Análise Arkade – Rune II: Decapitation Edition, um viciante RPG nórdico com ótimos combates

28 de novembro de 2020
Análise Arkade - Rune II: Decapitation Edition, um viciante RPG nórdico com ótimos combates

Rune II: Decapitation Edition pode passar despercebido pela maioria por ser “mais um jogo genérico de vikings”. E realmente é inquestionável que a cultura nórdica está em alta no mundo dos games. Desde God of War e Hellblade: Senua’s Sacrifice que temos visto um boom de jogos ambientados nessa cultura. Recentemente, tivemos até Assassin’s Creed Valhalla levando o credo dos assassinos para essa cultura.

Em meio a tantos jogos grandiosos ambientados na cultura e mitologia nórdicas, Rune II tem seus acertos. Claro que está longe de ser comparável a games AAA como os citados anteriormente. E isso é visível no seu trato técnico. Entretanto, com um visual agradável, um ritmo de jogo viciante e combates divertidíssimos, ele pode ser uma ótima pedida para quem busca uma opção mais em conta.

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Impedindo o Ragnarok… de novo

Um elemento fica bem claro no decorrer da jogatina de Rune II: a narrativa não é bem o seu foco. Claro, a história existe e está ali para ser lida e ouvida. Mas não é bem ela que guia seu gameplay. Isso porque, para início de conversa, o enredo de Rune II é bem clichê e um pouco repetitivo.

Na história, você é um guerreiro viking que chega a Midgard retornando dos mortos. Com o auxílio do deus Heindall, você precisa impedir Loki de causar o apocalipse nórdico, nosso já velho conhecido Ragnarok. Sério, nove entre dez jogos ambientados na cultura nórdica usam este evento como enredo e fazê-lo de uma forma criativa é algo bem difícil.

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Como em Rune II praticamente não existem cinemáticas ou cenas quaisquer de história, a trama é passada para o jogador através de textos, que são narrados por vários personagens. No início é até interessante acompanhar, mas como a história se arrasta bastante e é demasiadamente repetitiva, o interesse por ela logo fica pelo caminho.

Mesmo que tenha alguns poucos plot twists em momentos específicos, a narrativa em geral é previsível e monótona e [SPOILER LEVE], é concluída com um final preguiçoso do tipo “você impediu o Ragnarok, parabéns”, e nada além disso. É um pouco desanimador e nada épico. Dito isso, esse é o tipo de jogo que a gente não recomenda pela história, mas pela diversão que ele proporciona.

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Jogatina viciante

isso quer dizer que, quem busca combates ativos e divertidos pode ter uma surpresa positiva com Rune II. Isso porque os combates do jogo são viciantes e muito ágeis. Com comandos que lembram um pouco a franquia Souls e um jogo de câmera que me remete a World of Warcraft, Rune II tem em seus combates o principal motivo da jogatina valer a pena.

Quanto ao ritmo de gameplay, reconheço aqui vários elementos da franquia Diablo. São diversos os tipos de armas, armaduras, equipamentos e artefatos coletáveis e construíveis dentro do jogo. Bônus elementais, níveis de raridade distintos e efeitos passivos diversos variam ainda mais a jogabilidade. Além disso, temos também a árvore de habilidades ativas e passivas do seu personagem, que complementam muito bem o combo.

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“Here comes trouble”

Em Rune II você não possui classes, podendo utilizar quaisquer tipos de armas e equipamentos durante todo o jogo. Sua única limitação nesse quesito é o seu nível para poder usar determinados itens (assim como em Diablo). Fora isso, temos quatro devoções possíveis de serem feitas no jogo: Loki, Thor, Odin e Hel. Cada um dos quatro deuses lhe dão direito a upgrades específicos em uma de suas respectivas árvores de habilidades.

Com um ponto de habilidade e um de atributo sendo disponibilizado a cada nível avançado, o ritmo de crescimento fica bem constante. Essa constância, combinada com comandos rápidos e jogabilidade fluida, fazem com que o jogo seja consideravelmente viciante.

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As batalhas contra chefes são bem desafiadoras

Desafios pouco variados, mas eficientes

Rune II pode ser bastante repetitivo em alguns momentos. Isso devido principalmente à sua narrativa, como já falamos anteriormente. Você passa por vários pontos do mapa aberto (do qual falaremos mais abaixo) seguindo ícones de missões sem muitos elementos convidativos à exploração despretensiosa.

Caso faça as dezenas de missões secundárias do jogo, prepare-se para tarefas como coleta de recursos, uso de armas específicas para matar determinadas criaturas ou alcançar um local específico do mapa para um combate. Nada muito além disso. Já nas missões principais, tudo gira basicamente em torno de uma sucessão de combates com desculpas narrativas um tanto quanto rasas.

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A graça aqui está justamente no desafio gratificante que permeia esses combates. Cada arma possui um alcance completamente distinto, assim como movimentação e tempo de movimentação também diferentes. Assim, lutar com espadas montantes (aquelas espadas enormes, de duas mãos), marretas, machados de arremesso e lanças resulta em experiências de combate (e gameplay) completamente diferentes.

Os inimigos, felizmente, são relativamente variados. Não só em aparência, mas também em comportamento. Esse comportamento, inclusive, varia tanto pelo tipo de criatura como também pela arma que essa criatura utiliza. No fim das contas, Rune II tem um nível de desafio considerável, combinado com um ritmo de progressão muito bom.

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Enfrentar vários inimigos juntos pode ser um desafio que você vai querer evitar.

Mecânicas secundárias: temos as boas e as dispensáveis

O jogo da Studio 369 possui uma tonelada de mecânicas e funções que tentam fazer de Rune II um jogo contemporâneo padrão. Mecânicas de coleta de recursos combinadas com crafting até funcionam bem, principalmente pela ambientação nórdica. Diversos são os momentos do jogo nos quais precisamos ajudar algum NPC a construir um assentamento, ou então consertar alguma residência quebrada de algum vilarejo.

Essa mecânica de crafting funciona bem por combinar perfeitamente com algumas funções básicas da jogatina. Entre elas, temos o sistema de crafting de armas, equipamentos e runas. Estes são feitos através de construções específicas, que são levantadas por nós mesmos em diversas cidades, em locais pré-definidos.

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O mesmo vale para o reparo de equipamentos, que por sinal é muito prático e intuitivo. Temos também torres de defesa para auxiliar em invasões esporádicas de inimigos em cidades e também uma casa que provém cerveja. Cerveja que, inclusive, é um dos itens de recuperação de vida do jogo.

Entretanto, temos também mecânicas que ora são mal aproveitadas, ora são só ruins mesmo. Uma das mecânicas que são só ruins é a de barcos. Como todo bom viking, temos algumas opções de barcos para construir no jogo. Entretanto, eles servem única e exclusivamente para atravessar faixas desnecessariamente longas de água sem nenhum ponto de interesse no processo. E mesmo assim, possuem diversos bugs de física e contato que são frustrantes.

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Por sua vez, temos algumas mecânicas que são boas, mas foram muito mal aproveitadas durante a jogatina. Como por exemplo as dungeons, que são excelentes por si só. Entretanto, possuem pouca relevância nas missões principais e não são tão variadas como poderiam ser ao longo do mundo aberto do jogo.

Mundo aberto não tão explorável

Combinado com as mecânicas que poderiam ser melhor aproveitadas, temos o próprio mapa do jogo. Andar pelo mundo de Rune II atacando diversos inimigos, coletando armas, passando de nível e enfrentando inimigos mais fortes ainda é bem divertido. Mas o jogo não funciona bem em mundo aberto por conta disso.

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Na verdade, vejo a mecânica de mundo aberto completamente desnecessária dentro da ideia de Rune II. Até porque, não temos coletáveis que valem realmente a pena espalhados pelo mapa, não temos segredos que saltam aos olhos, não temos itens escondidos nos cantos do mundo que instigam o jogador a fazer 100% do mapa. O próprio mapa de navegação é confuso e atrapalha a exploração mais do que ajuda.

Com tudo isso, seria mais interessante para Rune II ser um jogo de mapa construído de forma tradicional, ou mesmo dividido em fases, sem a necessidade de um mundo aberto a ser explorado. E isso é notado, inclusive, através das grandes faixas de terra e mar completamente vazias dentro do jogo. Dependendo da sua vontade de exploração, você vai gastar muita sola de sapato simplesmente andando para lá e para cá, sem encontrar um item, inimigo ou ponto de interesse. É um mundo aberto um tanto vazio e pouco inspirado, então muitas vezes é mais fácil simplesmente traçar uma linha reta até o objetivo assinalado do que sair explorando.

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O problema dos bugs

Rune II ficou algum tempo em acesso antecipado para PC, com o intuito de arrecadar verba o suficiente para a finalização do projeto. Entretanto, é visível que faltou um pouco de polimento no resultado final da “Decapitation Edition” que analisamos. Claro que temos grandes avanços se compararmos com a versão anterior do jogo, Rune II: Ragnarok. Porém, ainda não chegou lá.

A começar pela otimização do jogo, que é comparável a de outros títulos problemáticos, como Ark: Survival Evolved. O loading inicial é demorado até mesmo em máquinas que usam SSD e, do mesmo modo, carregamentos por fast travel podem ser chatinhos de serem feitos.

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Ficar preso no chão não é nada legal.

Já nos problemas de execução propriamente ditos, temos inúmeros bugs de efeitos de física, principalmente com construções e barcos. Os modelos dos personagens possuem basicamente duas posições (à paisana e em combate) e, por fim, temos o famigerado bug de entrar no chão, que me obrigou a reabrir o jogo duas ou três vezes. Felizmente, o auto save combinado com pontos de respawn específicos funcionam bem para não perder nenhum progresso nesse processo.

O bug que mais me incomodou, porém, foram os problemas com eventos do jogo. Por duas vezes, os diálogos de uma determinada missão não deram “start” no evento que aconteceria na sequência, me deixando parado no melhor estilo “meme do John Travolta” esperando algo acontecer. Somente na terceira reinicialização do jogo foi que a quest voltou ao normal.

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Em outros dois momentos distintos, o mesmo aconteceu, e a quest simplesmente não começava. O pior disso é que, como um jogador de primeira viagem, você pode demorar para identificar o que é bug e o que é algo que falta você completar de verdade.

Uma boa desculpa para descer a machadada

Rune II: Decapitation Edition tem diversos problemas técnicos que não podem ser ignorados. O jogo não é perfeito e quem for jogá-lo precisa vir com a expectativa bem nivelada. Entretanto, considerando seu valor cheio — menos de R$ 60,00 na Steam — , ele torna-se um jogo acessível e bem divertido ao seu modo, um bom custo-benefício. Seus diversos problemas nem de longe impedem o jogo de ser divertido e, principalmente, viciante.

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A campanha de cerca de 20 horas de duração não é exatamente convidativa pelo seu teor narrativo, mas entretém bastante pelos combates. Principalmente pensando que temos um modo cooperativo online e também uma opção de PVP (ainda em beta). Por fim, se você é um “tupiniviking” que gosta de ambientação nórdica e curte um jogo de matança de inimigos com machados, martelos e espadas sem muito comprometimento, Rune II pode te entreter por umas boas horas.

Rune II Decapitation Edition chegou aos PCs no dia 13 de novembro de 2020, e está disponível tanto na Epic Games quanto no Steam. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB e SSD de 450 GB.

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