Cine Arkade: Você gosta de protagonistas psicopatas?

1 de novembro de 2014

Cine Arkade: Você gosta de protagonistas psicopatas?

Taxi Driver, Drive e Rampage. o que estes filmes tem em comum? Entenda um pouco mais destes três longas cinematográficos e tudo que os une em uma profunda experiência, logo após a sequência na Cine Arkade!

A indústria do cinema está por aí já faz um tempo. Em mais de um século de história, temos a disposição diversos longas, curtas e médias metragens que expressam algo, que pode ser um sentimento, a exaltação da ação, uma boa critica ou simplesmente funcionar como a válvula de escape para aquela pessoa, tanto o criador, quanto o espectador daquele filme.

E um elemento que alguns bons elementos da indústria cinematográfica conseguem fazer com primor é a criação e o desenvolvimento de um personagem, conseguindo transmitir todas as ambições, sonhos, defeitos e qualidades de uma pessoa. Com movimentos sutis de câmera, um roteiro bem escrito, boa edição, bom figurino e claro, o trabalho daquele ator que se dedicou tanto para entender todas as minúcias e pequenos detalhes do personagem criado com tanto cuidado pela equipe por trás daquele filme.

Nós conseguimos odiar, simpatizar, se preocupar, amar e até seguir o estilo de vida daquele personagem quando ele consegue ser feito com tanto esmero e perfeição. Não consigo contar o número de vezes que já me emocionei por cenas que ficaram tão bem trabalhadas graças ao trabalho em conjunto de todas pessoas que fizeram parte do filme.

Cine Arkade: Você gosta de protagonistas psicopatas?

Desta vez eu quero focar em três filmes com temas similares, seja como um pano de fundo para este tema ou destacando como seu conceito e seus respectivos protagonistas aprofundam mais a ideia de um personagem com tendências psicopatas e sociopatas.

Taxi Driver, Drive e Rampage são três filmes que me vieram a mente quando pensei neste tema, afinal, todos eles colocam o protagonista na frente de tudo e mostram o quão enigmático ele pode ser. Todos eles possuem um passado negro ou brincam com esta ideia de quão fácil é matar uma pessoa a sangue frio, seja por uma justificativa barata criada pelos protagonistas de Taxi Driver e Rampage, ou a tentativa falha de fugir de seu lúgubre passado, como o personagem principal de Drive tenta fazer durante o filme.

Mas antes de entender como estes três longa metragens se complementam, vamos explicar um pouco deles separadamente, tentando perceber a premissa e o que aquele filme quis dizer para os espectadores. Irei falar um pouco da história e de algumas cenas dos filmes Taxi Driver, Rampage e Drive. Nada que possa prejudicar a experiência de alguém, no entanto, eu recomendo que veja os filmes para entender um pouco mais de tudo que irei explicar.

Agora vamos para os filmes!

Taxi Driver

Todos os animais saem da toca à noite. Prostitutas, sodomitas, drag queens, bichas, maconheiros, viciados. Doentio, venal. Um dia, uma chuva de verdade limpará toda essa escória das ruas.

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Taxi Driver conta a história de Travis Bickle (Robert De Niro), um homem com problemas crônicos de insônia graças ao seu tempo no Corpo de Fuzileiros Navais e após o seu retorno, ele decide arrumar um emprego como taxista em Nova Iorque, trabalhando a noite Travis vê a realidade das ruas nova nova-iorquinas, com prostitutas, drogados, cafetões, traficantes e toda vilania que faz parte desta deturpada obra de arte que é a vida noturna americana. A trama se desenrola quando Travis conhece Betsy (Cybill Shepherd) e acaba se interessando nela e de tabela em sua profissão, trabalhando como voluntária para o Senador Charles Palantine durante as eleições americanas.

Desde o começo vemos como Travis é um homem solitário com uma série de problemas emocionais ao lado de uma ideologia pura, querendo que a “chuva limpe todo o lixo e a sujeira que está na rua”. Todos os eventos que ocorrem em seu táxi, como a aparição da prostituta adolescente chamada Iris (Jodie Foster); O homem que quer matar sua esposa e vários outros passageiros. Até os momentos que acontecem fora de seu táxi funcionam como gatilhos para a mentalidade de Travis até o ponto culminante onde tudo não importa e o único objetivo é se preparar para acabar com a sujeira desta cidade.

A atuação de Robert De Niro é perfeita, conseguindo mudar completamente o comportamento do personagem de uma forma bem natural, sem o espectador sendo pego de surpresa pela momentânea mudança. A cada evento ocorrido na vida de Travis, nós sabemos que em pouco tempo ela irá explodir e a tensão por causa disso vai aumentando cada vez mais. A direção de Martin Scorcese, o roteiro de Paul Schrader e a música de Bernard Herrmann se aliam para trazer este personagem, com longas cenas de Travis dirigindo o táxi enquanto percebe toda perversidade em sua volta e não podemos esquecer das famosas frases de efeito que Travis ameaça em frente ao espelho.

Música de The Clash que referencia Travis Bickle em sua letra

No caso de Taxi Driver, Travis representa alguém suscetível a fazer algo ruim a sociedade pelo que está hibernado dentro ele, esperando para ser acordado. No começo do filme nós recebemos a informação que o seu passado envolve os Fuzileiros Navais e saiu por dispensa honrosa, sendo que o motivo não é mencionado e é difícil de saber se foi por alguma guerra, já que não sabemos a data exata que o filme se passa (apesar de dar a entender que o Vietnã seja o conflito). Mas o importante é ver como Travis é um receptáculo pronto para ser preenchido por algum sentimento e o momento em que ele entra no trabalho de taxista noturno, aquele vazio se transforma em nojo, desprezo e pura ira ao nível mais baixo da sociedade.

Logo após a primeira parte que representa todos os pensamentos e planos para criar esta limpeza, a ação começa e tudo que o personagem e os espectadores queriam ver, que é a simples e pura redenção de tudo que há de ruim na sociedade acontece magistralmente.

Drive

– Ele é o vilão? – Sim. – Como sabe? – Porque ele é o tubarão. – E não existem tubarões bons?

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Diferente de Taxi Driver onde Travis Bickle se torna tudo que ele tanto sonha, em Drive o protagonista sem nome quer procurar uma forma simples e limpa de sair deste mundo tão sujo. E mesmo assim o assassino dentro dele continua vivo para fazer o que sabe melhor.

Drive conta a história de um motorista sem nome que trabalha em dois empregos legais e um ilegal, sendo um mecânico e dublê automobilista para filmes de Hollywood de manhã enquanto ele se torna um piloto de fuga a noite e é contratado para os bandidos que precisam de uma veloz e ágil forma de escapar da policia.

Assim como Taxi Driver, Drive é sobre o protagonista e a sua procura pela felicidade, não só profissionalmente mas também amorosamente. As coisas começam a melhorar para ele assim quando Shannon (Bryan Cranston), chefe da oficina e amigo do protagonista, o apresenta para Bernie Rose (Albert Brooks), que pretende ajuda-lo a se tornar um piloto profissional. No outro lado, Irene (Carey Mulligan), e seu filho se tornam o interesse amoroso e a possível saída para algo melhor diante ao protagonista.

O que temos diferenciando qualquer outro filme neste tema é que o piloto sem nome de Drive alterna entre estas duas opções, tentando se retirar do submundo criminoso para ter uma vida normal enquanto uma série de fatores vão se acumulando e ele começa a entrar em um colapso.

Tudo isto é visível graças as sutis expressões faciais de Ryan Gosling, além do cansaço e suas olheiras se destacando cada vez mais após um momento sanguinolento atrás do outro. Outros elementos que se aliam a esta concepção vem desde o enigmático símbolo de escorpião dourado que ele tem nas costas de sua jaqueta que remete a Fábula do Sapo e do Escorpião, diversas cenas de silêncio após o massacre visual do protagonista em seus inimigos e todas as vezes que vemos uma sensação de desolação nos olhos do piloto.

Assim Drive não é somente uma história de ação e aventura do protagonista, mas sim uma lição transmitida por alguém que quer se tornar um herói neste mundo lamacento.

Se você quiser entender um pouco mais sobre Drive, aconselho a ver o vídeo de analise feito pelo critico Chris Stuckmman (em inglês), onde ele fica por quase vinte minutos analisando cada cena crucial do filme (ou seja, só assista caso já tenha visto o filme) e traz um pouco de sua opinião a mesa diante todas os objetos para se adentrar na personalidade do protagonista.

 

Rampage

Nós somos tão preciosos não é? Todos tem que viver, todos tem que estar felizes. É uma piada, uma verdadeira piada.

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Por último temos o filme que podemos considerar como um dos mais polêmicos, tanto pelo seu famigerado diretor quanto pelo tema e sua crítica social. Rampage é um filme dirigido por Uwe Boll, o infame diretor conhecido pelo seu péssimo trabalho em adaptar jogos para as telonas, que consiste em obter os direitos de diversos jogos famosos e adorados pelo público e colocar adaptações cinematográficas sem o menor sentido com o universo do jogo e nem conseguindo fazer algo diferente que dê certo.

Mas quando o assunto é sobre filmes autorais, Uwe Boll consegue trazer algo significativo e importante para a nossa sociedade. Por mais que seja difícil pensar que Uwe Boll tenha feito um filme competente, Rampage é exatamente isto, trazendo uma história bem trabalhada, um enredo satisfatório e um protagonista feito para que todos nós odiássemos o máximo possível.

Rampage conta a história de Bill Williamson, atuado pelo protégé de Uew Boll, Brendan Fletcher, sendo um homem de 23 anos que se encontra na confusão mundana de sua vida. Seus problemas são semelhantes aos nossos: um chefe que te enche no trabalho e uma família que te força a ir atrás de metas e objetivos mesmo não tendo noção alguma de como os conquistar, além dos próprios problemas do protagonista estarem relacionados a sua introversão, sociopatia e solidão.

Tudo chega até um ponto onde Bill decide criar uma massacre em massa, se armando com duas submetralhadoras, duas pistolas, duas facas e uma armadura pesada repleta de placas de metal em volta do corpo para conseguir limpar a cidade com mais eficiência.

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Boa parte do filme foca na morte, em todos os assassinatos e situações que Bill se encontra durante a sua matança e o filme não tem medo de mostrar qualquer tipo de violência visual. Mulheres, crianças, policiais e pessoas que estão andando na rua se tornam vitimas de Bill durante o seu pé de guerra na pequena cidade fictícia de Tenderville, Oregon.

As mortes são bem feitas e algumas cenas conseguem se destacar pela brutalidade noticiada, relembrando aos notórios e trágicos massacres ocorrido nos Estados Unidos nos últimos anos. A forma que a câmera é controlada, dando a ideia de que o filme é um documentário, somente aumenta a tensão e Brendan Fletcher faz um trabalho impressionante em interpretar Bill, um protagonista que dificilmente vemos como um herói, mas sim um sociopata com a simples vontade matar todos em sua volta.

Rampage consegue surpreender não somente pelo fato de um infame diretor estar fazendo todo o trabalho de uma forma competente, mas também pela retratação do protagonista psicopata. Enquanto os protagonistas dos filmes que mencionei procuram alguma justificativa para amenizar a brutalidade de seus atos, Rampage decide ir para uma direção totalmente diferente e mostra o dedo do meio para qualquer razão e bom senso, fazendo com que Bill Williamson seja um antagonista nesta história e nós sendo as pessoas que estão vendo todos os seus atos e mesmo assim não podendo fazer nada para impedir.

Cine Arkade: Você gosta de protagonistas psicopatas?

Estes três filmes se correlacionam graças ao foco no protagonista. Taxi Driver, Rampage e Drive fazem parte de todos estes filmes criam cuidadosamente um personagem que nos fazem sentir algo por eles, seja simpatia, raiva ou puro desdém. Existem vários personagens na indústria cinematográfica que merecem menções honrosas, sendo que estes três foram escolhidos pelas suas desvantagens e problemas pessoais, com cada um destes protagonistas trabalhando lado a lado com sua psicopatia, seja a descobrindo, a evitando ou simplesmente a alimentando cada vez mais.

Mas agora que terminei de falar sobre eles, teve algum filme ou personagem que não mencionei, mas que você acha interessante falar sobre? Deixe a sua resposta nos comentários e vamos conversar!

10 Respostas para “Cine Arkade: Você gosta de protagonistas psicopatas?”

  • 1 de novembro de 2014 às 15:05 -

    Will

  • Muito bom o texto, Taxi Driver é meu filme favorito, tanto pela atuação do De Niro, quanto pela direção do Scorsese.Um filme que tem protagonistas psicopatas, mto bom é “True Romance” (Amor a Queima Roupa), escrito pelo Tarantino, e dirigido pelo Tony Scott, onde um homem se apaixona por uma prostituta,  e acaba se envolvendo com cafetões, gangsters e a mafia italiana. Durante o filme podemos ver o protagonista se transformar em um psicopata maluco, depois de ter uma visão com o Elvis Presley ele começa a matar sem remorso ou culpa, ele claramente tem algum problema psicologicoOutro filme que vale a pena citar é “The Driver” de 1978 dirigido pelo Walter Hill, eu acho que esse filme inspirou um pouco o filme Drive, e o classico jogo Driver do PSX, o filme conta a historia de um homem de nome desconhecido que leva a vida roubando carros e sendo piloto de fugas tbm. Esse filme tem similaridades com o classico filme Francês “Le Samourai”.

    • 2 de novembro de 2014 às 11:11 -

      Henrique Gonçalves

    • Eu não cheguei a ver True Romance, acho que foi um dos únicos que ele fez (ou teve alguma participação que não vi). Outro que o Tarantino somente escreveu que é muito bom é Natural Born Killers, ele é um pouco psicodélico e algumas atuações são um pouco exageradas, mas Woody Harrelson faz um ótimo papel e a vibe surreal dele dá um toque bem legal quando você finalmente se acostuma com a premissa toda.

  • 1 de novembro de 2014 às 20:59 -

    leandro leon belmont alves

  • bacana o Texto, Taxi Drive é uma obra prima realmente. eu não diria que o Travis é um Psicopata…ele ao menos fez o bem, do jeito dele, mas fez. ainda tenho que assistir esse Drive. que dizem ser bom

    • 2 de novembro de 2014 às 11:08 -

      Henrique Gonçalves

    • Dos três Taxi Driver é o meu favorito, Drive me fez gostar do Ryan Gosling e de seus filmes, enquanto Rampage é um dos que me surpreendeu porque eu realmente não esperava que seria um filme tão bom assim. E por isso me sinto obrigado em recomendar a sequência de Rampage, intitulada Capital Punishment, que o ator principal leva o filme tão bem que me faz pensar o motivo dele não ser chamado para filmes com uma produção maior.

  • 2 de novembro de 2014 às 12:15 -

    Renan do Prado

  • Belo texto henrique!!!! Desses só assisti Drive, mas infelizmente não vi o final, vou pegar o filme pra qualquer hora pra assistir direito.

    Mas não posso deixar de não lembrar dos meus flmes favoritos do tipo: Kill Bill vol 1 e 2. Apesar de não ser “sério” como os 3 citados, mostra uma protagonista que não tem pudor algum em matar, e quando vê que vai ser mãe resolve fugir de tudo, e de uma maneira que achei muito legal!!!

    Fora o sangue frio: “No, to get even, even-Steven… I would have to kill you… go up to Nikki’s room, kill her… then wait for your husband, the good Dr. Bell, to come home and kill him. That would be even, Vernita. That’d be about square.”

    Além, é claro, dessa atuação perfeita da Lucy Liu!!! 

    • 2 de novembro de 2014 às 14:08 -

      Henrique Gonçalves

    • Kill Bill cara! Depois de ter visto os dois no Netflix fiquei até triste por pensar que demorei tanto tempo para vê-los hahaha.

  • 2 de novembro de 2014 às 14:26 -

    Junior Candido

  • Taxi Driver é dos clássicos intocáveis. Não pode ter remake nem nada do tipo, igual Scarface (que é um remake dum filme dos anos 30 mas dane-se!). Em raras ocasiões você assiste um filme onde o “mocinho” vai se “destruindo” praticamente sozinho cena após cena. E nunca um filme foi tão solitário mesmo com tanta gente ao redor. Eterno!

    • 3 de novembro de 2014 às 09:14 -

      Henrique Gonçalves

    • Você acabou de falar quase todos os motivos que fazem Taxi Driver o meu filme favorito de todos os tempos!

  • 3 de novembro de 2014 às 02:37 -

    Babiro

  • Meu Deus, sou o único aqui que não viu esses filmes??? Preciso ver mais filmes clássicos urgente, a começar por esses três ai. Anotados!!

    • 3 de novembro de 2014 às 09:13 -

      Henrique Gonçalves

    • Hahahahaha, faça que nem eu e comece escrever uma lista dos filmes que você ainda não viu. Foi só desse jeito que eu consegui assistir os clássicos!

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