Análise Arkade: Sobreviva ao apocalipse zumbi (de novo) em How to Survive 2

16 de fevereiro de 2017

Análise Arkade: Sobreviva ao apocalipse zumbi (de novo) em How to Survive 2

Entra ano e sai ano, e o mercado de entretenimento – do cinema à TV, dos videogames aos quadrinhos, dos livros aos aplicativos móveis – não se cansa de lançar novos (ou não tão novos assim) produtos ambientados em um apocalipse zumbi com aquela dinâmica de terra arrasada, poucos sobreviventes em meio ao caos, destruição completa e tudo o que já vimos.

Se antes havia uma previsão de que o tema logo se esgotaria tamanha a saturação dos mortos-vivos, parece que ainda há muito o que explorar em uma temática que, se não é exatamente original, rende ainda muita diversão, como pode ser visto em How to Survive 2, game de exploração, crafting e scavenging que se aproveita de muitas coisas boas desenvolvidas no primeiro game da franquia e traz algumas coisas bem interessantes para dar um novo respiro ao sub-gênero.

Análise Arkade: Sobreviva ao apocalipse zumbi (de novo) em How to Survive 2

Uma narrativa (nada) original

How to Survive 2 é a continuação de um jogo de 2014, se passa 15 anos após os eventos narrados no original e segue com a premissa mais do que manjada de colocar o(s) protagonista(s) em meio a um ambiente inóspito, tomado por infectados, onde ele(s)  precisa(m) se virar para sobreviver. Não há muito a ser explicado e, logo de cara, o game estabelece os principais desafios que irão acompanhar o jogador por toda a jornada. Acredite, os zumbis são a menor das preocupações: fome e sede são muito mais implacáveis.

Nesse sentido, o jogo respeita e potencializa uma premissa já tão tradicional quanto fundamental para o sucesso de histórias de zumbis que nos remetem aos clássicos de George Romero, onde os desmortos não são, de fato, o grande inimigo a ser vencido. Diferente de outros monstros convencionais, um morto-vivo não tem moral, não tem ética, não tem a intenção da vilania. Ao contrário, segue instintos primários tanto quanto qualquer animal irracional.

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Assim, a verdadeira ameaça é o fim de uma sociedade organizada e como o que sobrou da humanidade consegue se adaptar a tempos não civilizados. Não é raro ver em obras como The Walking Dead ou The Last of Us — só para citar exemplos mais óbvios recentes — que são os próprios humanos e suas necessidades os maiores desafios a serem vencidos. How to Survive 2 é capaz de evidenciar esse elemento de uma forma bastante competente, independentemente do clichê escancarado.

Assim, é no contato com outros humanos que o jogo mostra um potencial de entreter por várias horas. Cada pequena missão de resgate e cada novo propósito colocado por pretensos aliados nada mais são do que um reforço para essa sensação de um mundo em frangalhos, onde cada um está tentando se virar do jeito que pode, e nem sempre do jeito mais amigável. Exatamente por isso, o jogo cooperativo só dá mostras de como é importante a soma de esforços por interesses comuns.

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Um jogo, sobretudo, de sobrevivência

De certa forma, é redundante afirmar que How to Survive 2 é muito mais sobre manter-se vivo do que necessariamente um jogo de ação voltado ao combate contra os famigerados infectados. Mas não deixa de ser um destaque fundamental a ser explicitado. Afinal, há formas muito mais cruéis de se ver derrotado e, como em tantos outros exemplos — como The Flame in the Flood ou Don’t Starve — fome e sede estarão no seu caminho do começo ao fim.

A gestão de recursos dentro e fora de seu acampamento é, deste modo, a primeira coisa a ser compreendida pelo jogador. Claro que logo no princípio, com um porrete em mãos, já aparecerão os primeiros zumbis lentos e caquéticos a serem devidamente esmagados, mas as duas primeiras missões oferecidas pelo misterioso Kovac já explicitam a necessidade de se buscar recursos de cura, comida e bebida.

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Além disso, as suas ações caminham sempre na direção de fortalecer o seu espaço seguro (ou nem tanto). Logo, o jogador, seja sozinho, seja acompanhado de aliados no multiplayer local ou online (já falaremos mais sobre isso), deverá estabelecer a sua base com diferentes construções, lembrando até mesmo Fallout 4, criando um acampamento forte e que consiga prover recursos de sobrevivência e — só para deixar tudo mais divertido — de combate.

Criar e expandir seu acampamento também ajuda na sobrevivência. Ao criar uma Cozinha, por exemplo, você torna-se capaz de cozinhar alimentos, que geralmente são bem mais eficientes para matar a fome do que barras de chocolate ou plantas. Quando tiver um Arsenal, você poderá manufaturar até mesmo armas de fogo e munições variadas. Como se faz uma metralhadora usando latas de alumínio e molas velhas? Também não sabemos, mas é fato que essas armas “absurdas” ajudam um bocado!

No começo os esqueléticos zumbis não oferecem qualquer tipo de ameaça real (a grande maioria morre com um único golpe bem dado de facão), não tarda para que a ameaça cresça de proporções. Não só os zumbis normais ganham mais resistência, como alguns deles são mais rápidos e agressivos. Claro que não pode faltar o zumbi gordo que explode antes de morrer e outros arquétipos comuns.

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Mas nem só de tradição vive How to Survive 2. É essencial estar preparado para enfrentar cervos zumbis, crocodilos asquerosos, pelicanos que vomitam ácido, rottweilers raivosos ou tartarugas (quase) imortais que conseguem ser mais perigosos e agressivos que qualquer morto-vivo comum. A variedade de inimigos aqui é bastante satisfatória e divertida, oferecendo níveis de percepção e exigindo estratégias de combate bastante apuradas.

Nem tudo é carne podre de primeira

Mesmo que ofereça controles bem resolvidos, ainda que não tão ortodoxos, How to Survive 2 tem alguns meandros que complicam a vida do jogador mais do que deveriam. O mais evidente é oferecer um menu bastante confuso e complexo de se gerenciar, principalmente em meio a missões. Selecionar uma nova arma, se ela já não estiver equipada, é um verdadeiro martírio que demora tempo demais — e lembre-se o jogo continua rolando enquanto você está no menu!

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A coisa piora quando se pretende localizar um recurso não-categorizado. Armas, munição, comida e recursos de cura até ficam mais práticos de serem acessados, mas se você quiser entregar um pedaço de madeira para um companheiro criar algo, acaba sendo bastante maçante encontrá-lo em uma lista enorme de coisas aleatórias.

O mesmo acontece no gerenciamento de baús e recursos individuais e coletivos. Em certo momento, para criar mais flechas, o jogador precisa de determinados ingredientes. Aí ele lembra que tem todos, mas alguns estão guardados no baú. Aí ele descobre que não estão no baú do acampamento, mas sim no baú do bunker. Em tese, é uma organização lógica, já que é possível ter coisas pessoais e outras compartilhadas, mas na prática, tudo fica confuso e pouco prático.

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Para piorar, os produtores mantiveram os menus como eram na versão PC do game, de modo que você usa um cursor para selecionar e arrastar coisas. É uma péssima forma de navegar por menus quando não se tem um mouse para isso, o que torna o gerenciamento do inventário uma atividade ainda mais pentelha.

Já no início do nosso vídeo de gameplay abaixo você consegue ver um pouco do mal adaptado menu de gerenciamento e customização do personagem:

Outra coisa que pode incomodar um pouco é a falta de equilíbrio da diversidade de recursos encontrados. Madeira, plantas e outros recursos de construção são abundantes e são mais incômodos do que úteis em grande parte do tempo, já que ocupam espaço demais no limitado inventário, enquanto alimentos e bebidas são raríssimos. Claro que, a princípio, essa diferença faz sentido, afinal, em um mundo arrasado, água e comida são mais raros que materiais de construção, mas no game há um abismo muito maior do que se espera.

Isso significa que, muitas vezes, o jogador se vê obrigado a repetir as mesmas missões iniciais — que oferecem poções limitadas de bebida e comida — para conseguir acumular recursos suficientes para prosseguir nas missões posteriores. Enquanto isso, muitas coisas menos úteis são acumuladas de forma exagerada, lotando a sua mochila e deixando seu personagem mais lento e pesado.

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Assim, How to Survive 2 privilegia a exploração, mas há um certo desequilíbrio na recompensa da busca de recursos. É muito mais garantido conseguir aquilo que se precisa fazendo as mesmas tarefas iniciais nos mesmos lugares sempre do que explorando novos e inóspitos locais. E aí corre-se o risco de exigir do jogador que ele fique patinando no mesmo lugar antes de conseguir seguir adiante, mesmo ele já tendo competência e recursos avançados para isso.

Sobrevivendo em grupo

Não há dúvidas que How to Survive 2 é muito mais proveitoso quando se joga no formato multiplayer. Tanto online quanto localmente, há um salto enorme na qualidade da aventura, já que o trabalho coletivo ajuda a conseguir mais recursos e a progredir de forma mais rápida. É possível, inclusive, dividir tarefas e missões entre os membros de um mesmo acampamento, fazendo com que cada um — ou mesmo sub-equipes — faça uma coisa diferente e consiga recursos diversos.

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Assim, mesmo quando há uma variedade de níveis dentro de um coletivo, cada um pode fazer as missões que mais se adequam à sua realidade. Um membro iniciante, por exemplo, pode ficar responsável por fazer as missões primárias enquanto um outro mais experiente pode buscar recursos para melhorar o acampamento. Ainda que o nível do mapa principal seja estabelecido pelo membro mais experiente, as missões podem ser adequadas aos que estiverem nela.

Confira abaixo um pouco do nosso gameplay cumprindo uma missão jogando online em 4 pessoas:

Jogando localmente há menos liberdade nesse sentido. Não há tela dividida aqui e ambos têm de estar no mesmo espaço. Mas isso não significa menos diversão, já que criar estratégias diversificadas com pessoas diferentes pode ajudar demais na abordagem de hordas de desmortos e outros desafios. Além disso, a progressão também é beneficiada, já que parceiros com nível mais iniciante ganham experiência mais rapidamente ao partilhar missões mais avançadas sem, contudo, serem penalizados pela dificuldade.

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Audiovisual

How to Survive 2 não é exatamente um exemplo do potencial gráfico da nova geração. Seu ponto de vista isométrico não privilegia um nível de detalhamento tão rico, ao mesmo tempo que se preocupa pouco com o micro. As texturas dos diferentes ambientes são bastante simplificadas e repetitivas e mesmo os ambientes internos contam com modelos bem sóbrios.

Isso não significa necessariamente que o jogo é feio ou desagradável, mas fica claro que não há uma intenção de deslumbramento. O estilo artístico também é bastante simplista, favorecendo espaços amplos, elementos múltiplos na tela e uma liberdade de movimentação que exige pouco do processamento gráfico. Assim, é raríssimo qualquer engasgo visual, mesmo em áreas amplas com 4 pessoas explorando pontos diferentes do mapa.

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Assim, ainda não que se mostre um deleite pros olhos, o jogo cumpre bem o seu papel com um visual limpo e eficiente. Há um brilho especial nas mudanças climáticas, que não só clareiam ou escurecem os cenários, como também conseguem traduzir um certo mistério na névoa noturna e uma falsa tranquilidade no sol que racha durante o dia.

Em termos sonoros, há músicas bem convencionais em momentos de maior tensão, como o encontro com hordas mais volumosas, mas a maior parte do tempo o que acompanha o jogador é o som do silêncio de um mundo devastado, ora com o movimento de coelhos suculentos andando pelo mato, ora com o sempre macabro som de zumbis gemendo. As vozes — somente no original em inglês — cumprem seu papel e os efeitos sonoros ajudam no clima de desolamento.

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Enfim, o que temos aqui é um jogo que não se destaca em aspectos artísticos, mas que é honesto consigo mesmo em priorizar um mundo extenso e preparado para exploração, seja sozinho, seja acompanhado. Há uma certa diversidade sobretudo nas customizações de personagens e mesmo nos zumbis, mas nada que seja tão específico assim.

Conclusão

How to Survive 2 é um jogo com uma capacidade enorme de oferecer horas e horas de exploração descompromissada, missões diversas que servem como desculpa para a matança dos bons e velhos zumbis old school e até mesmo engajamento para conseguir evoluir de um personagem perdido no meio do mapa para um grande administrador de acampamento equipado e reforçado.

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Se tem suas limitações, oferece um sistema bastante sólido de sobrevivência e exploração, com doses altas de ação e combate, e favorece o trabalho em equipe de forma satisfatória e divertida. A necessidade de repetições, o trabalho extra para gerenciamento de recursos fruto dos  menus desajeitados maculam um pouco a imagem de um jogo que poderia ser melhor se tivesse maior equilíbrio na distribuição dos diferentes tipos de equipamentos, materiais de construção e alimentos… e menus pensados para analógicos e controles, não para teclado e mouse!

How to Survive 2 está disponível para Playstation 4 (versão gentilmente cedida para a equipe Arkade testar individualmente e de forma coletiva pela 505 Games), Xbox One e PCs (via Steam). Mesmo com áudios somente em inglês, o game conta com ótima localização de textos — legendas e menus — para o português brasileiro.

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