Conferimos o show do Red Hot Chili Peppers em Curitiba (13/11/2023)

14 de novembro de 2023

Existem certas bandas que, por mais que a gente não seja “fã de carteirinha”, tem vontade de ver ao vivo simplesmente porque o show deve ser uma baita experiência.

O Red Hot Chili Peppers entra nessa minha lista. Nunca fui realmente fã, mas conheço boa parte da discografia e gosto “da vibe” da banda. Do estilo funkeado das músicas. Já toquei algumas músicas deles com minha (ex) banda, e um dos meus melhores amigos é super fã, o que me fez absorver por osmose muito do que a banda lançou nos últimos anos.

E não podemos esquecer do icônico clipe de Californication, que cativou milhões de pessoas nos tempos do saudoso Disk MTV com seu “jogo de videogame de mentira”.

De certo modo, o Red Hot sempre esteve presente, ainda que tangencialmente, na minha vida. E, tal qual outras bandas, como o Foo Fighters, eu tinha certeza de que um show deles seria uma experiência f*da.

Ontem, 13 de novembro, tive a chance de descobrir se isso era verdade, com a passagem dos californianos por Curitiba, na turnê do álbum Unlimited Love, lançado em 2022.

A turnê brasileira

Embora os Chili Peppers não estejam mais no seu auge, esta turnê é especial, pois marca o retorno de John Frusciante à guitarra. Tendo saído mais de uma vez da banda ao longo dos anos, da última vez Frusciante passou exatamente 10 anos fora do grupo — de 2009 a 2019.

Essa seria a primeira vez que o Red Hot viria ao Brasil com Frusciante na guitarra em mais de duas décadas — a última vez foi em 2002. Nada contra o guitarrista Josh Klinghoffer (que assumiu a função entre 2009 e 2019), mas é fato que a energia criativa de Frusciante fez falta nos álbuns que o RHCP lançou nos últimos 15 anos.

Esta foi a primeira vez que o Red Hot veio para Curitiba — em uma turnê de 5 shows, que começou pelo Rio de Janeiro (04/11) e passou por Brasília (07/11) e São Paulo (10/11) até chegar à capital paranaense ontem (13/11). Porto Alegre vai receber a saideira da turnê na quinta, 16/11.

Considerando alguns flagras pra lá de curiosos — com direito a Chad Smith tocando Legião Urbana em um bar do Rio — eu estava realmente empolgado para ver o que eles iam aprontar por aqui.

Mas primeiro, falemos da banda de abertura.

Irontom, a banda de abertura

Quem está abrindo os shows da turnê Unlimited Love por aqui é a banda estadunidense Irontom. Ouso dizer que ela não é muito conhecida por aqui, mas já tem 4 álbuns lançados, sendo o mais recente deste ano.

Um fato curioso deste trio é que o guitarrista, Zach Irons é filho de Jack Irons, ex-baterista do Red Hot Chili Peppers. Completam a banda Harry Hayes nos vocais e Dylan Williams na bateria.

Com muita energia, o Irontom tocou por cerca de 40 minutos. Suas músicas passeiam por gêneros como Post-Punk, Rock Psicodélico e Funk Rock, mas teve espaço até para um cover de Gorillaz. O vocalista parecia realmente empolgado, soltando algumas palavras em português, agitando a galera e fechando o show com a bandeira do Brasil no pescoço.

Não sei dizer se gostei do som do Irontom, mas eles sem dúvida estão curtindo a experiência de ser a banda de abertura dos Chili Peppers. Ouça uma das músicas deles abaixo e tire suas conclusões:

Os Red Hot Chili Peppers sobem ao palco

Como já disse lá em cima, eu esperava que o RHCP trouxesse um show divertido, enérgico e empolgante. Não só por essa ser a primeira passagem deles por Curitiba, mas porque é meio que isso que eu, inconscientemente, associava à imagem deles.

E.. não foi bem isso que eles entregaram. Sem muito papo com o público, os Chili Peppers abriram com um jam instrumental arrasador e já na sequência emendaram 3 de seus maiores hits (Around the World, Scar Tissue e Dani California).

O entrosamento da banda é notável. Enquanto Chad Smith parece sempre empolgado na bateria, a sinergia de Flea e Frusciante é impecável. Não por acaso, as “jams” entre uma faixa e outra e os solos improvisados estão entre os melhores momentos da noite.

Short – Solo de baixo do Flea

De bota ortopédica, o frontman, Anthony Kiedis, demorou um pouco para se soltar no palco, mas segurou a onda nos vocais, tanto de músicas clássicas quanto nos sons contemporâneos. Mas ele parecia um tanto apático, “sem tempo” para conversar com o público ou fazer algo além de cantar.

A qualidade do som estava ótima, e as luzes e efeitos psicodélicos no telão roubavam a cena. Mas, eu realmente “esperava mais”. E não falo nem de qualidade técnica, mas de postura, mesmo. De presença de palco, de energia.

Cadê a interação com o público?

Talvez eu estivesse com as expectativas erradas, mas realmente esperava um show mais enérgico dos californianos. Mas o que vi foi uma banda bastante introspectiva, que conversou um bocado entre si… mas quase nada com o público.

Compartilhei esse pensamento com algumas pessoas que também foram ao show e obtive diferentes respostas. Para alguns, a bota ortopédica tirou um pouco da empolgação do Kiedis. Para outros, “eles já estão velhos”. E aquele meu amigo que é fã disse que o show deles é meio assim mesmo. Que não era para eu esperar um show tipo “espetáculo” como outros dinossauros do rock fazem — Metallica, Foo Fighters, Kiss e Iron Maiden são alguns nomes que me vêm à mente. Mesmo “velhos”, eles ainda esbanjam carisma e energia no palco.

Não tem certo ou errado aqui. Mas eu senti falta de um pouco mais de energia. De empolgação. De um esforço em aprender umas palavras em português, de conversar com o público, de puxar o coro da galera nos refrãos, ou aqueles momentos de “OhohOh” que todo show de rock costuma ter.

Em resumo, os caras tocaram muito bem um repertório que abrange décadas de história… mas deixaram a desejar no carisma. O que talvez nem seja um problema para a maior parte do público: vi gente chorando emocionada e dizendo que esse foi o melhor show da vida.

No fim das contas, música é sobre isso. Sobre despertar emoções. Por mais apáticos e introspectivos que estivessem no palco, os Chili Peppers emocionaram boa parte das mais de 40 mil pessoas que foram ao Couto Pereira ontem. O que faltou em carisma, sobrou em virtuosidade.

Este foi o penúltimo show da Unlimited Love Tour por aqui. Se você foi em algum outro show — ou vai no de Porto Alegre, dia 16 — me conte suas impressões. Numa dessas sou eu que estou sendo “chato”, e não eles. 😛

Short – Medley editado com trechos de 3 músicas

Setlist do show de Curitiba:

  1. Intro Jam
  2. Around the World
  3. Scar Tissue
  4. Dani California
  5. Universally Speaking
  6. Aquatic Mouth Dance
  7. Soul to Squeeze
  8. I Like Dirt
  9. Terrapin (Syd Barrett cover) (John Frusciante solo)
  10. Wet Sand
  11. Throw Away Your Television
  12. Reach Out
  13. Danny’s Song (Loggins & Messina cover) (John Frusciante solo)
  14. Suck My Kiss
  15. The Heavy Wing
  16. Californication
  17. Black Summer
  18. By the Way
  19. I Could Have Lied
  20. Give It Away

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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