Análise Arkade: I Saw Black Clouds, um filme interativo pautado pelas suas decisões

30 de março de 2021
Análise Arkade: I Saw Black Clouds, um filme interativo pautado pelas suas decisões

I Saw Black Clouds é o mais novo jogo em FMV/filme interativo que está sendo lançado hoje para PC (via Steam) e consoles. Já tivemos a chance de jogá-lo, e agora você confere nossas impressões.

Não é de hoje que eu tenho uma certa fascinação por jogos em FMV. Acho que isso me acompanha desde os tempo do tenebroso (e tosco) Phantasmagoria e seus absurdos 7 CD-ROMs. Analisei diversos “filmes interativos” aqui para a Arkade ao longo dos últimos anos. Alguns muito bons, outros nem tanto.

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Nos últimos anos, a Wales Interactive tem sido uma das mais proeminentes publishers desse tipo de jogo, o que me faz acompanhar de perto cada anúncio dela. O que nos traz para I Saw Black Clouds, mais novo lançamento da empresa, que é descrito como “um drama psicológico interativo com elementos sobrenaturais”.

Uma morte misteriosa

I Sawe Black Clouds traz como protagonista Kristina, uma jovem que decide retornar para sua cidade natal depois que fica sabendo do trágico suicídio de uma antiga amiga, Evelyn.

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Pelo bem da narrativa, as coisas não são tão simples, e a morte de Evelyn parece estar envolvida em uma trama muito mais sombria. Kristina decide investigar, o que pode acabar colocando sua própria vida em perigo.

Filme interativo

Os jogos em FMV evoluíram consideravelmente desde os tempos de Phantasmagoria, e I Saw Black Clouds é um jogo que tira proveito dessa evolução: seu andamento é muito rápido, com decisões que devem ser tomadas em poucos segundos, para manter o suspense em alta e a dinâmica “cinematográfica” dos acontecimentos.

O gameplay, então, é bastante limitado: basicamente assistimos ao “filme” até chegarmos a um momento de conflito, precisamos tomar uma decisão. Boa parte dessas decisões são bifurcações (escolha entre o caminho A ou o caminho B), mas em alguns casos podemos ter 3 ou até 4 opções.

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Cada escolha que fazemos leva Kristina por um caminho diferente, e isso obviamente afeta o andamento da história. I Saw Black Clouds tem 4 finais diferentes, com andamentos construídos por quase 600 cenas que se conectam (ou não). Para fazer um final, eu só vi 250 dessas cenas, ou seja, há um fator replay considerável que estimula o jogador a rejogar e tomar caminhos diferentes.

Um detalhe interessante é que, durante o jogo, temos acesso a um quadro de emoções da protagonista, que ilustra nosso nível de afinidade com alguns personagens e como nossas decisões estão definindo a maneira de pensar (e lidar com o luto) de Kristina, diante de tudo o que ela faz e descobre.

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Os streamers de plantão vão gostar de saber que o jogo chega devidamente “equipado” com um modo Twitch. Nesta modalidade, o jogo congela em cada decisão, para que a audiência tenha tempo de votar e ajudar a escolher qual caminho Kristina deve seguir. Não pude testar essa funcionalidade por questões de embargo, mas não deixa de ser um plus bacana.

Plot twist

Como essa é uma história de suspense com elementos sobrenaturais, a reta final da história se esforça para surpreender o jogador, trazendo o famigerado plot twist, que se tornou meio que obrigatório dentro do nicho “thriller de suspense”.

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Confesso que não gostei muito dessa reviravolta da história, mas talvez a reta final do jogo mude em uma segunda partida, com base em outras decisões. Particularmente, prefiro um roteiro bom e coeso do que um que “force” um plot twist que não melhora realmente a narrativa.

Há uma explicação “coerente” para o ocorrido: como todo o evento foi traumático, Kristina criou certos bloqueios mentais, inventando partes da história que não existiram de verdade.

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O plot twist chega, então, para desembaraçar esses nós, dar um fechamento definitivo para a história. Na minha opinião, não faz lá um bom trabalho nisso, mas sei que isso é questão de gosto.

Atuações, cenários e legendas

Se existem indie games, também existem filmes interativos independentes, e I Saw Black Clouds está nessa categoria. Filmado no Reino Unido, ele é tecnicamente competente, não abusando de “efeitos especiais” por ser uma produção consciente de suas limitações de orçamento. Diferente de Erica, por exemplo, que é um filme interativo de alto orçamento, cheio de efeitos.

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Isso quer dizer que os “elementos sobrenaturais” não são lá muito assustadores. Quando uma mão fantasmagórica aparece, vai ser basicamente um take rápido de uma mão pintada de branco. Vai assustar que for mais medroso, e olha lá. Felizmente, o jogo não força a barra nesse lado sobrenatural: a maior parte da história é puramente suspense investigativo.

O elenco é esforçado e, no geral, entrega boas atuações. A produção foi cuidadosa em escolher cenários obscuros e florestas com um tom meio “mal assombrado” que enriquecem a atmosfera da obra. O local que Kristina usa para praticar jogging, por exemplo, é bem arrepiante por si só — eu jamais correria por ali sozinho! A trilha sonora do game segue a cartilha dos filmes de suspense, e consegue potencializar as emoções.

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Você correria em um lugar desses?

I Saw Black Clouds possui áudio em inglês, mas chega com menus e legendas em português brasileiro. Na maior parte do tempo, o trabalho de localização é decente, mas de vez em quando, dá umas escorregadas bem feias, que podem confundir o jogador, caso ele não faça uma “engenharia reversa” para compreender o que dizia texto original, em inglês.

Por exemplo: em dado momento da campanha, a personagem é amarrada e cabe ao jogador decidir se tenta escapar, ou espera para ver o que acontece. O texto em inglês provavelmente é “try to get free”, e a tradução correta (e coerente) seria “tentar se libertar”. Porém, a tradução PT-BR do jogo traduziu a frase como “tentar conseguir de graça” (?!) Ok, a frase também poderia ser traduzida dessa maneira, mas não faz absolutamente nenhum sentido no contexto da cena.

Conclusão

I Saw Black Clouds é mais um bom jogo da safra recente de “filmes interativos” que a Wales Interactive lança. Ele não é um dos meus favoritos — The Shapeshifting Detective, de 2018, traz uma premissa muito mais criativa –, mas no geral entrega uma boa história de suspense.

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Achei o plot twist da reta final da história um pouco forçado (e desnecessário), mas isso é questão de gosto. Se você também é fã dos bons e velhos jogos em FMV, prepare a pipoca e ajude Kristina a solucionar a enigmática morte de sua amiga.

I Saw Black Clouds está sendo lançado hoje (30/03), com versões para PC, PS4 (versão analisada), Xbox One e Nintendo Switch.

Uma resposta para “Análise Arkade: I Saw Black Clouds, um filme interativo pautado pelas suas decisões”

  • 31 de março de 2021 às 00:27 -

    Helinux

  • ¨…Phantasmagoria e seus absurdos 7 CD-ROMs.¨ Pô…adoro phantasmagoria!!!! Foi o jogo que me fez gostar desse estilo de jogo point click, horror survivor, sobrenatural e tudo em termos de FMV…e para mim é melhor do que Resident Evil e Silent Hill juntos!!!! Cara, nos anos 90 tinha muitos jogos FMV em Pc, Sega Cd e 3DO!!!! Era uma época boa…se não fosse Phantasmagoria eu não me interessaria por Resident Evil e afins!!!! 7 cds porque o game em si era cheio de cutscenes e era a tecnologia disponível na época, tanto que o jogo com suas cenas de sexo não explicito e violência que deixaria muito Mortal kombat no chinelo, foi probido em diversos países!!!! Sangue, agonia e tensão tinha no jogo!!!! Junta Phantasmagoria, Alone in the dark e até o clássico Ripper Game: set of 6 CDs com Christopher Walken…eram e ainda são jogos dukralho!!!! Era a evolução dos jogos, PC e Hardware…nem midia de DVD aqui tinha!!!! Tenho saudades dessa era do Windows 95!!!! Grandes clássicos de antigamente e que muitos da geração atual metem o pau, triste isso!!!! Bela analise!!!! valeu!!!!

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