Arkade Series: Narcos – Assistimos a Temporada 2

18 de setembro de 2016

Arkade Series: Narcos - Assistimos a Temporada 2

Narcos está em sua segunda temporada, e apesar do spoiler escancarado pela própria Netflix, já que estamos falando da morte de Pablo Escobar, que ocorreu em 1993, a série busca terminar a “saga” do traficante colombiano, e ao mesmo tempo quer continuar a história, já que seus criadores acreditam que a história do narcotráfico colombiano não se remete apenas a Pablo.

E eles não estão errados, já que segundo o próprio filho de EscobarJuan Pablo Escobar, “havia mais gente interessada em comprar cocaína do que cocaína disponível”, logo, havia espaço para muitos empreendedores do pó tentarem carreira no negócio lucrativo, com o perdão do trocadilho. E isso é explícito a todo momento nesta segunda temporada, com os episódios gritando bem alto: Narcos não é sobre Pablo Escobar, é sobre o tráfico de drogas colombiano e suas influências, políticas, econômicas e sociais.

Arkade Series: Narcos - Assistimos a Temporada 2

Porém aí está um dos grandes problemas da série: a vida de Pablo Escobar é algo muito interessante e com muito a se explorar, porém essa “necessidade” de tirar-lhe o protagonismo faz com que a série, no final das contas, fique sem protagonista nenhum. O agente Murphy, porta-voz da primeira temporada, ainda cumpre seu papel, mas de maneira muito menor; os inimigos de Pablo tentam a todo custo eliminá-lo e cada um preso a sua filosofia, dominar a Colômbia também, seja no ramo das drogas, ou em sua ideologia; a família de Pablo também conta com seus momentos de destaque, mas o problema aqui é que Narcos continua tão apressado, que temos várias histórias independentes ao mesmo tempo, deixando tudo muito confuso e atrapalhado.

Mas voltemos a falar de Pablo. Wagner Moura conseguiu fazer um Escobar ainda melhor neste segundo ano, e sua “saga”, sendo analisada à parte do restante dos episódios, é demais. Agora não temos mais um “salvador da pátria”, mas sim um bandido, um mafioso procurado e foragido, que vê traições e tudo o mais que a decadência neste ramo pode oferecer. Pablo foi longe demais, e ele sabia disso, mas estava disposto a ir até o fim, pelo bem de suas convicções. Somado a isto, temos mais e melhores cenas de ação, com perseguições, tiroteios e mais do bom e velho estilão “Tropa de Elite” em cada envolvimento entre partes opostas.

Arkade Series: Narcos - Assistimos a Temporada 2

Outra coisa interessante a se dizer em Narcos, é que sua equipe está mais a vontade com a criação da história. Não há mais o compromisso histórico com os fatos, como foi na primeira vez; agora temos maior liberdade para compreender a história, já que os fatos são apresentados de maneira semelhante às novelas bíblicas da Record, guardadas as devidas proporções: os fatos estão ali, documentados em algum lugar, mas a equipe tem total liberdade para adequar o enredo ao seus próprios interesses. No fim, não estamos assistindo um documentário realístico, nem sobre Escobar, nem sobre Los Pepes, nem sobre ninguém, então este leve descompromisso com os fatos ajuda a oferecer ao espectador uma trama mais emocionante, com mais ação do que aconteceu de fato, mais traições e mais dramas.

Só que esta liberdade também abriu portas para alguns vícios de seriados, especialmente os tradicionais da televisão, que vivem em mutação para não enjoar sua audiência: personagens novos chegam e saem a todo momento, deixando mais confuso ainda a situação. Como exemplo, vamos citar um positivo, e outro negativo: do lado bom, tivemos o retorno do Coronel Carrilla, o “Capitão Nascimento” do seriado, que se destacou bastante, mas que teve que conviver com a “chefe” indicada pelo governo dos Estados Unidos, para Murphy e Peña (este segundo, também com destaque positivo nesta temporada). Você não lembra o nome dela? Tudo bem. Uma personagem que foi apresentada como um “dane-se” dos EUA para os agentes e que depois nem aparece mais, com os mesmos agentes realizando suas tarefas como bem entendem, mostra o quanto é desnecessário essa “necessidade” de se inserir personagens numa trama. O mesmo val para o novo embaixador, indicado por Bush para resolver as coisas de maneira diferente, sendo que o que vemos são as mesmas coisas de sempre.

Arkade Series: Narcos - Assistimos a Temporada 2

Ao final, que é digno, com boas cenas de ação, toques de drama e uma atuação digna de Moura, vemos um futuro obscuro para a série. Quem vai continuar o “legado”? Escobar terá seguidores? Teremos consequências diretas dos fatos desta temporada ou vamos ver uma borracha sendo passada por tudo? Narcos, mesmo sem ser diretamente sobre a vida de Escobar, conta com um potencial imenso para boas histórias, mas precisa ser menos apressado e ser menos viciado (desculpem o trocadilho, de novo) em elementos corriqueiros de seriados de TV. Sabemos que um projeto precisa de audiência para continuar, mas acreditamos que Narcos já conquistou seu público, que aguarda ansiosamente as próximas temporadas, por isso, não precisa mais correr em busca de audiência, dá para contar as histórias de maneira mais tranquila, até porque cada grupo apresentado na série tranquilamente geraria uma temporada específica, com seus pontos de vista e motivações a serem explorados.

Narcos está disponível na Netflix, com suas duas temporadas de 10 episódios cada uma.

 

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