Análise Arkade: Bloody Zombies é beat ‘em up old school com sotaque britânico

2 de outubro de 2017

Análise Arkade: Bloody Zombies é beat 'em up old school com sotaque britânico

Quando anunciado, Bloody Zombies trouxe um misto de expectativa com desconfiança. Afinal, mais do que nunca, parece que o mundo dos games está super saturando de opções que se ambientam em um mundo pós-apocalíptico, sobretudo povoado por zumbis.

Ao mesmo tempo, é uma proposta em realidade virtual que foge da óbvia perspectiva em primeira pessoa e, ao mesmo tempo, é daquelas propostas que prometem um respiro para um dos sub-gêneros de ação mais consagrados da história: os beat ‘em ups, eternizados por franquias como Final Fight, Street of Rage, Golden Axe e tantos outros.

Análise Arkade: Bloody Zombies é beat 'em up old school com sotaque britânico

No final, as notícias são boas: ainda que o jogo não pretenda ser absolutamente inovador em termos narrativos, funciona muito bem quando traz  um feeling semelhante ao dos clássicos fliperamas de bar dos anos 1990, com história simplificada, personagens arquetípicos, inimigos em hordas infinitas e muita porrada!

Zumbis com classe britânica

Pelo jeito, em um apocalipse zumbi, definitivamente é melhor não estar na Inglaterra. Já vimos a infestação em filmes, como Extermínio e em games como Zombi. Então, se estiver visitando Londres e vir, por acaso, alguém mordendo outro alguém, saiba que esta é a definição de estar no lugar errado na hora errada. Não a toa, o título do game brinca fazendo um trocadilho com uma expressão tão britânica quanto a própria rainha.

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Dentro deste cenário, o jogador tem a possibilidade de escolher alguns dos mais icônicos perfis britânicos. Há a garota punk com guitarra e cabelo estilizado e o brutamontes jogador de críquete com classe. Não que isso importe tanto assim, já que as diferenças entre eles são muito mais estéticas do que práticas. Troque uma skin aqui, um formato de arma ali, mas na geral o jogo é o mesmo com qualquer um.

Então, em termos de história… é isso. Quatro personagens estereotipados em um cenário cheio de inimigos com a mesma cara, atravessando os diferentes cenários do jogo e tentando ficar vivos. Ainda que cada um traga ali uma ou outra fala cheia de gracinhas, eles não são realmente cheios de personalidade.

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Soca, pula, corre, soca de novo…

Quem já jogou qualquer coisa — dos clássicos aos mais esquecidos — no gênero beat ‘em up, irá se sentir bastante a vontade aqui. Comandos e movimentos são tirados quase que inteiramente de games como Final Fight. Um botão de ataque rápido, outro de ataque forte, um de pulo e outro de movimento especial. Pule com ataque ou corra com ataque. O resultado será o mesmo de quando feito lá naquele boteco que, admita, você gastava todo o troco do pão.

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Bloody Zombies ainda apresenta uma série de golpes e movimentos mais inventivos, com comandos similares a golpes de jogos de luta (meia lua + ataque forte, por exemplo). São ataques que funcionam bem quando treinados, mas pouco efetivos com a tela cheia de inimigos. De qualquer forma, adicionam tempero a um sistema clássico.

A princípio, a percepção é de um jogo com movimentação um pouco lenta, arrastada até. Mesmo na movimentação lateral, parece custoso chegar de um ponto ao outro, principalmente quando há a necessidade de esquiva ou de fuga. Correr não é tão simples assim e a dinâmica do jogo se perde um pouco.

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Analisando friamente, porém, mesmo essa movimentação parece beber bastante dos referenciais. O que mudou com o tempo, parece, é a nossa percepção de tempo dentro do jogo. Nos dias atuais, com jogos mais frenéticos e movimentos mais fluidos e livres, esse ritmo mais cadenciado parece descompassado com o atualidade. Nada que alguns minutinhos jogando não equilibrem.

Um grande acerto é a preocupação em abrir possibilidades para composição de combos diversos. Ao longo da jornada o jogador vai desbloqueando novas habilidades e melhorando as já adquiridas. Muitas são usadas para movimentação e outras podem compor combos novos ou variações de combos já existentes.

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De um modo geral, em termos de jogabilidade, Bloody Zombies é uma grande ode ao estilo beat ‘em up old school, e funciona muito bem, ainda que adote um sistema cadenciado e com mapeamento de comandos mais tradicional e que precisa de algum tempo para adaptação.

Jogando entre amigos

Ok, jogar sozinho é quase que um padrão nos dias atuais para muita gente. O online é o grande meio de colaboração e jogos multiplayer de sofá estão cada vez mais raros. Mas, sejamos sinceros: poder jogar de todas essas formas é muito bacana. Então, nada melhor que um jogo que se preocupa com isso.

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É possível colocar até 4 malucos na mesma partida e sair socando tudo o que se mexe. Online ou local, não importa, a ideia é que atravessar um mundo lotado de mortos-vivos é sempre mais legal quando acompanhado. Jogar sozinho funciona, mas fica claro que o jogo é feito para a colaboração.

Um dos problemas enfrentados em termos multiplayer é a ainda baixa frequência nos servidores. Nas duas semanas de lançamento do game, houve vários momentos de vazio completo na busca por companheiros, e muitas vezes os que se encontram estão em níveis e experiência bem diferentes.

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Também houve problemas de lag e lentidão de resposta em várias partidas online, o que acaba atrapalhando em vários momentos onde a precisão é necessária — sobretudo em espaços de plataforma, saltos de longa distância e buracos. Nada que inviabilize a experiência, mas acaba incomodando.

Audiovisual

Bloody Zombies sabe lidar bem com o visual cartoon estilizado para a temática um pouco mais adulta. Fica longe de ser sisudo, e nem tenta se levar a sério. Ao contrário, é uma grande brincadeira com o tema, no melhor estilo inglês. Ou seja, há exageros estéticos, mas sem o estilo escrachado de produções americanas.

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O fato de ser projetado para a realidade virtual carrega uma responsabilidade maior em termos de estrutura espacial e level design. A profundidade de campo é algo notável, ainda que jogando de forma convencional possa dar alguns estranhamentos na distância entre protagonistas e inimigos em relação ao jogador.

Como esperado, os inimigos vem em hordas e são muito parecidos, com alguns tipos clássicos do universo zumbi, principalmente na geração pós Resident Evil: há o morto-vivo clássico, lento e previsível; o gordo que explode; o que tem tentáculos, o que junta os pedaços e revive… até o com armadura está presente. Todos bem delimitados e reconhecíveis sem qualquer esforço.

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O cenário, por sua vez, é bastante simplificado, até para diminuir uma poluição visual desnecessária para um jogo compatível com o VR. Ainda assim, brilha menos do que poderia, até pela riqueza da ambientação proposta. Em alguns momentos, mesmo com o avançar das fases, o cenário pode se tornar repetitivo e cansativo.

Fica a sensação de uma otimização para a realidade virtual que empobrece a experiência convencional de quem não tem o PSVR (o que, convenhamos, é a grande maioria de jogadores). Mesmo com alguns marcos bem representados, o game parece economizar na construção desse universo destruído e pós-apocalíptico.

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Já na questão sonora, nenhum grande destaque, a não ser a similaridade dos efeitos sonoros (de golpes, principalmente) que junto a tantas outras coisas, lembram os jogos clássicos de pancadaria dos anos 1990. Fica um destaque positivo ainda aos poucos diálogos, bem interpretados e carregados daquele sotaque inglês canastrão.

A liberdade estética para uma temática mais adulta ajuda o game a brincar com uma violência gráfica sem se tornar gore. Não falta sangue, não faltam cabeças explodindo e não faltam armadilhas mortais, mas alguns elementos são simples demais, tal como a fluidez da animação e a construção de mundo. Apesar disso, o saldo é positivo, e o jogo no geral, é bem estiloso.

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Conclusão

Hordas de inimigos, combos e pancadaria descomprometida, chefões apelões, caixas e barris com comida ou armas… tudo o que se espera de algo que preste homenagem à Final Fight ou Street of Rage está lá. E, pra melhorar, com zumbis de todos os tipos para espancar sem dó nem peso na consciência.

Bloody Zombies cumpre o que promete, funciona bem em termos estéticos e soma uma jogabilidade consagrada com adições pontuais e bem-vindas. Tem uma cadência que destoa um pouco do mercado atual e não aproveita realmente o hardware das máquinas atuais, ainda que ouse tratar da realidade virtual de uma forma que foge do lugar-comum do formato (a perspectiva em primeira pessoa).

Bloody Zombies está localizado para o português nos textos e menus e está disponível para PC, Playstation 4 e XBox One e garante uma boa diversão, principalmente quando jogado com mais pessoas, ainda que tenha uma dificuldade elevada. Afinal, mesmo que não seja lá tão original, descer a porrada em zumbis nunca enjoa.

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