Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

6 de outubro de 2016

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

Seja um catador de lixo e viva uma vida simples em um mundo fantástico repleto de segredos. É difícil pensar nessas duas coisas juntas mas esta é a premissa de Diaries of a Spaceport Janitor!

Diaries of a Spaceport Janitor talvez seja uma das maiores dicotomias que já joguei. Um jogo que te força a manter uma rotina tediosa enquanto te seduz com diferentes missões e maneiras de explorar este criativo universo. Desenvolvido pela Sundae Moth, Diaries of a Spaceport Janitor te coloca no controle de uma garota da raça Alaensee que trabalha para a empresa municipal responsável por incinerar todo o lixo encontrado nas ruas de uma cidade de Xabran’s Rock, um planeta árido que atrai diversos comerciantes.

Só que tudo dá errado quando você decide ir para os esgotos e é amaldiçoada por uma estranha entidade, somente para acordar com uma caveira flutuando ao seu lado e te seguindo para todos os lugares enquanto berra incessantemente, deixando as pessoas em sua volta um pouco desconfortáveis. E agora você precisa fazer uma série de quests para quebrar essa maldição e retornar para o seu objetivo principal: Sair deste maldito lugar para encontrar novas oportunidades em outros planetas.

Assim é necessário viver uma vida dupla, trabalhando para conseguir crédito o bastante e sobreviver enquanto passa por todos os obstáculos possíveis para manter um nível aceitável de sorte e tirar essa caveira que flutua e grita em sua direção sem um motivo aparente. E se você não entendeu muito do que eu disse logo acima, não se preocupe porque a falta de compreensão é um elemento recorrente em Diaries of a Spaceport Janitor, tanto para bem quanto para o mal.

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

BEM-VINDO A XABRAN’S ROCK

Diaries of a Spaceport Janitor um jogo bem alternativo. Ele traz conceitos interessantes sobre religião e abre questões valiosas sobre a vida baseada em rotinas, nos mantendo presos aos nossos pequenos rituais maçantes que não conseguimos evitar nem por um dia. Mas antes de filosofar sobre o que este jogo independente quer falar, vamos discutir sobre as suas mecânicas, onde posso descrever que Diaries of a Spaceport Janitor é basicamente um MMORPG onde a personagem principal não é a heroína da história e muito menos um NPC, mas só um transeunte que precisa resolver os grandes problemas de sua vida insignificante.

O jogo se baseia em catar lixo. Todo tipo de lixo é encontrado no chão árido desta cidade. No caminho você encontra desde itens valiosos como gemas, armas e itens para as suas quests até pura sujeira, como vômito e outros itens insignificantes.

E aí que você entra para descobrir quais desses itens são importantes diante a sua vaga descrição e quais devem ser incinerados. Como é difícil de conseguir dinheiro, você entra em uma luta pessoal sobre aquele item, podendo procurar um comerciante para vender o objeto por um lucro maior ou simplesmente evitar que gaste o seu valioso tempo procurando por alguém e simplesmente incinerar o item para garantir o dinheiro pelo seu trabalho, já que você recebe todas as manhãs pela quantidade de lixo que incinerou no dia anterior.

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

Para piorar a situação, você precisa gastar o seu suado dinheirinho com necessidades básicas, como comer e lidar com uma estranha condição do seu organismo, que não suporta mais o gênero que possui e começa a entrar em pane, tendo que ir para o quiosque mais próximo e ingerir um item que muda para um gênero aleatório e te cura por alguns dias. Outra barreira imposta pelo jogo é o seu aparato que incinera lixo ficando sem bateria, e sua mochila que também não guarda muita coisa, impedindo de ficar dia e noite trabalhando sem parar e te forçando voltar para casa descansar e recarregar as baterias.

Assim temos diversos obstáculos para forçar uma rotina tediosa que consiste em acordar, trabalhar, comer, curar sua condição de gênero, chegar em casa e escrever no seu diário, dormir e repetir o processo durante todos os dias da sua vida até encontrar a morte. Em contraste temos a maldição que paira literalmente sobre você e a jornada para removê-la, envolvendo das quests mais variadas que injeta animação nesta rotina cansativa. E ai que entramos em um grande problema que tenho com este jogo.

No começo essas quests acertam no equilíbrio entre ser interessantes mas não ao ponto de serem frustrantes de se resolver, e trabalhosas mas não ao ponto de se tornarem tediosas como a rotina do seu dia a dia. Mas em um certo momento Diaries of a Spaceport Janitor erra e aumenta a complexidade nas quests até você se frustrar por estar tão preso na missão quanto ao seu trabalho, deixando pouco tempo disponível para procurar uma resolução e preso a rotina de sempre. Então quando você recebe uma série de tarefas e não tem a menor ideia de como faze-las, a excitação inicial diminui e você se sente tão cansado quanto a protagonista.

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

E esta complexidade me fez lembrar de um jogo similar em visual, Hyper Light Drifter. Ambos jogos seguem a rota do enigmático para contar suas histórias, porém, Hyper Light Drifter foca em sua narrativa enquanto Diaries of a Spaceport Janitor foca no próprio ato de jogar. E para mim, isto demonstra um dos maiores problemas de Diaries of a Spaceport Janitor.

HORA DE TRABALHAR INCINERANDO LIXO… TODO O SANTO DIA

Enquanto ambos jogos fazem de tudo para deixar o jogador no escuro, somente Hyper Light Drifter consegue fazer isso e ainda manter uma experiência divertida do começo ao fim por você poder jogar, e até terminar, sem entender a história por completo, com o time da Heart Machine deixando pequenas dicas e te atraindo aos poucos para descobrir mais sobre ela até que eventualmente você tenha uma visão menos embaçada sobre o significado do enredo.

Já em Diaries of a Spaceport Janitor, o fato do jogo te deixar no escuro dificulta porque afeta diretamente a jogabilidade, sem um tutorial propriamente dito e com vagas descrições que incentivam a vender e/ou guardar os itens que você encontra mas nunca tendo certeza de que está segurando algo valioso ou ocupando o espaço com lixo. Lembrando que este dilema não é necessariamente ruim, ele é um dos pilares do jogo que consegue funcionar na maioria das vezes, mas quando não funciona, se torna uma falha miserável que só aumenta a frustração de jogar.

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

Por outro lado Diaries of a Spaceport Janitor faz um trabalho excelente em sua estética, abordando o pixel art de uma maneira original onde você vive em um mundo 3D enquanto joga e interage com personagens e objetos que, em sua maioria, são 2D. O resultado é um visual cativante e charmoso, fazendo o que poderia ser um ponto negativo pela aparência de gráficos mal polidos por estarem em um ambiente fora do usual para uma direção de arte criativa e envolvente.

Andar pela cidade e conhecer os diferentes seres que habitam por lá é extremamente divertido justamente por ser tão imprevisível. Nunca se sabe o que você vai encontrar e as horas iniciais de descoberta onde conversamos com as pessoas e entendemos mais sobre a vida delas, assim como o funcionamento deste mundo, são excelentes. Esse primeiro momento é onde Diaries of a Spaceport Janitor mais brilha, percebendo que está em um lugar fantástico e com possibilidades infinitas.

Ele consegue te dar a sensação de ser um turista, andando por ruas desconhecidas e interagindo com pessoas diferentes. Como o mapa do jogo é dividido em setores, com cada um deles possuindo mercadores especializados em certos itens, você entra em um exercício complexo de memorizar os locais para não perder tempo, mas mesmo assim existe um prazer em simplesmente andar pela cidade e se perder intencionalmente – mas não tanto para não ser pego por um maldito guarda que irá te roubar e comer os seus créditos – para testar a imprevisibilidade do jogo, algo que a equipe da Sundae Moth consegue fazer com extrema competência.

Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor

CONCLUSÃO

Diaries of a Spaceport Janitor é, acima de tudo, cativante. É um jogo que te atrai pelo seu visual peculiar e te prende em um local fantástico por horas a fio, dando uma cidade inteira para descobrir os seus segredos e conhecer as pessoas que viveram suas vidas inteiras naquele lugar. Não sei se considero um jogo de aventura porque não há uma aventura de verdade, mas sim um problema pessoal que você precisa resolver para tocar com a sua rotina para frente, e que por um acaso se torna uma aventura.

Porém, é evidente que a Sundae Moth estava mais interessada em criar este mundo e manter a estética em cheque do que na jogabilidade, passando por uns tropeços sérios que machucam a experiência do jogo, especialmente na maneira em que as missões são apresentadas ao caminhar por uma linha tênue entre o misterioso e frustrante. Além de alguns problemas com a câmera – que consegui resolver mexendo sensibilidade do mouse – e de apresentação, sem uma visão da clara do que você pode fazer no jogo, que mais uma vez se passa por um caminho que alterna entre o interessante e o tedioso.

Por fim eu vejo que Diaries of a Spaceport Janitor é uma experiência feita para aqueles que querem tentar algo diferente mas sem sair muito da zona de conforto que você pode encontrar em jogos de MMORPGs. Não que este jogo não seja ordinário, acredite em mim que seu conceito é bem fora do normal em quase todos elementos, porém sua base é bastante familiar ao gênero. Mas se quiser tentar, fica o conselho de ter muita paciência e um caderninho do seu lado para não se perder e cair num circulo perpétuo de frustração.

Diaries of a Spaceport Janitor está disponível para PC no Steam.

2 Respostas para “Análise Arkade: A cativante e rotineira jornada de Diaries of a Spaceport Janitor”

  • 6 de outubro de 2016 às 23:08 -

    Onigumo

  • E serio que tem jogo pra ficar entediado velho? Aliais se for pensar dessa forma qualquer MMO da esse efeito, principalmente aqueles estilo fazendinha que a pessoa farma e farma eternamente ou emtao tem que matar o mesmo monstro 1trilhao de vezes pra dropar o nariz de um palhaço, na verdade a falta de dinamismo nos jogos MMO e a extrema falta de originalidade ( gente grafico nao e originalidade….) e justamente oque os tem levado a ruina a cada ano que passa, principalmente com jogos como destiny surgindo e os cada veis mais fantasticos single player e multiplayer, na real os MMO tao parado no tempo a anos, esse jogo e quase um grito de socorro dos MMO sinceramente…

    • 8 de outubro de 2016 às 16:25 -

      Henrique Gonçalves

    • Esses na verdade foram os motivos que me saturei de MMOs. Existiu uma época em que eu era viciado neles, jogava Ragnarok (várias versões, incluindo em servers modificados), MU Online, DarkEden e RF Online. Mas com o tempo rolou uma saturação tão foda que eu não tenho mais saco para MMOs porque no final o progresso é quase o mesmo, com a gente fazendo os mesmos passos que você mencionou. E Diaries of Spaceport Janitor me dá uma ideia similar, o jogo é extremamente divertido e interessante no começo mas depois de um tempo fica tedioso pelos motivos que um MMORPG fica tedioso depois de fazer as quests.

      Mas como você falou, jogos como Destiny possuem a chance de mudar o cenário de jogos multiplayer/MMOs/coop/etc.

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