Os gráficos de um game importam tanto assim?

27 de abril de 2018

Os gráficos de um game importam tanto assim?

Desde que surgiram, os consoles de videogame sempre almejaram se superar cada vez mais; seja entre seus próprios concorrentes de época, seja de uma geração para a próxima. Além das melhorias em tecnologia, memória e outros quesitos, algo sempre pareceu predominar a cada nova geração de consoles ou PCs: os gráficos.

A evolução nos gráficos que a indústria dos games viu nos últimos 40 anos é algo impressionante. A resolução das telas foi aumentando, o número de cores, a definição de imagem, o número de elementos e objetos na tela, os efeitos, a quantidade de sprites, polígonos… De algo tão primitivo e quadradão como víamos na era do Atari, hoje em dia parece que praticamente já não há mais o que melhorar, com os gráficos atingindo um nível praticamente foto realista.

Os gráficos de um game importam tanto assim?

Não só isso, os gráficos sempre foram vistos como um aspecto muito importante, pois passar a sensação de realismo era sempre grande e desafiadora. A cada novo console lançado ou a cada exposição onde as empresas mostravam as novas máquinas que iriam lançar no mercado, os comentários gerais são sempre de que os gráficos estão bonitos e superiores ao que tinham visto até então. Por isso, não é exagero dizer que, se há uma preocupação tão grande com os gráficos estarem cada vez melhores, isso acontece porque existe uma demanda do público, e assim como nossos olhos são os primeiros a reagir a coisas novas que experimentamos, os gráficos de um jogo são a primeira coisa que notamos ao jogar.

No entanto, será que a preocupação com os gráficos acabou indo longe demais a ponto de desconsiderarmos outros importantes elementos dos games? Assim como filmes e outras mídias, os jogos são compostos de diversos elementos, como gráficos, músicas, efeitos sonoros, direção de arte, design, jogabilidade, etc. Tudo isso deve trabalhar em conjunto, de forma que o jogador obtenha a melhor experiência possível com os games que vai jogar. E quando a prioridade acaba sendo os gráficos em detrimento de outros fatores como jogabilidade ou trilha sonora, por exemplo, não importa o quanto eles sejam belos, se o jogo não diverte ou não tem bons controles. É claro que certos gêneros, como jogos de cassino ou puzzles, não necessitam de gráficos maravilhosos por terem jogabilidades mais simples, mas mesmo assim podem ser arruinados se o visual não chamar a atenção ou não tiver uma trilha sonora atrativa, por exemplo.

Os gráficos de um game importam tanto assim?

Temos visto nos últimos anos o crescimento de muitas comunidades retrogamers (fãs de jogos antigos), que desejam o resgate de gêneros e estilos de jogabilidade que andam esquecidos no mercado atual. Por mais que os gráficos dos jogos de hoje estejam incríveis, muitos não demonstram interesse, e os motivos são diversos: não conseguem se acostumar à jogabilidade menos intuitiva e mais “simulador”, não têm interesse nas franquias da atualidade, ou sentem falta de gêneros que hoje em dia são negligenciados pelas empresas, mas que já fizeram muito sucesso, como os jogos de nave ou de briga de rua, que hoje parecem estar relegados às desenvolvedoras indie. Essas desenvolvedoras menores veem que existe um mercado para esses títulos, e procuram resgatar gêneros que as grandes empresas já não priorizam mais.

Mas o mais interessante de tudo isso é ver que, assim como existem jogos indie que têm gráficos muito bonitos e artísticos, também vimos um enorme crescimento no número de jogos que apostam num visual pixelado e retrô, justamente para agradar aos fãs de jogos antigos. Hoje é possível ver uma quantidade enorme de jogos que apostam num visual ao estilo 8 ou 16 bit, e isso não se limita às desenvolvedoras indie, pois recentemente até a SEGA apostou nisso com seu recente Sonic Mania.

Os gráficos de um game importam tanto assim?

Buscando atrair o público das antigas e oferecendo jogabilidades com as quais eles se identificavam mais nos jogos de antigamente, muitas empresas apostam num visual retrô para apelar aos jogadores. O grande problema é que, assim como há jogos lindíssimos com jogabilidade fraca ou cheios de bugs, o inverso também ocorre. Há jogos que usam um visual antigo, com uma proposta de apelar aos jogadores mais velhos, mas também deixam de desejar em termos de jogabilidade ou design.

Portanto, é importante nos questionarmos sobre o que torna um jogo realmente bom. São apenas os gráficos? As músicas? A jogabilidade? Não. Todos são elementos importantes, mas nada conseguem sozinhos. Como dito anteriormente, o que realmente importa é o conjunto da obra, e se o conjunto não for bem construído, a sensação será de um produto aquém do esperado. Da mesma forma, um determinado jogo não ter os gráficos mais avançados não significa necessariamente que ele não é divertido, assim como um jogo com gráficos muito bonitos não necessariamente pode ter uma boa jogabilidade. Como todo tipo de mídia, o importante é o produto como um todo. Em vez de nos atentarmos apenas a elementos específicos, vamos procurar nos atentar aos atrativos que os jogos têm para cada um de nós, não priorizando somente um dos elementos que constituem os games, mas também não descartando algo que pode nos divertir só porque não é bem o que esperávamos.

4 Respostas para “Os gráficos de um game importam tanto assim?”

  • 27 de abril de 2018 às 19:24 -

    R. Mazzali

  • Parece uma resposta simples, mas tem muita coisa pra levar em consideração. O gamer atual não pegou uma escola das antigas como o amigo citou no comentário. E isso influencia e muito no gosto do gamer. Eu sou de uma época que gostava de “gráficos” bonitos, mas gostávamos além de tudo da diversão, da dificuldade (não tinha internet pra consultar o que fazer em determinado jogo, tínhamos que rezar pra sair em alguma revista alguma dica kkk), trocávamos de console com os amigos, jogávamos juntos, mesmo debaixo do “console wars” Sega x Nintendo. No fim das contas, isso é o que valia. Há pouco muito se perdeu, e o que começou com DLC de correção virou uma oportunidade de ganhar dinheiro, chegando ao cúmulo de entregarem um game incompleto daí vc precisa comprar um DLC em forma de season pass ou aos picados. Então dá pra ter uma noção pra onde vai chegar. Mais qualidade gráficas e menos desafios.
    Uma observação, esperta é a Nintendo que entendeu pra onde as coisas estão tomando o rumo.

    • 27 de abril de 2018 às 20:33 -

      Abraão

    • Cara concordo plenamente com você, os jogos antigamente pareciam mágicos, entrávamos naquele ambiente mágico e gastavam os horas dias messe, anos. Hoje em dia parece que os jogos estão entrando em um esquema fordista de produção e o encanto acabou, acabou de sair o jogo e horas depois a galera já finalizou, como você disse não existe mais desafio. Infelizmente parece que a magia acabou.

  • 28 de abril de 2018 às 00:51 -

    onigumo

  • Otimo artigo do arkade, na realidade essa depreciaçao no mercado de games pode facilmente ser notada em todas as formas de arte e entretenimento no dias atuais. Em geral esse decrescimo de conteudo se da pelo mal planejamento ou ate nao planejamento do jogo em si.
    Para começar ao se fazer um jogo nao se deve criar limitadores na criaçao e elaboraçao de mecanicas em funçao de escolhas esteticas, muito pelo contrario, a beleza estetica de um jogo tem que ser feita de acordo com as delimitaçoes deste, que por sua vez ocorrem como um processo natural diante das mecanicas de um jogo, ate porque e isso que define o jogo como um todo e nao suas caracteristicas esteticas.Esse tipo de equivoco que leva por exemplo a jogos com mecanicas “ultrapassadas” serem inutilizados apos serem “modernizados”.
    Um jogo “de navinha” por exemplo poderia muito bem ser um pixel amarelo parado que projeta outros pixels coloridos e de formas diferentes em direçao aos pixels que surgem na tela. De forma mais complexa o mesmo pode se aplicar aos jogos mais modernos, e por isso que jogos como undertale fazem tanto sucesso, em vez de se prenderem a aparencia do jogo antes de mais nada se procura fazer de fato um jogo, nao uma historia com puzzles para continuar lendo como os jogos de texto ( e telltale/point and click), ou filmes que para continuar assistindo voce tem que vencer um minigame super lindo, ate porque estes nao sao muito diferentes dos “virus ikaruga” que vemos por ai.
    Hoje em dia oque tem ocorrido e que a interatividade dos jogos esta invertida, os jogos tem jogado os jogadores, a interatividade e intuitividade, a fluidez e roupagem tem sido apresentadas como requisitos para que o jogo seja jogado, oque resulta num falso e frustante senso de dificuldade que alem de nao trazer com sigo frutos, vai de encontro com o propio fundamento da jogatina como um todo.
    Como resultado temos uma “comunidade gamer” espectadora, mais se assiste do que se joga, afinal qual o sentido em se submeter a tanta frustaçao quando jogar nao mais o ponto?
    Ninguem vai ler um texto desse e ate eu ja cansei disso ai, anyway the wind blows…..

  • 29 de abril de 2018 às 14:10 -

    jay

  • Primeiramente otimo texto, em segundo eu acredito que saber ou n enxergar o que esta alem de graficos vai da maturidade do player. Eu com 25 anos tendo jogado apenas ff15, apesar de saber o valor da franquia, sou louco para jogar o 7 e n me refiro ao remake, por outro lado muitos ” gamers ” hoje torcem o nariz para jogos pixelizado dessa geração. No final das contas tudo se resume ao player.

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