Crítica – Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

2 de outubro de 2019
Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

Nos últimos 10 anos, graças ao trabalho da Marvel Studios, Sony Pictures e a FOX Film, entre outras iniciativas na TV, como as séries com personagens da DC Comics, ou as de personagens Marvel na Netflix, os super-heróis ganharam destaque no mundo pop. Os blockbusters dos Vingadores arrebatam bilheterias, e séries como Gotham, Supergirl, e Flash, conquistam bons seguidores.

Porém, uma nova era para o gênero pode estar se iniciando com um vilão. Após dezenas de filmes recheados de cenas de ação, teorias e repletos de adrenalina, chegou a vez dos personagens das HQs pisarem em um outro terreno. E o escolhido para esta “missão” foi o vilão mais importante de todos os tempos nos quadrinhos: o Coringa.

Com alma de filme cult, e forte inspiração em clássicos como Taxi Driver, Scarface, Um Dia de Fúria, ou A Laranja Mecânica, o filme traz, de uma maneira mais profunda, a ascensão do vilão palhaço. Com um trabalho de fotografia primoroso, uma brilhante atuação de Joaquin Phoenix, e uma história que surpreende nos mais simples detalhes, temos, um dos melhores filmes do ano, o melhor filme com personagens de quadrinhos já feito em todos os tempos, e um forte candidato a várias categorias no Oscar.

Uma Gotham no lixo

Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

Coringa é situado no início anos 80, com uma ambientação incrível. Em nenhum momento o filme diz que estamos nesta época. Porém, contextos e elementos nos inserem neste ambiente. Você sabe que é os anos 80 por causa dos carros, pôsteres de publicidade arcades, como Pong, ou o ambiente da cidade. Sem contar o comportamento da população, que fuma o tempo todo, e lida com questões como problemas com a coleta de lixo.

Gotham é inspirada na Nova York desta época. Uma cidade extremamente violenta, que sofria com graves problemas de desigualdade social, e que estava a beira de um colapso. Tanto pelo contexto histórico, como plano de fundo para o personagem, a decisão se mostrou a melhor possível.

Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

As referências, nostálgicas, servem também para prestar tributos, de várias maneiras, a muitos elementos. Como os talk-shows da época, neste caso vivido brilhantemente por Robert de Niro, que vive o apresentador Murray Franklin. Esta presença é referência direta ao clássico O Rei da Comédia, interpretado também por De Niro. Ainda há diversas referências ao universo do Batman, que deixarão os fãs do Homem-Morcego satisfeitos.

Todos os elementos são fundamentais para apresentar ao público a ascensão do vilão. O longa, dirigido brilhantemente por Todd Phillips, também apresenta de forma profunda e bem próxima, a vida de Arthur Fleck, o aspirante fracassado a comediante que sofre de transtornos psicológicos. Há momentos brilhantes, no qual o diretor nos coloca, praticamente dentro da pele de Arthur, para entender, da melhor maneira, como o vilão pensa.

Sem dó nem piedade

Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

Coringa é um filme pesado. Mas não glorifica nada, nem ninguém. Pode-se dizer que o filme é cru, e é pesado por mostrar os fatos como eles são, sem muita preocupação com defender pontos de vista. Isso fica com o espectador, e se ele quiser. O filme mostra Arthur em suas lutas, em seu drama, e em sua “transformação” em Coringa.

Tudo isso levado por um trabalho de fotografia excepcional. A proximidade já mencionada com o personagem é ainda mais eficaz com vários momentos nos quais nós estamos “sozinhos” com Arthur. O filme o deixa, em vários momentos, em meio à multidão ou em um quarto, sozinho, deixando-o refletir com os seus dramas, e suas questões.

E, se o Coringa é um personagem conhecido por levar o caos, é isso que o filme o mostra fazendo. Sem medo de parecer cruel, pesado ou exagerado. Não há exageros, e nem a glorificação da violência. Há apenas o vilão sendo ele mesmo, e em sua melhor forma. Joaquin Phoenix executa brilhantemente tanto Arthur, quanto o Coringa. Ele consegue levar a tristeza de um homem abalado psicologicamente, e a “alegria” do mensageiro do caos.

Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

O Coringa já foi muito bem representado, em suas mais variadas formas, com o passar dos anos: desde os tempos canastrões de Cesar Romero, passando por Jack Nicholson, Mark Hamill e o inesquecível Heath Ledger em O Cavaleiro das Trevas. Por isso, é difícil falar que, mesmo com todas as qualidades possíveis, Phoenix pode ser o melhor Coringa de todos os tempos. Esta escolha fica pra cada um decidir.

Entretanto, não tem como negar o trabalho primoroso do ator. O seu Coringa é tão bom, mas tão bom, que Robert de Niro, Brett Cullen, e Francis Conroy, que estão ótimos em seus papeis, não conseguem ofuscar o brilho do protagonista. Ele consegue, em todos os momentos, levar ao espectador, de uma maneira muito profunda e intimista, quem ele é, e as razões que o fizeram decidir se transformar em Coringa.

A brilhante ascensão do palhaço

Crítica - Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime

Repito: Coringa é o melhor filme de personagens de HQ de todos os tempos. Não digo isso para desmerecer os outros filmes, e as outras maneiras de se fazer filmes com super-heróis, que geralmente escolhem o caminho do blockbuster, com suas muitas cenas de ação. Mas falo isso devido à toda a qualidade, em história, em fotografia, e fan-service para os fãs do Batman. É, de fato, um forte candidato em várias categorias ao Oscar, em 2020.

Além de brilhante, o filme abre precedente para uma “nova fase” para os filmes baseados em personagens de quadrinhos. Após décadas de filmes focados na ação, e feitos para a família, pode ser que a hora dos filmes mais sombrios, e pesados, tenha chegado. Quem ganha, se houver no futuro um Coringa 2, ou se o filme do Batman de 2021 seguir este, digamos, universo cinematográfico, é o fã. Pois ele terá mais opções de filmes do gênero, com propostas diferentes.

Coringa é digno de aplausos e reconhecimento por apresentar o maior vilão da cultura pop, do jeito que ele merece ser apresentado. De forma crua, cruel e memorável, o filme é um clássico instantâneo, que terá seu nome cravado para sempre na história do cinema.

Coringa estreia amanhã, dia 3 de outubro, nos cinemas de todo o país. Vale lembrar que, devido ao seu conteúdo violento, a classificação indicativa é de 16 anos. E possui cenas sensíveis para crianças.

2 Respostas para “Crítica – Coringa: a primorosa ascensão do Palhaço do Crime”

  • 3 de outubro de 2019 às 14:53 -

    Rafael Igor Gonçalves

  • Vocês deviam dar um aula para os críticos da Folha de São Paulo por exemplo…
    Pois toda vez que escuto que alguém escreveu uma merda de crítica, normalmente vem de la.

  • 3 de outubro de 2019 às 21:53 -

    Helinux

  • Great!!!!! Muito bom!!!! O Coringa é um dos meus personagens vilões favoritos das HQS da vida. Tenho boas lembranças em filmes, games, Gibis e desenhos animados. valeu!!!!! Acredito que o filme esta´sendo bom e bem representado por Joaquin Phoenix!!!! Muita coisa boa pode estar vindo ai em termos de filmes e outros vilões!!!! valeu

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