Análise Arkade: Life is Strange 2 inicia sua jornada emocionante mas acelerada em Roads

A temporada nova de Life is Strange enfim chegou trazendo novos personagens, novas localidades e novos poderes. Contando uma história totalmente nova de superação e fraternidade no mundo virado de ponta cabeça de dois jovens garotos.

O primeiro episódio da série: Roads chegou trazendo a introdução dessa nova história que promete trazer muitas emoções até chegar em seu climax, e é hora de conferirmos como foi essa introdução. Será que ela nos mostra um caminho brilhante a frente ou uma nova tempestade? É hora de conferirmos!

Era uma vez dois irmãos lobos vivendo na floresta…

Life is Strange nos contou a bela e trágica história de Max Caulfield, uma universitária redescobrindo sua cidade natal e retomando sua velha amizade com Chloe Price, enquanto descobria ter o estranho poder de voltar no tempo. Before the Storm contou a história de Chloe antes do retorno de Max, e todas as circunstâncias que a tornaram a personagem que era no primeiro game.

E em Life is Strange 2 somos apresentados a novos personagens, Sean Diaz, um adolescente vivendo as aventuras de sua juventude, e seu irmão mais novo Daniel, um menino alegre e brincalhão, que vive brigando com o irmão mais velho. A vida da família Diaz seguia normalmente até o fatídico dia em que uma briga com seu vizinho resultou na morte do pai do dois irmãos e na explosão de poder de Daniel.

Diante dessa grande tragédia, Sean decidiu fugir de sua cidade com seu irmão e ir para o mais longe possível, tendo como objetivo a cidade de Porto Luebos no México, a cidade natal de seu pai. E a partir daí, acompanhamos a jornada desses dois irmãos em fuga, tentando sobreviver a implacabilidade das estradas e de uma vida de fugas em busca de um lugar de paz e esquecimento.

Novos personagens e uma nova perspectiva

Life is Strange 2 é essencialmente a história da fuga dos irmãos Diaz de sua antiga vida, numa tentativa desesperada de escaparem da morte de seu pai. A fuga dos irmãos é motivada, entre outras coisas, por questões políticas que ficam bem evidentes nesse primeiro episódio, pois Sean e Daniel são crianças nascidas nos Estados Unidos com descendência mexicana, por conta disso, o racismo que ambos enfrentam em suas vidas fica bem evidente em certos personagens, contando ainda com referências as polêmicas leis e discursos anti-mexicanos do presidente Donald Trump.

Felizmente, caso você esteja receoso quanto a essa politização, o game não tem essas questões sociais como foco, elas estão presentes, de uma forma natural (e digo natural de uma forma infeliz, pois racismo e xenofobia são problemas infelizmente ainda presentes em nosso mundo), sem parecerem esfregadas na cara do jogador. As questões sociais são levantadas de maneira eficaz no game, mas não são o foco da história.

A base dessa nova história está no momento traumático da vida dos dois irmãos, em perderem o pai e fugirem da polícia responsável por essa morte e que se apresenta inclemente com os dois irmãos. Por conta disso, essa nova história adota uma perspectiva bem intensa e depressiva, motivada pelo dor e pela perda, deixando infelizmente em segundo plano a relação entre os dois irmãos, de forma até contraditória em si própria.

O que quero dizer com isso é que enquanto todo esse primeiro episódio (após sua introdução) é baseado na relação entre os dois irmãos, fica claro que essa relação ainda não tem força, mas sim que eles dois estão juntos e estão fugindo, portanto precisam se relacionar. Isso se deve ao fato de que a perda do pai ainda não foi digerida, tudo correu de forma totalmente apressada e sem a chance deles se aproximarem, ou de apresentar os personagens de forma devida aos jogadores.

O primeiro episódio de Life is Strange e a demo Captain Spirit tinham como foco a descoberta. Com Max descobrindo os seus poderes e redescobrindo sua antiga cidade e relacionamento com Chloe. E Captain Spirit com Chris descobrindo o mundo a seu redor com suas brincadeira e com sua relação traumática com seu pai alcoólatra. Mas no caso de Life is Strange 2 não houve esse “arco” de descoberta.

Pessoalmente isso me atrapalhou em criar uma empatia pelos personagens, pela forma um tanto apressada que a jornada dos irmãos acontece. Antes que possamos conhecê-los eles já estão na estrada, e apesar de rolarem momentos em que a relação dos irmãos se desenvolve de uma forma bem interessante, ainda assim não conseguiu me fazer me envolver. Outro ponto é que os poderes de Daniel foram deixados em último plano, não sendo algo de muita importância no decorrer da história desse primeiro episódio.

A relação entre os irmãos e os poderes de Daniel terão mais foco nos próximos episódios do game, provavelmente já em seu segundo episódio, o que é uma boa notícia, pois uma das coisas que fez o primeiro Life is Strange tão amado por muitos jogadores foi justamente as descobertas e as relações. Apesar dessa ausência ter prejudicado esse primeiro episódio, tirando um pouco do potencial que ele poderia ter tido.

A relação entre os irmãos nessa nova temporada será o que moldará o pequeno Daniel. No game nós controlados Sean, e cada decisão importante que ele tomar e cada diálogo e resposta que der para Daniel influenciará sua personalidade ao longo da aventura, sendo esse o principal meio de consequências do game. Portanto, crie bem o pequeno Daniel, pois que tipo de pessoa ele será no futuro dependerá somente de você!

Gameplay e Audiovisual

Life is Strange 2 segue o mesmo gameplay já tradicional da série, sendo um game de exploração e escolha de diálogos. Porém, como estamos no controle de Sean, um adolescente comum, não há super poderes para serem explorados. Não há como voltar no tempo em suas decisões como Max no primeiro game, nem usar os poderes de Daniel, dessa forma, tudo o que você fizer é definitivo.

E na parte audiovisual o game também se mantém com o mesmo visual padrão da série, mas com texturas melhores e mais detalhes nos personagens e principalmente nos cenários. Afinal, como acompanhamos a jornada dos dois irmãos atravessando a costa oeste dos Estados Unidos em direção ao México, os cenários se tornam muito importantes.

O primeiro episódio está ambientado na época do Halloween, no outono americano, por isso há uma predominância de cores “outonais”, com folhas secas caindo das árvores e entardeceres alaranjados no céu. Conforme a jornada prosseguir nos próximos episódios, iremos conferir outras estações, sendo a mais imediata o inverno.

Um dos maiores pontos positivos do game é sua localização para português brasileiro. A localização foi feita através de menus, textos e legendas, e a localização foi primorosa! A equipe de localização fez um trabalho simplesmente impecável em traduzir todas as expressões que usamos corriqueiramente na internet para os diálogos dos personagens. Uma das coisas mais legais é usar o celular de Sean e checar mensagens, com expressões que vão desde PQP, FDP e vários outros xingamentos tradicionais até outros mais novos como “Zé Droguinha” e muitos outros.

É extremamente divertido acompanhar o game em português brasileiro, pois a localização foi realmente perfeita, casando perfeitamente com os personagens e principalmente com a forma em que todos nós nos comunicamos na internet, com todos os palavrões, gírias e expressões a que se tem direito.

Conclusão

Life is Strange 2 começou de uma forma um tanto apressada, sem se dar tempo de apresentar seus personagens, nem de criar conexões entre eles e os jogadores. Ou talvez enquanto você jogue você se afeiçoe mais aos personagens do que eu fui capaz. Sean é um personagem um tanto quanto estereotipado, ele é um adolescente chato e impaciente, um tipo que eu tenho imensa dificuldade de me afeiçoar, talvez por eu estar velho demais, ou pela juventude atual estar “jovem” demais.

Talvez você acabe gostando mais dos personagens, apesar de realmente o game não ter focado em apresentá-los melhor aos jogadores, diferente por exemplo de Captain Spirit, que apesar de também ter sido curto, teve mais êxito em criar empatia pelo jovem Chris graças a sua inocência e imaginação fértil, além de sua relação com os problemas que enfrenta em seu curto episódio.

Aliás, Chris estará de volta em Life is Strange 2! Ele infelizmente não aparece nesse primeiro episódio, mas fará uma aparição em algum episódio posterior. E por falar em aparição, há uma pequena, mas considerável referência ao primeiro Life is Strange no game, você notará quando ela for apresentada a você. Mas infelizmente não há nenhuma referência ou aparição de Max Caulfield, pelo menos até agora.

Life is Strange 2 começou de forma acelerada, com uma história muito mais pesada e depressiva do que o primeiro game. Mas apesar de sua pressa, o primeiro episódio, Roads já deixa claro o grande potencial que o game tem em sua história, que será desdobrado pedaço por pedaço nos próximos capítulos. A história de Sean e Daniel pode não ter começado tão bem como alguns gostariam, mas ela certamente tem muito potencial de emocionar a todos em seus próximos episódios!

Life is Strange 2 foi lançado em seu primeiro episódio no dia 27 de setembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Ainda não há data de lançamento para os próximos episódios, mas eles deverão chegar em breve.