Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

8 de novembro de 2016

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Após nove anos em desenvolvimento, Owlboy finalmente foi lançado. Mas será que valeu toda essa espera? Confira agora a nossa análise deste excitante jogo dos noruegueses da D-Pad Studio!

Existe um certo medo por trás de jogos que demoram tempo demais para serem lançados. Existindo grandes chances da desenvolvedora não entregar tudo que estava prometendo em seu anúncio, abordar ideias que, a primeira vista, pareciam ótimas mas que no final se tornaram inviáveis, ou pela simples mentalidade datada do game design em si, que nem sempre envelhece bem. O que poderia ser incrível há 10 pode não ser mais tão revolucionário assim.

Dito tudo isso, fico feliz em dizer que Owlboy não é um desses casos, quebrando este estigma, o game surpreende de todas as maneiras possíveis, trazendo uma experiência espetacular repleta de cenas memoráveis, além de uma história cativante e uma jogabilidade impecável que poucos jogos conseguem atingir.

Se você não percebeu depois de ler este último paragrafo, vou deixar claro de uma vez: eu gostei muito, mas muito mesmo, de Owlboy. Na sequência, vou te explicar em detalhes o por quê.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

CONHEÇA O NOSSO HERÓI, OTUS

Owlboy segue a história de Otus, um híbrido entre garoto e coruja mudo que está começando a desenvolver sua habilidade de voar. Seu mentor Asio é extremamente rígido e sempre coloca Otus para baixo, ressaltando que ele sempre será um inútil e nunca atingirá as expectativas da sociedade das corujas. Por outro lado temos Geddy, o melhor amigo de Otus, sempre o defendendo das críticas e ajudando Otus em tudo que precisa.

O perigo aparece quando os Piratas, ameaças constantes na vida das corujas, chegam com seus navios voadores para atacar o vilarejo de Vellie, uma das ilhas flutuantes deste mundo. Após a assistência de um misterioso ser, Otus levanta Geddy com suas asas e começa sua jornada para impedir o avanço dos piratas, seguindo para uma missão repleta de desafios e perigos.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Owlboy é uma verdadeira fábula de amadurecimento, abordando a mudança de responsabilidade que uma pessoa tem de acordo com seu progresso na vida. Nós começamos com Otus lutando para ser aceito pelo seu mentor e rapidamente estamos voando com nossos amigos para lugares inimagináveis em busca de uma solução que impeça os piratas e seu líder, Molstrom, de continuar o ataque em Vellie e nas ilhas adjacentes. No meio do caminho encontramos diversos personagens, aliados e inimigos, que desenrolam a trama pelo diálogo, que é inteligente e conciso, além de esbanjar personalidade em todos seus indivíduos.

Um pensamento que marcou a minha mente nesses diálogos é como Owlboy parece uma animação pelo seu andamento na história, com personagens propositalmente exagerados e um tom que caminha entre humor e seriedade. Junte isso com a arte espetacularmente desenhada e temos uma jornada cativante e divertida mas que não tem medo de apresentar seus momentos de seriedade e complexidade para mover a história.

E, sendo bem sincero agora, não tem como não se apaixonar por Otus e seus amigos, que mesmo com personalidades bem divergentes, ainda possuem um certo nível de simpatia que conseguiram me acertar em cheio, especialmente o nosso protagonista, que consegue ser o personagens mais apaixonante e carismático do jogo mesmo sem proferir uma única palavra, o que é um grande mérito dos animadores e artistas da D-Pad Studio.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

 A ADMIRÁVEL DIREÇÃO DE ARTE

Um dos maiores atrativos do jogo é, sem sombra de dúvidas, sua direção de arte. De acordo com os produtores, Owlboy aborda o “hi-bit art”, definido como uma versão melhorada do pixel art que vemos em jogos 16-bit, dando espaço para mais detalhes e animações mais fluidas sem abandonar a nostalgia inerente do pixel art que tanto amamos. E Owlboy faz exatamente tudo isso. É um trabalho extremamente detalhado e animado, desde os personagens, objetos, inimigos até os cenários como um todo, dando para sentir o esforço que foi colocado para dar vida em Owlboy pela arte.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

São as pequenas reações que ganham a maior atenção no entanto: o jeito que Otus age quando expressa um sentimento de tristeza segurando suas asas como se fosse um cobertor e andando cabisbaixo; de alegria com um gigantesco sorriso quando vê Geddy ou está pronto para uma missão; de espanto com os olhos esbugalhados e paralisados quando passa por algo totalmente novo; e até pensativo, ficando mais sério e mexendo com as mãos como se estivesse preparando um plano para sair de uma enrascada. Estes detalhes minúsculos adicionam uma profundidade tão grande nos personagens que é impossível você não ter o mínimo de simpatia ou se importar com o bem estar deles. E atingir este nível de minuciosidade é precioso.

Outro ponto positivo é a própria direção de arte, que é bastante criativa ao criar este mundo onde corujas são seres bípedes e pertencem a uma das raças dominantes. Owlboy te convida a explorar os pequenos cantos das ilhas flutuantes para conhecer um mundo completamente novo, com seu próprio ecossistema e diversas peculiaridades que adicionam camadas de informação sobre esta sociedade que coloca corujas e humanos vivendo em (aparente) harmonia.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Todos estes elementos criam um cenário vasto para Otus e seus amigos explorarem da forma que bem entenderem. Durante o jogo, você se pegará explorando desde florestas ameaçadoras com vinhas e troncos cheios de espinhos até cavernas com diversos níveis, cenários com cachoeiras de água cristalina até rios de lava, locais abertos e prontos para serem explorados até estruturas antigas e navios gigantescos. Toda essa mistura de natureza, antigo e tecnológico aumenta ainda mais a complexidade do mundo de Owlboy.

UM POUCO DE METROIDVANIA AQUI, UM POUCO DE LINEARIDADE ALI

E para unir todos esses locais em único cenário Owlboy aborda o metroidvania, porém, diferente dos jogos mais tradicionais deste gênero, o jogo tende a focar mais na linearidade de sua história para mover os personagens. Eu não quero dizer que metroidvanias mais tradicionais não possuem histórias, mas é bem claro que o foco de Owlboy é apresentar o enredo, seus personagens e o mundo em torno deles primeiro enquanto a exploração deste mesmo mundo fica em segundo plano, servindo como um suporte para contar a trama dentro deste mundo.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Não existe um incentivo tão grande para explorar os locais e adquirir os itens que o jogo te pede, como as Moedas do Bucaneiro que estão espalhadas pelo mundo e que você pode trocar por itens na loja, e podem ser tanto itens cosméticos como chapéus até poções que aumentam a sua barra de vida.

Existem outros incentivos, como a procura dos simpáticos Boguins perdidos, a caça aos emblemas e outros segredos que liberam Achievements e passagens secretas… Porém nada necessário para completar a história, além de que nada disso me fez retroceder muito para realizar alguma missão paralela enquanto estava jogando.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Dessa forma Owlboy utiliza os elementos de metroidvania para dar opções de caminhos para o jogador e criar um cenário coeso em suas fases — além de implementar uma série de puzzles para continuar a história, pressionando botões e travas para acionar o que está sendo procurado nas cavernas –, mas também dá espaço para o jogador simplesmente “seguir em frente” com a história se ele assim desejar.

Venha pela história, fique pelo gameplay

Na jogabilidade Owlboy funciona como um twin-stick shooter. Como Otus não tem muitas habilidades na hora de combater, só um giro de asas que funciona como um golpe stordoante, o restante fica a cargo de seus aliados, sendo que Otus os levanta e utiliza a habilidade especial de seu amigo, como no caso de Geddy, que atira com uma humilde, porém rápida, pistola. Como você (e uma porção considerável de seus inimigos) é capaz de voar, o combate é bastante vertical, tendo que prestar atenção em todas as direções para não sofrer algum tipo de ataque surpresa.

Além do combate tradicional, Owlboy alterna entre missões em que você precisa ser furtivo e de resolver puzzles baseados em agilidade e um pensamento rápido para solucioná-las. Esses momentos que fogem do combate são ótimo para mudar o ritmo do jogo, além de que eles foram colocados em momentos perfeitos para não te deixar com tédio e sempre agregar algo de novo ou diferente.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Os controles são responsivos e muito bem calibrados: não tive um único problema ao realizar qualquer tipo de movimento, seja de esquiva ou ataque. A liberdade que Owlboy te dá no combate é bem-vinda e possui um leque variado de possíveis ataque e ações, mesmo possuindo certas limitações pelas habilidades de cada personagem.

Já as lutas contra os chefões são divertidas e aceleradas, além de serem intensas do começo ao fim. Não existe um momento de tédio e o desafio acompanha a progressão e o seu entendimento do jogo, não sendo fácil ou difícil demais, mas árduo o bastante para te deixar feliz e satisfeito quando finalmente supera um desafio (ou chefe) excepcionalmente complicado.

 SINFONIA ORQUESTRAL DE OWLBOY

Complementando todos estes elementos, a D-Pad Studio trouxe o compositor Jonathan Geer e uma orquestra completa para produzir a música de Owlboy, reafirmando o pensamento avançado de seus desenvolvedores por escolherem um som mais complexo musicalmente para acompanhar a cadência do jogo em vez da música eletrônica ou do chiptune, tão comumente utilizados em jogos baseados em pixel art.

Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy

Ao invés de manter uma sensação pequena e intimista, Owlboy voa para momentos maiores que o próprio protagonista. Então no lugar de termos situações que colocam Otus lado a lado com seu antagonista, recebemos cenas que exaltam a grandiosidade ameaçadora de Molstrom e mostram o quão perigoso é a missão de Otus e seus amigos.

Para casar com tudo isso, a trilha sonora potencializa estes momentos de forma incrível, e é uma das melhores que tive o prazer de ouvir nos últimos tempos. Aumente o som e curta alguns exemplos abaixo:

Mas a trilha sonora não é só composta por instrumentais estrondosos; ela também tem seus momentos calmos, divertidos e até sérios, sempre se adequando ao que a situação ou a história pedem. Geer faz um excelente trabalho, não só em intensificar as emoções do jogador para o jogo, mas também como um elemento tão necessário quanto a jogabilidade e a estética, e suas canções ajudam a produzir momentos verdadeiramente emocionantes dentro do game.

CONCLUSÃO

Owlboy é fantástico. A espera de quase uma década valeu mais do que a pena, com a D-Pad Studio trazendo uma experiência cativante, desafiadora, emocionante e, acima de tudo, extremamente divertida graças aos seus personagens, pela forma como a história é contada e pela brilhante construção deste mundo enigmático.

A atenção aos detalhes e sua trilha sonora espetacular acompanham e enaltecem Owlboy, colocando-o em um nível de excelência difícil de imaginar, o que torna o jogo um marco não só no cenário indie em si, mas principalmente na tortuosa jornada da D-Pad Studio, que assim como Otus, representa toda a determinação para amadurecer e tomar novos objetivos para garantir o sucesso.

Owlboy foi lançado dia 1º de novembro, e está disponível somente para PC.

Uma resposta para “Análise Arkade: Voando pelos ares no cativante mundo de Owlboy”

  • 13 de novembro de 2016 às 02:34 -

    Filipe Aguiar

  • Canções? As músicas do jogo são cantadas? Cada detalhe a respeito desse jogo me deixa com mais vontade de jogá-lo.

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