Análise Arkade: Trials Rising é diversão pura sobre duas rodas

8 de março de 2019

Análise Arkade: Trials Rising é diversão pura sobre duas rodas

“Jogos de motinha” são, digamos, o patinho feio dos games que usam veículos como mote principal. Na história dos videogames, se costuma elevar a categoria de corrida a um patamar especial. Quase que um gênero todo próprio. Mas ainda assim, nenhum título baseado em motocicletas e afins tem o mesmo status de um Top Gear ou um Forza.

Há games como a série Ride, ou a Moto GP. Além de iniciativas que tentam relembrar os tempos de Road Rash, como Road Redemption. Mas a série Trials é provavelmente a única franquia atualmente relevante para um público mainstream. Não que seja especificamente um game de corrida tradicional, ou “só” um jogo de corrida. Felizmente, é bem mais do que isso.

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Aliás, a competição de velocidade é só uma parte — talvez minoritária — do conjunto, mas ainda assim, quando perguntam sobre um jogo de moto bacana, certamente Trials é uma das poucas opções que vem a mente. E o novo game da franquia, Trials Rising, tem a missão de manter o ainda recente legado da marca. E se é essa a meta, missão cumprida.

Volta ao mundo sobre duas rodas

O plano de fundo de Trial Rising não chega a se configurar como uma narrativa propriamente dita. Mas consegue criar uma ambientação capaz de, ao menos, amarrar os diferentes desafios que o jogador encontrará ao longo da campanha central do game.

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Basicamente, o personagem customizado pelo jogador deve encarar missões ao redor do mundo para definitivamente se provar o melhor piloto de todos. E para isso, deverá cumprir tarefas que variam entre vencer uma disputa direta com um ou mais adversários. Até mostrar que consegue fazer mais manobras radicais em menos tempo.

Assim, a cada região desbloqueada, são novos contratos que se abrem, partindo de patrocinadores, torneios ou mesmo da universidade Trials. Não há muito segredo aqui: cumpra as metas, alcance as melhores marcas, consiga novos contratos, abra mais missões, e assim por diante.

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Assim, se em uma corrida você está no meio de um set de cinema em Hollywood, no outro está um festival de tomates na Europa ou em um canion oriental no meio do nada. E aqui, um dos grandes méritos do game que mantém algo já presente nos anteriores: a variedade de cenários, ambientes e obstáculos traz diversidade ao game.

Portanto, mesmo que a base seja precisamente a mesma — acelere, equilibre o personagem, evite a queda, etc. as maluquices possíveis e desejáveis em cada novo trecho não deixa que o jogo caia no perigoso “mais do mesmo”. Andar de balão, provocar uma explosão ou se equilibrar em moinhos de vento são só uma amostra das possibilidades.

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Assim, há muito o que se explorar em Trials Rising. Certamente, repetir a mesma pista várias e várias vezes — e, acredite, você o fará — se torna muito mais interessante quando o game oferece atrativos para manter a atenção. Assim como a imersão e os olhos atentos a cada detalhe na tela.

Saltando, correndo e… caindo muito

Sim, se você já jogou algum game da série Trials sabe que está longe de ser um passeio tranquilo no parque com uma mobilete. A física do jogo é seu principal diferencial, e Trials Rising privilegia essa característica ainda mais do que fora visto nos anteriores.

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Isso significa que qualquer posição de corpo desleixada, mesmo em trechos de relativa facilidade, podem significar uma queda ridícula. E, na maioria das vezes, isso faz a diferença entre uma volta perfeita e um fracasso patético.

A universidade Trials ajuda com os conceitos — tal como um tutorial deve mesmo fazer — mas só a prática pode levar à competência. Conhecer as pistas é essencial para já saber como posicionar o direcional. E também ao quanto acelerar, onde arriscar um salto mortal e onde é importante só ficar com as duas rodas no chão.

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O jogo toma cuidado em elevar a dificuldade com bastante tranquilidade, até porque nunca chega a ser fácil de verdade. Necessariamente, os primeiros desafios serão nas dificuldades iniciante e fácil. E, mesmo assim, alguns serão de arrancar os cabelos. Principalmente se o jogador decidir buscar melhores números que os mínimos para avançar.

E é nesse aspecto que Trials Rising brilha de verdade. A dificuldade elevada alinhada com a possibilidade da tentativa imediata da melhoria é extremamente viciante. Até o próprio game tira um sarro com isso. Em uma certa tela de carregamento, há uma frase assim:

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É exatamente assim. Você faz um salto cambalhota com 3 giros perfeitos no último salto da pista mais difícil. E, por um detalhe, se esborracha no chão. A primeira reação é pensar “odeio esse jogo com todas as minhas forças”. E a segunda é apertar o botão de reiniciar a pista com ainda mais “sangue no zóio”.

E aí só vencer não é suficiente. Há uma meta para a medalha de ouro, há uma fração de segundos que você sabe onde buscar. Há uma intensidade no game que não deixa com que nos contentemos com o mediano. Melhor do que ser muito bom é ser perfeito!

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Competindo com você mesmo e com o mundo

Confesso que sempre fui um pouco cético sobre a propriedade de alguns jogos de manter a experiência o tempo todo conectada. Talvez seja porque, na prática, fazia pouca diferença se a ideia é jogar sozinho (e sim, Destiny, estou falando de você). Ou porque mais atrapalha do que qualquer coisa, como em Need For Speed Rivals.

Contudo, Trials Rising soube fazer isso funcionar de uma forma interessante, trazendo um formato assíncrono de competição. Deste modo, por meio de sombras – aquelas mesmas presentes em outros jogos como parâmetro de recordes – há sempre um efeito on-line que aumenta o desafio e permite a aprendizagem pelo exemplo.

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Sim, o multiplayer mais tradicional está lá, bem como os rankings quase que obrigatórios nesse tipo de game. Mas mesmo que o jogador não queira se aventurar contra outras pessoas, a conexão contínua se justifica e faz da experiência algo mais rico e vivo.

Não é de todo perfeito, uma vez que há loadings mais demorados do que deveriam. Causados pela necessidade de conexão com servidores a cada nova mudança de pista. Mas compreendendo que o serviço mostra potencial e agrega valor a experiência sem a necessidade de achar gente disponível. Assim, o saldo é positivo.

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Cores, mundos, e motos

Trials Rising é, de longe, o game mais bonito da franquia. Em termos audiovisuais, há um trabalho muito significativo na construção de diversos níveis de detalhes tanto nas pistas como nos cenários. Tudo é vivo e intenso.

Efeitos de luz e sombra estão interessantes, ainda que não sejam dos mais complexos. Uma vez que a posição da câmera estabelece predefinições mais padronizadas. O game ganha mesmo quando permite que o jogador, por milésimos de segundos antes do próximo salto, possa olhar para a ambientação.

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Sim, há movimento, há torcedores, há partículas, e há momentos de contra-luz dignos de cinema. Porém, efeitos de fogo e até mesmo as animações de humanos não são dos mais sofisticados. Por vezes, há bizarrices em quedas ou em movimentos mais sutis, mas nada que importe tanto, mesmo rendendo boas risadas.

O game, felizmente, deixa de lado algumas escolhas mais controversas de seus antecessores, como Trials Fusion, e aposta no motocross mais raiz, com poeira, pistas improvisadas, e muitas rampas de madeira. O mesmo acontece com a trilha musical que funciona bem e cumpre seu papel.

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O sistema de customização também ganha destaque. Claro, há as famigeradas loot boxes, a forma mais rápida (e também mais frustrante) de se conseguir peças de moto e de roupa para deixar o conjunto único. Mas mesmo com as migalhas que vão surgindo, dá pra brincar bastante e dar mais personalidade ao seu corredor.

Como um todo, Trials Rising abusa do deslumbramento em seus cenários e em cada por-do-sol. Há criatividade, há uma certa ousadia no uso de cores sem qualquer receio. E há méritos em tornar tudo isso algo muito mais bonito do que é visto na franquia e mesmo em competições reais do gênero. Um acerto e tanto.

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Conclusão

O saldo final de Trials Rising é, antes de mais nada, muito positivo. O jogo é divertido, tem mecânicas muito gostosas de se aprender. E força que o jogador melhore a cada nova pista, a cada novo salto. E é um jogo de belos gráficos que entendeu onde buscar inspirações, e onde ousar de vez em quando.

Não é um game simples, contudo. Por mais que se possa entender do que se trata e poucos segundos, é um jogo com muita dificuldade. Graças a uma física que flerta com o ultra-realista e com o total absurdo ao mesmo tempo, o tempo todo. E sabe como fazer o jogador se divertir e querer jogar o controle na TV como poucos.

Análise Arkade: Trials Rising é diversão pura sobre duas rodas

Mais importante do que tudo isso é que, no final, para o bem e para o mal, Trials Rising não é só mais um “jogo de motinha”. É, atualmente, O jogo de motinha. E isso é ótimo.

O game está disponível para Playstation 4, XBox One e PC. Com textos totalmente localizados para o nosso bom e velho PT/BR.

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