Preview Arkade: Fallout 76 mostra que, mesmo 100% online, ainda é Fallout

5 de novembro de 2018

Preview Arkade: Fallout 76 mostra que, mesmo 100% online, ainda é Fallout

Quando a Bethesda anunciou Fallout 76 como um jogo que parte para uma proposta on-line, a grande preocupação que se mostrava na rede era o quanto isso tornaria o jogo algo parecido com um MMO e o deixaria distante da relativa experiência de solidão e desolamento até então explorada pela franquia. Afinal, seria algo como The Elder Scrolls Online? Ou entraria mais na linha de Destiny, ou mesmo do futuro Anthem? Como seria compartilhar esse mundo pós-apocalíptico?

A versão BETA disponibilizada por um final de semana veio para apontar os caminhos escolhidos pela desenvolvedora e, se a primeira impressão é a que fica, podemos dizer que há um equilíbrio muito saudável entre a essência de Fallout e um universo conectado e compartilhado. Claro que, por ser uma experiência ainda limitada, é difícil prever como a vivência se desenvolverá com a capacidade máxima de pessoas habitando o mesmo mundo, mas há muitas boas expectativas criadas.

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A narrativa firme e forte

Fallout sempre se destacou pela narrativa e pela ambientação muito particulares de um mundo pós-apocalipse nuclear. Há uma constante sensação de insegurança, mas ao mesmo tempo uma estranha calma plácida no ar, algo que se tornou quase uma marca da franquia. Há “zumbis” mutantes, há criaturas bizarras e há muitos perigos, mas nem tudo sobreviveu a destruição pelo seu potencial violento. Há um evidente processo de adaptação do planeta ao que lhe aconteceu, e isso mostra um trabalho muito cuidadoso em tornar aquele mundo aberto crível.

As vaquinhas de duas cabeças estão lá vivendo suas vidas (até que você chegue com um facão buscando couro e outros recursos), cães caçam animais silvestres para se alimentarem e a vegetação parece ter superado a devastação. É como se o mundo realmente não dependesse da presença do jogador, ou mesmo da humanidade como um todo. Em Fallout 76, a vastidão do mapa impressiona e há muita coisa acontecendo o tempo todo e também há sempre algo para ser feito, inimigos querendo te matar e missões a serem cumpridas.

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Não que isso torne o jogo um FPS frenético no estilo CoD ou Battlefield, nada disso. Lembre-se que continua sendo Fallout. Mas há mais organicidade, mais vida, por mais estranho que isso possa parecer. E, neste aspecto, a questão narrativa do jogo surpreende quem esperava que fosse só um mundo amplo com uma galera se matando o tempo todo. A princípio, os enfrentamentos devem acontecer a partir de um certo nível de personagem, e por isso, não estive em combates propriamente ditos, mas jogar com mais gente parece ser muito mais divertido do que contra essa gente, como estamos acostumados em outros sistemas que permitem o PvP.

Aliás, há um sistema sofisticado aqui que pretende evitar o fenômeno do troll que se torna poderoso e que fica se divertindo só caçando outros jogadores. Matar por matar terá consequências, e eliminar esses assassinos banais será algo muito bem-vindo para quem o fizer. É quase um velho-oeste: você até pode ser malvadão, mas isso o tornará um alvo, e matá-lo será bom para os demais jogadores. De novo, escolhas estão lá para serem feitas, mas com grandes poderes, normalmente vêm não só grandes responsabilidades, mas também um monte de problemas.

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No final, estávamos todos ali realizando nossas tarefas, cumprindo missões das mais tradicionais em RPGs — como vencer uma horda, destruir uma quantidade de inimigos de tal tipo, montar uma armadura, etc. — e todos estavam buscando sobreviver. Há quase que uma sensação de comunidade e de civilidade, onde cada um está só tentando viver mais um dia. Curioso que essa sensação se aproxima muito do que eu sentia em relação aos bons tempos de The Walking Dead e se distancia de Mad Max, onde parece que todos que sobraram estão loucos. De novo, é só um teste, e tudo pode ser diferente quando for pra valer, mas a princípio, Fallout 76 não parece ser o espaço para sair atirando em quem atravessar o caminho.

A questão principal — e creio que seja algo que a Bethesda quis marcar de forma muito enfática — é que continua sendo Fallout em sua essência, com as óbvias adaptações para um universo habitado por outras pessoas reais. Há imersão, há uma história sendo contada, há um envolvimento com a personagem que você cria e com o mundo onde habita. Ainda que esperemos que sejam os jogadores, no final das contas, que vão determinar sua convivência pacífica (ou nem tanto) nesse mundo, há uma clara proposta maior do que “matar ou morrer”.

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A jogabilidade pesada

Quem conhece a franquia sabe que a ação e a dinâmica não são exatamente características da série. Como dito, Fallout não é CoD, e também não será Destiny. Os movimentos são mais lentos e mais pesados, o sistema de mira não é dos mais automáticos e os combates passam longe da plasticidade de um hack ‘n slash. O uso de armas de fogo, por exemplo, é bastante limitado, até pela munição contada e relativamente rara, e facas e barras de ferro são desajeitadas. Paciência, mesmo contra cães ou inimigos mais simples, é a regra.

Assim, nada de se tornar o Rambo do fim do mundo. Os sobreviventes terão um mundo hostil pela frente, mas continuam sendo pessoas comuns. Terão que fuçar em cada cadáver, cada robô destruído, cada cantinho para coletar recursos. Sobreviver dá trabalho: beber água contaminada é sacrifício as vezes necessário e comer o que achar pela rua parece uma boa ideia quando a fome aperta. Nesse teste, passei mais tempo caçando e coletando plantas do que enfrentando criaturas desfiguradas. E quando digo caçando, vale também pra aquelas vaquinhas da paz que eu citei lá atrás…

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Os menus e sistemas de controle e gestão de recursos também evidenciam que há muita coisa para se fazer. Ainda que, aparentemente, o sistema de construção e customização tenha sido simplificado em relação ao jogo anterior, há uma infinidade de coisas que coletamos e nem sabemos para que servirão (e SE servirão) no futuro, e o inventário não demora a ficar sobrecarregado. Produzir o próprio equipamento e se virar com o que encontra não é nenhuma novidade na franquia, mas 76 promete despertar o Rodrigo Hilbert de cada um de nós.

O mais importante a se destacar aqui é que mesmo sendo um mundo que possibilita — e até incentiva – a colaboração, Fallout 76 parece muito confortável para também ser jogado por conta própria. Nesse sentido, ele se aproxima bastante de Destiny, uma vez que as missões e ações mostradas até aqui não precisavam de mais pessoas juntas para serem concluídas. Claro que enfrentar uma horda que surge do nada sozinho é um grande desafio e certamente seria melhor com mais gente, mas aí depende da escolha do jogador em seguir sozinho ou se associar a outras pessoas.

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O audiovisual… Fallout de ser

Fallout tem muitas das melhores qualidades dos videogames: um lore parrudo, uma identidade própria, uma narrativa densa, um sistema robusto de gameplay que agrada mais alguns do que outros… mas certamente, nunca foi uma franquia que causou deleite aos olhos e ouvidos. O último game lançado, Fallout 4, está longe, por exemplo, de ser dos mais aclamados da geração pelo visual. Esse novo game, ao que tudo indica, parece mais bem acabado, mas não podemos esperar um salto gigantesco nesse quesito.

Até pelo mundo ainda maior do que qualquer outro jogo da série, o BETA mostra uma vegetação bem consistente, texturas razoáveis e personagens humanos expressivos, mas ainda há coisas que parecem da geração anterior. Os animais, por exemplo, parecem criaturas empalhadas com uma movimentação articulada e animações quase que robóticas. Os ambientes são variados e dinâmicos, sobretudo com relação ao clima e a hora do dia, mas há uma clara limitação em termos do uso de cores e de detalhes, mesmo em objetos específicos.

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Claro, são detalhes que nem de longe deixam o jogo feio ou desagradável. Certamente, são questões que serão notadas em algum momento, mas que não irão influenciar na experiência de dezenas de horas que certamente investiremos no game. Mas não espere estar andando e, de repente, parar para apreciar a vista, o enquadramento ou o pôr do sol como fizemos em The Witcher III, Horizon Zero Dawn ou no recente Red Dead Redemption 2. Há ótimos efeitos de iluminação e de composição, mas são todos muito mais funcionais do que belos.

O mesmo vale para a questão sonora. Há uma ambientação muito segura, e o sentimento de imersão naquele mundo é real. Quando se joga, por exemplo, em silêncio, com a luz apagada, sem barulhos externos atrapalhando, é possível se sentir dentro do game de fato, ouvir enquanto uma percepção mais palpável daquele universo. Porém, pelo menos nas missões e ambientes pelos quais circulei, não há aquele momento de catarse sonora, com músicas empolgantes, mixagem de som sofisticada ou sonoplastia diversificada.

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Fica evidente, portanto, que em termos artísticos, Fallout 76 não foi feito para deslumbrar. Não é um defeito fazer escolhas que priorizem um realismo mais cru, ainda que as vezes saturado, uma imersão ácida e uma vivência mais dolorida, se é possível pensar assim. Ainda que haja um pouquinho de espaço para um crescimento em termos visuais até o lançamento, o game se mostra mais preocupado em fazer aquele universo funcionar do que em torná-lo esteticamente atraente ou deslumbrante.

Conclusão

Em sua versão BETA, Fallout 76 apresenta um sistema consistente que soma seus melhores aspectos narrativos e imersivos com um mundo online compartilhado. Prova, portanto, se ainda sobravam dúvidas, que não é só um spin-off multiplayer inspirado no universo de sua marca (sim, Metal Gear Survive, estou falando de você). Há uma proposta equilibrada, consistente e que, ao que tudo indica, pode ser inovadora para uma franquia que poderia facilmente cair na repetição e na mesmice caso não se reinventasse.

Claro que os bugs aconteceram, como era de se esperar e como a Bethesda deixou claro que a ideia era exatamente identificá-los para correções antes do lançamento. Alguns animais ficaram presos nos cantos, texturas demoraram um pouquinho mais do que deveriam para carregar, algumas pessoas que encontrei estavam flutuando e deslizando ao invés de caminharem, mas é tudo normal em uma fase BETA. As constantes quedas de servidor, em alguns momentos, irritam um pouco mais, já que aconteciam, por vezes, no meio de missões. Mas isso também é esperado nesta fase. Não sou fã desse sistema de sempre conectado para poder jogar, mas é a proposta, então nos adequemos à ela.

Em resumo, esse teste nos trouxe grandes expectativas para Fallout 76. Há coisas esperadas, outras já anunciadas, mas a sensação prática de que tudo o que de melhor que a franquia tem está presente nessa nova empreitada certamente nos deixa mais tranquilos. Que venha a versão definitiva, que estará disponível para Playstation 4, XBox One e PC a partir de 14 de novembro de 2018.

2 Respostas para “Preview Arkade: Fallout 76 mostra que, mesmo 100% online, ainda é Fallout”

  • 15 de novembro de 2018 às 12:54 -

    Pedro

  • Joguei dinheiro fora, fallout 76 é ridículo, gráficos horríveis, bugs em missões

    Logo na primeira hora o jogador já perde o interesse de jogar

    • 30 de novembro de 2018 às 14:25 -

      Paulo Roberto Montanaro

    • Olá Pedro,

      Olha… ainda que eu tenha curtido a versão BETA pelo potencial, a versão final acabou decepcionando, não por ser tão diferente, mas por não ter de fato nenhum mecanismo de motivação ou de envolvimento com a narrativa e com as missões.

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