Editorial: Eu gosto de um jogo que todo mundo odeia. E agora?

20 de janeiro de 2018

Editorial: Eu gosto de um jogo que todo mundo odeia. E agora?

Há pouco mais de uma semana, abordamos um assunto bem recorrente hoje em dia, que é quando uma pessoa não gosta do game mais popular do momento, usando como exemplo a “febre mundial” de Playerunknown’s Battlegrounds. Mas também existe o outro lado da moeda, um que é ainda mais difícil de se estar: Que é quando você gosta de um game que todo mundo odeia. E agora, o que fazer?

Essa seria uma posição até tranquila de se estar, se não estivéssemos na época em que estamos. O “Ame-o ou odeie-o”, que já não é algo bom, se tornou ainda mais complicado, ao ponto que muitos outros fatores acabam forçando-se na fórmula, sejam internos ou externos. E debater já é por si só algo muito difícil de se fazer, mas precisamos sempre tentar!

Editorial: Eu gosto de um jogo que todo mundo odeia. E agora?

Atualmente, os méritos e defeitos de um game já não são mais os únicos pesos na balança, conta também quem está por trás dos games, seus produtores e principalmente seus estúdios. Muitos jogadores encaram games ou estúdios como Clint Eastwood encarava seus inimigos em antigos faroestes: nunca de guarda baixa, atentos a qualquer vacilo e movimento em falso que sejam feitos. E que fique claro, não há nada de errado nisso, pelo contrário, é uma postura que cada vez mais devemos ter, infelizmente.

Por essas e outras, quando um game é mal recebido, ou quando é negativamente criticado, pode ter certeza, é um MAL com todas as letras em maiúsculo. E com isso, torna-se bem difícil estar na posição de alguém que gosta do game odiado do momento. E que melhor exemplo para se colocar nessa situação do que o recente Star Wars: Battlefront II.

Star Wars: Battlefront II – ou – O Lorde Sith dos Video Games

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A situação em que o game se encontra hoje em dia é a de “fracasso comercial”. O game vendeu pouco em comparação com outras séries de FPS. Isso levando em conta que carrega o nome Star Wars, que é por si só muito poderoso com a Força. A razão para isso foi a forma extremamente gananciosa que a EA Games tratou o game: Encheu-o com microtransações abusivas e “travas” que ou forçavam o jogador a se dedicar de uma forma impossível para progredir pouco, ou então abrir a carteira e pegar o caminho mais fácil para evoluir. Praticamente uma analogia ao Lado da Luz e o Lado Negro da Força não é?

As reações foram tão, mas tão negativas que até mesmo a própria Disney interferiu e exigiu que a forma abusiva com que o game estava sendo tratado fosse encerrada. As razões dessa interferência da Disney no entanto não foram totalmente a favor do game em si, ou dos jogadores. Pois as práticas da EA em cima do game estavam também manchando o nome da franquia Star Wars, que atualmente é propriedade da Disney. Resumidamente: toda a recepção negativa que o game recebeu antes de seu lançamento obrigaram a EA a desistir da forma extremamente gananciosa que estava tratando do game. Mas, o estrago já havia sido feito. E muitos jogadores, bem como muito veículos midiáticos, não se sensibilizaram e criticaram duramente o game em opiniões e análises.

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E é aí que entra a questão que deu o título a esse artigo: Apesar dos pesares, Battlefront II ainda assim é um bom game. E eu, editor da Arkade e jogador, ainda me divirto muito com ele! Mas como isso é possível? Que sacrilégio é esse? Tá rolando dinheiro por trás dos panos não é? (Sim, fui acusado de ter sido comprado por ter gostado do game)

O que se pode fazer numa situação dessas? Em que parece que você é um cúmplice de um criminoso? No caso de Battlefront II, por exemplo, o problema está em dar suporte a um game criado com o objetivo de faturar mais e mais dinheiro (deixemos de lado por um momento o fato das microtransações estarem desativadas), pois se um game com essa fórmula vende bem, seu estúdio entenderá apenas o que lhe convém, que é: “se um game com microtransações vendeu bem, significa que as pessoas gostam de microtransações”, consequentemente, mais games com mais microtransações serão criados.

Todos odeiam, mas ainda deve ter algo bom nele

Com isso, uma mentalidade “boicotadora” nasceu, em que muitos não compram certos games para que algumas empresas sintam onde dói, no bolso, que os jogadores não estão contentes com essas práticas. Essa é uma prática sim válida, afinal, os jogadores não tem muitas formas de fazerem suas vozes ecoarem, quando o feedback para essas empresas não tem resultado. Mas isso deixa muitos jogadores num fogo cruzado.

Compra quem quer. E ignore a opinião dos outros”. Qualquer problema em qualquer área  poderia ser “facilmente” resolvido com um argumento desses, mas não é assim que se faz um debate, não é? Mas, entraremos nesse assunto mais pra frente.

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Acontece que, mesmo com todos os seus defeitos, ainda há coisas boas em Battlefront II. E olha que eu sou uma pessoa que praticamente não se interessa em FPS online! O game possui modos bem divertidos, como o Ataque de Caças Estelares, Heróis vs Vilões e o estilo de jogo principal, o Ataque Galáctico, que mistura batalhas em terra e ar. O game tem um gameplay divertido e até viciante, ainda mais para quem for um fã da franquia. Ainda que o sistema de Star Cards desbalanceie um pouco as partidas, é possível aproveitar bem e se divertir. O ponto é, mesmo com tantos defeitos, há algo de bom lá dentro.

O mesmo pode ser dito de Mass Effect Andromeda e até mesmo o massacrado No Man’s Sky. Ambos os games receberam duras críticas em seus lançamentos. No caso de Mass Effect, o grande problema foi seu visual e animações muito estranhas. Demorou, mas após um tempo grande parte desses problemas foram corrigidos, ainda assim, muitos dos que jogaram gostaram muito do game, mesmo quando ele ainda sofria com seus vários problemas. E No Man’s Sky, que qualquer um sabe a confusão que gerou. O game foi lançado com pouquíssimo conteúdo, decepcionando muitas pessoas por entregar apenas uma pequena fração de tudo o que foi prometido, além de todo o silêncio de sua produtora, que “desapareceu” após o lançamento do game.

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Atualmente, o game entrega o que prometia desde o começo (talvez não tudo, mas grande parte), e que deveria ter sido entregue desde seu lançamento. Muitos ainda o jogam e gostam dele, obviamente o game é muito mais atrativo hoje em dia do que comparado com seu lançamento, mas desde aquela época muitos ainda gostavam muito dele. Entenda que sim, ambos os games tiveram graves falhas em suas entregas, mas isso proíbe que alguém goste deles mesmo assim? Tanto em seus estados iniciais, quanto após receber melhorias?

Questione, exija. Mas também desfrute daquilo que gosta

A questão não é apenas sobre a qualidade dos video games, mas quando um game é praticamente colocado num palanque de enforcamento em uma execução pública da Idade Média (a analogia é bem exagerada, mas transmite uma ideia parecida). É quando aquele game que você está pensando em adquirir ou está jogando atualmente é o inimigo público. Aquele que não deve ser jogado.

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Tudo o que você pode e deve fazer é manter-se fiel a seus próprios gostos e instintos, afinal de contas, apenas você sozinho poderá dizer se um game é bom ou não para você. É claro que opiniões ajudam a tomar sua decisão, pois nos tempos em que vivemos, um video game é um verdadeiro investimento e ninguém quer colocar seu suado dinheiro em algo que lhe fará se arrepender. E invariavelmente os jogadores precisarão ser convencidos a dar seu dinheiro com um game, seja com trailers, análises, opiniões de amigos ou de criadores de conteúdo internet afora.

“Compra quem quer.” – Sim, isso é verdade. Você comprará aquilo que quiser jogar. “E ignore a opinião dos outros” – Sim, porém isso já não é tão fácil assim. No fim das contas, apenas uma única opinião contará, a sua. Se você quer comprar e jogar aquele game que todo mundo está massacrando, é decisão inteiramente sua. E as sensações e reações que o game poderá transmitir: se diverte, se entretém, se emociona e etc, serão única e exclusivamente suas.

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Em tempos em que se torna mais difícil não só para os jogadores saber em que game e em que produtora vale a pena investir seu dinheiro, também se torna mais difícil para os games atingirem um público maior. Isso não é nenhuma desculpa ou alguma justificativa. As pessoas se tornam cada vez mais exigentes a cada novo dia. Tenha consciência, porém, de que nem todo investimento é adequado, ou aconselhável. Ao mesmo tempo em que você é livre para comprar e gostar do game que quiser, saiba o que isso significará a longo prazo. A desativação das microtransações de Star Wars Battlefront II foram um reflexo desse pensamento.

Então se você gosta de algum game que todo o resto do mundo odeia com todas as forças, não se sinta tão pressionado, mesmo que seja um caso de um game que tenha defeitos. Ou até mesmo que esteja afogado em microtransações abusivas. Alguns games não despertam o gosto do público por características suas que não necessariamente são defeitos. E há casos em que o fracasso de um game se transforma em uma mensagem de que uma produtora precisa melhorar seu trabalho. Portanto seja sim inteligente no que você consome, no que você quer que melhore. E saiba que seu dinheiro faz sim a diferença, mas que apesar de tudo, o dinheiro é seu.

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Jogue tudo aquilo que quiser e puder, mas faça tendo consciência do preço que pagou e do que mais está relacionado ao game, caso ele também não esteja em boa situação com a comunidade de jogadores. E o principal, não se assuste ou se sinta pressionado por gostar desses jogos! Afinal, mesmo que hajam muitas críticas, ainda pode ter algo que o divertirá. E o principal, não se esqueça de que por mais difícil e improvável que possa parecer, as produtoras sentem a insatisfação dos jogadores. E mesmo que você goste dos jogos de uma produtora com más atitudes, não significa que deve parar de jogá-los por completo para exigir melhorias! Exija, queria o melhor. Mas o principal de tudo: Divirta-se, é para isso que video games existem afinal de contas!

Uma resposta para “Editorial: Eu gosto de um jogo que todo mundo odeia. E agora?”

  • 22 de janeiro de 2018 às 19:24 -

    Marcos

  • No meu caso, odeio um jogo que todo mundo gosta. É o Half-Life 2, sinceramente não vi nada de mais nesse jogo e quando falo que não gostei muitos já acham que sou louco. Sei lá, ele apenas não me agradou. E confesso que já tentei duas vezes, mas ambas falharam.
    Para ambos os casos, sempre haverá pessoas que amam ou odeiam determinado jogo, enquanto vários outros possuem opinião contrária.
    O importante é não deixar ninguém mudar seu ponto de vista.

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