Começou Assim: Atari Lynx, o primeiro portátil com cores

21 de agosto de 2022
Começou Assim: Atari Lynx, o primeiro portátil com cores

Quando o Game Boy surgiu, e com ele a amplificação do conceito de se jogar de forma portátil, logo surgiram outras alternativas de concorrentes, tentando explorar uma ausência (intencional) do console da Nintendo: as cores. Mesmo sem cores, o portátil da Big N foi soberano, até receber suas cores, em 1998, nove anos após seu lançamento original.

Assim, a concorrência tentou atacar a soberania do console que foi o lar de Mario, Link, Donkey Kong e tantos outros personagens da Nintendo, justamente no ponto que o console, intencionalmente, não disponibilizava a seus jogadores: as cores. Foi com isso em mente que a Atari, já sem o mesmo brilho de outros dias e buscando voltar a ter seus dias de glória, aproveitou uma oportunidade e apresentou o primeiro console portátil de todos os tempos com cores.

É esta história que iremos conferir juntos desta vez.

Antes de tudo, o Super Micro da Palmtex

Começou Assim: Atari Lynx, o primeiro portátil com cores
Tela “em cores” e com simulação em 3D, em 1983

É claro que foi o Atari Lynx o primeiro portátil colorido de todos, mas não há como não mencionar o Super Micro da Palmtex, lançado em 1983. Conhecido primeiro como Portable Videogame System (PVS), foi desenvolvido pela companhia Palmtex como um dispositivo para jogos portáteis. Posteriormente, recebeu o nome de Super Micro por causa de uma parceria com a Home Computer Software.

Obviamente, não se trata de um sistema dos mais conhecidos, por não ter sido um sucesso em vendas. O sistema conta com apenas três jogos lançados (React Attack, Aladdin’s Adventures e Outflank), e o estoque que acumulou foi eliminado, segundo algumas hipóteses, através de vendas por correspondência em promoções a preços muito baixos. Também é óbvio que o item se tornou, graças ao seu contexto histórico e sua raridade, algo procurado por colecionadores.

E o portátil da Palmtex tinha sim cores, mas não de forma plena. A tela do dispositivo, de 16×32 pixels, era monocromática, assim como a do Game Boy. Entretanto, ele trazia um sistema de camadas, capaz de não só causar a ilusão das cores, como propor até um sistema de entretenimento em 3D, muitos anos antes do Nintendo 3DS trazer uma proposta semelhante. Assim, apesar de um console que podia reproduzir cores, não o fazia de forma nativa, o que não o qualifica como um portátil 100% a cores, como o Atari Lynx.

O Lynx: Mais uma tentativa da Atari

Começou Assim: Atari Lynx, o primeiro portátil com cores

Cinco meses após o lançamento do Game Boy, a Atari lançou em setembro o seu Lynx, a primeira investida da companhia no mundo dos portáteis. À venda por US$ 179,99 (cerca de US$ 430 nos dias atuais, ajustada a inflação) o portátil tinha algumas missões. A mais importante, claro, era devolver a Atari para o topo do mundo do videogame, uma vez que seus problemas nos anos 80 a fizeram perder terreno, especialmente para as companhias japonesas, que desembarcaram com sucesso nos EUA e Europa.

Mas além disso, o Lynx nascia com outros desafios. Por parte da própria Atari, era a vez dele tentar recuperar terreno perdido desde os dias de Atari 2600, uma vez que os produtos posteriores passaram longe do impacto do seu primeiro sistema. E também era um console que nasceu, claramente, para fazer frente à Nintendo, tentando obter espaço no recém-descoberto espaço dos consoles portáteis.

Uma de suas armas era a sua tela LCD, que possuía 160×144 pixels, capaz de reproduzir até 16 cores simultâneas, em um total de 4096. O console foi, originalmente, desenvolvido pela Epyx, a mesma softhouse que desenvolveu o conhecido California Games, que no Brasil fez muito sucesso no Master System, com o nome de Jogos de Verão.

Ele se chamaria no começo Handy Game, e teve a participação de Dave Needle e R.J. Mical no projeto, dois nomes que também estiveram presentes na criação do computador Amiga. A Epyx chegou a apresentar seu projeto em janeiro de 1989, porém não tinha condições financeiras de produzir o console por conta própria, quando a Atari entrou na jogada, sendo a parceira ideal para produzir e comercializar o portátil.

Assim, literalmente, “caiu no colo” da Atari uma oportunidade enorme: ela teria a tempo de concorrer com o Game Boy um produto tecnicamente melhor, com um estúdio já consolidado produzindo games e com possibilidades ainda não exploradas pelo mundo portátil. Como exemplo, podemos falar do jogo Slime Word, onde até oito pessoas, em rede no portátil, poderiam jogar juntas. O console ainda receberia games como Double Dragon e Shadow of the Beast.

Do lado de “dentro”, o portátil era bem poderoso, para um console de mão. Tinha processador central de 8-bits, mas se auto-proclamava 16-bits de forma semelhante ao PC Engine, por contar com um processador de vídeo com esta capacidade. É claro que isso rendeu imagens impressionantes para a época, com jogos de qualidade técnica muito superior aos apresentados no Game Boy.

Começou Assim: Atari Lynx, o primeiro portátil com cores
A Atari também tentou provocar a Nintendo

Mas, como sabemos, não foi um grande sucesso, embora tenha vendido aproximadamente 5 milhões de unidade. Não foi um grande sucesso se compararmos com o Game Boy, que vendeu mais de 118 milhões de unidades, e é, até o momento, o terceiro console mais vendido da história. O que a história conta é que seu preço alto (o Game Boy era US$ 90 mais barato), a disponibilidade de grandes games pelos lados da Nintendo (especialmente Tetris) e o alto consumo de bateria (a razão pela qual a Nintendo decidiu diminuir as capacidades de seu portátil) fizeram a balança pesar para o lado da Nintendo.

No fim, o consumidor preferiu games relevantes e praticidade portátil a melhores gráficos e cores. O próprio Game Boy desbancaria, até 1998, ano em que ganhou cores, outros concorrentes, como o Game Gear da SEGA, ou o Neo Geo Pocket, da SNK. Mas é inegável o esforço da Epyx e da Atari em, ainda no final dos anos 80, produzir aquele que seria o primeiro console portátil colorido de todos, vendo posteriormente o próprio Game Boy, e iniciativas como o PSP, o Nintendo 3DS ou o conceito atual do Nintendo Switch e de smartphones (isso sem falar dos muitos portáteis retrô chineses) evoluir este conceito de entretenimento portátil (e em cores) tanto tempo depois.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui!

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