Editorial: Phantom Pain não alcança “Rank S” na história de Metal Gear Solid

21 de abril de 2019

Editorial: Phantom Pain não alcança "Rank S" na história de Metal Gear Solid

Em Metal Gear Solid, série de jogos de espionagem criada por Hideo Kojima e produzida pela Konami, o “Rank S” é a nota máxima que pode ser obtida ao final de uma missão. Geralmente, o jogador precisa se infiltrar em bases inimigas com extrema furtividade, sem deixar evidências, não acionar alertas e/ou cumprir outros objetivos específicos.

Trata-se de um sistema de recompensas que incentiva o jogador a executar missões do jeito que os desenvolvedores conceberam. E esse é só mais um dos diversos detalhes que Kojima embute nas suas obras, bem como o perfeccionismo em tudo que envolve a jogabilidade. Não à toa, sua criação é descrita como revolucionária tanto para o gênero stealth quanto para a indústria em geral.

Editorial: Phantom Pain não alcança "Rank S" na história de Metal Gear Solid

Kojima também é um entusiasta da sétima arte. Embora não tenha trabalhado na direção de nenhum filme, já provou sua capacidade de contar histórias. MGS é uma obra de arte nisto. A franquia tem guerras mundiais como pano de fundo e aborda segredos militares envolvendo armas nucleares, poderes sobrenaturais, experimentos biológicos, inteligência artificial, nanotecnologia etc.

O enredo é nutrido por uma disputa de poder envolvendo muitos personagens e organizações, mas tudo acaba girando em torno do espião John, também conhecido como Snake, Naked Snake e Big Boss. Ele transita de herói para vilão ao longo da saga. Metal Gear Solid V: Phantom Pain — último título lançado por Hideo Kojima para a série, em setembro de 2015 — explica o porquê, mas sem conseguir um “Rank S” no balanço final.

Aproveite para ler o artigo ouvindo nossa playlist no Spotify sobre Metal Gear Solid. E não se esqueça de nos seguir por lá:

ATENÇÃO: a partir de agora, esta análise contém SPOILERS sobre toda a franquia MGS.

PLOT TWIST REVELADOR

A cronologia de Metal Gear compreende um século (1918 a 2018), e Big Boss parece quase um Goku por tanto morrer (ou ser dado como morto) para depois aparecer “vivinho”. É assim logo no primeiro título da saga, que se passa em 1995 na cronologia. Nele, Solid Snake (clone de Big Boss) mata seu “pai” no fim do game. Porém, no segundo título da série (Metal Gear 2: Solid Snake), Big Boss de alguma forma conseguiu sobreviver e reaparece no jogo.

Metal Gear Solid V: Phantom Pain explica esse mistério. O jogo se passa em 1984, quando Big Boss acorda após 9 anos de coma. Porém, não é Naked Snake quem controlamos, mas sim Venom Snake (Ahab), um médico muito habilidoso que estava junto com o espião na queda do helicóptero que os levaram ao estado de coma. Isso só é revelado na missão final, em um grande plot twist de Kojima para o game.

Editorial: Phantom Pain não alcança "Rank S" na história de Metal Gear Solid

Ahab foi submetido a cirurgias plásticas para ficar com a mesma aparência de Naked Snake, além de tratamentos que o induz a pensar que é, de fato, Big Boss. Essa estratégia foi estruturada para manter o verdadeiro espião longe do radar de quem o queria morto, posicionando Ahab como um disfarce do Big Boss.

Desta forma, é Venom Snake quem constrói Outer Heaven, nação militar planejada a longo prazo por Big Boss. É Venom Snake, ainda, que é morto em Metal Gear por Solid Snake, enquanto todos imaginavam que ele era Big Boss. Desta forma, Kojima soluciona a controvérsia, e ainda expõe a trajetória do novo personagem que dá traços vilanescos ao Naked Snake. Apesar disso, as ações de Big Boss no período permanecem ocultas.

PARADOXO ENTRE OS DOIS LADOS

Há um detalhe na franquia bastante contestado pelos fãs. Para entender, precisamos recapitular acontecimentos mais antigos da cronologia. Em 1964 — durante os acontecimentos de Metal Gear Solid 3: Snake EaterNaked Snake age sob as ordens de Major Zero, comandante da unidade FOX — grupo criado pela CIA para operações secretas especiais.

Sem o conhecimento de ninguém, Major Zero cria outro grupo militar, o XOF, para dar suporte tático às missões da FOX (colocando Skull Face na liderança deste grupo). Em 1966, quando Zero e Snake já não estão na FOX, eles criam os Patriots junto com Ocelot para realizar o sonho da lendária The Boss (mentora de Snake e melhor agente que os EUA já teve): criar um mundo unificado utilizando o Legado dos Filósofos.

Editorial: Phantom Pain não alcança "Rank S" na história de Metal Gear Solid

Em 1972, sem o consentimento de Naked Snake, Major Zero começa o projeto Les Enfants Terribles, que consiste na criação de clones do Big Boss para formar soldados perfeitos. Ao descobrir o feito, no mesmo ano, Big Boss diverge de Zero e se afasta dele.

O espião então cria o grupo Militaires Sans Frontières (MSF), com o intuito de fornecer poderio militar a todos que precisem, independente de nações ou ideologias. Por sua vez, Major Zero assume a Patriots, renomeando ele e a organização para Cipher, e começa a nutrir tensões com Big Boss.

Hospedado em uma base marítima (Mother Base) em 1974, o MSF está trabalhando em seu próprio Metal Gear, chamado ZEKE. Mas Paz, uma agente da Cipher infiltrada no grupo, rouba a arma para incriminar Big Boss — missão que acaba fracassando. Ou seja, há uma disputa de poder entre Big Boss e Major Zero, que inclusive desencadeia conflitos armados e outros acontecimentos da série.

Em 1975, a Mother Base é atacada pela XOF (comandada por Skull Face, que agora advoga contra Zero e Big Boss). Isso acarreta no acidente de helicóptero que deixa Snake em coma. Mas, surpreendentemente, é Major Zero quem se prontifica a levar Big Boss e os demais sobreviventes a um hospital escondido no Oriente Médio.

Editorial: Phantom Pain não alcança "Rank S" na história de Metal Gear Solid

Embora o espião tenha ficado sob os cuidados de Ocelot durante seu coma, a ajuda de Major Zero contradiz a disputa entre os dois lados. E esse fato já é narrativa de Phantom Pain. Ou seja, o título obscurece os objetivos da relação entre Zero e Naked Snake, deixando a história paradoxa neste sentido.

Claro que Metal Gear Solid V: Phantom Pain cumpre bem seu papel, expondo fatos reveladores que aconteceram na metade da cronologia da saga, encerrando muito bem a série. Era a promessa de Kojima, e seu produto ostenta nota média de 93/100 e selo Must Play na Metacritc. Mas há de se ponderar que o criador não tira “Rank S”, deixando em sua missão um ponto a se investigar.

Este artigo está disponível no site Videogame Cultura.

3 Respostas para “Editorial: Phantom Pain não alcança “Rank S” na história de Metal Gear Solid”

  • 21 de abril de 2019 às 19:39 -

    ivan

  • esse metal gear poderia ser o melhor, se tivessem deixado o kojima acabar

  • 22 de abril de 2019 às 22:39 -

    Idea Spy

  • Big Boss vilão!? Serio isso? Eu tenho uma teoria a respeito de quem acha isso; ou não jogou metal gear ou não entendeu.

  • 23 de abril de 2019 às 02:39 -

    Hudson

  • Tentei jogar Phantom Pain, mas larguei. Começa interessantíssimo, com uma introdução intrigante, mas quando começa a missão lá no deserto… que marasmo. Progressão lenta, stealth limitado (se comparado a outros games como Hitman ou Dishonored). Entendo quem gosta e acompanha a série, mas não curti. Queria ter curtido, mas não consegui :(

Deixar um comentário (ver regras)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *