Análise Arkade: A diversão descompromissada de Crash Drive 3

12 de julho de 2021
Análise Arkade: A diversão descompromissada de Crash Drive 3

Quandofalamos de carros virtuais, estamos nos aproximando, a cada nova geração, a cada novo jogo, de um realismo assustadoramente impressionante, com máquinas cada vez mais complexas, mais detalhadas e com comportamento e física espetaculares. Se esta é a sua expectativa para Crash Drive 3, novo jogo da franquia da M2H, então… é melhor pensar uma vez mais. Seja você um novato, seja um fã de longa data da série, a primeira coisa que deve saber é que este definitivamente não é um game que prima pela simulação de esportes automotores, e esta é a principal qualidade (ou defeito) da produção.

Tão simples quanto parece

Dito o óbvio, detalho melhor o escopo do game: este é um jogo de ação sobre quatro rodas, estruturado em uma sequência de arenas de exploração livre, seja em jogo solo, seja em multiplayer on-line, onde o jogador recebe, em ciclos rápidos e constantes, desafios temporários e missões permanentes das mais variadas, mas que em sua grande maioria incentiva peripécias das mais absurdas que incluem manobras aéreas, pilotagem arcade e uma dose de combate veicular old school. Simples assim.

Análise Arkade: A diversão descompromissada de Crash Drive 3

Sem muito aviso ou preparação, assim que escolhemos o jogo solo ou o modo principal, que prevê um sistema competitivo com outras pessoas, somos jogados na primeira arena, o Ártico, no comando de um carango padrão (chamado de Garanhão) sem tantas explicações detalhadas de onde estamos nos metendo. Quase que instintivamente, já meio que arriscamos os comandos principais para acelerar, frear, e não demora para que reconheçamos também comandos esperados como o de freio-de-mão, um turbo e até a inútil (porém divertidamente petulante) buzina.

Isso é tudo o que você precisa saber antes de sair por aí derrubando pinos de boliche gigantes, saltando nas rampas mais improváveis e realizando manobras que desafiam qualquer noção de realismo. Se você já jogou games de kart, ou mesmo de skate, não vai nem hesitar em começar a dar giros mortais no ar sem qualquer receio das consequências de um cálculo ruim. Crash Drive 3 não está nem ligando para ousadia inconsequente, muito menos em punir os menos habilidosos no volante. É um jogo que incentiva a zoeira, o gameplay só pela bagunça.

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Desafio sim, punição não

Claro, dizer que o jogo é só um aglutinado de maluquices sem qualquer critério não significa que não ofereça metas, limites e níveis de desafio, principalmente quando em um estado competitivo. Cada tipo de missão exige comandos aprimorados e um certo grau de perícia que resultam da prática. Coletar moedas gigantes espalhadas pelo ambiente pede que o jogador saiba manter o controle mesmo em chão escorregadio e buscar pontuações altas com manobras significa buscar tocar o chão (ou qualquer outra superfície) com as rodas e não com o teto.

O mesmo vale para a busca desenfreada em destruir uma bola de praia que mais lembra o non sense de Rocket League ou a necessidade de acertar um alvo improvável no topo de uma montanha. Testar limites, entender as soluções mais improváveis e descobrir os caminhos é parte da experiência de quem busca vitórias, pontos e a grana para desbloquear novos veículos. Ainda assim, o que mais diverte em Crash Drive 3 é que a busca por se aprimorar não conflita, em momento algum, com a frustração do erro. Você pode até não conseguir ser o rei da montanha sempre, ou pode se irritar em quicar na saliência mais ridícula, mas vai divertir do mesmo jeito.

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As concessões que o jogo faz com o realismo cobra um preço que pode incomodar alguns jogadores mais do que outros. Você pode descobrir que não consegue alcançar um ponto elevado simplesmente porque nunca imaginou que sua limosine não subiria uma parede de 50 metros em um ângulo reto, e aí ver alguém fazer isso na sua frente e vencê-lo por isso. Mas também pode achar que não tem problema passar sobre um tufo de grama usando um monster car e acabar descobrindo da pior forma possível que ele parece ser feito de borracha.

Como em alguns outros jogos nesse estilo menos compromissado com a física, os veículos parecem (e precisam parecer) leves, o que garante manobras aéreas sem qualquer esforço rampando em qualquer desnível, mas trazendo algumas bizarrices em termos de colisão. Podemos, por exemplo, passar sobre um boneco de neve gigantesco como se fosse algodão doce e parar em um carrinho de mão como se fosse uma parede de chumbo. Há pouco “meio termo” e cada objeto ou é leve como uma pluma não oferecendo nenhum obstáculo para ser atropelado, ou é fixo a ponto de não se mexer mesmo com o impacto de um caminhão a 200 km/h. E certamente você vai descobrir qual é qual do pior jeito possível.

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Tudo é parte da experiência proposta e somente com a compreensão completa disso tudo é que o jogo pode ser algo genuinamente divertido. A outra opção é ser só uma frustração irritante, porque no final das contas, Crash Drive 3 é tudo isso e só isso ao mesmo tempo. Em uma ou duas horas, o jogador já terá conhecido vários dos cenários disponíveis e comprado (com dinheiro in game) ao menos quatro veículos. Mais do que isso, já terá percorrido todos os tipos de desafios possíveis, alguns que podem ser cumpridos jogando sozinho ou acompanhado e outros disponíveis só quando em multiplayer. Não demora para que a sensação de repetição nos alcance.

Repetitivo e viciante mesmo assim

Curiosamente, mesmo quando há essa tendência da estagnação e do “mais do mesmo”, pude desfrutar de muitas horas em Crash Drive 3 primeiro porque tudo é extremamente fácil de se realizar e continua dando bons prêmios financeiros mesmo quando não se chega aos primeiros lugares, e segundo porque os ciclos são tão frequentes — com uma diferença de poucos segundos entre um e outro — que naquela lógica de “só mais uma corridinha” lá se vão mais duas horas madrugada adentro. Além disso, quando você está perto de enjoar, já juntou dinheiro suficiente para pegar mais um dos 47 veículos disponíveis e, claro, testá-lo na prática. E lá se vão mais duas horas de teste…

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Além disso, o sistema de lobby é extremamente rápido, e somado ao carregamento quase que instantâneo do jogo (considerando o teste no PS5) é imediato estar numa arena com mais gente. Como não há um número mínimo de jogadores exigido, e mesmo em poucas pessoas a competição permanece interessante, ninguém precisa esperar fechar o grupo ou nada do tipo — o crossplay entre todas as plataformas rolando desde o primeiro dia favorece a experiência.

Para completar, se o jogador não quiser pausar a jogatina pode ficar para sempre em uma mesma sessão já que os desafios cíclicos e a passagem rotativa de jogadores não demandam intervalo. Ou seja, você pode ficar na mesma arena até quando quiser, as pessoas vão saindo e entrando e nada muda para você e vice-versa.

A exceção é a batalha de tanques, um modo diferente que se mistura ao principal, e talvez seja o ponto menos brilhante do conjunto. Nele, basicamente escolhemos nosso tanque, entramos em um mapa suspenso relativamente pequeno na comparação com as arenas principais, e enfrentamos outros jogadores no bom e velho mata-mata individual. Aí sim, as partidas tem duração limitada e ganha quem fizer mais pontos que os adversários ao derrubar e evitar ser derrubado. É legalzinho, dá pra passar algumas boas horas também, mas é simples demais (sem qualquer variedade de opções e estratégias) para prender a atenção por muito tempo.

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Senti falta, porém, de um sistema de acesso mais rápido a esse modo de combate em tanques e o mais tradicional, e dentro deste, aos mapas já desbloqueados. Para passar de uma região a outra, é sempre necessário encontrar o ponto de acesso, e quando isso é feito uma primeira vez, também precisamos comprá-lo. Os custos não são elevados, porém, então o grind não incomoda, sendo quase que natural abrir essas passagens com o dinheirinho acumulado. Mas o retorno é por vezes demorado e se o jogador não conhece o mapa tão bem pode acabar passando mais tempo do que gostaria procurando.

Já a garagem é outra história, sendo possível acessá-la imediatamente a qualquer momento, mesmo dentro dos desafios, sem qualquer ônus. Pause, entre na garagem, escolha um novo veículo, ou até compre um item cosmético, e retorne à ação. No período pré-lançamento, mesmo com poucas pessoas jogando (porque basicamente só havia veículos de imprensa com acesso disponível), era possível sair da partida, trocar de carro e voltar para a mesma sem qualquer interrupção. É absurdamente fluído e automático estar on-line, também pela já mencionada facilidade do cross-plataform: joguei com muita gente que estava em outros consoles e só sabia disso porque há um ícone de identificação junto ao nome.

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Equilíbrio estético sem brilho

Ainda que tenha experimentado o jogo em um console da nova geração, não fiquei particularmente impressionado com o visual do jogo. Não que Crash Drive 3 seja feio ou algo assim, nada disso, mas está longe de ser um jogo cujo investimento audiovisual pareça um diferencial. Os carros são bonitos, a variedade de veículos é bem-vinda, os ambientes são amplos e bem característicos, mas nenhuma destas coisas chega a se destacar. É tudo tão bom quanto a média.

Os cenários, mais especificamente falando, abusam dos clichês visuais e das texturas bem definidas, mas pouco detalhadas. Partículas e iluminação não ganham qualquer destaque mais especial e a colisão, como já citado, mostra que cada objeto tem comportamento raso. Gelo e neve, que poderiam se destacar logo no começo, não parecem diferentes da textura opaca visto há duas gerações, a grama é mais um “papel-de-parede” verde uniforme, construções são praticamente iguais entre si e quinas e arestas são frequentemente expostas.

Análise Arkade: A diversão descompromissada de Crash Drive 3

O mesmo vale para a sonorização do jogo: mantém a média, mas sem qualquer destaque. O trilha musical contínua, se não incomoda, também não é marcante, e os efeitos de motor ou de turbo acionado soam basicamente os mesmos que já vimos tantas outras vezes. O jogo ainda peca pela ambiência sonora, quase inexistente. Se estamos no meio-oeste norte-americano ou no círculo ártico, não há diferença no eco ou no ambiente que nos circunda. Há sim efeitos sonoros e ruídos, mas bem discretos, e o som normal só é quebrado pelos efeitos de pancada que, felizmente, são frequentes.

Tudo isso significa duas coisas: esse definitivamente não é o jogo que, em termos estéticos, vai nos mostrar do que é feita a nova geração, nem as diferenças de performance entre os diferentes sistemas. Ao mesmo tempo, essas escolhas sem virtuoses garantem um ótimo desempenho constante, com raríssimas quedas de framerate e com carregamento, como já mencionei, que beira o imediato, seja na jogatina local, seja com mais pessoas on-line.

Análise Arkade: A diversão descompromissada de Crash Drive 3

Conclusão

Parece evidente que uma das características de Crash Drive 3 é a simplicidade. Sem melindres ou invencionices, sem complicações desnecessárias seja no gameplay, no visual ou na estruturação da jogatina on-line, esse é o típico jogo que é colocar pra rodar e jogar. Não há configurações complexas, nem ajustes mais refinados, não há escolha de motor ou de pintura de seu veículo, não há tipo de escapamento ou escolha entre câmbio automático e manual. Como uma grande ode a tempos menos, digamos, sofisticados, é um jogo, sobretudo, prático.

É inevitável que a produção, contudo, flerte com o simplório, já que não oferece qualquer aprofundamento para fãs de automobilismo virtual e combate veicular e, perto dele, até mesmo Wreckfest e Twisted Metal parecem física quântica. Além disso, a ausência de elementos contextuais, de resquícios narrativos ou de lore podem significar também que o jogo se torne, mais dia menos dia, algo esquecível. A repetitividade também é um problema para a vida útil do jogo, já que mesmo eu tendo relatado que isso ainda não o esgotou para mim, já consigo prever que isso não irá demorar para acontecer.

A recomendação do game, portanto, é condicionada a expectativas. Você quer um jogo que traga profundidade técnica e de jogabilidade, variações estratégicas ou precisão física? Esse jogo é o extremo oposto de tudo isso. Quer um jogo estilo arcade sem qualquer compromisso com um pretenso realismo só pra sair fazendo umas cambalhotas atrapalhadas com um furgão de entregas enquanto explode uma bola de praia enorme na Lua? Então provavelmente vai se divertir com Crash Drive 3.

Disponível para Playstation 5, Playstation 4, XBox Series S|X, XBox One, Nintendo Switch e PC, Crash Drive 3 foi lançado em 08 de julho de 2021 e encontra-se disponível totalmente em português brasileiro.

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