Análise Arkade: O início promissor da última jornada de Clementine – The Walking Dead (Season 4 Ep. 1) “Chega de Fugir”

18 de agosto de 2018

Análise Arkade: O início promissor da última jornada de Clementine - The Walking Dead (Season 4 Ep. 1) “Chega de Fugir”

A primeira temporada de The Walking Dead, da Telltale Games, foi aclamada por críticos e público. A sequência, quando Clementine tem que se virar sozinha, mantém um bom nível em termos de história, mas não conseguiu atingir o status de obra-prima que a jornada de Lee proporcionou. E depois presenciamos a trajetória de Javier na qual Clem foi uma mera coadjuvante, infelizmente.

Em The Walking Dead: The Final Season (4ª temporada) a jornada de Clementine terá um fim e a missão da Telltale é trazer de volta tudo que consagrou a franquia outrora. No capítulo um, intitulado “Chega de Fugir” (o primeiro de quatro episódios), a impressão que fica é positiva, apesar do pouco impacto causado pelas reviravoltas que a narrativa apresenta.

Tudo era muito surpreendente no início dessa franquia, mas quando o impacto se torna formulaico o peso se perde um pouco. Por ser um jogo totalmente narrativo vou evitar de falar sobre os acontecimentos em si e o foco será na experiência que tais fatos proporcionaram.

Resquícios de uma obra-prima

O início do jogo recapitula alguns eventos da primeira temporada, quando Lee era a figura principal e Clem apenas uma menina inocente em um mundo recém corrompido. Essas cenas, que recriam algumas decisões tomadas nos outros jogos, são apresentadas como se fossem páginas de um quadrinho, em artes muito estilizadas e interessantes.

Análise Arkade: O início promissor da última jornada de Clementine - The Walking Dead (Season 4 Ep. 1) “Chega de Fugir”

Salvar Doug ou Carley? Uma das decisões que tomamos na primeira temporada

O jogo já começa com um salto temporal em relação à temporada passada, pois naquele momento Clem ainda estava em busca de AJ e quando a The Final Season começa eles já estão juntos e o garoto está mais crescido. Tal qual especulamos, em nossa retrospectiva, é fácil perceber que a Telltale busca criar um espelho narrativo no qual Clem agora faz um papel semelhante ao de Lee e AJ agora é o pupilo, tal qual era Clem na primeira temporada.

A principal diferença é que todos os fatos envolvendo Lee foram abruptos e ele teve que transmitir conhecimentos para Clem na medida em que eles eram apresentados à novas situações. Como Clem cresceu nesse mundo apocalíptico, ela já está calejada, e transmite os mesmos conhecimentos para AJ de forma mais natural e consciente.

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As principais informações contidas no cenário do jogo estão em português

Mas além de Clem passar para frente os conhecimentos empíricos que são necessários para manter o garoto vivo, ela também tenta transmitir conceitos básicos como por exemplo moralidade, algo que sempre é bem adaptativo em situações extremas. Quando acontece alguma coisa ruim e AJ solta um palavrão, por exemplo, Clem o repreende prontamente, indicando que apesar do mundo ter acabado, ela ainda espera um certo padrão de comportamento de seu pupilo.

Outro fato destacado nesse episódio é que AJ nunca conheceu o mundo como era antes, logo, não conhece coisas básicas que seriam normais para qualquer criança. Um balanço feito de pneu, que é um brinquedo relativamente comum, causa estranheza ao garoto, que nunca soube o que é ter uma infância comum.

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O boné de Clem, um dos itens mais icônicos da franquia The Walking Dead

Como foi forjado nessa realidade, AJ sempre está atento, analisando as possibilidades e pensando em rotas de fuga, o que fazer se um zumbi os atacar, etc. Tanto que em um momento do capítulo quando ambos têm possibilidade de descansarem em camas ele reluta, pois seria mais seguro dormir debaixo delas, considerando tudo que poderia dar errado naquela hora.

É estranho e de certa forma bonito ver que o garoto é fruto de outra realidade e todas as suas ações no jogo corroboram isso de forma convincente. Faz sentido ele ver um piano e não saber o que é aquilo. Faz sentido ele tomar uma sopa quente e deliciosa sem etiqueta nenhuma, deglutindo como um animal selvagem, afinal, a comida é artigo de luxo no fim do mundo.

Nessa parte de posicionamento de personagens tudo está muito bem alocado: Clementine continua sendo incrível e AJ provou-se um companheiro interessante e psicologicamente questionável, o que é melhor ainda para a narrativa.

Otimizações seguras

Não é novidade que The Walking Dead já deixou de ser um game de puzzle, point and click e adventure há muito tempo. Claro que ainda existem elementos que remetem a esses gêneros, mas convenhamos, é praticamente uma visual novel com pouquíssimas interações que de fato impactam em termos de jogabilidade. Quando um zumbi aparece apertamos os botões direcionais para desviar, outro para atacar, enfim, é um controle simples baseado em QTEs.

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Ao entrar em um novo cenário a missão principal é destacada

A versão cedida pela Telltale para essa análise foi do PC/Steam, então os comandos são característicos: Q e E são as ações, AWSD as direções, Shift para correr e o mouse para mover o personagem 360 graus. Tirando isso há algumas interações com o cenário que ajudam a matar os zumbis, por exemplo: há armadilhas nas árvores e quando um inimigo se aproxima podemos cortar uma corda para uma rocha o esmagar.

O ato de jogar continua igual a seus antecessores, então quem já jogou qualquer uma das três temporadas anteriores (ou qualquer outro título recente da Telltale) não vai ter nenhuma surpresa, negativa ou positiva.

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Há um certo nível (básico) de personalização de ‘nosso quarto’

Uma questão positiva é que graficamente o game está muito mais bonito. As atualizações do bom e velho motor gráfico da série fazem um bom trabalho, pois agora os cenários, a iluminação e até os personagens estão muito mais bonitos e detalhados. A direção de arte está tão interessante que neste primeiro episódio eu muitas vezes me peguei apenas parado, admirando os cenários.

O que o jogador tem que fazer em cada cenário também está mais evidente porque todos os menus e indicações foram refeitos e agora nos dão até um senso maior de progresso. O jogo está legendado e dublado em português do Brasil, então a barreira da língua não é mais um problema para quem não entende inglês, o que é extremamente positivo e inclusivo. E apesar da dublagem estar competente e não comprometer em português, as atuações originais, especialmente a de Melissa Hutchison (Clem), são muito superiores.

Conclusão

The Walking Dead: The Final Season começa bem, apesar da história contada ser tradicional e inevitavelmente seguir caminhos óbvios, mas esse é um problema de todos os produtos da franquia, que há tempos não conseguem mais surpreender o público. Clem e AJ estão na estrada lutando por sua sobrevivência, encontram um local aparentemente seguro, há um conflito, um desfecho e lá estão eles de volta na estrada.

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É o começo do fim

Não é necessariamente isso que acontece, mas há um claro vício, um loop na estrutura dos produtos de The Walking Dead. Tirando isso, Clementine e AJ estão ótimos, os novos personagens não comprometem, o texto é ótimo, assim como o gráfico, enfim, é uma sucessão de acertos que tornam “Chega de Fugir” um início promissor para a última jornada de Clementine.

A roda não é reinventada, mas a sensação que fica é de estarmos jogando algo no nível da temporada 2: não tão brilhante como a primeira, mas muito melhor que a terceira.

The Walking Dead: The Final Season foi lançado em 14 de agosto (episódio 1) e está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Assim que os próximos capítulos sejam disponibilizados voltaremos com mais textos sobre eles.

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