem no bolso de qualquer investidor independente. Hoje em dia softwares gráficos como GIMP, InkScape e Blender trazem a mesma qualidade dos softwares pagos para o mundo Open-Source…                                …Portanto eu acredito que triple A independente é possível.

  • 22 de novembro de 2014 às 16:47 -

    Kubrick Stare Nun

  • Eu vejo que é muito compartilhada essa noção na indústria de games atual que o mercado, especialmente o de indies, está saturado e que está faltando inovação e que a função antiga dos indies de suplementar a indústria com a inovação que os games de mais alto investimento não estavam provendo não mais está sendo cumprida. Na minha opinião o problema não tanto que o mercado esteja saturado em si tanto quanto ele esteja saturado de jogos ruins e de baixíssima relevância. Depois da explosão dos games indies com aquela primeira leva que foi encabeçada por clássicos como Limbo e Braid esse negócio de games indie se tornou tão popular que um monte de gente começou a querer se tornar indie game dev e como o investimento e riscos envolvidos na criação de games indies frequentemente não são altos demais começaram a sair cada vez mais e mais games indies e eles foram com isso perdendo seu caráter inovador e também caiu muito a qualidade. Hoje, graças a iniciativas como o Greenlight da Valve entre outras coisas, os games indies chegaram ao fundo do poço e tem uma quantidade grande de indie devs por aí que nem sequer fazem os seus games com paixão e amor ao que está fazendo, mas fazem só pra ganhar uma graninha fácil mesmo criando um produto de baixíssimo investimento e vendendo ele num desses muitos indie bundles que tem na internet a fora onde o cliente compra a coisa sem nem muito bem olhar a procedência do produto direito antes. Ou seja, é como se uma parte do indie devs tivessem virado versões baratas das EAs e Activisons da vida, realmente o fundo do poço. Para mim o mais importante de lembrar no meio disso tudo é que o que o mercado está saturado é de jogos ruins, feitos sem paixão e que não inovam. Para os games realmente bons que alcançam níveis mais altos de qualidade e que exploram as qualidades mais boas e nobres dos vídeo games o mercado sempre terá compradores em potencial, pois o problema aqui não é passar na Steam e ver um excesso de games, mas sim ver um excesso de games com aparência absolutamente genérica e que você sequer consegue identificar.

    • 24 de novembro de 2014 às 10:26 -

      Gui Mendes

    • É exatamente isso. Infelizmente estamos passando por essa fase dos genéricos, só observar a quantidade de “rogue likes” que surgiu em tão pouco tempo. O que nos instiga com uma pitada de “esperança”, no meio de tudo, é que jogos como “Gone Home”, “Brothers” e “Kentucky Route Zero” ainda encontram seu espaço. O que implica que outras coisas boas como essas também virão – no meio de todos os indies genéricos lançados. 

  • 23 de novembro de 2014 às 02:52 -

    Onigumo

  • Otima materia, pena que a nao teve a força que merece. concordo em muitos pontos com os dois, acho que o verdadeiro problema e que o mercado esta cheio de jogos ruims e sem nenhum capricho, e nao so as grandes empresas os indie tambem como nosso colega ja tinha dito, o problema e que as pessoas nao se manifestam, se voce apresenta um produto ruim e ele tem um bom numero de vendas como disser aos desenvolvedores que melhorem oq estao fazendo. Quanto aos indies eles nunca serao problemas para desenvolvedoras, minecraft e a grande prova disso, afinal eles nao competem com as grandes empresas, e quando competem nao atrapalham as vendas delas, ate porque em todo caso sempre se pode comprar a pequena empresa e ponto final. Acho que colhemos oque plantamos,  esse negoço de saturaçao e invençao de moda, veja a valve mesmo, quem no mundo se importaria com uma chuva de half lifes, ninguem, e produto bom garantido, eu pelo menos estou saturado de jogos made in china, feitos nas coxas e cheio de gafes, final fantasy ta ai das caras se re-inventando vira volta, certo nem sempre para melhor, mas estao tentando, COD depois do MW2 ficou vivendo na propia sombra usando de tecnologia como apoio, oque falta no mercado de jogos e profissionalismo, os caras querem o prestigio de artistas mas nao se comportam como artistas. Acho que o certo nao e nao sair comprando na duvida, crackeia da net se gostar compra minha gente, errado e ficar achando que o produto paraguaio vai ser alguma coisa que preste……

    • 24 de novembro de 2014 às 10:17 -

      Gui Mendes

    • Assim, piratear nunca é a solução não é? O que realmente é importante agora é um maior discernimento por parte dos jogadores, mas este ainda é um mundo muito utópico pra se pensar nele.

  • 23 de novembro de 2014 às 12:27 -

    Giovani

  • Gostei muito do texto!Interessante observar que todo papo sobre os games repetitivos e sem criatividade cai por terra quando falamos do Japão.Um lugar estranho,onde os jogos mais vendidos e aclamados são muitas vezes totalmente desconhecidos por nós.E o número de jogos novos e diferentes que sai por lá é insano,basta ver a TGS.Seriam os japoneses mais exigentes que nós do Ocidente ou será que é uma questão mais econômica,já que as grandes desenvolvedores de jogos nasceu por lá?Parece que toda essa questão sobre indies e jogos AAA só faz sentido olhando para EUA e Europa.

    • 24 de novembro de 2014 às 10:02 -

      Gui Mendes

    • Verdade, o mercado do japão é quase alienígena pra nós do ocidente. O que é uma pena, porque muita coisa excelente é lançada por lá e nunca vê a luz do dia por aqui. Agradeço ao deus dos joguinhos por Katamari e tantos outros que desembarcaram e pudemos desfrutar da originalidade.

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