Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

23 de dezembro de 2020
Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

Após longos 7 anos de espera e muitos adiamentos, Cyberpunk 2077 finalmente foi lançado. E seu lançamento com toda a certeza foi o que mais se falou este ano no cenário gamer, pois o game mais esperado por grande parte do público finalmente havia chegado, mas… Chegou de uma forma muito inesperada.

E após o detalhado Preview que nosso amigo e membro da equipe Gilson Peres escreveu, chegou a hora de nos aprofundarmos ainda mais, com nossa análise completa de Cyberpunk 2077! Então Samurai, acorda aí que temos uma cidade para queimar!

Por onde começar…

Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

Normalmente quando escrevo um review, eu discorro sobre como o game funciona, sua proposta e seus pontos fortes e fracos. Afinal gosto é subjetivo e algo que eu goste ou não pode ser o oposto para você que está lendo. Dessa forma, tento ser justo quando escrevo, afinal, quem vai decidir se vai ou não gostar do que vai jogar é você.

E então temos Cyberpunk 2077, um game que está vivendo um verdadeiro inferno. Dessa forma, ele precisa ser visto sob duas óticas: A do game em si e a de todos os seus muitos problemas. Assim, antes de começarmos eu quero deixar algo bem claro: Cyberpunk 2077 é um game incrível. E ao mesmo tempo um game ruim.

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Jackie Welles – o melhor amigo de V

O grande problema, acima do que tange o game em si, é sua recepção pelo público. Todo o hate gerado em cima do game e da CD Projekt Red é esmagador. Não necessariamente infundado, pois há razões para descontentamento, mas é certamente exacerbado (da forma bem agressiva com que parte do público tem reagido). E da forma que o hype se dissemina nos dias atuais, vemos reações de 8 ou 80: Ou o game é um GOTY, ou é um lixo. Uma visão realmente péssima. E não farei isso nessa análise.

Dessa forma, temos que falar dos problemas do game e de suas qualidades. Quase como aquelas situações de “eu tenho uma boa e uma má notícia”. E sendo assim, vamos começar pelo ruim e falar logo de cara dos grandes defeitos de Cyberpunk 2077.

Lançado, mas ainda não está pronto

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O carismático, imprevisível e explosivo Johnny Silverhand

Cyberpunk 2077 foi anunciado em 2013 com o aviso de que “Será lançado quando estiver pronto“. Com sua produção se iniciando em 2016 (3 anos depois), após o lançamento da expansão Blood & Wine para The Witcher 3. Anos se passaram e quando o game enfim foi lançado, estava em um estado péssimo. Afinal, o que aconteceu? Isso não sabemos, o que sabemos com certeza é que em algum ponto de sua produção, a CD Projekt Red mudou o foco da geração PS4/XOne para o PS5/Series X.

Dessa forma, as versões para a geração nova se tornaram a prioridade e as versões da geração “passada” foram negligenciadas e lançadas sem atender os requisitos de qualidade das próprias plataformas em que foram lançadas. Isso revive a velha discussão de que “a geração atual barra o desenvolvimento e a evolução“. Então foi esse o caso que culminou na tragédia de Cyberpunk 2077? Não, não foi culpa dos consoles, foi culpa da CD Projekt Red. Ou mais especificamente, culpa de sua empresa mãe, a CD Projekt. (Inclusive, a companhia mãe corre o risco de ser processada por seus investidores por mentir à eles durante todo o tempo desde o anúncio até lançamento do game)

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Antigos “companheiros” de Cyberpunk 2020: Rogue e Johnny

O grande problema é que a nova geração se tornou prioridade, mas as versões para a nova geração sequer foram lançadas. Se você jogar o game no Playstation 5 ou Xbox Series X, está jogando a mesma versão disponível no Playstation 4 e Xbox One. O que acaba indo contra essa prioridade do estúdio. Pois no fim, a prioridade real ficou coma versão de PC.

A questão é que houve a promessa que o game estaria perfeito em todas as plataformas. E esse não foi o caso. E a CD Projekt Red está lançando atualizações para corrigir os inúmeros erros. E após a última atualição, a 1.05, o game passou por uma considerável melhora, apesar de ainda sofrer muito. E com isso, fica o pensamento: Se o jogo tem conserto, então não é culpa da plataforma, ele foi lançado em versão “beta”.

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E quais são os problemas encontrados: Gráficos muito embaçados, renderização lenta, o que gera os personagens que parecem apenas conjuntos de polígonos, cenários que desaparecem, NPCs que simplesmente surgem na sua frente ou desaparecem, muito lag e queda de frames, elementos como partes do cenário ou até diálogos e o HUD que não são carregados de forma devida e por fim, os crashes.

O game “dá pau” constantemente e de formas bem aleatórias. As vezes são em momentos de alto desempenho, por exemplo ao andar de carro durante a cidade, com muitas coisas sendo renderizadas ao mesmo tempo. Mas as vezes não há explicação. Você está num lugar fechado, olha pro lado e pronto, o game dá crash.

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Um dos bugs constantes do game é tornar seu personagem careca, por não carregá-lo corretamente se estiver usando algum tipo de chapéu, como nessa screenshot

Eu não faço a menor ideia de como é a produção de um game (apesar de ter um mínimo conhecimento do processo). Mas sabemos que nesse caso, tivemos 7 anos desde seu anúncio e apenas 4 anos desde sua pré-produção. Diariamente rolam relatos de crunch (trabalhar além da carga horária) na produção do game. Rolando até notícias de que seus desenvolvedores admitiram que faltou tempo para finalizar sua produção.

E é nesse ponto que o hate se torna terrível. De quem é a culpa? O pessoal da CD Projekt Red suou para a criação do game, enfrentando os adiamentos e a transição de foco do projeto com a nova geração de consoles. E não tenha dúvidas, eles são talentosos e com certeza vão corrigir os problemas do game, além de lançar as versões da nova geração. Então afinal, o que aconteceu?

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A Panam Palmer tem vários diálogos hiários!

Existem games que decepcionam os jogadores de diferentes maneiras. No Man’s Sky prometeu um universo com bilhões de planetas para serem explorados, muitas coisas para se fazer, multiplayer e etc: Foi lançado sem nada disso. Watch Dogs prometia muita liberdade e gráficos de primeira, também não atendeu as expectativas. Cyberpunk 2077 entrega muita coisa, mas não tudo o que foi prometido, já que vários recursos originalmente planejados (como correr pelas paredes, customizar carros, polícia com IA robusta e etc) foram retirados durante a produção.

Cyberpunk 2077 é, na verdade, um RPG excelente, muito imersivo e complexo. Com muito conteúdo e muitas qualidades. Porém, muita coisa foi sacrificada até seu lançamento. E sua entrega acabou sendo tão caótica que encobriu suas qualidades.

Cyberpunk 2077 em diferentes plataformas

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Takemura é extremamente sério, mas quando se trata de comida, ele tem diálogos bem divertidos!

Nós da Arkade tivemos a sorte de poder jogar o game em quatro plataformas diferentes. Eu joguei o game no Playstation 4, com uma cópia que nos foi gentilmente fornecida pela CD Projekt Red. Nosso amigo Gilson Peres jogou no PC, o editor Rodrigo Pscheidt no Playstation 5 (via retrocompatibilidade) e o editor Junior Cândido no Xbox Series S (também via retrocompatibilidade).

Minha experiência no Playstation 4 foi bem mista. Antes do patch 1.05 todo o visual do game era excessivamente embaçado. O game ainda era bonito, mas parecia que eu estava jogando em modo miopia (e eu sou míope na vida real, eu entendo disso!). A quantidade de NPCs e veículos nos cenários era bem inconstante. Em centros urbanos, como prédios e praças, sempre há muito movimento, mas ao pegar o carro e explorar a cidade, a quantidade era muito reduzida. Uma ou duas pessoas aqui e ali e carros aparecendo somente em cruzamentos.

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Os bugs de NPCs aparecendo e sumindo na minha frente sempre foram constantes, além deles espasmarem constantemente, até dentro de cutscenes. O mesmo com os cenários, que demoravam muito para carregar suas texturas. Enquanto eu dirigia, o mundo se tornava um esqueleto low-poly e levava as vezes até mais de 10 segundo para carregar tudo de forma adequada. Assim, vi muitas ruas e prédios horrorosos e aqueles NPCs totalmente desfigurados.

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Em minha jogatina encontrei algumas vezes NPCs que não carregam direito
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E nesse caso, uma parede preta que apareceu quando o cenário não carregou direito

Já após o patch 1.05 as coisas melhoraram muito. Ainda ocorrem esses bugs, mas o desempenho geral do game melhorou. O embaçamento visual diminuiu consideravelmente (estando quase ausente), o game agora possui texturas muito melhores, NPCs carregam e se movem de forma melhor e há menos problemas relacionados ao HUD. Mas ainda há muitos crashes.

Abaixo estão algumas screenshots do mesmo local, em três plataformas diferentes:

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Playstation 4 – Gráficos embaçados e poucos NPCs
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Playstation 5 – Gráficos melhores, mas poucos NPCs
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PC – Belos gráficos e muitos NPCs

No Playstation 5 o game roda consideravelmente melhor. Como nosso editor Rodrigo Pscheidt descreve:

Contando o arquivo de instalação mais os updates que já rolaram, o jogo ocupa mais de 100 GB do SSD do PS5, mas, felizmente, roda melhor do que no PS4. Rola uma boa otimização em termos de audiovisual: a resolução é dinâmica, mas a taxa de framerate entrega estáveis 60fps na maior parte do tempo. Além disso, o visual é muito menos “embaçado” e a cidade mais cheia de NPCs. Os personagens não ficam particularmente bonitos vistos muito de perto, mas estão longe das aberrações embaçadas que rolam em outras plataformas.

Isso não quer dizer que o jogo esteja livre dos bugs: em minha experiência com o jogo, vi muitas texturas que “popam” conforme você se aproxima, e ocasionalmente acontece de alguns elementos do cenário simplesmente não serem carregados. Gravei um desses momentos, e abaixo você pode conferir as incríveis máquinas de refrigerante invisíveis de Night City:

Embora esteja rodando bem no PS5, ele ainda é bastante instável: em minhas 11 horas de jogo, Cyberpunk 2077 já “crashou” pelo menos umas 4 vezes, e ainda não saiu um update que corrija isso. Do nada, o jogo simplesmente fecha, acompanhado de uma mensagem de erro do sistema. Estou no ato 2 da campanha, mas pensando seriamente em esperar o update do PS5 sair para continuar jogando uma versão “melhorada” do jogo.

No Xbox Series S, jogado pelo editor Junior Cândido, a experiência é semelhante ao do Playstation 5. Em suas palavras:

Joguei Cyberpunk 2077 em dois sistemas, no PlayStation 4, que você já deve ter visto muito a respeito neste Review, e no Xbox Series S, que, como você já sabe nesta altura do campeonato, roda a versão retrocompativel do Xbox One. E, pelo menos no seu funcionamento, a versão funciona de forma bem satisfatória.

Durante minha jogatina, embora encontrei sim bugs e falhas Night City adentro, felizmente não tive nenhum problema mais grave, como jogo fechando sozinho ou saves corrompidos. Roda tranquilamente em 60fps a 1080p, mas ainda assim, a sensação é mista.

Sim, Night City é uma cidade teoricamente viva e com uma boa representação de sua ideia de Cyberpunk, mas o jogo em si não mostra toda aquela qualidade revolucionária proposta, mesmo falando de Xbox One. Talvez uma versão específica para a nova geração possa significar alguma melhoria, mas não, não é algo que já não tenha visto anteriormente.

Assim, a sensação que tive ao jogar Cyberpunk 2077, apesar de não contar com problemas mais graves que atrapalham de verdade a jogatina, é a de que estava jogando um game interessante, sim, mas muito longe da “revolução” prometida, e noticiada a cada semana, nos últimos anos.

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Você pode fazer carinho no gato em Cyberpunk 2077!

E no PC, como o Gilson Peres escreveu em seu preview, o game roda em sua plenitude, com um visual incrível, mesmo sem ativar o recurso de Ray-Tracing. A iluminação, texturas e tudo são como deveriam ser. Há mais carros e NPCs nas ruas e Night City realmente brilha.

Definitivamente a melhor forma de jogar Cyberpunk 2077 é no PC, apesar do game exigir uma máquina poderosa para rodar satisfatoriamente. No Playstation 5 e Xbox Series X/S, o game roda bem via retrocompatibilidade, mas não perfeito. E no Playstation 4 e Xbox One temos a pior versão, que infelizmente vai levar tempo até enfim ser corrigida, com o último grande patch de correção previsto somente para fevereiro de 2021.

O lado bom de Night City

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Chegou a hora de falarmos dos pontos positivos de Cyberpunk 2077, pois o game possui muitos deles! Grande parte desses pontos já foram abordados no Preview do game (que se você ainda não leu a esse ponto, recomento muito que o faça!), então vou discorrer de forma mais geral sobre eles.

Night City é uma cidade pequena, mas enorme. A CD Projekt Red já havia anunciado que o mapa e a duração do game seriam menores que The Witcher 3 por conta de reclamações de jogadores que não chegavam ao fim da aventura por conta da demora.

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Algum fã de Jojo’s Bizarre Adventure por aí?

Há muita coisa para se fazer na cidade. Em todo lugar existem os Serviços, que são contratos rápidos que rendem alguns edinhos (o apelido para o dinheiro do universo Cyberpunk, o Eurodólar). Há vários lugares que você pode visitar, como bares e casas noturnas, locais para comer e comprar armas, itens e etc. A interação com a cidade não é assim tão grande, apesar de ter muita coisa para se fazer. Não há uma total liberdade como na vida real, mas isso não é exatamente um problema.

Entre as diversas coisas que você pode fazer estão eventos aleatórios, como assaltos ou tiroteios, em que você pode se envolver para derrotar criminosos e ganhar uns edinhos. E os já mencionados serviços, que são divididos em dois tipos: “Serviços Secundários” e os “Serviços”.

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Judy Alvarez – uma das personagens mais queridas pelos jogadores!

Serviços Secundários são sidequests com progressão de história. São sequências de missões dos personagens que conhecemos na aventura, que desenvolvem suas histórias e oferecem muitos momentos cheios de ação e emoção. Além disso, algumas dessas missões influenciam e são necessárias para o andamento da história principal, então não as ignore!

Os Serviços são coisas mais simples, que possuem um pouco de história, mas de forma secundária. São missões que envolvem sub-histórias de NPCs de Night City, por exemplo um monge que recebeu implantes cibernéticos forçadamente e pediu sua ajuda para resgatar seu irmão, que está prestes a sofrer o mesmo destino; ou então missões de assassinato, em que você deve invadir a casa do seu alvo e pode trocar alguns diálogos, podendo até mesmo poupar sua vida.

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Há muitas coisas pra se fazer: Assassinatos de aluguel, roubos, sabotagens, resgates, recuperação de itens roubados, ou até mesmo cumprir mandatos de busca e caçar criminosos procurados pela polícia. Isso é algo interessante sobre o mundo de Night City, uma cidade em que a violência é normal e qualquer pessoa pode andar armada e tirar a vida de outra, as vezes sem que isso sequer seja crime. (Mas se você cometer crimes, como matar civis, a polícia virá atrás de você, com o nível de perseguição identificado por estrelas, no melhor nível GTA)

Night City, apesar dos problemas técnicos que fazem a cidade ficar quase deserta na geração passada, é uma cidade viva, cheia de diálogos e personagens interessantes que o jogador pode encontrar, mesmo durante uma caminhada descompromissada. Em qualquer lugar da cidade, basta abrir o mapa e terão várias atividades diferentes, bem próximas de sua localização. Uma coisa o game faz muito bem: Não te deixa ocioso sem ter o que fazer ou para onde ir!

Suas histórias e imersão

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A história de Johnny Silverhand mistura-se com a de V ao longo da aventura

Não podemos prosseguir sem falar da história do game não é? Cyberpunk 2077 conta a história de V, o personagem que o jogador controla, que pode ser homem, mulher, trans, etc (Porém, o game identifica o gênero do personagem de acordo com tipo de voz e estrutura corporal. Então mesmo que seu personagem tenha corpo e voz feminina, mas tenha um órgão sexual masculino, para o game o personagem é uma mulher). V pode ter três tipos de origem, que afetam a narrativa, diálogos e até alguns eventos.

As opções de origens são: Nômade: você era de uma família que viajava pelo deserto, mas decidiu abandonar tudo para tentar a sorte na vida, chegando em Night City e sendo pego por todo o seu deslumbre e crueldade. Marginal: Você cresceu nas ruas da cidade, viu o seu pior e foi moldado por essa vida de crimes e perigos. E por fim, Corpe: você estava no topo da hierarquia social da cidade e conhece seus podres e sua corrupção, além de saber de perto como as corporações e dinheiro podem destruir a vida das pessoas.

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Em meu jogo, escolhi a origem de Nômade

O desejo de V é se tornar uma lenda em Night City, pois se você não tem nome, você não é nada e não tem nada. E junto de seu amigo Jackie, o objetivo está ao alcance, com um elaborado e perigoso roubo. Porém, tudo dá errado e V se encontra numa situação inacreditável.

Johnny Silverhand (interpretado pelo ator Keanu Reeves ), o roqueiro mais famoso da cidade, morto há mais de 50 anos, ressurgiu dentro da cabeça de V através de um chip protótipo. Porém, esse chip está matando V aos poucos. E sua missão é encontrar uma forma de salvar a vida de V. Mas nada será tão direto assim.

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You’re breathtaking!

No caminho você deve encarar todas as facetas de Night City: A busca por glória e edinhos, a violência e corrupção, e a opressão das corporações sobre a população. E ao seu lado estarão muitos personagens carismáticos, te ajudando, te prejudicando e interagindo de diferentes maneiras. Incluindo o próprio Johnny Silverhand, que acompanha V em toda a jornada, conversando e principalmente discutindo com ele(a).

Após tudo isso, o jogador tem seis opções diferentes de finais, que levam em conta diferentes fatores e relações com personagens, com Johnny, com interesses românticos, com seus amigos e inimigos. A história principal é de certa forma curta, mas se pararmos para pensar, nem Skyrim dura tanto se seguirmos somente a quest principal. São as missões secundárias e os extras que dão longevidade ao game.

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Panam Palmer e Judy Alvarez possuem histórias incríveis em suas quests pessoais

Mas uma coisa é certa, a história do game é incrível, pesada e leva as decisões do jogador em conta, sejam com efeitos imediatos, ou a médio e longo prazo, apesar de não ser de forma muito aprofundada. Ainda assim, as decisões que você toma na aventura contam, e levam em consideração a origem de V e como o jogador evolui o personagem!

Um robusto RPG misturado com GTA

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Cyberpunk 2077 se assemelha muito a GTA, mas não de forma aprofundada. Você tem a cidade inteira para poder explorar, diversas missões para fazer, tiroteios e etc. A exploração da cidade é livre, mas é passada pela maior parte do tempo atrás de um volante ou guidão de moto. Ou através de pontos de fast travel.

Já sua execução é a de um completo RPG. V é evoluído de diferentes maneiras: Através de pontos de atributo recebidos ao subir de nível ou ao praticar diferentes atividades, como combate com lâminas, armas, atletismo, hacks e etc. Você evolui o personagem com 2 tipos de pontos: Pontos de atributo, que melhoram os stats do personagem, que são Corpo, Inteligência, Técnica, Moral e Reflexos. E os pontos de habilidade, usado para desbloquear perks.

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Olha quem tá no game como um Easter Egg!

Esses cinco atributos controlam várias estatísticas do jogador, desde as óbvias como força física, capacidade de interagir com máquinas, habilidade com hacks, quantidade de HP e vigor e etc, até estatísticas variadas, como dano com as Garras de Louva-a-deus, dano com armas de energia/inteligentes, porcentagem de obtenção de loot e etc.

E dentro dessas cinco categorias ainda existem outras árvores de habilidades, que desbloqueiam diferentes perks para cada categoria. Corpo oferece perks de combate mano a mano, atletismo e força. Inteligência oferece perks relacionados a hacks rápidos e habilidades de invadir sistemas, e por aí vai. São muitos detalhes que levam um pouco de tempo até o jogador entender e dominar.

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Johnny, V e Judy

Os outros dois pontos de evolução de personagem são seus equipamentos e cibernética. Existe muito loot no game, dividido em categorias por cor, uma prática bem comum atualmente. E a todo momento você encontra novas armas e roupas mais poderosas que as que já tem. Dessa forma você estará sempre renovando seu arsenal e sentindo a diferença de poder. Além disso é possível equipar acessórios e mods em todos esses itens, melhorando-os de forma bastante customizável.

Já as cibernéticas são bem legais, são componentes que você instala no próprio corpo que oferecem diversas vantagens, como pele mais resistente, os braços de louva-a-deus (poderosas lâminas que saem de seus braços), pulo duplo, esqueleto reforçado e etc. Essas modificações exigem dinheiro e são instaladas ao visitar os medicânicos espalhados por Night City.

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Uma verdade sobre Johnny: 9 de cada 10 palavras que ele fala, são palavrões!

Como já dito, o game oferece diversas opções de diálogos em todas as interações com NPCs, seja pessoalmente, por telefone ou por mensagem. Isso dá liberdade para o jogador agir como quiser, aliar-se ou não a alguém, aceitar ou não algum plano, seguir o caminho A, B, C ou D em alguma missão e etc.

E tudo o que você faz lhe concede credibilidade, que serve para desbloquear novos recursos e interações. Por exemplo, você só pode comprar itens raros e lendários se sua credibilidade for alta. Credibilidade é conquistada completando serviços, ajudando seus amigos e a polícia e etc. Quanto mais coisas você fizer e quanto melhor fizer, mais credibilidade ganhará.

Audiovisual

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Bom, já falamos muito sobre como é o visual do game, como ele é bom no PC, Playstation 5 e Xbox Series X/S, e como ele é bem sofrido no Playstation 4 e Xbox One. Hora de falarmos da estética do game.

Night City é incrível, é vertical, claustrofóbica e única em cada um de seus distritos. Existem desde as áreas ricas, com ruas limpas, pessoas e carros chiques nas ruas. As áreas mais populares, com muito lixo, neon, vapor e pessoas. E até as áreas periféricas, com zonas industriais cinzas e vazias; desertos com pouca civilização, mas muita beleza; favelas e até montanhas de lixo e entulho acumulados.

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O Distrito de Pacifica era uma área loxuosa, cheia de hotéis e cassinos. Mas foi abandonada e se tornou um local cheio de lixo, pobreza e construções inacabadas

Night City, apesar de sofrer em desempenho, é uma cidade viva e sempre tem algo acontecendo em todo lugar, ou uma forte história visual a ser contada, dentro de um mundo em que as corporações mandam em tudo e não se importam com nada, em um futuro que o crime é normalizado e ninguém nunca limpa a sujeira.

Seus personagens são muito bem feitos, com visuais bastante realistas, mesmo com seus implantes cibernéticos, visíveis em suas peles. Seja com pequenos componentes eletrônicos ou até mesmo com membros totalmente robóticos, como braços, pernas e as vezes até o corpo inteiro!

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Evelyn Parker, uma importante personagem para a narrativa

Na parte sonora não há outra forma de descrever o game a não ser perfeito. Há uma assustadora riqueza de sons ambientes, músicas licenciadas e originais incríveis, que vão desde jazz até heavy metal, passando por muitos estilos diferentes. E é claro, sua dublagem.

Cyberpunk 2077 está 100% localizado em português brasileiro e o trabalho de localização é simplesmente perfeito! Enquanto eu jogava, eu me sentia muito familiarizado não só por estar ouvindo meu próprio idioma, mas por estar ouvindo o idioma que eu falo no dia a dia. Desde expressões e gírias até palavrões.

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Johnny não economiza nos xingamentos!

Tudo é muito autêntico e real aqui. E o game merece ser muito elogiado pela forma como normaliza os palavrões. Normalmente quando ouvimos palavrões em português em filmes e games, nos parece algo fora do comum, mas aqui tudo é muito natural e bem feito.

Há ainda um forte “abrasileiramento” em termos e falas inteiras! O grande exemplo disso é a personagem Panam Palmer, uma das opções de romance do game (Se V for masculino), que tem um sotaque que mistura um pouco de caipirês com sotaque nordestino, dando à personagem uma personalidade muito forte e única, sem soar estereotipada ou estranha!

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Panam é uma verdadeira figuraça!

O time de dubladores que trabalhou no game é de primeira, com muitas vozes que você já ouviu em vários lugares diferentes, filmes, outros games, animes, desenhos animados, etc. É muito legal reconhecer todas essas vozes, em vários personagens!

Conclusão

Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

Cyberpunk 2077 é um caso extremamente complicado. Temos um game com bom conteúdo, uma boa história e muita coisa para se fazer. Mas que não entrega tudo o que foi originalmente prometido, deixando muita coisa bem legal de fora. E cuja execução nos consoles de geração passada foi péssima ao ponto de prejudicar toda a imagem do game.

No fim, como podemos fazer uma avaliação certa e sincera? Bom, de forma resumida, Cyberpunk 2077 foi lançado no PC e é um game incrível. O que foi lançado para consoles acaba sendo mais uma versão beta que ainda não foi terminada. Lembrando mais uma vez que, se o jogo tem conserto, se patches futuros conseguirão entregar a experiência originalmente prometida (e quem sabe até adicionando conteúdo cortado), então o que temos em mãos é um produto não-finalizado.

Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

Cyberpunk 2077 foi anunciado em 2013, mas só entrou em produção em 2016. Foram cerca de 4 anos em produção, tempo que podemos considerar padrão para títulos AAA, mas que no fim se provou curto para a visão que a CD Projekt Red ambicionava realizar. Não discutimos as questões éticas sobre isso nessa análise, mas o faremos futuramente, em nossa coluna Depois do Fim.

Apesar dos pesares, Cyberpunk 2077 é divertido e envolvente. Entrega uma experiência boa, quando seus problemas não eclipsam tudo. No fim, fazendo uma analogia muito superficial, temos uma figura de plastimodelismo em mãos. Sabemos como ele deve se parecer quando for montado, mas na caixa algumas peças vieram faltando e a maioria das outras veio com defeito. E só veremos o game como ele deve ser visto quando todos os seus patches forem lançados, quando as versões de PS5 e Series X chegar. Ou simplesmente jogando a versão de PC.

Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077

Se você quer jogar Cyberpunk 2077 da forma devida, então jogue no PC. Aqui você tem a experiência real, com o visual prometido e sem sofrer os inúmeros bugs das versões de console. Esse é um game que realmente tinha tudo para virar um GOTY e talvez até consiga isso ano que vem. Mas claramente foi lançado cedo demais, se tornando vítima de seu próprio hype, que foi criado lá em 2013. E infelizmente o game foi até mesmo removido da PS Store, e a Sony e Microsoft estão oferecendo reembolso para jogadores insatisfeitos.

Ainda assim, esse é um game que vale muito a pena. Cabe agora a você decidir se quer explorar Night City agora, ou esperar até o game enfim seja lançado do jeito que deveria ser.

Cyberpunk 2077 foi lançado no dia 10 de dezembro, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Google Stadia. Já as versões de Playstation 5 e Xbox Series X só chegarão de fato em algum momento de 2021.

Uma resposta para “Análise Arkade: O caos problemático chamado Cyberpunk 2077”

  • 23 de dezembro de 2020 às 23:11 -

    Helinux

  • CyberBug 2077!!!! valeu pela a analise!!!!

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