Análise Arkade: The Pathless, uma mistura de Journey com Shadow of the Colossus

30 de novembro de 2020
Análise Arkade: The Pathless, uma mistura de Journey com Shadow of the Colossus

The Pathless é o mais novo jogo da Giant Squid, estúdio responsável pelo belo ABZÛ e fundado por Matt Nava, diretor de arte do incrível Journey. O jogo, mais uma vez, é uma viagem um tanto solitária, mas cheia de significado, por um mundo fantástico e cheio de mistérios.

Uma garota e sua águia

The Pathless nos apresenta a uma jovem caçadora, que é chamada apenas disso: Caçadora. Ela está explorando um mundo que foi invadido (e dizimado) por uma entidade maligna chamada Deicida — que parece ser um adepto das Lens of Truth da série Zelda, pelo seu visual.

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Esse é o Deicida. Ele parece um vilão de Zelda, né?

Outrora pacífico e protegido por uma águia gigante e suas crias — que, curiosamente, são outros animais –, o mundo do game segue exuberante, mas agora é deserto e um tanto agourento. A corrupção do Deicida condenou aquelas terras e as pessoas que ali viviam. Para piorar, os “filhotes da divindade águia” foram enfeitiçados, e agora patrulham o mundo de maneira implacável.

Assim, nossa missão é aquela de sempre: livrar o mundo da presença de um vilão e purificar o ecossistema que foi corrompido pela sua energia maligna. Esta purificação tem um viés meio Shadow of the Colossus: teremos que enfrentar as 4 grandes criaturas que patrulham o mundo para remover o feitiço maligno delas na base da porrada.

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Companheiras de jornada

Apesar do viés solitário da jornada, não estaremos realmente sozinhos. A grande divindade em forma de pássaro assume a forma de uma águia comum, que estará sempre conosco. Conforme avançamos, ela poderá inclusive nos carregar, permitindo que alcancemos os platôs mais elevados do mapa — cada platô é guardado por uma criatura: começamos do mais baixo e devemos ir subindo, até podermos alcançar a ilha flutuante onde o Deicida nos aguarda.

Exploração pacífica

The Pathless é um jogo de exploração e mundo aberto sem minimapa, que te deixa bastante livre para explorar. Tal qual Shadow of the Colossus, o mundo do jogo não possui inimigos, nem perigos imediatos — sem contar as criaturas gigantes que foram enfeitiçadas, sobre as quais falaremos logo mais.

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O mundo é vasto e cheio de locais interessantes

Nossa protagonista é uma exímia arqueira, e esta habilidade ajuda muito na travessia das vastas paisagens do game. Ela pode correr, deslizar e saltar, mas essas ações estão atreladas à uma barra de stamina. Para manter essa barra cheia — e, com isso, termos agilidade e fluidez na movimentação –, devemos acertar talismãs que ficam “flutuando” pelo mundo, e cujo único objetivo é nos dar stamina. Não é preciso mirar: basta segurar o gatilho direito mais ou menos perto de um talismã, para que a flecha encontre seu alvo.

Aí vai um pouco de gameplay do jogo, que mostra exploração e a ativação de uma torre:

Apesar de não termos um minimapa para nos orientar, logo no começo da aventura, encontramos uma máscara que funciona como a boa e velha “visão de detetive”, e facilita nossa vida. Pontos de interesse ficam com uma aura avermelhada ao redor, e é nesses lugares que vamos encontrar pedras mágicas e orbes dourados que melhoram o voo de nossa águia.

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Assim fica o mundo visto pela máscara

Na prática, nosso trabalho é correr, deslizar e planar para lá e para cá, resolvendo puzzles simples para coletar pedras rúnicas que nos permitem avançar. Também é importante evitarmos a grande “tempestade” vermelha que indica onde os chefes estão: sim, essa grande nuvem fica se movendo pelo mapa, e você não vai querer esbarrar em uma delas antes da hora, ou vai entrar em um minigame de stealth para poder sair de lá e continuar com sua aventura.

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Essa “”tempestade” ao longe é onde o chefe está. Fuja dela!

Ao levarmos as pedras rúnicas coletadas para altas torres espalhadas pelo cenário, enfraquecemos as defesas do chefe. Quando todas as torres de cada platô estão ativadas, podemos enfrentar o “monstro” e purificá-lo.

Enfrentando os chefes

É aí que o jogo exibe sua outra faceta: as batalhas contra as enormes criaturas corrompidas são muito empolgantes, e exigem velocidade e improvisação por parte do jogador. Aqui não precisamos escalar os bichos, mas devemos, sim, persegui-los e enfrentá-los em um duelo “mano a mano”.

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“Ó o bicho vindo!”

Toda batalha começa com uma “corrida”: devemos acompanhar o bicho em alta velocidade por um cenário em chamas, tentando ficar perto o suficiente para acertar seus pontos fracos enquanto ele corre. Quando todos os pontos forem atingidos, nossa companheira águia desfere um golpe, e a próxima etapa da batalha tem início.

Agora estamos em uma arena, e devemos prestar atenção aos padrões de ataque da criatura, buscando uma brecha para atacar. Não há “barra de vida” nem Game Over, mas mesmo assim as batalhas são muito legais. Devemos, mais uma vez, acertar pontos fracos e lidar com a fúria cega dos monstrengos.

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Uma cabeça é pouco para você? Relaxa, esse chefe tem várias!

Vou deixar aí embaixo minha batalha completa conta o segundo chefe, um enorme lagarto que, em sua versão enfeitiçada, tornou-se um terrível dragão cuspidor de fogo:

Os combates contra essas criaturas são muito cinematográficos e empolgantes, e correspondem aos melhores momentos de The Pathless. Sendo bem honesto, o jogo parece misturar a exploração pacífica de Journey (e do próprio ABZÛ) com as batalhas colossais de Shadow of the Colossus (sem as escaladas). Uma mistura que, sem dúvida, pode agradar muita gente.

Rotina ou Repetição?

Acho que o maior problema de The Pathless é o quão formulaico ele é. A rotina estabelecida nas primeiras horas de jogo perdura até o final: corra, plane, explore, colete as pedras, ative as torres, enfrente o chefe. Ao ganhar acesso ao próximo platô, repita o mesmo procedimento.

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Fósseis gigantes misteriosos

Claro que os puzzles para acessar as pedras mágicas mudam — e há uma boa variedade deles por aqui, sempre muito bem incorporados a ruínas e partes do cenário –, mas, mecanicamente, estaremos sempre fazendo “a mesma coisa”.

Isso é um problema que também existe em Shadow of the Colossus — encontre o monstro, abata o monstro, repita o processo 16 vezes. Sei que videogames seguem padrões e “receitas”, mas em alguns casos isso fica bem mais evidente. The Pathless tem dois momentos bem definidos: a exploração e os confrontos com as criaturas enfeitiçadas. Ainda que cada confronto seja único e o jogo tenha um punhado de bons puzzles, a rotina estabelecida invariavelmente torna-se repetitiva.

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Os puzzles do game envolvem espelhos, tochas e passar flechas por arcos

The Pathless não é um jogo particularmente longo, e a agilidade da exploração é um de seus pontos fortes. Porém, venha com suas expectativas niveladas, pois a jornada peca um pouco no quesito “variação”.

Audiovisual

The Pathless é mais um título cross-gen, que chegou aos PCs, ao PS4 e também ao PS5. Como o upgrade é gratuito, pude experimentá-lo no PS4 e no PS5. O save, infelizmente, não é compartilhado, então eu zerei o jogo no PS4, e joguei um bocado dele, do começo, no PS5.

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The Pathless tem belas paisagens

O fato dele ter um visual bastante estilizado não faz o “salto de geração” ser muito evidente, mas é fato que no PS5 ele roda muito mais suave (e o console faz bem menos barulho). O gatilho adaptável faz um trabalho ok para simular a corda retesada do arco (nada como o que vemos em Astro’s Playroom), mas não é nada que transforme a experiência.

Falando especificamente do visual do jogo, eu gosto muito do estilo artístico adotado, que parece um meio termo entre Journey e Zelda Breath of the Wild. Há belos efeitos de luz, reflexos em superfícies molhadas, e detalhes que denotam o capricho artístico do game. A própria vastidão do mapa, e como ele ganha mais cores e mais vida depois que “purificamos” cada platô, é de encher os olhos.

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Aquele ciclone lá no fundo é o que nos leva para o próximo platô

A trilha sonora é outro baita acerto: composta pelo mesmo Austin Wintory que assina a incrível OST de Journey, ela acompanha o jogador um pouco timidamente, mas cresce quando precisa, emociona, empolga, sempre no timing. E, embora sempre tenha um tom épico e orquestrado, vez ou outra assume tons mais tribais e flerta até com o jazz. A qualidade da música realmente engrandece a experiência como um todo.

Conclusão

Não é a primeira vez que tenho a impressão que um jogo tenta entregar uma experiência que misture Journey com Shadow of the Colossus. E, ainda que não consiga realmente superar nenhuma de suas influências, The Pathless é um jogo que encanta pela sua grandeza, pela liberdade que nos dá e pela fluidez com que podemos explorar o mundo.

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Eu gostaria que ele fosse menos repetitivo, povoasse seu mundo com conteúdos mais variados e interessantes, tivesse coragem para quebrar a rotina que ele mesmo criou. Mas, apesar disso, a jornada que ele entrega é prazerosa, e seu tom onírico e relaxante (na maior parte do tempo) faz deste um bom jogo para curtir depois de um dia estressante no trabalho. Perder-se pelos bosques e planícies do jogo é um prazer.

Como eu disse antes, o importante é modular as expectativas: não venha achando que vai encontrar um novo Journey, ou um novo Shadow of the Colossus. The Pathless não é assim tão revolucionário, mas é, sim, uma junção interessante da “receita” que fez de ambos tão importantes.

The Pathless está disponível para PC, Playstation 4 e Playstation 5 (versões analisadas). O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Uma resposta para “Análise Arkade: The Pathless, uma mistura de Journey com Shadow of the Colossus”

  • 30 de novembro de 2020 às 19:00 -

    Helinux

  • Me fez lembrar da Nakoruru de Samurai Shodown!!!! Belo visual gráfico, jogabilidade dukralho e engenhosidade de primeira!!!! valeu pela a analise!!!!

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