Análise Arkade: Werewolf: The Apocalypse – Earthblood mistura stealth com hack ‘n slash

4 de fevereiro de 2021
Análise Arkade: Werewolf: The Apocalypse - Earthblood mistura stealth com hack 'n slash

Prepare-se para entrar na pele de um “lobisomem do bem”, que luta contra uma corporação malvada que está acabando com o planeta. Já jogamos Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, e você confere agora nossas impressões sobre o game!

Lobisomens salvando o planeta

Para começar, vou te contar algo que talvez soe um pouco absurdo, mas é fato: a trama de Werewolf: The Apocalypse – Earthblood tem bastante em comum com a de um tal de Final Fantasy VII. Quem conhece o RPG de mesa Lobisomem: O Apocalipse sem dúvida já está familiarizado com os principais conceitos do Velho Mundo das Trevas.

O game nos apresenta a um planeta Terra que como na vida real está sendo explorado indiscriminadamente por grandes corporações — a Endron, grande vilã do jogo, é a pior delas. Além de drenar os recursos do planeta, a Endron realiza experiências sinistras com cobaias humanas, e o “protocolo Earthblood” citado no título do game faz alusão a isso.

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De olho no inimigo

Nossos protagonista é um típico “careca barbudo musculoso” chamado Cahal. Ele é um Garou (lobisomem) que faz parte de um grupo que protege Gaia (o espírito da Terra) desde tempos imemoriais. Há uma guerra espiritual rolando “nos bastidores”, e aqui tomamos o partido de Gaia, enquanto os inimigos representam a Wyrm, entidade maquiavélica que coloca a vida do planeta em risco. Assim, é nosso trabalhar impedir a Endron (e a Wyrm) a qualquer custo.

Vai dizer que não parece o pano de fundo da Avalanche x Shinra que vimos em Final Fantasy VII? Em ambos os casos, os heróis são “eco-terroristas” que estão dispostos a morrer pela causa… e, no caso de Werewolf, alguns membros da resistência são lobisomens. Nosso protagonista, Cahal tem 3 formas: Homid (humano), Lupus (lobo), e Crinos (lobisomem), sendo este último aquele lobisomem bípede grandalhão e poderoso típico dos filmes. Tem toda uma treta familiar correndo em paralelo à história principal, mas não vou falar muito disso para evitar spoilers.

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Gosto da premissa do jogo e desse lance de “lobisomens do bem” que ela entrega… porém, já adianto que a história em si não é lá essas coisas. Na verdade o problema não está na história, mas nas atuações fracas, nos modelos de personagens robóticos, nas expressões faciais meia-boca… Salvo a belíssima CG de abertura, o restante do jogo deixa um bocado a desejar tecnicamente, mas logo a gente fala mais sobre isso.

Stealth & Carnificina

O gameplay de Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, é um tanto quanto formulaico, mas consegue ser divertido apesar disso. Enquanto estamos na forma humana ou na de lobo comum, o jogo é puramente stealth: devemos nos infiltrar em território inimigo (bases militares, refinarias, laboratórios) para cumprir objetivos como hackear sistemas, coletar informações ou sabotar equipamentos.

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Como humano, Cahal possui uma besta, que ele pode usar tanto para eliminar inimigos quanto para destruir câmeras de vigilância. Também é possível acessar computadores para desativar câmeras e liberar caminhos. Ao assumir a forma de lobo, o personagem se move com mais agilidade, passa despercebido com mais facilidade e pode, por exemplo, utilizar dutos de ventilação para acessar novas áreas.

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Para nos guiarmos, podemos usar uma “visão de raio x” chamada Penumbra, que destaca inimigos e pontos de interesse pelo cenário.

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A Penumbra ajuda a visualizar o ambiente

Há muitos soldados e sentinelas patrulhando cada área do jogo, e você pode tentar dar cabo deles no stealth, eliminando sorrateiramente um a um, e sabotando as portas por onde chegarão os reforços, caso você seja visto — os reforços ainda virão, mas chegarão machucados, com bem menos vida.

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Dica: sempre sabote esses terminais para ferrar com os reforços inimigos!

Essa pegada stealth do jogo até funciona, mas é um tanto quanto lenta. Quando estiver de saco cheio de se esconder, você pode simplesmente ser detectado, ou pressionar o botão R1 para se revelar em toda a grandeza letal de sua forma Crinos. Aí o jogo vira um hack ‘n slash frenético — lembra um pouco aquele jogo solo do Wolverine da geração PS3/X360, sabe? –, e você vai pintar o chão (e as paredes) com o sangue dos inimigos ao rasgá-los eles ao meio com seus dentes e garras!

Confira abaixo um pouquinho de gameplay. Eu sigo “na maciota” por um tempo, sabotando portas e atraindo inimigos para um nocaute sutil… mas depois que me descobrem, simplesmente arregaço tudo:

A verdade é que quase sempre é possível agir somente no stealth… mas não é tão legal fazer isso. Só há um ou dois momentos no jogo em que o stealth é obrigatório e ser detectado é “Game Over”; na maior parte do tempo, você pode chutar o balde e partir pra porrada. Convenhamos: em um jogo que nos permite virar lobisomem e partir soldados inimigos ao meio “na unha”, não usar esta habilidade seria, no mínimo, um desperdício, não acha? Minha abordagem sempre foi mais ou menos como no vídeo acima: um pouquinho de stealth para sabotar as defesas, aí partia para o banho de sangue!

Em sua forma animalesca, Cahal possui dois botões de ataque, mas até seu dash pode causar dano nos inimigos. Ele também pode uivar (o que empurra inimigos), curar-se e atirar uma espécie de redemoinho, bem como dar botes, arremessar e finalizar inimigos. Encher um medidor roxo ativa o Frenesi, que aumenta seus combos e deixa todos os seus golpes ainda mais devastadores. Uma árvore de habilidades enxuta, mas variada, concede-nos mais habilidades ao longo da campanha. Os pontos de experiência aqui são “pontos espirituais”, que absorvemos de certas plantas e totens.

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Os inimigos também vão ficando mais casca grossa conforme avançamos: de início temos apenas soldados comuns, mas logo teremos inimigos em mechs de batalha, grandalhões com escudos, drones explosivos e até as cobaias de elite da Endron, que se submeteram a experiências terríveis e já nem podem mais ser considerados humanos. Livre-se primeiro dos inimigos que usam balas de prata em suas armas: como já vimos em grandes obras com lobisomens, a prata é letal para eles!

Cadência & Repetição

Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, carecia de um pouquinho mais de variedade para ser um jogo realmente divertido. Como eu disse lá em cima, tudo aqui é muito formulaico, e o jogo raramente foge da fórmula estabelecida.

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Funciona mais ou menos assim: nosso acampamento fica nos arredores de uma central da Endron. Devemos conversar com nossos aliados, que nos passarão missões para fazer dentro do complexo. Aí a gente vai até lá, encara esse mix de stealth + carnificina que eu mostrei ali em cima por algumas áreas até cumprir o objetivo. Feito isso, a gente volta para o acampamento, recebe uma nova missão, e faz tudo de novo.

Missões secundárias dão um leve respiro ao formato, mas também não são lá muito variadas. Nosso grupo é protegido por um espírito guardião, Yfen, que está enfraquecido pela presença dos emissários da Wyrm. Esse espírito vai nos pedir coisas (tipo “acorde os espíritos da floresta”), que geralmente podem ser feitas nesse grande hub dos arredores do acampamento. Na segunda metade do jogo, viajamos para outra região (um deserto em Nevada), mas a cadência do jogo segue o mesmo esquema.

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Ajudar o Yfen é opcional, mas as missões secundárias dele são bem simples

Há um arroubo de criatividade particularmente interessante ali pela metade da campanha: devemos nos infiltrar em um presídio e conseguir algumas informações por lá. Claro que, para isso, a gente precisa fazer alguns “favores”, e como não podemos virar lobisomem lá dentro, o jogo assume um lado meio Hitman: devemos eliminar alguns alvos de maneira discreta, e fazer parecer que foi um acidente. Não há múltiplas abordagens, nem nada muito profundo: é um trecho curto do jogo, mas um dos mais bacanas, justamente por fugir da fórmula.

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A missão do presídio é a mais diferentona do jogo

Não me entenda mal: Werewolf: The Apocalypse – Earthblood é, no geral, um jogo divertido. O problema é que ele não é muito variado, e o modus operandi que você usa na primeira hora de jogo, ainda vai ser praticamente o mesmo na décima hora (a campanha dura cerca de 12 horas). Vez ou outra pintam uns chefões — confira uma legítima briga de lobisomens abaixo –, mas o grosso da experiência é meio que sempre o mesmo. Falta variedade, criatividade.

Audiovisual

Werewolf: The Apocalypse – Earthblood é o famoso jogo “double A”: uma produção de orçamento mais modesto, feita por um estúdio mediano, que não se enquadra como “jogo indie”, tampouco como “triple A”. Assim, por mais que, em termos de audiovisual, ele seja bem resolvido e tenha uma direção de arte bem competente, é inegável que faltou algum polimento.

O gameplay em si é até bem fluido e responsivo, mas falta um pouco de peso, especialmente quando estamos na forma Crinos: golpear um simples soldado e um mecha enorme não tem muita diferença. Falta “peso” nos golpes. Além disso, o sistema de colisão é bastante falho. É normal vermos o personagem atravessando caixotes, mesas e outros objetos.

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Repare como o lobisomem e o mecha estão “grudados” em uma bagunça de colisões erradas

Como este é um jogo cross-gen, ele infelizmente não usa os recursos do Playstation 5, plataforma em que joguei. Ele roda suave em 60fps e há um ray tracing bastante decente em poças e superfícies reflexivas, mas de resto ele parece mais um jogo da geração passada do que da nova, não usa o feedback háptico do DualSense, nem nada.

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Exemplo de ray tracing bem aplicado no tampo de uma mesa de reuniões

O que mais incomoda, como já disse, são os modelos de personagens que vemos mais de perto durante diálogos e cutscenes. Você vai conversar bastante em Werewolf: The Apocalypse – Earthblood (há até opções de diálogos e perguntas que podemos fazer), mas as expressões faciais robóticas e artificiais quebram o clima das conversas mais tensas. A qualidade das dublagens é inconstante: algumas são ok, outras bem canastronas. O jogo possui legendas em português brasileiro, mas quem entende um pouco de inglês vai perceber que as legendas “sintetizam” muita coisa que é falada: depender unicamente das legendas é quase como receber uma versão “resumida” das conversas.

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Aqui a expressão facial do soldado até que não está das piores…

A trilha sonora é boa, especialmente para quem curte metal: rola uma música instrumental genérica durante o stealth, mas o metal explode pesado e agressivo quando estamos fatiando inimigos ou enfrentando chefes na forma Crinos. A música do menu inicial é particularmente interessante — um metal com letra cantada em um idioma/dialeto de tom tribal que eu realmente não sei qual é.

Conclusão

No geral, eu gostei das horas que passei na companhia de Cahal em Werewolf: The Apocalypse – Earthblood. O jogo não é revolucionário nem inovador, mas entrega uma mistura competente de stealth com hack ‘n slash — gêneros que não são muito comuns de vermos juntos por aí –, embora precisasse de mais polimento, mais capricho, mais refinamento.

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“Tá saindo da jaula o monstro”

A campanha termina com um gancho nada sutil para uma sequência, que eu espero que venha, maior e melhor: com orçamento (e polimento) dignos, o jogo realmente conseguiria atingir seu potencial, e quem sabe até virar uma franquia legal. Porém, até aqui o que os desenvolvedores conseguiram entregar é um “double A” que é apenas bom, pouca coisa melhor do que jogos de ação genéricos como Devil’s Hunt. Ele merecia mais.

Se você estava no hype por Werewolf: The Apocalypse – Earthblood, venha com as suas expectativas bem calibradas e você até vai se divertir, apesar das limitações. Do contrário, talvez saia um pouco decepcionado.

Werewolf: The Apocalypse – Earthblood está sendo lançado hoje, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X|S. Este review foi feito com base na versão PS5 do game, que recebemos antecipadamente da publisher Nacon para fins de análise. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade: Werewolf: The Apocalypse – Earthblood mistura stealth com hack ‘n slash”

  • 6 de fevereiro de 2021 às 23:12 -

    Irrefreável-Amor-de-Gaia (Kaio Pichu)

  • Gostei bastante de sua review, vlws foi informativa, eu como um fã de longa data do RPG Lobisomem o Apocalipse já zerei e me diverti bastante venho aqui somar a sua análise o fato de que o cenário apresentado no jogo tem muito respeito a obra nos livros, os produtores sem duvidas jogaram horas de Lobisomem o Apocalipse, claro que eu como fã achei que a forma como o cenário é apresentado para quem não o conhece pode confundir, pois o jogo entende as vezes parte do principio que você já sabe o que está sendo explicado e caso não saiba, bem se vira pra entender…

    Gaia sempre precisa de mais guerreiros, para os curiosos de plantão recomendo que joguem, vão se divertir, porem eu recomendaria pra vocês pegarem o jogo num desconto, não importa o quanto fã eu seja falar que esse jogo vale preço cheio é sacanagem… só fã de longa data paga o preço cheio nesse jogo.

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