Análise Arkade: Far Cry 5 traz um pouquinho de polêmica e um montão de diversão

5 de abril de 2018

Análise Arkade: Far Cry 5 traz um pouquinho de polêmica e um montão de diversão

O fim do mundo está chegando! Há uma seita arrebanhando fiéis desesperados, e você precisa desmantelar essa milícia extremista na base do “tiro, porrada e bomba” em Far Cry 5! Confira agora nossa análise completa do game!

Seja (nem tão) bem-vindo à Hope County

Far Cry 5 se passa em Hope County, um condado fictício de Montana (noroeste dos Estados Unidos) que é dominado pela ideologia de um líder religioso insano: Joseph Seed, o idealizador da crença Portão do Éden, que promove a salvação e a expiação dos pecados perante um apocalipse iminente. Joseph é idolatrado como uma divindade por seus seguidores, e esta devoção transforma cada fiel em um soldado em potencial, disposto a morrer por ele.

Junto de seus irmãos — John, Faith e Jacob, tão malucos quanto ele –, Joseph domina a população local, utilizando discursos verborrágicos e uma droga misteriosa conhecida como “Bênção” para propagar sua crença (que é praticamente uma lavagem cerebral) nas pessoas.

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Família Seed reunida.

Para defender sua ideologia extremista do “mundo exterior”, os Seed transformam Hope County em uma enorme milícia, e suas fronteiras são protegidas com unhas e dentes (e armas). Assumimos o papel de um recruta, designado para um grupo que tem a infeliz missão de e entrar lá e prender Joseph Seed.

Claro que essa incursão dá muito errado, e depois que um acidente divide o grupo, devemos fazer o possível para ajudar as pessoas de bem de Hope County a derrubarem o regime opressor comandado pelos Seed. A partir daí, o mundo torna-se um (violento) playground, onde somos livres para ir e vir, ajudando revolucionários, tomando acampamentos e enfraquecendo a presença do culto militarizado para restabelecer a ordem por lá.

Polêmico, pero no mucho

Em seus primeiros trailers, Far Cry 5 “se vendeu” como um jogo bem controverso, e parecia disposto a meter o dedo em algumas feridas com sua temática religiosa e ultranacionalista deveras polêmica, que bebe de leve em influências reais para retratar os horrores de uma comunidade extremista.

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A verdade é que, embora haja esse background sinistro, o game não se leva tão a sério na maior parte do tempo, abrindo mão de uma abordagem mais tensa para se apegar a estereótipos do chamado white trash norte-americano (aka o caipira, o nacionalista redneck) e usá-los pra criar situações insanas e explosivas.

Assim, o game equilibra-se na tênue linha que há entre sua temática controversa e a pura e simples zoeira de seu gameplay. As missões principais em geral trazem sua dose de seriedade, mas é em nossas andanças por Hope County que o jogo ganha corpo, e são as histórias únicas que vivenciamos que assumem o clima fanfarrão de Far Cry.

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Detalhe na cara do boizinho, coitado.

Afinal, em que outro jogo você lembra de capar touros de maneiras variadas para o tradicional “Festival dos Testículos“? Pois é, ainda que traga alguns assuntos polêmicos — e tenha um final “bom” resgata com força o teor apocalíptico da história –, no geral o game não se aprofunda em temas espinhosos, permitindo que ada jogador crie sua própria jornada.

Menos crafting, mais diversão

Como eu já comentei em meu Pré-Review do game, Far Cry 5 não tem medo de dar uma sacudida em algumas convenções da série em prol da diversão. Não se engane: este ainda é “o mesmo Far Cry” que a gente já conhece, mas agora ele está muito menos burocrático, e permite que a gente se mantenha focado no que ele tem de bom.

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Por exemplo: nos últimos jogos da série, precisávamos catar peles de animais para criar mochilas e coldres, em um crafting cíclico que era bem pentelho. Isso foi jogado fora, e a progressão de Far Cry 5 agora tem mais “cara de videogame”: ganhamos pontos de reputação com o cumprimento de missões e objetivos variados, e trocamos esses pontos por perks, equipamentos e upgrades.

Aquela história de escalar torres para liberar o mapa também foi deixada de lado: agora vamos liberando novas áreas simplesmente explorando, e ao encontrarmos mapas, lermos documentos ou conversarmos com NPCs, pontos de interesse vão sendo acrescentados ao vasto mapa do game — que é dividido em 3 regiões principais, cada uma controlada por um dos irmãos de Joseph. Cumprindo missões e salvando reféns ficamos mais próximos de poder enfrentar os chefões da família Seed e expurgar de vez sua presença de cada região.

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Curiosidade: quem dubla a Faith aqui no Brasil é nossa amiga Luiza Caspary. :)

A evolução do personagem também sofreu algumas mudanças: nada de tatuagens místicas, nem nada do tipo, agora simplesmente ganhamos pontos de vantagem e os trocamos por perks, equipamentos e habilidades.

Mesmo coisas como o arpéu, o paraquedas e a wingsuit agora são trocados por esses pontos, bastando o jogador acumular o número de pontos necessários para destravá-los.

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O sistema de evolução está muito mais ágil.

São mudanças que alteram bastante a dinâmica do jogo, tornando-o menos engessado. Sem sermos obrigados a fazer coisas chatas — tipo caçar ou ficar catando plantas –, podemos nos focar na ação, no tiroteio e na exploração, que são justamente os pontos fortes do game, que traz um gameplay extremamente refinado e dá total liberdade ao jogador na hora de explorar e cumprir os objetivos.

Coop & Arcade

Far Cry 5 evolui o conceito de gameplay cooperativo do game anterior, e agora possibilita que até 6 jogadores vivenciem a campanha toda juntos… mas há um porém: o progresso da história só conta para o host da partida, ainda que os convidados mantenham seus upgrades em seu próprio jogo. Não me parece uma ideia muito inteligente, mas é o que tem pra hoje e, na dúvida, você e seus amigos podem simplesmente tocar o horror e não cumprir as missões da história.

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Hurk está de volta! <3

Se você preferir curtir a campanha sozinho, não se preocupe, pois você pode recrutar aliados bem pitorescos para te ajudar: praticamente qualquer refém libertado pode se tornar uma “arma de aluguel”, mas temos os especialistas, com destaque para o piloto de avião que metralha e bombardeia de cima os inimigos, e as simpáticas “garras de aluguel”, animais que podem ser recrutados para ajudar, como o famoso dog Boomer ou o simpático urso X-Burger!

Além disso, existe ainda um ambiente pensado para a zoeira e o multiplayer: o Far Cry Arcade é uma enorme interface virtual onde jogadores podem criar e compartilhar suas próprias fases online. Confesso que não tenho muita paciência para isso, mas a comunidade parece ter abraçado a ideia, pois além de desafios absurdos e muita zoeira, temos ótimas recriações de áreas de Resident Evil e mapas de Counter-Strike.

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A Ubisoft promete implementar mais conteúdo ao Far Cry Arcade com o passar do tempo, o que deve fazer dele um legítimo “Far Cry Maker“, que deve continuar recebendo criações malucas e desafios insanos dos jogadores.

Audiovisual

Aqui não tem nem o que dizer: ainda que a ambientação do novo jogo seja bem menos interessante do que Kyrat ou as Rook Islands (falei disso no meu Pré-Review), a beleza das paisagens é absurda. Jogamos no Xbox One X, plataforma que entrega 4K nativo e suporte a HDR, e o resultado é impressionante.

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A Dunia Engine ainda entrega um visual surpreendente.

Claro que há certas “fórmulas” de Far Cry se repetindo — como o excesso de inimigos e NPCs idênticos, muitas vezes um ao lado do outro –, mas em termos de paisagens e locações, o visual é impecável. A trilha sonora também é muito boa, misturando canções sacras com uma boa dose de bandas de rock das antigas, como Creedence Clearwater Revival e Georgia Satellites.

Far Cry 5 chega ao Brasil totalmente em português, e no geral a qualidade das dublagens está excelente, especialmente no que diz respeito aos vilões e coadjuvantes importantes. A escorregada fica no fato de o protagonista da vez ser totalmente mudo, algo que considero um retrocesso narrativo, pois ele nada mais é que um avatar, sem voz e sem personalidade, que não toma partido nem se envolve com os dramas e conflitos da população local.

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E olha que encaramos algumas coisas bem dramáticas.

O lado “bom” disso é que — pela primeira vez na série — o protagonista é totalmente customizável: você escolhe se é homem ou mulher, e tem a sua disposição algumas opções de rostos e cortes de cabelo, bem como dezenas de opções de calças, camisas, luvas, chapéus e adereços, bem como trajes completos. Novos conteúdos vão sendo liberados enquanto você joga, e quem participa do Ubisoft Club pode liberar peças inspiradas em outros jogos da empresa, como Rainbow Six e For Honor.

Conclusão

Far Cry 5 parece preocupado única e exclusivamente em oferecer o máximo de diversão possível ao jogador: ao eliminar algumas tarefas pentelhas e “emudecer” o protagonista, a Ubisoft nos dá carta branca para fazermos o que quisermos, como quisermos. Há praticamente uma guerra civil rolando, mas, nos videogames, guerra é sinônimo de diversão, tiroteios e explosões, e há tudo isso em doses cavalares aqui.

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Tanto patriotismo norte-americano vindo de uma empresa francesa soa meio que como uma grande tiração de sarro…

Quem achava que Far Cry 5 abordaria de forma crítica o fanatismo religioso pode sair um pouco decepcionado — o jogo nunca deixa isso em primeiro plano, nem tenta ser uma “crítica social f*da”. Os irmãos Seed acabam servindo apenas de estopim para iniciar uma revolução que funcionaria mesmo sem a temática religiosa.

Há quem torça o nariz para isso, e ache que foi uma oportunidade desperdiçada, mas eu acho que a ideia nunca foi essa: Far Cry nunca quis ser uma série “cabeça”, e este novo jogo mantém a tradição: é provavelmente um dos jogos de mundo mais divertidos já lançados, pincelando uns temas polêmicos aqui e ali sem estar realmente preocupado em passar uma mensagem ou fazer o jogador refletir.

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Se o que você espera de um novo Far Cry é simplesmente que ele seja “mais Far Cry“, pode comprar sem medo: Hope County é um imenso playground cheio de possibilidades, e vai te manter entretido por umas boas horas.

Far Cry 5 foi lançado em 27 de março, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Este review foi feito no Xbox One X, usando uma cópia do game cedida pela Ubisoft.

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