Análise Arkade: Balan Wonderworld, um jogo sem pé nem cabeça

7 de abril de 2021
Análise Arkade: Balan Wonderworld, um jogo sem pé nem cabeça

Balan Wonderwold é um jogo bem estranho. Há jogos que são estranhos e são bons. Infelizmente, não é o caso desse aqui. Confira nossa análise completa para saber mais.

Quando começaram a surgir informações sobre Balan Wonderworld, confesso que fiquei bem animado. Afinal, o jogo tem como diretor ninguém menos que Yuji Naka, um dos criadores do Sonic, e seu design é assinado por Naoto Ohshima, artista que criou o visual do ouriço mais famoso do mundo dos games.

Como fã de Sonic que sou, essa combinação de talentos “nos bastidores” me chamou bastante a atenção. O jogo em si, parecia um tanto confuso. Muito musical, muito teatral e cheio de fantasias. Relembre o trailer de anúncio dele e tente entender:

Confesso que não sabia bem o que esperar, mas seguia otimista que a dupla Naka & Ohshima não iria me decepcionar. Quando uma demo do jogo foi disponibilizada, no finalzinho de janeiro, fui correndo baixá-la o Playstation 5… e saí bem decepcionado. Nada fazia muito sentido.

Infelizmente, esse sentimento continua valendo, agora que experimentei o game completo. Balan Wonderworld é um jogo sem pé nem cabeça, cheio de atividades repetitivas, level design esquisito e uma mecânica pautada por coletar e vestir fantasias que simplesmente não é boa para sustentar o game.

Até a história é confusa

Balan Wonderworld é cheio de cutscenes lindas, mas que não fazem um trabalho muito bom em contar sua história para o jogador. O que vou resumir aqui é a minha interpretação da história, que me parece fazer sentido.

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Balan é uma espécie de entidade mágica que quer ajudar as pessoas a se livrarem de seus problemas e sentimentos ruins. Nosso protagonista (que pode ser um garotinho ou uma garotinha) acaba indo parar no mundo mágico do Balan, e vai ajudá-lo a ajudar pessoas que estão precisando de uma forcinha.

Assim, cada mundo do jogo é meio que o subconsciente de um NPC que está passando por algum perrengue. Pode ser uma garotinha que gosta de insetos e assusta as outras crianças, uma moça que viu um lindo bosque virar um condomínio, ou um garoto que sonhava em construir uma máquina voadora, mas nunca tinha sucesso.

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Esse é o garoto que queria voar

Cada mundo é dividido em duas fases + um chefe. O chefe final nada mais é do que a pessoa a ser “salva”, que foi consumida por sentimentos ruins e virou um monstro. Depois que vencemos a luta, ela volta ao normal.

Ou seja, não há uma história em Balan, mas uma dúzia de pequenas histórias independentes. Isso não seria realmente um problema se as historinhas fossem boas, mas tudo é muito básico, muito simples: em uma cutscene, é apresentado o problema.

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Depois de enfrentar o chefe, vemos o problema sendo resolvido (muitas vezes de forma bem absurda) em outra cutscene, e é isso. Os conflitos têm a profundidade de uma colher de chá.

Gameplay simples (até demais)

Quando você vê algumas imagens de Balan Wonderworld, ele parece um jogo de plataforma 3D, certo? Isso até é verdade… até certo ponto. Porém, qual é a ação mais elementar de um jogo de plataforma? O pulo, claro. E não é sempre que você vai poder pular em Balan Wonderworld.

Explicando: o gameplay do jogo é totalmente pautado pelas fantasias que você recolhe para usar. Há mais de 80 trajes diferentes para você colecionar, cada um com uma habilidade específica. Porém, não existe um botão de pulo e um de habilidade: praticamente todos os botões do controle servem para uma única ação, que geralmente é a habilidade do traje que o personagem está usando.

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Há diversas habilidades diferentes. A fantasia de aranha, por exemplo, permite que você “grude” em teias espalhadas pelo cenário, podendo acessar áreas que nenhum outro traje alcança. Já a fantasia de água-viva pode “mergulhar” por certos caminhos aquáticos. A fantasia de camaleão usa a língua para se dependurar em certas plantas. Há fantasias que planam, outras que podem atacar a distância (com tiros, socos, lasers, etc).

A questão é que, como só existe o botão de ação, você só pode realizar a ação da fantasia que estiver usando. Então, se a fantasia que você está usando tem uma habilidade que NÃO é pulo, você simplesmente não vai poder pular enquanto estiver usando-a. Ok, você pode carregar até 3 fantasias diferentes o tempo todo, mas como uma porrada faz você perder a fantasia, se por ventura você perder sua fantasia capaz de pular, pode acabar preso, caso precise fazer algo tão elementar quanto pular.

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Isso para não mencionar algumas fantasias que simplesmente não servem para nada, e parecem estar no jogo só para trollar o jogador. Há uma roupa de raposa, que vira um cubo sólido, e faz isso aleatoriamente. É uma habilidade que não serve para nada, e você nem pode controlá-la, ela simplesmente vira um cubo, do nada. Era pra ser uma piada?

E não para por aí…

Como se isso não fosse problema o bastante, as fantasias que você pode usar são consumíveis: se você só tiver uma de determinado tipo, tomar dano e perdê-la, ela sai do seu inventário. Se quiser equipar essa fantasia novamente, você terá que voltar até o mundo específico em que a pegou — cada mundo tem suas próprias criaturas e fantasias — para conseguir outra. E, para não correr o risco de ficar sem, talvez seja uma boa ideia jogar a fase umas 2 ou 3 vezes, para fazer um estoque daquela fantasia.

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Sempre que encontrar um checkpoint, você pode trocar suas fantasias por outras — desde que tenha pelo menos uma guardada no seu inventário. A ideia de perder a fantasia ao tomar dano já é ridícula… some isso com o fato de que cada fantasia é um consumível, e ela fica ainda pior, pois obriga você a ficar revisitando certas fases apenas para coletar (de novo) alguma fantasia que você já pegou.

Na verdade, Balan Wonderworld meio que espera que você faça isso. Há fantasias que interagem com elementos específicos dos cenários, como o traje de aranha que eu já mencionei: você vai ver teias de aranha desde o começo do jogo, mas só vai conseguir a roupa de aranha ali pelo 3º ou 4º mundo. Se quiser ampliar sua capacidade de exploração, você deverá revisitar as primeiras fases usando a fantasia de aranha.

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Só a roupa de aranha pode fazer isso

O problema é que o gameplay de Balan Wonderwold é tão simples e sem graça, que você não sente-se realmente estimulado a ficar revisitando as fases. Você só vai querer fazer isso se for realmente necessário.

E, adivinha só: invariavelmente isso torna-se necessário. O jogo exige que você acumule estátuas douradas do Balan para continuar avançando. Há 7 estátuas escondidas em cada fase — muitas delas em locais que você só conseguirá acessar depois que tiver a fantasia certa — então, quando você chegar em um ponto que precisa de mais estátuas para avançar, vai ter que começar a revisitar fases anteriores para procurar as estátuas que deixou passar.

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Cada fase tem um punhado dessas estátuas

Eu odeio esse tipo de estratégia: barrar o progresso do jogador de forma arbitrária, só para obrigá-lo a fazer backtracking. Se quando o jogo é bom isso já é chato, quando o jogo não é bom — caso de Balan Wonderworld –, fica ainda pior.

Audiovisual

Acho que aqui temos o único ponto em que não há do que reclamar em Balan Wonderworld. No departamento audiovisual, o game dá um show: seu visual é muito colorido e por ter o subconsciente como tema, espere por alguns ambientes super diferentes e psicodélicos.

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Tipo assim

As cutscenes têm um visual incrivelmente detalhado. O character design tem uma vibe meio Sonic em alguns aspectos, e embora eu não goste de todas as decisões artísticas do jogo (os olhos exageradamente grandes dos humanos, por exemplo), não se pode negar que ele é estiloso bem estiloso.

Por ter uma vibe muito musical, Balan Wonderworld dá muita atenção para suas músicas, e no geral faz um ótimo trabalho. A trilha sonora é muito variada e concede muita personalidade ao jogo. Os “números musicais” ao final de cada fase tem até músicas cantadas (em japonês), com direito a coreografias e muita pirotecnia.

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Jogando a versão PS5, o jogo roda liso, ainda que não faça um uso particularmente inspirado do potencial do DualSense. Mas, é como eu disse: por ser mecanicamente tão limitado (o jogo usa basicamente 2 botões), não tinha como ser diferente. Tirando isso, tecnicamente, ele está muito bonito na nova geração, e presumo que não deve fazer feio na antiga.

Conclusão

Mesmo não tendo gostado da demo, eu vim com fé para a versão completa de Balan Wonderworld. Queria gostar dele, mergulhar no seu mundo colorido e musical, me encantar com suas histórias… mas não teve jeito. O jogo pode esbanjar estilo, mas simplesmente não é divertido, nem gostoso de jogar.

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Há muitos outros problemas em Balan Wonderworld que eu nem mencionei: ele tem mini-games esportivos super obtusos e as fases bônus mais repetitivas e sem graça dos últimos tempos. Seu level design não é nada de mais e seu nível de desafio é risível. Há muitas habilidades derivativas, que tornam certas fantasias muito menos “únicas” do que deveriam. Há um hub central, onde devemos cuidar de uns bichos fofinhos… que estão ali só por serem fofinhos, não agregam nada ao jogo.

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Nem vou entrar em detalhes sobre tudo isso, senão esse review não acaba nunca. O fato é: Balan Wonderworld simplesmente não é um bom jogo. Saio decepcionado e frustrado com o jogo… e no mundo real nem tem uma criatura mágica para me livrar desses sentimentos ruins.

Balan Wonderworld está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5 (versão analisada), Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade: Balan Wonderworld, um jogo sem pé nem cabeça”

  • 8 de abril de 2021 às 17:24 -

    Felipe

  • Deve ser bem difícil te agradar Rodriguinho.

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