Análise Arkade: O tiroteio descompromissado de Bleed 2

19 de fevereiro de 2018

Análise Arkade: O tiroteio descompromissado de Bleed 2

Não faz muito tempo que falamos um pouco sobre Bleed aqui no Arkade e, naquele momento declaramos que o jogo é uma grande ode nostálgica a shotters 2D com progressão lateral no melhor estilo Contra e Metal Slug. Bleed 2 chega então com uma missão complicada: não só honrar suas inspirações, como também o seu ótimo predecessor.

A boa notícia é que essa continuação sabe bem onde investir suas fichas, apostando nos pontos fortes do game anterior e melhorando alguns pequenos detalhes de jogabilidade. A questão que fica é se o jogo consegue uma identidade própria ou fica só à sombra do original. Vejamos.

Análise Arkade: O tiroteio descompromissado de Bleed 2

A jornada continua

Wryn é agora e maior heroína da Terra, status conquistado depois das aventuras vistas no primeiro Bleed. Mas para manter esse título, terá que enfrentar agora Valentine, que tem pretensões não muito menores: ser a maior vilã do mundo e, para isso… bem, já sabem, não é mesmo? Não tem espaço para ambas num planeta só.

É aquele momento na vida de cada herói de reafirmação, de consolidação de suas conquistas. Mais difícil do que chegar ao topo é se manter lá, e a nossa protagonista descobrirá isso rapidamente. Aliás, esse “rapidamente” também pode definir o quanto essa segunda jornada demora, já que o jogo é bastante curto. Curto até demais.

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A campanha, na dificuldade Normal deve durar em torno de 50 minutos a uma hora e meia, dependendo se o jogador já acumula a experiência do game anterior. É um tempo ínfimo que pode até parecer mais com o de uma expansão do que um jogo novo, o que pode ser um pouco frustrante para quem esperava essa continuação.

Já nas dificuldades mais altas, o jogo pode ser bastante punitivo e levar bem mais tempo. Sobretudo os chefes de fase podem ser por demais irritantes e bem difíceis de se derrotar, principalmente porque dão muito dano em ataques bem simples. Para os caçadores de troféus, preparem-se: há muito o que se treinar para algumas das conquistas mais encardidas.

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Jogo novo, sistema nem tanto…

Outra questão que colabora para essa sensação de falta de conteúdo é que o game apresenta pouca coisa nova de fato. Se a história não é lá das mais intrincadas (como não deveria ser mesmo), o sistema de combate continua ótimo, com dinamismo, simplicidade e identidade, mas não adiciona muita coisa ao que já havia antes.

A grande mudança fica por conta do aprimoramento do sistema de combate próximo e a distância. Se antes era necessário intercalar entre pistolas e katana para usar ambas, agora o jogo permite, por padrão, ter as duas ao mesmo tempo em mãos, facilitando e dando mais velocidade ao tiroteio desenfreado.

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Contudo, o jogo perde um pouco com a falta do sistema de progressão que funcionava bem no anterior. Havia chance de melhorar a personagem, elevar seus níveis de vida e concentração, desbloquear novas armas… tudo fazia sentido e exigia até que se jogasse mais vezes as mesmas fases para chegar ao final no nível máximo. Isso não tem mais.

Fora isso, o jogo parece exatamente o mesmo. Um twin-stick shooter, com poucos elementos de plataforma e a necessidade do domínio do salto duplo e do dash aéreo, que serão fundamentais para fugas e combates em velocidade. Outras armas estão lá, mas agora muito menos necessárias do que antes.

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O slow motion ajuda bastante nos momentos de maior aperto, os inimigos continuam seguindo padrões típicos da era dos 16 bits e os chefes e sub-chefes continuam desafiadores, ainda que muitos sejam similares aos já enfrentados – e alguns são exatamente os mesmos.

Com tudo isso junto, Bleed 2 se encaixaria muito mais no perfil de uma DLC de história que se aproveita do sistema já consolidado para oferecer um algo a mais. Mas enquanto algo novo, é válido somente pelo alto fator de replay, já que oferece modos para continuar jogando mesmo depois de zerar pela primeira vez.

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O modo Desafio permite que o jogador customize um combate combinando diferentes chefes presentes no jogo ao mesmo tempo, enquanto o modo Infinito cria fases proceduralmente para o jogador seguir adiante com uma única vida. Já o Arcade é o típico e clássico “morreu, perdeu”.

Há até um modo cheat, daqueles tradicionais, que permite deixar o jogo mais fácil (vida infinita, por exemplo) ou mais difícil (com chefes ainda mais cascudos). Divertido e ainda mais descompromissado, esse recurso é um meio de deixar o jogo com a cara do jogador.

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O visual continua incrível

Uma coisa que não pode ser ignorada é a forma como o jogo consegue manter um alto padrão audiovisual dentro de sua característica principal. A cenografia é particularmente bem resolvida e funciona muito bem com o desenho dos níveis. Os inimigos mais comuns não são lá tão vistosos assim, mas cumprem bem o seu papel.

A fluidez da jogabilidade conta bastante com essa capacidade do game em conseguir trabalhar com a composição dos elementos em tela e fracassa somente quando permite que um dos jogadores – quando em multiplayer — fique fora do enquadramento.

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Já em termos sonoros, a trilha musical é empolgante e até sofisticada dentro dos parâmetros do gênero, sendo fundamental para estabelecer um clima de aventura e até para compor os ambientes. Os efeitos e ruídos são competentes e a ambiência funciona, dando profundidade à ação.

De modo geral, o jogo continua lindo e um dos melhores expoentes atuais da estética pixel art estilizada para os tempos atuais. Tem uma trilha empolgante e um level design competente, ainda que não tão brilhante como o anterior. Artisticamente, muito agradável e bem resolvido.

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Conclusão

Bleed 2 é uma espécie de paradoxo: é ótimo porque aposta no funcionou no jogo anterior, e é um tanto quanto frustrante pelos mesmos motivos. Não que seja ruim, nada disso. É daqueles que você só para de jogar quando termina (e olhe lá). Mas tem aquela sensação de “estou jogando algo novo ou o mesmo jogo?”

Com um sistema consistente de tiro, fluidez visual e de movimentos, momentos desfiadores e um humor muito inocente, o jogo consegue ser divertido e cativante, mas poderia ser mais ousado em trazer coisas realmente novas, seja no sistema de combate, seja na narrativa, seja na parte estética. Afinal, até mesmo a Wryn concordaria que ninguém se mantém no topo repetindo o que já fez antes.

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Bleed 2 já estava disponível para PCs e chega ao Playstation 4 e ao Xbox One “mais ou menos” localizado para o português e permite o jogo multiplayer local.

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