Arkade Marketing – Como o primeiro GTA ganhou mídia falando mal de si mesmo

18 de fevereiro de 2018

Arkade Marketing - Como o primeiro GTA ganhou mídia falando mal de si mesmo

Quando a gente quer vender um produto, fazemos de tudo pra mostrar seus pontos positivos e evitar que falem mal dele, não é verdade? Porém, ás vezes, fazer o caminho inverso, apesar de mais arriscado, pode garantir não só boas vendas, mas a criação de um fenômeno. Para uma série polêmica e controversa como GTA, sua estreia no mundo dos games contou com uma estratégia simples, porém eficaz para o jogo: falar mal de si mesmo.

Tudo começou durante a produção de Grand Theft Auto, que era um game até então bem diferente do que estávamos acostumados em 1997. No início, seria um game de perseguição no qual você escolheria entre a polícia e o bandido. Porém, ao perceber que através de um bug, jogar como bandido ficava muito divertido pois toda a polícia da cidade o perseguia ferozmente, acabou virando um jogo no qual você controla o bandido, tendo que realizar missões como roubos e assassinatos, e precisando lidar com a polícia.

O tema por si só, já era bem controverso, ainda mais em uma época em que a ERSB tinha apenas três anos, e os jogos polêmicos que haviam sido pauta anteriormente, como Mortal Kombat ou Night Trap, não era tão extremo em seu gameplay, no que diz respeito a cometer crimes e atacar homens da lei. Mas GTA era apenas uma aposta, não a série consagrada que conhecemos e jogamos até hoje, daí a ideia de se apostar na arriscada estratégia de criticar a si mesmo.

Arkade Marketing - Como o primeiro GTA ganhou mídia falando mal de si mesmo

Max Clifford, o cara responsável por “falar mal” de GTA.

A ideia veio a partir dos criadores do primeiro game, David Jones e Mike Dailly, que contrataram o profissional de Relações Públicas Max Clifford para fazer o “trabalho sujo”. Para o The Sunday Times, Dailly explicou o plano: “Ele projetou todo o plano, garantiu que deputados iriam se envolver, e faria qualquer coisa para fazer com que o jogo aparecesse o máximo possível”.

Clifford fez fama no Reino Unido ao trabalhar na imagem de celebridades que incluem Os Beatles, Muhammad Ali, Frank Sinatra, Marlon Brando e até times de futebol, como o Chelsea. Celebridade, o publicitário conseguia fazer sua própria imagem pessoal enquanto trabalhava com seus clientes. Foi condenado à oito anos de prisão em 2014 acusado de assédio sexual, em incidentes ocorridos entre 1977 e 1985, e morreu no dia 10 de dezembro de 2017, aos 74 anos, por um ataque no coração.

O plano ousado consistiu em plantar histórias de caráter negativo sobre o game, levantando os seus aspectos mais polêmicos, e mirando seu conteúdo em políticos conservadores, que através de sua indignação com o conteúdo, iriam falar várias e várias vezes do jogo, em programas de TV, rádio ou artigos de jornal. “Ele nos explicou como ele iria plantar, quem seriam os alvos, e o que as pessoas direcionadas iriam dizer. Tudo o que ele disse se tornou real”, explicou Jones.

Com isso, o jogo foi lançado em 1997, e garantiu um milhão de cópias vendidas. Não foi o game mais vendido de sua época, e nem foi o fenômeno que a série alcança hoje, porém trouxe ânimo e dinheiro suficiente para a DMA Design (hoje a Rockstar North) produzir e lançar o segundo GTA, em 1999, que se tornou o 62º jogo mais vendido do Playstation, seguindo em 2001 para o terceiro game, e a partir daí, já sabemos o que aconteceu.

Arkade Marketing - Como o primeiro GTA ganhou mídia falando mal de si mesmo

Até hoje, os jogos de GTA ganham mídia e mais mídia com suas controvérsias e protestos de pessoas e organizações.

Max Clifford não atuou mais nos jogos seguintes, mas não era necessário: ele deixou um legado para a série, com cada lançamento ganhando mídia cada vez maior com indignações gratuitas mídia afora, de maneira semelhante a certo jogo de assassinos em certo programa de televisão brasileiro. GTA IV, por exemplo, ganhou mídia ao ser criticado por Hillary Clinton e Glenn Back, além da organização Mothers Against Drunk Driving, que luta contra problemas de acidente de trânsito causados pelo álcool (GTA IV permite que o jogador dirija bêbado). E, mesmo com as modificações comuns na Autrália e Nova Zelândia, países que controlam mais a violência nos games, o game vendeu 22 milhões de cópias.

A técnica é muito simples, porém exige coragem para aplicá-la. Especialmente hoje, no universo dos algorítimos, quanto mais se fala de determinado tema, independente do teor do texto, tal tema será mais e mais exibido, seja para quem gosta, ou para quem não gosta. Isso vale para artistas, músicas, filmes, e games. As pessoas, ao criticar algo que não gostam, acabam fazendo propaganda gratuita, pois, ao publicar uma foto do game a ser criticado e usar o nome dele, acaba levando o nome do jogo para mais pessoas, e de maneira gratuita.

Foi exatamente isso o que a indignação de alguns políticos fez com GTA. Ao falar dele, e de suas polêmicas, eles acabaram divulgando, gratuitamente, o jogo, seu gameplay e seus elementos, que gerou a curiosidade em potenciais compradores, fazendo com que o game ganhasse mídia mais e mais. É claro que para obter sucesso em uma técnica dessas, é preciso conhecer bem seu produto e seus “divulgadores”, mas com certeza, um game como GTA, pode provar que comentários negativos só fazem o jogo vender mais e mais. Enquanto o game continuar bom, e convencer os jogadores de que vale a pena investir seu dinheiro nele, qualquer propaganda será bem vinda, até as que falam mal.

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