Análise Arkade: Prey não é só mais um FPS espacial (e isso é bom)

16 de maio de 2017

Análise Arkade: Prey não é só mais um FPS espacial (e isso é bom)

Depois de 11 anos e uma sequência cancelada, o novo Prey — que serve como um reboot para a série — finalmente chegou. E, após passarmos dezenas de horas explorando a Talos I, trazemos nossas impressões para você em uma análise completa!

Seja (nem tão) bem-vindo à Talos I

Prey se passa em uma realidade distópica em que não houve Guerra Fria, nem Corrida Espacial. Muito pelo contrário, na década de 60, EUA e União Soviética construíram juntos uma gigantesca estação espacial para estudar uma forma de vida alienígena conhecida como Typhon. Como a gente bem sabe, estudar formas de vida alienígenas quase nunca é uma boa ideia, de modo que, após uma catástrofe não muito bem explicada, o projeto foi para o limbo e a base foi “colocada à venda”.

Ela foi adquirida por uma megacorporação de tecnologia chamada TranStar, que a renomeia como Talos I e, no nem tão longínquo ano de 2035, a empresa utiliza a estrutura da Talos I como um avançado centro de pesquisa. Experimentos de todo tipo — alguns bem questionáveis — foram feitos ali, inclusive o maior sucesso da empresa, os Neuromods, que são basicamente chips implantados (pelo olho!) que concedem novas habilidades aos implantados (lembra do “I know kung fu” de Matrix? É tipo aquilo).

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A chave inglesa é bem útil para eliminar os inimigos mais fracos.

Por mais próspera que parecesse a situação, os Typhon novamente não quiseram ser meras “cobaias” para os seres humanos, de modo que se proliferaram, mataram quase todo mundo e tomaram conta da enorme estação espacial. Eis que surge nosso protagonista, Morgan Yu (que pode ser homem ou mulher, você escolhe), irmã(o) do CEO da TranStar, que praticamente acorda no meio deste caos e se vê perante uma verdade cruel: a Talos I precisa ser destruída, e nada deve sair dali com vida. E aí, acha que dá conta desta missão potencialmente suicida?

Não é mais um FPS espacial

Os fãs de jogos frenéticos com muitas explosões e ação ininterrupta podem se decepcionar com Prey. O jogo possui um ritmo muito mais lento, e é muito mais voltado para a exploração e o crafting do que para o combate propriamente dito. Para você ter uma ideia, você passa as primeiras horas do jogo tendo apenas uma chave inglesa como arma, de modo que evitar o combate direto com os Typhon pode ser uma boa estratégia.

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Prey é um jogo do Arkane Studios — criadores da série Dishonored — e ainda que os jogos não tenham realmente muito em comum, ambos têm aquele estilo “sua missão é essa, mas você pode cumpri-la do jeito que quiser”. O incrível trabalho de level design oferece múltiplas rotas, e, tendo as ferramentas e habilidades certas, você pode explorar a imensa Talos I no seu ritmo, como preferir.

Por exemplo: existem portas trancadas em Prey. MUITAS portas trancadas. A maneira mais fácil de acessá-las é encontrando o key card ou descobrindo a senha. Mas, caso não tenha paciência para isso, você pode hackear o painel (desde que tenha upado sua habilidade de hacking, claro). Ou ainda, em muitos casos você pode encontrar uma claraboia ou um duto de ventilação que podem te colocar do outro lado da porta sem que você precise abri-la. Desde o início, Prey oferece muita liberdade ao jogador, e a sua experiência é pautada pela maneira com que você explora cada ambiente.

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Prepare-se para encontrar muitas portas fechadas.

Claro que nem sempre existem rotas alternativas, e por depender tanto de senhas e key cards, volta e meia o jogo assume um ar de MetroidVania: você vai encontrar portas e elevadores que não irão se abrir sem a senha correta. E a melhor maneira de descobrir as coisas em Prey é explorando: você aprende muita coisa lendo emails de outras pessoas, ouvindo audiologs e revistando cadáveres. Tudo isso é parte essencial do gameplay, e ao lado do crafting, é o que gente passa mais tempo fazendo.

Crafting, Neuromods e reciclagem

Tão importante quanto fuçar as caixas de email alheias é a limpeza: em Prey é fundamental que você “limpe” os cenários, coletando todo tipo de tranqueira possível. Além de alimentos e bebidas que podem ser consumidos e restauram um pouco da sua energia, não deixe de pegar cascas de banana, canos velhos, plantas mortas, placas e circuitos queimados, luvas de beisebol, papéis amassados… até mesmo pedaços de inimigos mortos são úteis!

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O espaço do inventário é limitado, mas pode ser expandido.

Explicando: Talos I é uma estação espacial totalmente sustentável, que nos permite reciclar todo esse “lixo” e transformá-lo em munições, kits médicos, Neuromods e muitas outras coisas indispensáveis para nossa sobrevivência. Reciclar é tão útil que há até uma “Granada Reciclante” que suga tudo o que estiver ao redor (você, inclusive, então tome distância!) e transforma instantaneamente em matéria-prima utilizável!

Confira abaixo a utilização do “Reciclador” — que transforma tranqueiras em matéria-prima — e do “Construtor“, que é praticamente uma impressora 3D que aproveita estes materiais para criar itens:

Conforme explora a Talos I, você vai encontrando projetos que lhe permitem criar novos itens no Criador. Uma das coisas que você aprende a criar nestas máquinas — e, claro, eles também podem ser encontrados “prontos” por vários cantos da nave — são os Neuromods: estas “injeções” são usadas para fazer upgrades no personagem, melhorando seus atributos (aumentar sua barra de vida ou sua stamina) ou ensinando-lhe novas habilidades (hackear portas, por exemplo).

Depois que você descola um item específico — o psicoscópio — você pode até injetar Neuromods com DNA alienígena em seu personagem, o que lhe concede “super poderes” (como onda de choque, metamorfose e invisibilidade, por exemplo). Porém, ao fazer isso você estará abrindo mão da sua humanidade, de modo que as turrets e sistemas de segurança da nave poderão achar que você é um inimigo!

Jogue no seu tempo

Antes de prosseguir com o review, gostaria de abrir um parêntese aqui para dizer algo importante: jogue Prey no seu ritmo, explorando com calma e lendo tudo o que encontrar. Como eu já disse lá em cima, você aprende muita coisa lendo emails de outras pessoas, e há uma tonelada de sidequests — algumas com ótimas recompensas — que podem acabar passando batidas se você simplesmente “passar correndo” pelo jogo.

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Ler emails é uma das coias que você mais vai fazer em Prey.

Você deve ter visto por aí a notícia de um cara que terminou o jogo em 20 minutos poucos dias após o seu lançamento, né? Pois então, isso é perfeitamente possível, e essa é a beleza de Prey: ele te deixa livre para experimentar desde o início, e raramente vai te punir por fazer algo “que não deveria”. Prey pode ser terminado tanto em 20 minutos quanto em mais de 40 horas. Há vários finais diferentes, que mudam conforme as coisas que você faz… e “quão longe” você vai no jogo também afeta o desfecho.

Como eu também já disse lá em cima, Prey é um jogo de ritmo lento, em que passamos mais tempo explorando e abrindo gavetas do que atirando em aliens malvados. A Talos I é imensa, e está recheada de pequenas histórias, fragmentos das vidas de pessoas que viveram e morreram ali. Ela está deserta agora, mas já foi cheia de vida, e você vai descobrir segredos, fofocas e conspirações enquanto explora.

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“A lendária sarrada no ar”. XD

Tudo isso me deixa com a impressão de que a própria Talos I é a verdadeira estrela deste jogo. O pessoal do Arkane Studios incutiu vida e personalidade em cada cantinho desta enorme estação espacial, e boa parte da graça de nossa jornada por ela está justamente em descobrir os seus segredos. Então jogue no seu tempo, mas lembre de cumprir missões secundárias e explorar muito se quiser absorver tudo o que a Talos I tem para oferecer.

Audiovisual

Rodando na sempre impressionante CryEngine, Prey possui um visual incrível: por ter sido construída na década de 60, a Talos I possui um visual retrô estiloso, que lembra bastante a saudosa Rapture de Bioshock. O mix de tecnologias futuristas com ambientação vintage cria ambientes muito interessantes, e o caprichado level design nos permite explorar tudo do jeito que quisermos. Pessoalmente, achei o visual dos Typhon um tanto genérico e sem graça, mas os personagens humanos seguem a cartilha de Dishonored, com traços quase caricatos que lhes concedem muita personalidade.

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Este é o seu irmão. CEO da TranStar e um dos responsáveis por toda a treta em que nos envolvemos.

A trilha sonora mantém a mesa vibe retrô-futurista, e casa perfeitamente com a ambientação. O game chega ao nosso país totalmente localizado, com dublagens, menus e legendas em nosso idioma — até os emails e documentos que lemos estão em português brasileiro. A Bethesda demorou, mas parece que enfim colocou oficialmente o Brasil no mapa de seus lançamentos!

Infelizmente, o jogo sofre de alguns bugs que — supostamente — atingem todas as plataformas. Há problemas de framerate (em uma parte específica isso quase “quebra” o jogo), e loadings relativamente longos sempre que saímos de uma área da Talos I para entrar em outra. Há relatos de gente tendo seus saves corrompidos (não aconteceu comigo), e espero que os produtores deem uma atenção especial a estes problemas, pois eles realmente tiram um pouco do brilho do game.

Conclusão

Prey está sendo um jogo bem polarizante: alguns reviews deram notas super baixas, enquanto outros rasgam elogios para o game. Acho que estas opiniões tão divergentes devem-se ao fato de que este realmente não é um jogo para todos, e quem espera um shooter espacial cheio de tiroteios e explosões sem dúvida pode acabar se decepcionando ao passar mais horas lendo emails e coletando “lixo” para ser reciclado do que metralhando aliens.

Análise Arkade: Prey não é só mais um FPS espacial (e isso é bom)

Dito isso, afirmo que Prey é um dos jogos mais envolventes e imersivos que joguei nos últimos tempos. É nítido o carinho e cuidado com que cada cantinho da Talos I foi planejado, e o seu nível de aproveitamento do jogo está diretamente ligado ao quanto você está disposto a explorar da imensa estação espacial. Prey é um jogo lento, que pode acabar se tornando chato caso você não esteja “no clima”.

Eu gostei da minha jornada por Talos I, mas mesmo tendo gostado da experiência no geral, achei que em muitos casos o ritmo do jogo é arrastado demais, e não ligaria se ela tivesse sido mais curta. Prey cria rotinas demais, e rotina é algo que inevitavelmente se torna entediante. Talvez em uma próxima jogada eu explore menos, e isso sem dúvida vai gerar uma experiência mais ágil, embora menos imersiva e interessante. Mas isso vai demorar um pouco para acontecer: depois de quase 40 horas explorando Talos I, eu saio satisfeito com a experiência mas também um pouco cansado.

Prey foi lançado pela Bethesda em 5 de maio, e tem versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. Este review foi feito com base na versão PS4 do game, com um código que nos foi cedido pela assessoria.

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