ESL One BH: A força da torcida brasileira de Counter Strike é uma aula para o eSport

19 de junho de 2018

ESL One BH: A força da torcida brasileira de Counter Strike é uma aula para o eSport

Quanto mais o eSport se consolida, mais fãs aparecem e, para acompanhar os torneios, é sempre bom ter um time do coração, e admirar aquele jogador que manda bem, não é mesmo? O bacana é que hoje já existem torcidas organizadas, fã-clubes, clãs, ou seja lá o nome que você dê, com pessoas que dividem o mesmo sentimento pelos melhores.

Na ESL One BH, que acompanhei neste último final de semana (dias 15 e 17 de junho), a convite da Intel (que desde já, deixo aqui os mais sinceros agradecimentos), que também apoiou o evento e tem ajudado e muito a melhorar o desempenho de atletas, além de ampliar o alcance do eSports para que mais pessoas possam torcer, ou jogar, pude conferir a energia, a paixão e a força que o torcedor de Counter Strike tem. E não, não estou apenas falando da SK Gaming, e sim de toda uma paixão, que como sabemos, nasceu nas Lan Houses da vida, e agora ganha as arquibancadas dos ginásios e as audiências dos streamings pelo mundo.

A começar pelo comportamento do público: quem estava na ESL One, estava para torcer, não para “assistir”. Esqueça o ambiente de teatro, com pessoas comendo suas pipocas e aplaudindo as boas jogadas: um sonoro “UH VAI MORRER!” já mostrava que a vida de quem não foi escolhido pelo público seria bem difícil. É claro que todos se comportaram muito bem (com raríssimos poucos casos negativos), aplaudindo seja lá quem tivesse vencido as partidas, mas na hora do jogo, o amor era só para o time que a arquibancada escolhia.

E, é claro, que nesta ESL One BH a torcida estava especialmente direcionada para dois casos bem especiais: TACO e a SK Gaming. O jogador brasileiro da Team Liquid fez com que as arquibancadas adotassem o time de norte-americanos como se fossem legítimos representantes verde-amarelo. E, há todo momento, era possível ouvir “TACO, TACO, TACO” durante as partidas, especialmente a da semi-final, na qual sua equipe perdeu para a FaZe Clan.

Com o primeiro “time brasileiro” derrotado no torneio, a torcida se direcionou para a SK, e o clima não podia ser mais alegre: era a oportunidade de ver FalleN, coldzera e companhia ao vivo, e também era um momento histórico, uma vez que ambos os jogadores estão de saída da organização e em breve, estarão usando outro uniforme. Só a entrada da equipe mostra um pouco do clima que estava no Mineirinho durante estes dias:

A partir daí, o “caos” se deu início. Bandeiras do Brasil (ou dos clubes de futebol do coração, como Cruzeiro, Atlético-MG, Paraná, Santos, e tantos outros) eram agitadas, pessoas na área premium não conseguiam ficar sentadas e iam até o limite do palco para ver “mais de perto”, de pé, mesmo. A arquibancada pulsava como uma partida de futebol, com gritos para acertos, “uuuuuh’s” para os erros, e OLÊ OLÊ OLÊ SK SK! a toda hora.

Os comentários eram divertidos. Em um momento que fui na arquibancada, e a SK vivia momentos difíceis na partida, ouvi de um rapaz, em tom de brincadeira, que “eles deveriam ter ido soltar rojões no hotel da mousesports na madrugada”, fazendo referência ao comportamento de torcedores de futebol que fazem exatamente isso nas concentrações de times rivais às vésperas de jogos importantes.

Um outro respondeu que, ao invés disso, “deveriam protestar no CT da SK”, outro comportamento comum das torcidas brasileiras. “Ou joga por amor ou joga por terror”, gritava, rindo e se divertindo, ao mesmo tempo em que estava bem tenso, pois seu time não conseguia reagir.

Isso sem falar no show com as luzes dos celulares, com a organização “fazendo o favor” de diminuir as luzes para deixar tudo ainda mais legal:

Como todos sabemos, a SK perdeu e a mousesports é que foi para a final, mas isso não fez com que o carinho da torcida diminuísse, com direito a torcedores praticamente perseguindo os atletas em busca de uma selfie ou um autógrafo.

O hotel Ouro Minas, local em que os atletas estavam hospedados, vivia tempos semelhantes a presença de grandes bandas de rock no país, com fãs a todo momento, seja de dia, ou de noite, na porta, esperando.

No Mineirinho, uma situação bem curiosa: durante a presença da SK na área de imprensa, havia um biombo que separava o público dos atletas e profissionais de mídia. Mas havia um espaço na parte de baixo com buracos, que cabiam tranquilamente cabeças e braços, que obviamente foi ocupado por fãs que, deitados no chão, gritavam por atenção a todo momento, buscando a oportunidade de ter suas camisetas, pôsteres ou mesmo uma folha de papel marcadas com o nome de seus ídolos.

Sobre esta paixão da torcida, conversei com o boltz. Ele comentou que, para eles, foi uma sensação incrível ver essa torcida imensa que os ama, e é sempre fantástico vir jogar aqui por causa disso. boltz também comentou que acredita que a mídia tem feito um bom trabalho em apresentar o cenário, mostrando o que acontece nos eventos, sendo acessíveis para pais de torcedores mais jovens.

Na equipe, o FalleN foi citado como exemplo de jogador que atrai o público neste sentido de mídia, com suas ações, todas elas úteis e importantes para aumentar a paixão por um jogo que já conta com uma comunidade bem fiel.

E pude conferir pessoalmente esta fidelidade no domingo, dia da grande final entre FaZe Clan e mousesports. O clima no ginásio era de festa, afinal, não havia necessariamente um “time da casa” para torcer e, seja quem fosse o campeão, os aplausos viriam. Mas a FaZe foi esperta, entrando no palco com camisas da seleção brasileira e uma bandeira do Brasil, com o escudo do Cruzeiro no lugar do círculo azul com “ordem e progresso”. Isso foi suficiente para conquistar a torcida, que ficou do seu lado durante toda a partida.

Como a partida foi tensa, e resolvida apenas depois de um longo 3×2, a torcida acompanhou com tensão, extravasando em momentos chave, mas também se divertindo durante as pausas. Mas, foi com a chegada do final da partida, com o Match Point da FaZe, que o clima foi ficando cada vez mais intenso. No último ponto, não havia mais “protocolo”: a turma do Premium ficaram de pé em cima das cadeiras, prontas para comemorarem o ponto final, enquanto as arquibancadas chacoalhavam seus bate-bates, fazendo todo o barulho possível. E, com a vitória da FaZe, o público presente foi à loucura!

Contei toda esta história para quê? Para dizer que esta torcida foi incrível, e que elas servem de exemplo para o universo do eSports. Uma comunidade apaixonada como esta, que celebra seus ídolos, torce “a caráter”, com direito a “pistolagens”, xingamentos e extravaso, dão aos torneios um sabor especial. Os esforços da ESL para fazer com que o eSport tenha esta participação intensa da torcida teve como resposta uma barulheira digna de qualquer torcida de qualquer time de futebol do país, com as devidas proporções.

Sou frequentador de estádios de futebol e esta semelhança de comportamento entre as torcidas é muito positiva, pois o eSports (seja lá qual for o jogo) merece muito mais do que “apenas palmas”. Merece é bandeirão, faixas nas arquibancadas, gritos de guerra, reunião de amigos para ver junto os jogos, em caso de partidas distantes, e tudo o mais que celebre a paixão pelo esporte.

Ficou a lição: torcedor de Counter Strike, ou de qualquer outro time de qualquer outro jogo pode, e deve, expressar sua paixão enchendo ginásios, estúdios e estádios, escolhendo seu time e/ou jogador preferido para acompanhar suas jornadas e, mesmo se não houver um time preferido, o prazer de torcer pelo esporte em si já é algo bem divertido e importante para o cenário.

O brasileiro é intenso por natureza, e precisa levar isso cada vez mais para os jogos. Temos outros exemplos que você pode lembrar em que a torcida brasileira fez bonito em outros cenários, mas uma coisa é certa: se, de alguma maneira, perdemos para outros países em questões como estruturas para organização de eventos, com certeza nós ganhamos “no grito”. E que, para o bem do eSport brasileiro, este grito continue sendo cada vez mais alto e mais apaixonante.

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