Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

21 de março de 2015

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

Nesta semana na Cine Arkade, vamos falar sobre alguns filmes que te dão aquela dolorida sensação de mal-estar, e de tabela, explicar o que faz O Mapa para as Estrelas ser tão pesado e consistente como uma obra.

Filmes são obras poderosas e conseguem transmitir sensações inimagináveis para o espectador. Assim como séries, música, teatro e claro, videogames, estas formas de entretenimento nos dão a sensação de experimentar as emoções dos personagens e compartilhar suas alegrias, seus medos, seus desesperos e muito mais.

Por aqui eu quero aproveitar o timing do lançamento de um filme que apareceu faz pouco tempo no cinema para aprofundar o conceito de se sentir mal após assistir um filme, trazendo também outras duas obras que me causaram um estresse similar, porém de formas diferentes.

O HORROR FÍSICO

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

A Serbian Film: Terror Sem Limites e a série de filmes Guinea Pig talvez sejam alguns dos filmes mais controversos dos últimos tempos, dado seu teor de violência e a abordagem de temas polêmicos, que até hoje, são difíceis de discutir. Se você quer horrorizar uma pessoa, é só recomendar um destes dois filmes e as chances são dela nunca mais conversar com você por te achar um psicopata de marca maior… não que isso tenha acontecido comigo!

O primeiro filme que mencionei, A Serbian Film, tem a direção de Srdjan Spasojevic e conta a história de um ator pornô que está no fim de sua carreira e aceita participar de filmes alternativos e considerados como “arte maior” pelo cineasta que o convida. Mal sabe o ator sabe que ele entrou em um espiral de decadência envolvendo abuso infantil, violência sexual, necrofilia e praticamente tudo que há de perverso e horrível em nossa sociedade. A Serbian Film é pungente, pesado e horrível a ponto de ter sido proibido em diversos países.

Assim como Centopéia Humana e filmes do mesmo gênero, A Serbian Film te dá aquela sensação de mal-estar e nojo ao ver cenas físicas acontecendo tão deliberadamente. E o fato de ser ficção não ajuda a amenizar o que rola na tela.

Guinea Pig, por sua vez, traz um tema similar à mesa mas tenta intensificar tudo dando uma visão de que a série de filmes são do tipo snuff, ou seja, aqueles filmes em que as pessoas morrem de verdade.

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

Guinea Pig é uma série de sete filmes japoneses dirigidos por vários cineastas, incluindo Satoru Ogura e Hideshi Hino, que foram lançados entre as décadas de 80 e 90. Cada um dos filmes contam diferentes e bizarras histórias, desde um homem que não sente dor ao se cortar e decide horrorizar o amigo se mutilando de diversas formas no filme Guinea Pig 3: Shudder! The Man Who Doesn’t Die, até ao puro horror e desgosto como a tortura física de uma mulher em Guinea Pig 1: Devil’s Experiment.

O que fez Guinea Pig ser tão famoso é pela realidade imposta em cada uma das cenas, sendo que os produtores tiveram que provar várias vezes que tudo era falso e desenvolvido com efeitos especiais. O caso se tornou global quando em 1991 o ator Charlie Sheen assistiu Guinea Pig 2: Flowers of Flesh & Blood por sugestão de um “amigo“, e se sentiu tão horrorizado que ligou para o FBI denunciando os produtores por terem filmado um filme de snuff, algo que foi desmentido pelos criadores após o questionamento das autoridades.

Irreversível, Centopeia Humana, A Serbian Film: Terror Sem Limites e Guinea Pig. Todos estes filmes transmitem uma mensagem clara de dor e sofrimento aos protagonistas, e por tabela, o espectador sente o mesmo. Mas o que diferencia estas obras com o recente Mapa para as Estrelas?

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

MAPA PARA AS ESTRELAS E O HORROR PSICOLÓGICO

Antes um pouco de contexto: Mapa para as Estrelas é o novo filme dirigido por David Cronenberg (Cosmopolis, A Mosca, Videodrome) e com o roteiro de Bruce Wagner (I’m Losing You). Nele temos a glamourização se mesclando com a decadência emocional das estrelas de Hollywood.

Contando a perspectiva de diversas personalidades em Hollywood, Mapa para as Estrelas pinta uma imagem insensível e sociopata das estrelas que tanto admiramos. Temos o ator de 13 anos que usa drogas e está em reabilitação, uma atriz decadente que está procurando revitalizar em sua carreira, um chofer de limusine que, assim como todos em Hollywood, é um escritor/ator que tenta ser bem sucedido, e uma família disfuncional que conecta todos estes personagens em uma única massa de angústia e desilusão.

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

Mas o que faz Mapa para as Estrelas ser tão impactante quanto a violência e o horror gráfico de A Serbian Film ou Guinea Pig?

Para mim tem tudo a ver com o desenvolvimento de personagens e o clima que o filme entrega logo no começo, algo que estes filmes mais pesados não fazem e acabam decidindo colocar toda a violência logo no primeiro segundo.

Em Mapa para as Estrelas, você sente que algo está errado por uma série de elementos impostas por Cronenberg e sua equipe. A falta de uma trilha sonora acompanhando o filme te dá uma incômoda sensação de desolação e realidade, todos as cenas são propositalmente cruas demais e te deixam desconfortável durante o filme inteiro; além disso, temos a edição abrupta que compõe as maiores partes do longa metragem, incluindo as cenas finais onde tudo vai se desabando na melhor forma possível.

Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal

Mas talvez, um dos motivos que fazem Mapa para as Estrelas ser tão excruciante é o fato dos personagens e as situações que eles se encontram se aproximarem tanto da realidade. A ficção ali mostrada é muito real, e tudo o que ocorre no filme pode estar acontecendo neste exato momento em Hollywood e com as estrelas cujos nomes estão imortalizados na Calçada da Fama.

A obra de Cronenberg te deixa com um mal-estar inigualável, com um pesar físico no corpo e com uma sensação horrível por aquelas pessoas e pela decadência dos eventos em que elas se encontraram, servindo como uma viagem desdenhável mas extremamente interessante de se ver.

Com isso, criou-se algo psicológico, profundo e incômodo que, para mim, é muito mais competente e bem trabalhado do que a pura violência gráfica encontrada na maioria dos filmes que querem te chocar ou impressionar.

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Agora é a sua vez! Qual filme que te deixou com um mal estar tão grande quanto estes que mencionei até agora? Deixe a sua resposta nos comentários e vamos nos sentir mal juntos!

3 Respostas para “Cine Arkade: Mapa para as Estrelas e a arte de se sentir mal”

  • 23 de março de 2015 às 11:31 -

    NEOPHYTU

  • Vou Assistir.

  • 23 de março de 2015 às 13:35 -

    Joao Bonorino

  • Até hoje nada me perturbou mais que os 10 minutos da Monica Belucci em Irreversível.

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