Análise Arkade – Capcom Fighting Collection é pura pancadaria nostálgica

1 de julho de 2022
Análise Arkade - Capcom Fighting Collection é pura pancadaria nostálgica

Os anos 1990 foram, sem dúvidas, uma década que estará marcada na história dos videogames por tantos motivos que não caberiam em um único artigo. Para quem tem mais de 30 anos de idade, a época de ouro dos fliperamas – ou arcades, inspiração máxima para o nome do site que você lê agora – foi de uma diversidade de títulos de luta que estabeleceram todos os melhores padrões que são válidos até hoje em termos de modelos de combate, competitividade estética e jogabilidade.

O tempo passou, as máquinas especializadas já não são tão fortes quanto eram naquele tempo, e o gênero sobrevive forte calcado sobretudo em franquias como aquelas que nasceram e se popularizaram naqueles lugares estranhos ou nos bares de bairro que cheiravam a bebida ruim e cigarro velho. Basta uma pequena retrospectiva dos principais jogos de luta mais famosos dos últimos anos e encontraremos na lista Mortal Kombat, The King of Fighters, Samurai Shodown e o mais emblemático deles, Street Fighter, marca que, aliás, deve receber mais um título nos próximos meses.

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A Capcom, dentro de tantos nichos onde se tornou referência, é desde aquela época um dos pilares do nicho, e além do lendário Street Fighter II (e para quem tem interesse em saber mais sobre o que esse jogo significou para os fãs, vale a pena dar uma olhadinha no anime Hi Score Girl que se encontra disponível na Netflix) também trouxe ao mundo uma série de jogos que se aproveitavam das bases de uma de suas principais marcas e, ao mesmo tempo, criavam uma identidade própria e única para si mesmos. Esta Capcom Fighting Collection é uma grande oportunidade de celebrarmos esse legado.

A coletânea conta com 10 jogos lançados ao longo da década de 1990 e conta com as principais versões de cada um deles, o que significa que a base de todos é aquela que foi para as máquinas arcade, e não os seus respectivos ports para consoles, que frequentemente precisavam de um downgrade para se adaptar aos sistemas domésticos daquele momento, sobretudo os de 16 bits. Temos, portanto, a versão completa de Street Fighter II (a sua versão Hyper, com algumas adições e melhorias na comparação com a primeira edição e as incontáveis atualizações posteriores) como principal chamariz, mas não há dúvidas que a estrela do pacote é a franquia Darkstalkers, levianamente considerado por alguns como o “Street Fighter com monstros”.

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Darkstalkers e mais Darkstalkers

Em termos numéricos, temos metade da coleção dedicada aos três principais títulos dessa franquia, contando com as edições distintas para o Japão e para o ocidente. Conhecido também com o nome de Vampire Savior do outro lado do mundo, a Capcom Fighting Collection traz Darkstalkers: The Night Warriors (1994), Night Warriors: Darkstalkers’ Revenge (1995), Vampire Hunter 2: Darkstalkers’ Revenge (1997), Vampire Savior: The Lord of Vampire (1997), Vampire Savior 2: The Lord of Vampire (1997). Meio confuso, eu sei. Basicamente, são algumas edições que sintetizam a trilogia em sua diferentes roupagens e pequenas distinções, tanto localizados para o inglês quanto para o japonês.

Para quem não conhece a lore (ou o arremedo disso), a série se passa em um universo onde o nosso mundo se fundiu com outro, chamado de Makai, o que resultou na presença das criaturas sobrenaturais, como vampiros, lobisomens, mortos-vivos e outros monstros na nossa realidade. Como não poderia deixar de ser, uma guerra entre eles irá determinar o verdadeiro senhor da noite que irá reinar sobre todos os demais. Pyron é o primeiro grande antagonista, mas certamente Jedah, que recentemente fez parte da bagunça de Marvel vs. Capcom Infinite, é o vilão mais marcante. Nenhum deles é tão popular, claro, que a vampira Morrigan, o guerreiro Donovan ou a mulher-gato Felícia, figuras frequentes em vários crossovers promovidos pela Capcom.

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Pessoalmente, esta é a parte da coleção que me traz um sentimento de maior nostalgia porque quando garoto, Darkstalkers era um dos meus games de luta favoritos, uma espécie de Killer Instinct mais leve e caricatural. Os arquétipos dos filmes de terror clássicos e a simplificação de uma mitologia básica que só serve de desculpa para colocar um lobisomem para sair no braço com uma múmia é própria daquele momento histórico. Em 2022, fico muito contente em dizer que revisitar as diferentes versões da marca não só reativou um sentimento gostoso de nostalgia, como ainda provou que sim, esses jogos são realmente bons até hoje.

Digo isso porque quando voltamos a algo que foi tão impactante no passado, corremos o risco de uma certa decepção em descobrir que, para os parâmetros atuais, tudo pode ter ficado um tanto quanto datado. Felizmente, não é o caso. Todos os títulos da linha Darkstalkers, com destaque para The Lord of Vampire, continuam surpreendentemente sofisticados para um jogo de luta, e tudo isso com uma apresentação visual com muito estilo, animações non sense, golpes e combos divertidos, e movimentos que desafiam até mesmo os veteranos do gênero.

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E tem mais

Não é só de monstros que esta coletânea se sustenta, porém. Além do já citado e quase inevitável Hyper Street Fighter II: The Anniversary Edition (revisão de 2003), há alguns outros títulos bem menos conhecidos, alguns deles inéditos no ocidente e pela primeira vez em consoles. Red Earth (1996) se baseia em um mundo alternativo onde a humanidade continua em um estado de pouca ou nenhuma evolução tecnológica desde o período medieval, com o poderoso vilão Scion tentando dominar o mundo enviando guerreiros poderosos para destruir o que sobrou da humanidade. Porém, quatro grandes heróis emergem para defender o nosso planeta.

Eu não conhecia o título para além de algumas citações em textos históricos, e não terei uma base de comparação com a experiência original. É um dos títulos mais curiosos da coleção, uma vez que não segue o padrão clássico de apresentar um elenco onde todo mundo sai no braço com todo mundo, independente do lado maniqueísta onde se encontra na história. O jogo segue um modelo muito mais próximo de uma aventura onde o protagonista precisa enfrentar uma jornada de boss fights. Em outras palavras, ao escolher seu avatar, será necessário vencer, um a um, os demônios inimigos para chegar ao fim da jornada. Jogando contra outra pessoa, a diversidade de apenas quatro bonecos pode se tornar cansativo e com pouco valor re replay.

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Cyberbots: Full Metal Madness (1995) faz pelo gênero de luta aquilo que Titanfall fez pelo de FPS: selecionamos um piloto humano dentre cinco possibilidades e um poderoso mecha (ao todo, são 12 espalhados em três categorias) para controlar em confrontos de grande escala, que se aproveitam bem de explosivos, engrenagens e todas as traquitanas tecnológicas típicas da temática.

Ou seja, é um jogo de luta entre mechas, o que significa que o modelo de combate traz muitos dos maneirismos e exageros da época, adaptados a um sistema que considera peso e movimentos robóticos mais grosseiros, uma espécie de meio termo entre a mobilidade de máquinas como as de Matrix Revolucions e Avatar com as tradicionais batalhas de grande escala de robôs gigantes japoneses. O resultado é um jogo de luta futurista, menos plástico, mas mais intenso que funciona bem e se distingue do lugar-comum.

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Outra ótima adição ao conjunto está dividida em duas partes: Super Puzzle Fighter II Turbo (1996) e Super Gem Fighter Mini Mix (1997) oferecem crossovers de alguns dos principais títulos da casa em sua versão fofa. Em um deles, Super Gem Fighter, somos colocados em um formato de luta mais convencional com personagens conhecidos usando versões criativas e lúdicas de seus golpes clássicos para vencer os adversários, potencializados por jóias que caem por todos os lados para melhorar seus ataques e habilidades. A base do elenco é, mais uma vez, uma mistura de Street Fighter e Darkstalkers, mostrando o quando ambas as franquias carregavam juntas o legado da Capcom.

Super Puzzle Fighter, por sua vez, é o maior desvio da coleção em termos de mecânicas, isso porque não se trata de um jogo de luta em si, mas um puzzle game (como o título já dá a dica) que se ambienta no sub-universo de Gem Fighter. Cada lutador tem seu painel com uma versão adaptada do clássico Tetris, onde é necessário juntar peças de mesma cor até poder explodi-las com um artefato especial. Como é um sistema competitivo e comparativo, as melhores ações de um personagem se transformam em punição para o adversário. De luta, sobram algumas animações ao centro da tela conforme se ataca ou se recebe ataques.

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Quando experimentei esses dois jogos no seu tempo, em suas versões para SNES, confesso que passei por uma certa decepção. Aluguei o primeiro, me diverti bastante, adorava as lutas mais descompromissadas e até engraçadas de Gem Fighters, e aí quando fui buscar de novo, me confundi com as caixas e levei o segundo pra casa. A reação inicial foi a de negação, de ter escolhido um jogo de luta e levado um quebra-cabeças pra casa. Cinco minutos depois, estava completamente envolvido em fazer pontuações melhores e, no final das contas, gostei de um tanto quanto gostava do outro. O resultado é que guardei ambos em um lugar especial em minha memória afetiva, algo que se renova com essa coleção juntando os dois em um único lugar.

Um conjunto de muito respeito

Considerando cada um dos títulos, dos que eu já conhecia aos que joguei pela primeira vez por meio desta coletânea, esta Capcom Fighting Collection é certamente um dos melhores conjuntos que tive a oportunidade de experimentar, não só por juntar em um único lugar vários dos títulos que mais marcaram a minha infância e início da adolescência, como também por apresentar muita coerência na sua composição. Mesmo que tenhamos metade dos títulos baseados em uma única franquia, há equilíbrio entre as diferentes facetas (algumas muito pouco conhecidas) da Capcom em um período de pluralidade e diversidade de títulos.

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Infelizmente, o momento atual da indústria torna praticamente impossível que se lance, em um espaço de quatro ou cinco anos, tantos jogos de um mesmo gênero, inclusive porque há a necessidade de fomentar a longevidade para garantir o retorno do investimento em cada nova empreitada. Entretanto, a presença constante desses personagens, sobretudo os de Darkstalkers, em coleções e crossovers mantém esse panteão vivo em nossa memória, e não há dúvidas que seria incrível ter um jogo completamente novo que se aprofunde nesse universo novamente.

Ainda tenho esperanças que o feedback da comunidade incentive a Capcom a fazer finalmente um Darkstalkers 4 (ou algo que o valha), se aproveitando da base dos novos Street Fighters ou dos mais recentes Marvel vs. Capcom, quem sabe. Participações especiais são legais, valorizam a marca, agradam os fãs, mas nada como um jogo próprio, feito nos moldes modernos considerando design, narrativa, desenvolvimento de personagens, aprofundamento do background, sem as necessárias concessões que são feitas quando mundos se fundem, realidades se misturam.

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A depender do sucesso desse conjunto, fica a possibilidade de que a Capcom se empolgue também com outros grandes sucessos que vieram a partir da segunda metade da década de 1990 e o começo dos anos 2000, incluindo alguns dos seus primeiros títulos em três dimensões, como Rival Schools, ou mesmo os títulos mais controverso de Street Fighter, como a série EX que eu particularmente gostava mais do que deveria. Isso sem contar o próprio Street Fighter III, talvez o título mais injustiçado da franquia, e os tradicionais crossovers, esses um pouco mais complicados por conta de licenças, mas sonhar não custa nada, não é mesmo?

Modernidades e facilitadores

Ainda que os jogos, em seu cerne, se mantenham muito fiéis ao que eram, incluindo definição de imagem, fluidez de animações, efeitos gráficos e formato de tela, a coletânea conta com alguns ajustes que podem ser feitos para favorecer a experiência do jogador conforme suas expectativas. A primeira delas é a de ajustar o nível de dificuldade em um menu anterior à entrada do jogo, ainda na tela original. Esse ajuste, porém, parece atuar muito mais no dano causado pelo jogador ou pela CPU do que o gameplay em si.

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Também é possível, dependendo do jogo, ajustar outras características como tempo de round, formato de tela, filtro de imagem para simular TVs de Tubo ou mesmo esticar tudo para preencher uma tela widescreen (o que eu não recomendo porque é um verdadeiro crime), quantidade de fichas disponíveis e outras pequenas firulinhas. Já dentro do jogo, os ajustes mais importantes estão em um mapeamento padrão de botões e atalhos para golpes especiais e magias.

Uma das maiores limitaç˜ões que estranhei da coletânea é a possibilidade do salvamento de estado, que é único para o pacote completo. Ou seja, se você salvou uma campanha, por exemplo, em Hyper Street Fighter II, deixou lá como pendência para voltar depois enquanto joga, sei lá, Super Gem Fighter Mini Mix, não conseguiria salvar também seu avanço aqui para retornar ao jogo anterior. Qualquer save sobrescreve o anterior, independente do jogo que se está salvando. Seria interessante ou ter mais slots para isso (que ocupariam uma merreca de espaço no HD do console), ou ao menos um espaço para cada um dos 10 jogos. Curiosa e frustrante essa limitação.

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A maior vantagem moderna da coletânea, porém, está na possibilidade livre de se jogar on-line com qualquer um dos games, contando com um rollback netcode bem adequado, o que permite jogar contra outras pessoas sem muitos obstáculos. Nos testes que realizei, senti pouquíssima diferença, isso quando senti, em relação ao multiplayer off-line ou o single player. Aproveitar essas raridades com outras pessoas, conhecidas ou não, é o grande diferencial para garantir a longevidade do título, já que as campanhas off-line se resumem basicamente a um modo arcade convencional bastante curto.

Soma-se a isso tudo uma respeitável galeria de imagens e sons, o chamado modo Museu, com uma infinidade de artes conceituais, esboços e curiosidades – como designs alternativos não utilizados de alguns personagens e estudos de movimento – e uma playlist das mais completas de todos os tempos que irão remeter a alguns dos momentos mais marcantes daquela época tão especial para os amantes dos jogos de luta. Uma pena não poder conjugar as duas coisas, colocando uma música específica para tocar enquanto folheamos desenhos e outras artes, mas esse é apenas um detalhe. Não sou dos mais apaixonados por extras como esse na maioria dos jogos e sempre considerei como algo legal, mas secundário. Neste caso, pela qualidade do material e pelo valor histórico, é algo que realmente agrega valor ao produto.

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Conclusão

Para os fãs de longa data, a Capcom Fighting Collection é quase que uma recomendação obrigatória. Para estes jogos, sobretudo a coleção Darkstalkers, aqui estão reunidas todas as melhores versões para anos de jogatina, além de termos a oportunidade de experimentar jóias perdidas no tempo que nunca chegaram até nós, ao menos não oficialmente. Mesmo que não tragam qualquer novidade conceitual, cada jogo tem seu valor histórico e continua relativamente atual, ainda que pareçam simplistas perto de mecânicas sofisticadas que tem se tornado presentes em games similares mais modernos.

Já para quem não tem essa memória afetiva, mas gosta do gênero, vale muito a pena conhecer alguns dos games que estabeleceram certos parâmetros que se consolidaram ao longo dos últimos 25 anos, além da oportunidade de conhecer marcas menos famosas da gigante japonesa. Hyper Street Fighter II, sobretudo para quem não teve a oportunidade de joga-lo seja em suas formas originais, seja na mais recente coletânea da franquia Street Fighter 30th Anniversary Collection, é um pré-requisito para qualquer currículo gamer.

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Já se você não se encaixa em nenhum dos casos, se não tem memórias com esses jogos, tampouco curte o gênero, dificilmente encontrará nesta coletânea um atrativo que valha o investimento, uma vez que mesmo envelhecendo bem, são jogos com gráficos que entregam a idade e talvez não sejam a melhor porta de entrada para o nicho de luta, mesmo que os controles de dificuldade e os sistemas de treinamento sejam relativamente confortáveis para iniciantes. Na dúvida, é possível aguardar por uma boa promoção sem grandes prejuízos.

Com menus localizados para o português brasileiro, Capcom Fighting Collection foi lançado em 24 de junho de 2022 para Playstation 4, XBox One, PC e Nintendo Switch.

Uma resposta para “Análise Arkade – Capcom Fighting Collection é pura pancadaria nostálgica”

  • 2 de julho de 2022 às 21:40 -

    Helinux

  • Para eu…ainda jogo esses clássicos de antigamente, não uso muito a palavra nostalgia por estar sempre jogando esses fight da vida Capcom!!!! Darkstalkers tem uma belíssima tela intro, gosto muito desse game vampiresco e Street fighter 2, sem comentários!!!! A verdade é que os clássicos são a base dos jogos atuais de luta!!!! Sempre que posso ainda jogo esses clássicos, valeu!!!!

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