Análise Arkade: Broken Pieces é um interessante thriller de terror cósmico

21 de novembro de 2022

Nos últimos anos, o estilo clássico dos Survivor Horrors, com câmeras fixas, jogabilidade em tanque e foco em resolução de puzzles, tem voltado a ganhar espaço e atenção na indústria de video games, algo definitivamente muito bom! E entre esses games, temos Broken Pieces, que brinca com esse estilo criando uma aventura muito envolvente e criativa.

Vamos então conferir nossa análise do game, que mistura um pouco de várias ideias e estilos para criar uma experiência bem diferente do padrão!

Fantasmas em um Loop Temporal

Broken Pieces conta a história de Elise, uma mulher vivendo num pequeno vilarejo litorâneo chamado Saint-Exil, numa região pacata da França. No entanto, Elise não está vivendo a vida tranquila que sonhava, mas sim um pesadelo que parece não ter fim.

Ela está presa na cidade, sozinha e incapaz de sair dela graças a estranhos fenômenos sobrenaturais. Uma estranha parede de névoa bloqueia todas as saídas da cidade, e dessa névoa, surgem fantasmas com a forma de soldados usando equipamento pesado e máscaras de gás. No oceano, gigantescos pilares de água se estendem até além dos limites do céu. E, o principal de tudo: Elise está presa num loop temporal, sem conseguir sair dele.

Ela acorda todos os dias exatamente as 8 da manhã, e só pode ficar do lado de fora de sua casa até as 20:00, do contrário, será cercada de fantasmas. E todos os dias, mesmo se ela for capturada ou morta pelos fantasmas, despertará novamente em sua cama exatamente as 08:00.

Elise está completamente sozinha nesta cidade, sendo a única pessoa ainda presente ali após um estranho fenômeno que aconteceu meros dias antes dos eventos do game: Um grande batalhão do exército invadiu a cidade e começou a sequestrar todos os seus habitantes. Até que, de repente, todo mundo desapareceu. Os habitantes do vilarejo, os soldados, todos, incluindo o marido de Elise. E ela foi a única que ficou, graças a uma pedra estranha que carrega consigo, capaz de conjurar tempestades instantaneamente e repelir os fantasmas dos soldados.

Sem ter para onde ir, Elise então decide fazer a única coisa que pode nessa situação: Explorar o vilarejo e descobrir o que aconteceu ali. E, acima de tudo, descobrir como fazer tudo voltar ao normal. E é aí que o jogador entra, controlando Elise e explorando diversas partes de Saint-Exil em busca de respostas.

Uma interessante mudança no estilo Survival Horror Clássico

Broken Pieces é um game muito interessante em seu conceito, apesar de sofrer um pouco na execução. Como já mencionado, acompanhamos Elise enquanto ela explora o vilarejo de Saint-Exil, estando completamente sozinha. Conforme avançamos, em momentos aleatórios surgem fantasmas para tentar matar Elise, e você só pode seguir adiante após derrotar todos.

A mecânica de loop temporal torna a experiência em algo diferente, ainda que não alcance todo o seu potencial. Cada dia no game começa exatamente as 08:00, e você tem até as 20:00 para explorar a cidade e resolver seus puzzles e mistérios. Caso você não consiga fazer tudo a tempo em um dia, pode voltar para casa e continuar no dia seguinte, sempre tendo o limite de até 20:00 para poder explorar.

Infelizmente, não há uma punição ou mecânica que é ativada quando você ultrapassa o limite das 20:00. Na história do game, após esse horário toda a cidade é infestada de fantasmas, de forma que Elise não consegue escapar deles. Mas in-game, quando o relógio marca 20:00, nada acontece, você só é impedido de seguir adiante e viajar para outras áreas do vilarejo, sendo obrigado a manualmente retornar de onde veio e de volta para sua casa.

Isso prejudica o próprio conceito de loop temporal e “toque de recolher” fantasmagórico, não fazendo diferença mecanicamente em praticamente nada. Tudo o que acontece é que você fica impedido de avançar, por exemplo em viajar para outras áreas que não sejam onde está a sua casa.

Em termos de gameplay, temos aqui uma muito criativa variação das câmeras fixas. Broken Pieces usa um estilo mais parecido com o de Silent Hill 1, com câmeras em ângulos fixos que seguem Elise conforme ela anda, trocando a perspectiva da câmera a cada “tela” diferente.

Uma coisa bem legal é que podemos alternar entre duas perspectivas de câmera a qualquer momento com o apertar de um botão. Isso ajuda muito a navegar pelos cenários e encontrar elementos escondidos. Além disso, podemos dar zoom controlar a câmera para olhar para os lados de forma limitada, mas muito útil.

As ações que o jogador pode realizar são bem simples. Elise é equipada com uma pistola de munição infinita, porém fraca, e durante as batalhas pode usar a pedra brilhante que carrega consigo para criar um pulso de energia que afasta os fantasmas. Tanto a arma como o pulso de energia podem ser melhorados conforme se avança, e no caso da arma, é possível encontrar e fabricar munição de alta qualidade, que causa muito mais dano, mas é bem mais rara.

Por fim, o game possui duas mecânicas muito legais relacionada a pedra que Elise carrega. É possível conjurar uma forte tempestade que surge instantaneamente e dura poucos segundos. Essa tempestade é útil para certas interações com o ambiente, como derrubar árvores ou gerar ventos fortes. E a segunda mecânica é avançar o tempo até o inverno, mudando todo o cenário. Mudar de estação permite encontrar caminhos novos, além de ser útil também para certas interações com os cenários, por exemplo controlando a maré ou congelando a água.

Broken Pieces é primariamente um game de investigação e resolução de puzzles, sendo muito divertido e criativo nesse quesito. As batalhas são secundárias, não tendo muita variação, com os mesmos tipos de fantasmas aparecendo continuamente, mudando apenas a resistência deles, com alguns possuindo um campo de força que precisa ser quebrado antes deles sofrerem dano.

Não há realmente muito a se falar sobre os combates, infelizmente. Além dos inimigos repetitivos, tudo oque podemos fazer é atirar, esquivar, usar um pulso para afastar os fantasmas ou, após conseguir esse poder, criar um pulso que destrói todos os fantasmas da tela. Ah, apesar do game não ter uma jogabilidade de tanque, ao entrar em modo de mira, Elise fica completamente imóvel.

Em geral a progressão do game está em viajar até um certo local do vilarejo (viajar entre áreas leva no mínimo 1 hora), explorar, coletar itens, documentos e fitas cassete com músicas e gravações importantes, e fazer tudo o que puder antes das 20:00. É bem tranquilo de fazer tudo em um dia só, com poucos casos em que é necessário 2 dias ou mais para terminar algo. Pelo menos em minha jogatina somente no final do game que passei a usar mais tempo, pois os puzzles se complicavam mais, além de que revisitar outras áreas acaba sendo necessário.

Audiovisual

Broken Pieces possui um visual simples e básico, mas que é bem feito. Contando com cenários cheios de detalhes e beleza, além de um bom sistema de iluminação. O que realmente destaca o game é o seu criativo uso de câmeras fixas, que o jogador pode controlar e até mudar o ponto de vista livremente.

Não sei para você, mas eu adoro games de terror de câmera fixa. Eles adicionam um elemento extra de suspense ao limitar nossa visão para o que está adiante ou atrás de nós. E em Broken Pieces muitas vezes as câmeras são posicionadas de forma a parecer que Elise está sendo observada por alguém escondido.

Mesmo que o game não seja necessariamente um Survivor Horror, ainda assim utiliza algumas de suas características de forma muito inventiva. Explorar Saint-Exil e resolver seus vários puzzles é algo bem divertido.

Na parte sonora, o game progride como um grande monólogo de Elise, que narra os seus dias, seus pensamentos e faz comentário sobre diversos elementos interativos, desde itens, documentos a cenários. Fora isso, temos as fitas cassete, que adicionam muitas informações e revelam muitos segredos sobre os mistérios do vilarejo, e entregam atuações muito bem feitas.

Na parte sonora, o game em sua maior parte possui apenas sons ambientes, que transmitem uma sensação de calma e tranquilidade como uma verdadeira cidade costeira pacata, com os sons onipresentes das ondas do mar, gaivotas voando e ocasionais sons de janelas rangendo, portões de metal abrindo e fechando e etc.

As músicas ficam limitadas aos momentos importantes, como cutscenes, ou então através das fitas cassete gravadas pelo desaparecido marido de Elise, que tem umas músicas muito boas criadas exclusivamente para o game!

Broken Pieces possui localização em português brasileiro em seus menus e legendas, com poucos erros de tradução e de gramática. No geral, o trabalho de tradução foi muito bem feito.

Conclusão

Broken Pieces é um game curto. E a maior parte do tempo será gasta com o jogador explorando cenários e descobrindo como resolver seus puzzles. A forma como o game usa o estilo de câmeras fixas para construir sua atmosferas de solidão e mistério é muito bem feita, e com certeza esse estilo faz falta hoje em dia.

Esse é um game envolvente e que oferece uma história interessante de se investigar e ir descobrindo a cada nova pista desvendada. No entanto, seu final acaba sendo bastante abrupto, como se faltasse um arco final grandioso e explosivo para dar mais peso a seu encerramento.

Infelizmente, por não possuir muita variedade de inimigos, o game acaba caindo um pouco na repetição, com as lutas contra inimigos se tornando mais uma inconveniência do que um combate propriamente dito. É quase como os encontros aleatórios de JRPGs clássicos, eles acontecem para ir adicionando obstáculos entre o caminho do ponto A ao ponto B. A diferença aqui é que os combates são sempre os mesmos e não há recompensa ou algo que compense ter vencido uma onda de inimigos.

Ainda assim, sendo combate algo totalmente secundário e com a exploração e puzzles sendo suas principais mecânicas, Broken Pieces acaba criando uma experiência boa e interessante de se acompanhar.

Broken Pieces está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.