Clássicos: Test Drive (PC) – O avô de Need for Speed e Gran Turismo
Olá leitores do Arkade. Convido vocês a embarcar comigo em uma viagem no tempo até 1987, ano em que a Accolade (hoje Atari Games) lança o primeirríssimo Test Drive.
O leitor mais atento e informado quanto à história dos jogos de corrida pode se perguntar: “e quanto aos jogos mais antigos, como Enduro ou Grand Prix, do Atari 2600? “. Pois bem, o fato é que escolhi começar já por Test Drive por dois fatores: primeiramente, Test Drive foi um dos poucos jogos de corrida da época a originar uma série que dura até hoje. Além disso, Test Drive trouxe uma característica inovadora para a época: visão onboard (ou “câmera do motorista”, como costumávamos chamá-la).
Mas vamos com calma. Há um longo (ou ao menos importante) caminho antes de podermos apreciar o jogo em toda sua glória. Primeiro, no melhor estilo “Matrix“, o jogo lhe oferece duas possíveis escolhas: jogar com o teclado ou com um joystick.
Os comandos são basicamente os mesmos no teclado e no joystick: seta/joystick/direcional para cima/frente acelera, para baixo/trás freia, direita e esquerda fazem as curvas. A única diferença nos botões é que, enquanto no teclado são necessários dois botões distintos para subir ou descer as marchas, no joystick essa função fica a cargo de um único botão. Apertou enquanto acelera, a marcha sobe. Apertou freando, a marcha desce.
Apesar de terem comandos praticamente idênticos, teclado e joystick apresentam características que influenciam a jogabilidade de forma crítica.
Explico: o sistema operacional da época, o MS-DOS, não era muito bom em reconhecer duas teclas pressionadas simultaneamente. Ou seja, se escolher jogar pelo teclado, o nível de perícia e treino necessários para vencer o jogo sobe consideravelmente. Isso porque todos os carros do jogo vem com transmissão manual, o que significa, por exemplo, que para subir as marchas, você deve, obrigatoriamente, “tirar o pé” do acelerador, tornando a experiência um pouco mais real.
Além disso, durante as curvas, é fácil esquecer dessa limitação e tentar continuar freando enquanto gira o volante, o que pode levá-lo a uma trágica colisão com uma caminhão que vem no sentido oposto, ou acelerando, o que o levará a ficar eternamente andando a 20 milhas por hora sem se dar conta. (sim, milhas, numa época em que “globalização” era apenas um sonho dos economistas, o pessoal da Accolade decidiu por favorecer seus compatriotas, usando o sistema de medidas adotado por lá).
Escolhendo o joystick, a coisa fica um pouco mais fácil, pois é possível trocar marchas e fazer curvas sem ter que soltar o acelerador ou o freio. Desse modo, a jogabilidade fica um pouco mais fluida e te libera para curtir os outros aspectos do game, dos quais falarei mais adiante. Só é necessário se lembrar do botão único para troca de marchas.
Passado o dilema do método de controle, somos apresentados à tela de seleção de carros, que traz informações detalhadas das possíveis escolhas, como esta que você vê abaixo:
Escolhido o carro, finalmente chega a parte mais divertida: cair na estrada. Você é colocado em uma pista estreita à beira de um penhasco, e tem que usar toda sua habilidade para desviar dos outros carros enquanto evita uma queda catastrófica. Ao menos esse é o espírito, já que, talvez pela tecnologia disponível na época, talvez por estética, os programadores se viram obrigados a substituir todo tipo de acidente por um genérico pára-brisas trincado.
E esse é o momento onde se separam os meninos dos homens. Isso porque, como mencionado anteriormente, a mudança de marchas é completamente manual. Assim sendo, seu carro começa o jogo em ponto morto e, se você acelerar demais sem engatar a primeira marcha, seu motor “explode” sem dó nem piedade. Isso mesmo, “explode”, pois na verdade tudo o que se vê quando isso ocorre é o mesmo pára-brisas trincado, sem maiores explicações. É um detalhe que não chega a atrapalhar a experiência a ponto de torná-la desagradável, adiciona inclusive um irresistível charme retrô ao jogo. Entretanto, jogadores inexperientes ou impacientes podem acabar desistindo do jogo após três ou quatro tentativas frustradas de fazer o carro andar.
Uma vez em movimento, o jogo se mostra uma experiência agradabilíssima, principalmente se você não se incomodar com os efeitos sonoros típicos da época (que para os mais velhos trazem nostálgicas memórias de infância). Aliás, o som é outra parte do jogo que contribui ainda mais para a imersão: sendo os carros disponíveis esportivos puro-sangue, não há rádio nem outras firulas que possam distraí-lo da estrada. Além do carro em si, seu único companheiro é o aparelho detector de radar, que apita e pisca sempre que há um radar por perto. Nessas ocasiões, é necessário reduzir a velocidade até o limite indicado nas placas às margens da pista antes que o dispositivo pare de apitar, ou uma viatura policial começará a lhe perseguir.
É nesse ponto que perícia e atenção são fundamentais, por dois motivos: geralmente, quando o aparelho começa a apitar, todas as placas que indicam a velocidade máxima do trecho já ficaram para trás, portanto vale a pena estar sempre de olho nelas para não ser surpreendido por uma viatura policial no retrovisor. Além disso, não é raro (principalmente nos níveis mais avançados) os radares aparecerem na hora em que estamos entrando numa curva fechada, a 120 MPH, tentando ultrapassar um carro mais lento e desviando de um caminhão na contra-mão. Coloque aí aquelas limtações do DOS que eu mencionei anteriormente, e temos um desafio dos mais complexos (e divertidos) da história dos games.
Caso a viatura apareça, o jogo lhe dá duas opções: ou você tenta fugir da polícia (o que não é especialmente difícil se você for capaz de manter a velocidade em torno de 130 MPH), ou se entregar, reduzindo a velocidade e permitindo que a viatura te ultrapasse, freando em seguida para não acertá-la em cheio. Enquanto fugir pode parecer a melhor escolha, e geralmente é, há momentos em que é mais vantajoso se entregar, pois a única punição pela multa é ficar com o carro parado por alguns segundos. Isso se aplica a momentos em que estamos na última “vida” (são cinco, que se renovam ao fim de cada estágio) em um trecho onde é difícil manter uma boa velocidade ou quando a viatura já está na nossa frente, pois ela ficará lá até o carro parar ou até batermos nela.
Ao fim de cada estágio, o carro para automaticamente em um posto de gasolina, onde o frentista lhe elogia ou perturba de acordo com a sua velocidade média no trecho anterior, contabiliza seus pontos de acordo com o tempo gasto para completar o trecho e lhe dá dicas sobre o jogo, te liberando em seguida para mais algumas milhas de asfalto.
Em resumo, podemos dizer que Test Drive é um daqueles clássicos que resistiram bravamente ao tempo, se mostrando bastante divertido mesmo nos dias atuais. É um jogo imperdível para os fãs de jogos antigos, bem como para os apreciadores de jogos de corrida. Se a franquia Test Drive está aí até hoje, isso se deve em muito às suas raízes. E, como pudemos ver, são raízes bem fortes.
Raphael
Que legal! Eu jogava bastante Street Rod.. valeu por compartilhar André!
Rodrigo Silva
Opa, então aguarde, porque o review de Street Rod já está no forno, amigo!
Abraços!
Alexo Mello
Será mesmo que era o DOS que não reconhecia mais de uma tecla pressionada? Eu tenho impressão que é mais uma questão de técnica de programação do que limitação do hardware/sistema operacional. De qualquer forma, DOS era “osso” mesmo! rss
Renan
Jogos no DOS tinham uns muito bons!!!! Saudades do tempo das aulas de informática da 4ª série que o professor colocava jogos de DOS nos PCs da escola pra gente jogar!!!!!!
Neo Rock X
Este jogo me lembrou do The Duel:Test Drive 2 do SuperNES, que era interessante, mas na época não era fã do gênero, só comecei a gostar desse tipo de jogo depois de GT2(PS1), …Há tantos jogos bons que eles poderiam relançar como:os já citados jogos da franquia Test Drive,Top Gear, NFS (do 1º ao Most wanted),SEGA Rally,etc…
beduschi
bom relembra dos clasicos :D
Carlo Henrique
Vou ver se já é abandonware e se for, vou jogar esse jogo, me empolguei.
Renato mandi
Caramba! Que velharia. Joguei muito isso. Eu não entendia o objetivo do jogo mas gostava de jogar. Esse jogo e Stunts ficaram na minha memória.
byel
e claro