Análise Arkade: Tacoma, o drama espacial dos produtores de Gone Home

3 de agosto de 2017

Análise Arkade: Tacoma, o drama espacial dos produtores de Gone Home

Quem curte os chamados “walking simulators” certamente conhece Gone Home, um dos mais célebres representantes do gênero. Tacoma é o novo jogo desses caras, e sua cadência pacífica esconde uma trama surpreendente e muito bem escrita!

Seja bem-vindo à Tacoma

Tacoma é o nome da estação espacial onde se passa o game. Ela estará mais ou menos vazia no momento em que passarmos por ela, vasculhando seus vários ambientes em busca de fragmentos de informações e pistas do que aconteceu por ali.

Como assim “mais ou menos vazia”? Simples: nossa protagonista, Amy Ferrier, é uma especialista em Realidade Aumentada, o que a torna capaz de interagir com cópias holográficas de todos os 6 tripulantes que viviam na base anteriormente.

Análise Arkade: Tacoma, o drama espacial dos produtores de Gone Home

Só o que que sabemos inicialmente é que algo deu errado ali, e nossa missão é justamente acompanhar um pouco da vida dos tripulantes da Tacoma para tentar entender um pouco do que aconteceu a eles em suas últimas horas na base.

A evolução dos audiologs

Não é de hoje que os videogames utilizam os chamados “audiologs” para nos permitir conhecer melhor alguns personagens e descobrir mais detalhes sobre o universo em que se passa um jogo. Em Tacoma temos uma evolução deste conceito: cada tripulante é representado por um corpo virtual projetado em realidade aumentada que se move e fala exatamente como seu “dono”.

Análise Arkade: Tacoma, o drama espacial dos produtores de Gone Home

Assim, não estamos apenas ouvindo suas vozes, mas acompanhando suas ações, reações e interações a bordo da nave. Também podemos vasculhar seus armários, mexer em seus pertences e até mesmo acessar painéis virtuais que revelam seus emails, conversas por mensagens de texto, ligações e outros recursos. Você não será necessariamente recompensado por explorar mais, mas sem dúvida aprenderá mais sobre cada um dos indivíduos que ali viviam.

Como estamos basicamente assistindo à gravações de coisas que já aconteceram, o jogo nos oferece comandos como rewind ou fast forward, para que possamos ter total controle sobre a “cena” e rever o que julgarmos ser mais importante. Em muitos casos, há personagens conversando e interagindo em lugares diferentes simultaneamente, de modo que devemos revisitar tudo sem pressa, de vários ângulos, se quisermos montar o grande quebra-cabeça que é a história do jogo.

Confira 15 minutos de gamepay com uma dessas “cenas” completa abaixo:

As “cenas” que acompanhamos não estão necessariamente em ordem cronológica, mas há um mostrador que indica de quanto tempo atrás é a gravação, de modo que é fácil traçar uma timeline simplesmente analisando as situações e o “estado de espírito” de cada tripulante. Ajuda nesta tarefa o pequeno ODIN, a inteligência artificial que comanda a base, e estará o tempo todo conversando com o jogador e analisando os fatos da forma peculiar e desprovida de sentimentos de que só uma IA é capaz.

Um jogo sobre relações humanas

Embora se passe em 2088 em uma estação espacial, Tacoma é, essencialmente, uma experiência narrativa sobre pessoas e seus relacionamentos. O pouco que acompanhamos da rotina dos tripulantes nos dá um panorama geral em relação ao quão difícil deve ser a vida em uma estação espacial, onde eles vivem isolados do mundo e precisam aprender a lidar uns com os outros.

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Apesar de sua curta duração — é possível ir do início ao fim de Tacoma em cerca de 3 horas –, seu excelente roteiro é muito bem escrito, e aproveita ao máximo o tempo do game para deixar o jogador imerso nas pequenas coisas que compõem o universo dos tripulantes. Há reações e sentimentos muito humanos ali, e isso fica claro mesmo com as representações holográficas sem rosto que acompanhamos.

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Apesar de interagirmos basicamente com “fantasmas digitais”, este é aquele tipo de jogo onde podemos sentir que realmente “conhecemos” os personagens — um mérito que muitos jogos quer oferecem dezenas de horas de gameplay não alcançam. Tacoma é uma experiência enxuta, breve, mas isso não é um ponto negativo, muito pelo contrário: acho que sua curta duração só acentua a magnitude das emoções que rolam por ali.

Audiovisual

Ao contrário de outros jogos ambientados em estações espaciais abandonadas, Tacoma nunca tenta ser opressivo. Por mais deserta que seja, a estação geralmente é clara e bem iluminada, e há escotilhas que nos permitem ver a Terra ou o brilho do sol. É uma perspectiva um pouco mais simpática e otimista que por si só dá um clima totalmente diferente a um game que, de outro modo, poderia ser bem sinistro.

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A já mencionada afeição que construímos com os personagens deve-se em grande parte ao talento dos dubladores, que dão um show ao conceberem vida e personalidade aos hologramas. E o melhor é que o game chega ao Brasil 100% legendado (e muito bem localizado) em nosso idioma, o que facilita muito a vida de quem não manja muito inglês. Aliás, só para constar, a forma como os textos em português “pulam” dos objetos é super condizente com o estilão futurista baseado em realidade aumentada do game!

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A trilha sonora também se destaca por ser quase incidental — ouvimos o que os tripulantes estavam ouvindo naquelas situações. Por mais que sejam fragmentos de músicas, cada detalhe contribui para criar a sensação de que Tacoma não é apenas uma base espacial, ela foi o lar daquelas pessoas. O jogo oferece um mix audiovisual incrível, que caminha ao lado das interpretações para envolver o jogador naquele mundo.

Conclusão

Tacoma é um jogo diferente. Familiar para quem jogou Gone Home ou outros “walking simulators”, mas com uma abordagem diferenciada. Acho que seu storytelling lembra um pouco o de Everybody’s Gone to the Rapture, com a vantagem que aqui a experiência é muito mais direta e linear, o que a deixa bem menos entediante.

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É angustiante acompanharmos o drama da tripulação quando as coisas vão dando errado sem podermos fazer nada para interferir ou ajudar — afinal, tudo aquilo já aconteceu. Porém, vermos como cada um lida com suas crises e encara as situações é muito interessante, e, principalmente, muito humano.

Sei que Tacoma é um jogo de nicho, afinal, nem todo mundo gosta de “walking simulators” — eu mesmo não sou lá um grande fã do gênero. Mas acho que aqui o nicho pode ser expandido para “pessoas que gostam de boas histórias”. E quem não gosta de uma boa história, não é mesmo? :)

Tacoma foi lançado esta semana para PC e Xbox One.

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